23 de fevereiro de 2006
Sobre a liberdade dos blogs
O Eduardo Guimarães, novo blogueiro político (link ao lado) escreveu uma carta muito interessante para o Observatório da Imprensa, que publicou aqui, alertando para este artigo de Claudio Weber Abramo, sobre a responsabilidade dos blogueiros. Sabe, primeiramente eu concordei totalmente com o Guimarães, mas depois eu fui fazer uma visita ao site do Abramo, Transparencia Brasil, refleti e pensei que o Abramo também tem um pouco de razão. Mas o alerta de Guimarães foi fundamental. O mundo não é só preto e branco.
Concordo com Guimarães que os blogs não tem que seguir imparcialidade nenhuma. Seria ridículo que os blogs seguissem a mesma linha hipócrita que está levando à imprensa escrita à decadência. Leitores não suportam mais a hipocrisia que virou a editoria política dos grandes jornais, que à pretexto de uma suposta imparcialidade praticam a mais escancarada propaganda política.
Vejam bem, acho que a saída é a honestidade. Quer dizer, até acredito na imparcialidade, mas que seja de verdade! As democracias não tem tempo para ficarem nessa eterna briguinha entre imprensa X governo. As coisas precisam avançar. O país tem urgência de industrialização, estabilidade, distribuição de renda e milhões de outras coisas. A oposição política precisa aprender a dialogar de forma construtiva com a sociedade e não ameaçar o país a cada surtozinho emocional de um FHC ou Virgílio contra o presidente Lula.
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Prezado Miguel: A observação que fiz no ObsImp não era no sentido de reivindicar imparcialidade, mas isenção. É óbvio que a expressão de opiniões díspares se tornou muito mais democrática com o advento dos blogues, fóruns de discussão na Internet etc. Isso não significa, porém, que seja aceitável a expressão de opiniões que deixam de lado os princípios elementares de isenção quanto aos fatos e à lógica, para só ficar só nisso. O fato de se permitir que qualquer besteira seja publicada, incluindo-se xingatórios, calúnias, acusações gratuitas, não serve ao interesse da ampliação dos espaços democráticos, muito ao contrário. Como a expressão deliberadamente estúpida é sempre mais fácil e abundante, isso só serve à estupidez. Se uso palavras fortes, é porque o estado de coisas está se tornando realmente alarmante. Veja-se o que se publica como comentários nos blogues de jornalistas, sem que as empresas para as quais trabalham aloquem recursos para de fato fazer valer as regras que são formalmente expostas. Vejam-se também certos blogues e páginas da Internet que, numa boa, divulgam acusações graves e calúnias pessoais sem que os atingidos reajam. Estes últimos também agem irresponsavelmente, conforme agumentei em meu artigo no ObsImp.
Prezado Claudio Abramo, que honra em tê-lo aqui como leitor! Seus comentários são imensamente bem vindos. Entendo o que você quer dizer e concordo com você. Sobretudo no que toca às baixarias publicadas em blogs conectados a grupos jornalísticos. Na época da crise política, houve um enxovalhamento público de certas figuras, inclusive do presidente, nesses blogs, e parece que foi tudo muito bem vindo. Concordo, poderia haver um certo controle sim, mas como isso seria feito? É difícil, quase impossível nos termos de hoje. Só se tivéssemos um governo comunista como na China... E isso acho que quase ninguém quer no Brasil. Acho que, por enquanto, o negócio é laissez-faire, deixar rolar, como diz o Paulinho da Viola, não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar...
Eu é que agadeço a oportunidade. É perfeitamente possível, sim, disciplinar a gandaia. Basta aplicar as regras que valem para qualquer manifestação pública, e que costumam ser expostas nos blogues. O que falta é o tal do enforcement. No meu blogue, não permito. É claro que meu blogue é pessoal, de minha exclusiva responsabilidade, e é visitado por poucas pessoas, de modo que a tarefa de vigiar permanentemente o que se oferece como comentário é muito fácil. No caso dos blogues muito visitados, é mais difícil. Ocorre que os blogues do Josias, do Fernando Rodrigues, do Noblat, do Moreno, de tantos outros, são das empresas em que eles trabalham. Caberia às empresas alocar recursos para isso. É responsabilidade delas, da qual se eximem. Por outro lado, quem é xingado, caluniado, avacalhado, acusado, não reage. Eu sempre reajo, porque não acredito que a permissividade estimula a irresponsabilidade. Além disso, em casos mais graves, há leis contra calúnia, difamação etc., que precisariam ser usadas. Por exemplo, a tal "lista de Furnas". Não sei se é verdadeira ou se é falsa, embora tenha total convicção de que Furnas abrigou propinodutos, tanto no governo passado quanto neste. Indepentemente disso, sei que apresentar a lista como verdadeira é crime. Não entendo como os indivíduos relacionados nela não pocessaram quem a publica na Internet. Isso faz parte do ordenamento democrático e é a única forma de garantir direitos individuais. Defender-se não é censurar. Censura é oprimir quem exerce o direito de se defender ou de não cair em armadilhas, sob a desculpa absurda de que a defesa seria censura. Trata-se de uma grave inversão de valores, infelizmente muito comum.
PS: Onde se lê "porque não acredito que a permissividade estimula a irresponsabilidade", leia-se "porque acredito que a permissividade estimula a irresponsabilidade".
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