18 de outubro de 2007

rua do rezende

(basquiat)




coleção barata
de infortúnios e
flores dissipadas

necessariamente um senhor
pagando a conta
enquanto o escravo dança

necessariamente desterrado, a lua
sem plumas, ossos
do poeta sóbrio, roendo
um discurso incoerente, sem
beijos, fluido como um sorriso
falso, belo como um sonho
morto, necessariamente
feliz como um cachorro
bem alimentado

mas não é livre
enquanto espera
a cerveja fazer efeito
a maconha fazer efeito
o amor fazer efeito
enfim solto, como um
caralho sem plumas, ereto
e de braços abertos - cristo
redentor sem manto,
sem camisinha, saltando
no abismo azul
desta solidão desmesurada
e reacionária

necessariamente infeliz
ou entediado - peru louco
ruim como groselha
cocaína malhada
- sem graça, sem olhar nos
olhos de ninguém, triste e orgulhoso
de existir apenas para si mesmo,
uma imagem fugidia, conservada
em desespero e vodka

necessariamente eufórico
perante a música que
emana do fundo negro e
desolado da história
do fundo de suas pupilas venéreas
e omissas.

desconcertante
como utopias mortas,
pombas esmagadas na
rua do rezende e
mulheres que passam
rebolando, tremulando
os seios - prelúdio
de um verão sujo
de traições e
carros enguiçados
algo assim: um táxi
grátis para
o inferno das ressacas,
contas não pagas
- sorrisos devastados
úmidos de tanta angústia
tanta que é melhor
esquecer e pedir
mais uma






Comente!