23 de junho de 2008

Outros silêncios: anti-terapias

"Tomai-me a mim, tomai-me a mim. Sou apenas um entrelaçamento de loucura e dor", versos do Antigo Testamento, lidos no livro de Maurice Blanchot sobre Kafka.


Não desisti. O bloqueio continua, mas o ser permanece vivo. Em coma, talvez. Mas vivo. Por baixo da pele fria e da expressão impassível, o sangue circula. O coração bate, silenciosamente. Algo importante morreu. Está sempre morrendo. Infância, adolescência, juventude, madurez, passam boiando tristemente. Os olhos baços, melancólicos, ocultam turbulências sinistras, ódios múltiplos e o eterno, insuportável desespero. À morte sucedem mortes. Não há renascimento. A vida é o consumo da energia que se desprende da dor.


Renego justificativas e renuncio à beleza. Negocio diretamente com os deuses hipócritas do pesar. Os invejosos da felicidade alheia, que me prendem à esta rocha, a esse romantismo decadente. Espesso. Esquizo. Inofensivo ao resto do mundo e letal à pátria-mãe. Eu.


Permaneçam os loucos. Os sofredores. A eles me junto, sem orgulho ou modéstia. Os palhaços, os funcionários, os platônicos, os covardes sociais. Brindemos à morte, ao amor, nos botequins jesuíticos, nas ágoras suburbanas, nas plataformas da dissidência.