30 de setembro de 2007

A literatura não está no Prosa & Verso

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(Willem de Kooning)



Lendo o Globo ontem fiquei pensando que encontro mais literatura na seção policial, política e econômica do que no Prosa & Verso. O caderno de literatura do Globo não é grande coisa, embora traga informações interessantes, mas as páginas policiais me inspiram mais do que saber que livro fulaninha, artista plástica e decoradora, está lendo. Um exemplo: menina de 12 anos mata o pai com um tiro de fuzil na nuca. "Mãe, o papai me bateu e eu o matei", diz a menina, ao telefone. Em seguida, a nota conta que as desavenças entre pai e filha começaram depois que a garota iniciou relacionamento com um rapaz de 18 anos.

Há intrigas palacianas, conspirações midiáticas, deserções políticas, homicídios, escabrosos casos de corrupção, e o mensalão tucano continua sendo abafado. O máximo que a imprensa publica é chantagem: se o Azeredo for responsabilizado, o Lula também tem que ser. Esquecem que o Procurador-Geral da República não encontrou provas de envolvimento de Lula. Se não encontrarem provas de envolvimento de Azeredo, ou de FHC (cuja campanha também foi irrigada com o caixa 2 descoberto), então eles ficarão tranquilos. Mas existem diferenças básicas. O Caixa 2 tucano foi fundamentalmente, comprovamente, abastecido com dinheiro público. O que intriga as gentes é: onde estão os editoriais? Os editoriais éticos são muito seletivos, não acham? Queria muito ver os gráficos, com fotinhos e setas, dos tucanos, incluindo o Aécio Neves, que receberam caixa 2 na campanha do Azeredo. Tem petista no meio? Ótimo, bota na roda também. Quero ver é a carinha de playboy do Aécio num info-gráfico do Globo.

A Miriam Leitão, por exemplo, está indignada com o fato de senadores tentarem obstruir o trabalho do Ministério do Trabalho. Mas, curiosamente, Leitão não diz de que partido são esses senadores. Pior, ainda mistura na mesma matéria uma crítica ao troca-troca de partido com o caso dos senadores escravagistas. Ora, Miriam. Esses senadores que defendem os escravagistas são da oposição, minha filha. Quer dizer, minha tia (como dizem os baianos). São do PSDB e do DEM.

O DEM está minguando aceleradamente. Vem perdendo eleições e, quando ganha, seus senadores trocam de partido. A imprensa acusa somente os parlamentares. Alguém já parou para refletir, contudo, se o problema não estaria com a postura contraditória e golpista do DEM? Uma hora eles defendem o voto secreto. Num segundo momento, atacam o voto secreto. Numa hora, criam a CPMF. Noutra outra querem extinguir a CPFM de forma brusca. O DEM não tem votos, defende escravagistas, perde parlamentares. O DEM respira com aparelho respiratório importado dos Estados Unidos e pagos por Abril, Estadão, Folha e Globo, o G-4 conhecido mundialmente como IMPRENSALÃO.

O João Ubaldo Ribeiro está escrevendo mal pra caralho. Seu texto tem mais conjuções que substantivos e trai um tesão pelo Lula inexplicável. Outro dia publicou artigo que começa assim: claro que não posso ter certeza, mas creio que..." Nossa senhora, que lixo de linguagem. O cara não tem certeza, seu texto é cheio de "acho que", "creio que", "não sei bem", e ainda quer, com aquele desfile de clichês, nos impor liçõezinhas de moral?

Vá criar macaco em Itaparica, João! E volte a beber, pelo amor de Deus. Desde que você parou com o uísque, sua sintaxe degradou-se terrivelmente. Ou então, pare com esses artigos meia-boca, mau-humorados, que ninguém tem saco de ler. Escreva romances, meu caro.

O curioso é ver a esquizofrenia crescente de nosso colunato. Enquanto o Brasil caminha para o investment grade e registra números sócio-econômicos sem paralelos na história recente, a gritaria moral sobe o tom e perde as estribeiras. Esses fariseus não comemoram os êxitos econômicos e sociais do país. De uma hora para outra, tornaram-se guardiões da ética e da moral brasileiras. Uma ética extremamente curiosa. O Cacciola é preso em Mônaco, acusado de se beneficiar de uma transferência ilegal de 1,5 bilhão de reais do Banco Central e os jornais não publicam gráficos, os colunistas não escrevem editoriais éticos, nada. Para eles, os 50 milhões de reais do PT são uma afronta muito maior do que os 1,5 bilhão de reais do Cacciola. Com o agravante que, enquanto o dinheiro do PT veio de doações ilegais do setor privado, a grana do Cacciola veio diretamente dos cofres públicos.

Os jornais publicaram esses dias que a Vale do Rio Doce está valendo 300 bilhões de reais, mais que a Petrobrás. Ninguém lembra que ela foi vendida por menos de 3 bilhões, pagos com moeda podre? Não sou nenhum radical contra a privatização. Mas cadê a indignação ética, caralho! Porque não venderam a Vale do Rio Doce mais caro? Porque não impuseram aos compradores contrapartidas sociais? A Vale foi criada por Getúlio Vargas, com empréstimo americano, depois que nossos soldados morreram na campanha da Itália, na II Guerra. Merecia, no mínimo, ser privatizada dentro de um processo justo. Não querem investigar? No câmbio ético do imprensalão, 1 real roubado por um petista vale mais que 1 milhão roubados por 1 tucano.

Definitivamente, a literatura não está no Prosa & Verso. Nossa literatura está sendo produzida nas trincheiras. Dia menos dia, o povo aprende a ler. Vamos ver no que vai dar.



PS: Leiam esse texto do Azenha, Quando a Folha esculachou o Globo.

27 de setembro de 2007

Sobre estratégias

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(Francis Bacon)


Tenho perdido tempo num dilema. Atacar frontalmente a mídia ou trabalhar a contra-informação? Quem acompanha esse blog sabe que venho optando preferencialmente pela segunda alternativa, embora inúmeras vezes tenha também deixado me levar pela emoção e partido para a agressão direta. Em legítima defesa, claro.

Concordo que a mídia, e particularmente a Rede Globo, tem grande parcela de responsabilidade nos males do país. Em nossa história recente, o papel da mídia foi decisivo em momentos chave. O golpe militar de 1964, por exemplo, não teria sido possível sem a vigorosa participação da mídia nacional. A interferência da imprensa no processo democrático não deveria ser uma coisa necessariamente negativa. Mas no Brasil tem sido e ainda é, devido à super-estrutura viciada de nossa realidade sócio-econômica.

Outra noite, discuti intensamente com um amigo sobre a conveniência ou não de questionarmos a renovação da concessão pública para a TV Globo. Por quê não questionar, me perguntava ele. Pois é. Também acho que poderia haver um questionamento. Mas tenho minhas dúvidas. O partido da mídia conseguiu, com sucesso, transmitir à sociedade brasileira uma série de preconceitos-clichês sobre "tendências autoritárias" do governo Lula, os quais estariam simplesmente aguardando uma oportunidade de virem à luz.

Tenho minhas dúvidas, repito, porque não acho que seja inteligente iniciarmos uma guerra que, de antemão, não poderíamos vencer. Neste caso, é melhor nem começá-la. A blogosfera tem sido a grande arma anti-mídia. Os canais fechados e, futuramente, a tv digital, também podem e poderão se tornar instrumentos para diluir o poder arbitrário de algumas empresas de comunicação.

Na minha opinião, a Globo é negativa, por uma série de motivos. Para outros milhões (alienados, ingênuos ou não), é um excelente canal de TV. Eu não gostaria de ver a Globo se fazendo de mártir da democracia. Se pensarmos bem, a Globo não é nada. Quem faz a Globo são seres humanos que ali trabalham, jornalistas, roteiristas, marketeiros. Existem indivíduos por trás. Vendidos, sufocados, honestos, inocentes, ambiciosos, gente. Prefiro atacar especificamente os indivíduos, as opiniões reais que eles expressam, do que atacar genericamente a Rede Globo.

Outro motivo que me leva a preferir a estratégia da contra-informação é saber que, em outras partes do mundo, a situação é similar, inclusive em países desenvolvidos. Talvez aqui seja pior, talvez aqui a nossa mídia tenha, particularmente, um histórico golpista, mas o fato é que, nos últimos anos, ela perdeu diversas vezes e parcela importante da sociedade conseguiu construir um aparato crítico intelectual bastante eficaz.

O que acontece hoje? A nossa imprensa continua explorando essa infelicidade congênita, patológica, de nossas classes médias, transformando-a em energia para atacar seletivamente seus desafetos políticos. O caso Renan Calheiros é emblemático. Mas o problema não está apenas na imprensa. E o PSOL, porque faz o jogo da mídia? Porque alguns políticos, como o Aloísio Mercadante, por exemplo, com 10 milhões votos, parecem tão titubeantes em dizer o que pensam e atacar essa ditadura da opinião?

A resposta talvez seja a mais simples. Eles têm medo. O Mercadante tem medo. O governo tem medo. Mas o medo não é necessariamente um sentimento negativo. Ao contrário, ter medo também é sinal de inteligência. O medo é uma de nossas intuições mais antigas e poderosas. Os cientistas detectaram medo até em organismos unicelulares. É uma intuição natural que nos empurra para longe do perigo. Mesmo contra a nossa vontade. O medo nos fez sobreviver até aqui.

Mas o medo é triste. A coragem é o que nos dá alegria. Há momentos em que o medo deixa de ser um instrumento de sobrevivência e se torna um sentimento degradante. Para vencer guerras, por exemplo, carece coragem. Para ter coragem, todavia, é preciso sentir-se forte. Daí a importância de criarmos um sistema de defesa consistente. Precisamos de mais anti-corpos.

Acho que uma das saídas para reduzir a vulnerabilidade dos indivíduos à manipulação midiática seria incluir nos currículos escolares e universitários diversos textos que pensem o papel da mídia na democracia. Textos que discutam o que fez a mídia no tempo de Vargas, na ditadura, nas eleições recentes. Esses textos estamos produzindo agora.

Na internet, essas discussões vêm ocorrendo de forma intensa. A luta é sobretudo ideológica - no sentido mais profundo e humanista do termo, inevitavelmente classista - e, como tal, envolve ciências, artes, humor e muita inteligência.

25 de setembro de 2007

Tropa de elite: a polêmica continua

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O Wagner Moura assina artigo no Segundo Caderno do Globo de hoje defendendo Tropa de Elite. Muito bom o artigo do Moura. E o João Paulo Cuenca entra na onda de chamar o filme de reacionário, em sua coluna no Magazine, o encarte para adolescentes do jornal O Globo.

Tô sem tempo no momento, escrevendo bem rápido, mas quero dizer uma coisa: se o filme gerou tanta polêmica é porque é bom. Filme bom gera polêmica, todo mundo fala dele. Filme ruim, gera desprezo e cai na indiferença geral do público. Outra: ser chamado de reacionário não é necessariamente um xingamento, não em caso de arte. Céline e Dostoiévski já foram chamados de reacionários. Se o filme fosse ruim, chamavam-no de ruim, não de reacionário.

A consciência pesou? Não acho que o filme bote a culpa da violência urbana nos maconheirinhos da puc. Eles é que estão vestindo a carapuça. O Rio de Janeiro inteiro fuma maconha, a galera do flamengo, vasco, botafogo, fluminense. A UFRJ, a UERJ, o Circo Voador, a turma da Ilha do Governador, todo mundo fuma um baseado. Apure o olfato e sinta a marola vindo de toda parte. Sabemos também que é a cocaína que move a maior parte do dinheiro do tráfico. Mas o diretor escolheu mostrar a PUC, escolheu a maconha, e tem todo o direito de fazer o que quiser. Se mostrasse uma turma de Ramos torrando um na beira do Piscinão, ninguém iria chamar o filme de reacionário.

Hum, reacionário... Essa palavra, esse conceito, correndo livre leve solto pelas páginas do jornal O Globo, onde reina a histeria opusdeiana, me soa um tanto incoerente... Não seria melhor sermos mais humildes e, em vez de detonarmos um dos filmes mais populares dos últimos anos, nos perguntarmos o que é exatamente "reacionarismo"? Sob que perspectiva, precisamente, esse filme é reacionário?

Ele pode ter seus deficiências, inclusive morais (eu disse isso?), mas daí a chamar de reacionário é um exagero. Chamar de o mais reacionário do cinema brasileiro, então, é uma besteira. Acho que é um filme muito bom e que tem possibilidade de causar impacto parecido ao de Cidade de Deus, também bastante discriminado por aqui mas que trouxe visibilidade e respeito para o cinema brasileiro em todo mundo.

Não é nenhum escriba peruano radicado nos EUA ou Espanha que vai me fazer mudar de idéia. O tal Daniel Alarcón disse que seu livro (cujo tema é violência) fica parecendo um poema de amor diante de Tropa de Elite. Bem, prezado Alarcón, a violência é SEMPRE pior na realidade e talvez o seu poema de amor seja mais interessante que a história do BOPE. Mas o problema da segurança pública no Rio de Janeiro não será solucionado com poemas românticos.

A tortura, a corrupção, os esquadrões da morte, acontecem em escala MUITO maiores do que mostra o filme, que mostrou apenas a pontinha do iceberg. O buraco é bem mais embaixo.

24 de setembro de 2007

Compareça

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23 de setembro de 2007

o anti-bar

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debruçou-se e vomitou

restos de frango

e macarrão



mas era um poeta!

havia beleza,

arte

e sabedoria

naqueles pedaços

mistérios sem cafeína

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sem viagens, e o sol
esmaecido das solidões
a vida tão leve
como cerveja de arroz
ou tequila sorvida
sob o calor
úmido de um botequim
enfumaçado
da cidade do méxico

com viagens, e chuva
sem raios
a tv não é tão diabólica
o prefeito tão honesto

eu sou tão lúcido?

recorte melancólico
de incoerências
e ressacas, enfim!

Um sofrimento seco,
sem trilha sonora,
contemplação
silenciosa
de uma agonia

um charme
essa mulher nua a meu lado
de peitos grandes
e olhos que espiam
o poema

daqui a pouco
(aliás agora)
ela discursará
sobre o preço
da calcinha
ou coisa parecida

eu voltarei a ler
um conto beat de henry miller
e sair de casa
para filar
um almoço
na casa da minha tia

inveja anônima

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que seria do espantalho
ou do amor
não fossem as cenouras
enfiadas
no seu cú?

que seria da solidão
das brigas
no bar
os divórcios irrefletidos
não fossem as cervejas
misturadas
com cachaça?

ele tinha quarenta
prêmios guardados
dentro da cueca

um olho de vidro
outro de cobra
um belo casamento
uma bela amante
um helicóptero
um fígado

eu mastigava miojo
com salsicha quando
soou a campainha

- bom dia, Diogo Viscaya?
- sim?
- Eu sou o homem do poema, o monstro ético, a parafernália estética, o palhaço bêbado e histérico dos bares.

talvez eu
sim, talvez eu seja o pesadelo
de uma criança extra-terrestre

o que explicaria muita coisa
ou nem tanto
os cães
nunca sorriem
impunemente


Ouça o poeta recitando esse poema.

Mais 2 críticas (clique no título para ler na íntegra)

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Para sempre orangotangos

Manual para estragar bons livros

22 de setembro de 2007

Polêmicas em torno de Tropa de Elite

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A polêmica é o tempero do gênio. Tudo que é novo, belo ou grotesco, causa estranheza. Caso do filme Tropa de Elite, de José Padilha. O formato não traz inovação estética, o conteúdo sim. Não por mostrar a classe média como vilã, mas pela franqueza brutal com que o faz. O pessoal da PUC não gostou. E daí? Os moradores da Cidade de Deus também não gostaram do longa de Fernando Meirelles.

Continua aqui. Dêem uma conferida no blog especial que a Revista Miroir criou para o Festival de Cinema do Rio.

20 de setembro de 2007

Dias agitados

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Essa vida de cachorro fingindo ser gente não é mole. Hoje começa o Festival do Rio. Semana que vem tem o evento do Paulo Scott em Botafogo, O Popular. Acho que vou lá embaixo comprar uma cerveja e escutar Etta James.

Tenho andado preguiçoso. O frenesi da metrópole às vezes me cansa profundamente e sonho com uma casinha na beira do rio são francisco, em algum lugar quente e silencioso. Enquanto isso, vou tocando a vida à base de cevada e poesia.

O blog vai esquentar nesse fim de mês.

19 de setembro de 2007

Quero meu salário de Ombudsman

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Deviam me pagar por isso. Ontem, nas páginas de opinião, o jornal publicou artigo de Ali Kamel, denunciando desvios ideológicos de livro didático que integra lista do Ministério da Educação. Alto membro da organização que combate o comunismo na América Latina, Kamel escreve artigo furioso e ataca os vermelhinhos do governo federal.

O Globo volta à carga hoje com um editorial próprio, não assinado, intitulado Lavagem Cerebral, farto em insinuações maldosas. A culpa do livro, claro, seria do Lula e do PT.

Outra barriga mensaleira. O livro foi aprovado em 2001 e comprado pela primeira vez no ano seguinte, antes do Lula beber uísque na Granja do Torto. Por tradição antiga, o Ministério faz compras para três anos. Foi desaprovado pelo Ministério da Educação há dois anos e, desde então, já não faz parte da lista de compras do governo. Não li o livro, mas pelos trechos citados por Kamel, pareceu-me superficial em sua abordagem ideológica. O autor, provavelmente, é alguém com simpatia pelo comunismo cubano, soviético e chinês. Isso existe, Kamel. Ser comunista não é crime. O Oscar Niemayer está aí, mimado por gregos e troianos. Cem anos de comunismo inteligente e progressista. O Martinho da Vila é comunista. E o Hermeto Pascal não enxerga mesmo muito bem.

Falta humor e auto-confiança a esse pessoal. Medo de comunismo a essa altura do campeonato? Será o Chávez? De qualquer forma, Kamel esquece que o livro é apresentado por um professor, cuja dialética com seus alunos exige (teoricamente, ao menos) debate e crítica. Uma aula de história hoje está longe de ser um doutrinamento no qual o aluno é obrigado a decorar e concordar com os textos oferecidos. A preocupação de Kamel e do Globo é pertinente, mas suas ilações mensaleiras e paranóicas são dispensáveis. A luta é pra fazer os alunos se interessarem por história. Provocado o desejo de conhecer, correrão atrás de fontes diversas para formarem seus espíritos.

O lado positivo do artigo do Kamel é que ele põe na berlinda a política de compra de livros efetuada pelo Ministério da Educação. Na época da faculdade, estudei o mercado editorial brasileiro e descobri que o governo compra 70% de todos os livros produzidos. Não dá para discutir política de livro sem discutir os critérios usados pelo MEC.

14 de setembro de 2007

Gosto muito desses poemas

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http://hellbar.blogspot.com/2005/12/poemas-selecionados.html

Comentário de leitor do Observatório da Imprensa

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Alexandre Machado , Três Corações-MG - Liberal
Enviado em 13/9/2007 às 11:57:32 PM

"Quem te viu, quem te vê. Quem viu no início da sessão a animadíssima defesa dos senadores hoje do fim do voto secreto até acredita. Alguns chegam a prever para amanhã o início de uma campanha retumbante nesse sentido. Mas, no dia 13 de março de 2003, quando a Casa derrotou emenda constitucional do senador Tião Viana acabando com o voto secreto para cassações, muita gente boa que discursa hoje para abrir o voto ficou contra. Arthur Virgílio, por exemplo, que hoje fez veemente defesa do voto aberto no início do julgamento, dizia na ocasião: "O voto secreto é um instrumento que deixa o parlamentar a sós com sua consciência em uma hora que é sublime, em que o voto é livre de quaisquer pressões, que podem ser familiares, do poder econômico, de expressão militar ou de setores do Executivo. Voto pela manutenção do voto secreto". E assim também fizeram, na ocasião, seus colegas Cesar Borges (DEM), Tasso Jereissati (PSDB), Eduardo Azeredo (PSDB), Heráclito Fortes (DEM), Garibaldi Alves (PMDB), Gerson Camata (PMDB), Agripino Maia (DEM), Edison Lobão (DEM), Marco Maciel (DEM), José Sarney (PMDB), Mão Santa (PMDB) e Leomar Quintanilha (PMDB), entre outros. Ou seja, muda a platéia, muda o voto. " http://z001.ig.com.br/ig/48/28/973852/blig/blogdosblogs/2007_37.html#post_18950631


*
Comentário meu: sou contra o voto secreto. Mas ele estava previsto na lei. Não se trata de apagão constitucional. Não se trata de fazer "às escondidas" ou outra expressão pesada, lacerdista. Os mesmos que votaram pela continuação do voto secreto são os que agora ecoam a ladainha midiática para tentar deslegitimar a votação.

O senado morreu, viva o Senado

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Os jornais estão cheios de amargura. Uma onda de melancolia, irritação, desespero, rondou redações sintonizadas com setores da classe média e alta. Coincidentemente, as mesmas viúvas de todas as crises dos últimos anos. Jabor, Hippólito, Leitão, Pereira, Kramer, Soares, a turminha que se arvora, junto ao séquito de obedientes leitores, representante exclusiva da OPINIÃO PÚBLICA brasileira. Aliás, nunca li o termo OPINIÃO PÚBLICA tanto como nos últimos dias. A Globo está convencida de que os emails indignados que recebeu representam a opinião de 190 milhões de brasileiros.

A absolvição de Renan Calheiros foi uma cenoura no traseiro de muitos colunistas, que, devido à dor, escreveram textos irritadiços e hilários. Merval Pereira foi um que levou cenourada. Seu texto me lembrou o jornalismo do início do século, que eu lia no livro Anarquistas e Comunistas do Brasil, e outras fontes. Era um jornalismo político radical. Debate violento. Refletia luta que, muitas vezes, se resolvia na bala. O pai do Collor matou a tiros um colega parlamentar no Congresso.

Do meu lado, admito que se tivesse champagna na geladeira, eu abria. Como diz o Amorim, Calheiros não é santo, mas os que atiram pedras são piores. Quem vai substituir Calheiros? Essa é a pergunta. A última vez que a oposição quis derrubar um presidente da Casa, colocou o Severino Cavalcanti. Quem agora? Jarbas Vasconcelos? Arthur Virgílio? Se a oposição não gosta de Renan, que proponha outro candidato, que procure força na sociedade. Que pratique a democracia, porra. Não conseguem ganhar no voto, querem ganhar sempre no tapetão. Isso quando não encenam o papel de vivandeiras de tribunais, o que é o mais sinistro. Sua reação pirracenta à derrota no Senado mostra que se tratava de bandeira puramente partidária.

O Senado morreu! Entoaram profetas de todas as partes, interessados em mostrar suas carinhas na tv globo e comprarem afeto junto à alta sociedade, essa enfarada elite dasluziana. O lado bom da história é que a tentativa de crucificação do Renan abriu os olhos da classe política: a mídia está fazendo sim uma interferência viciosa, negativa e interessada no processo político; e NÃO NÃO E NÃO representa, estatisticamente, em quantidade ou qualidade, a opinião pública nacional. Quando será que esse pessoal vai aprender a respeitar as decisões populares. Ora, o povo vota num candidato e eles dizem que é porque o povo é pobre e ignorante. Os senadores votam pela absolvição do Renan Calheiros, e eles vem nos dizer que o Senado morreu.

Nas páginas internas do segundo caderno do Globo existe uma seção interessante, intitulada Há 50 anos, que traz um fác-símile da primeira página da edição de meio século atrás. Ao lado, são reproduzidas, em fontes grandes, títulos e trechos das matérias da capa; quase nunca, contudo, os editores selecionam os textos políticos. Mas é possível ler no próprio fác-símile e notar a curiosa semelhança com a época presente, aqueles títulos nervosos, udenistas.

Enfim, para a histérica oposição tucano-midiática, cito a sardônica advertência proferida recentemente pelo senador Tasso Jereissati, do próprio PSDB, a um de seus adversários: CALMA BONECA!

13 de setembro de 2007

Muita coisa pra dizer, mas sem tempo

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Acompanhe o PHA, que diz mais ou menos o que eu queria dizer. Tenho que trabalhar. Quando tiver um tempo, eu volto aqui para comentar os acontecimentos.

12 de setembro de 2007

Legal

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Olha que engraçado.

http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=767

11 de setembro de 2007

Curta metragem muito bom sobre as origens do samba

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Gostei muito desse filme. Mostra a Lapa em profundidade, no tempo e no espaço. Conheço várias figuras que participam do filme. O Angelo, por exemplo, cantor angolano que sempre achei um prodígio: tem um repertório de umas 6000 músicas, desde o Luiz Gonzaga mais desconhecido, passando por Raul Seixas, músicas próprias, canções revolucionárias angolanas, sambas antigos, clássicos de Villa Lobos. O cara sabe tudo. Tenho a maior admiração por ele. Outro que conheço é o Godot, figuraça, historiador das loucuras da Lapa, cantor de blues, aedo e pensador. Por fim, temos o Mestre Humberto, um verdadeiro intelectual, recitando em latim e alemão, e contando as histórias da origem do samba.

Loucura Lynchiana

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9 de setembro de 2007

Virando o disco

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Bem, teremos um setembro bem "cultural". Esta semana começa a Bienal de Livros e devo estar escrevendo alguma coisa sobre literatura. A partir do dia 20, tem início o Festival de Cinema do Rio, e estarei engajado em dar meus pitacos sobre a coisa.


Aproveitando a deixa, colo abaixo um texto que tunguei do blog da Revista de Cinema (linkado ao lado):


Festival do Rio divulga concorrentes brasileiros

O Festival do Rio divulgou a lista dos filmes brasileiros que competirão na edição desta ano, que começa no dia 20 de setembro. Na abertura, o filme "Tropa de Elite", de José Padilha. Os longas nacionais podem participar de quatro mostras: longas e documentários, as duas seleções competitivas, além de Retratos e Hors Concours. Fora estas, o Festival ganha uma nova exibição: Novos Rumos, montada por jovens diretores.

Os principais filmes da competição são “Mutum”, de Sandra Kogut, que partircipou da Quinzena dos Realizadores de Cannes neste ano, “A Via-Láctea”. De Lina Chamie, que abriu a “Semana da Crítica” do festival francês, “A Casa de Alice”, de Chico Teixeira, o premiado em Gramado “Destero Feliz”, Estômago”, de Marcos Jorge, e o musical “Maré, Nossa História de Amor”, de Lúcia Murat.

A lista dos longas principais está abaixo:

Ficção
“Casa de Alice”, de Chico Teixeira
“Deserto Feliz”, de Paulo Caldas
”Estômago”, de Marcos Jorge
”Maré, Nossa História de Amor”, de Lucia Murat
“Mutum”, de Sandra Kogut
“Onde Andará Dulce Veiga?”, de Guilherme de Almeida Prado
“Sem Controle”, de Cris d'Amato;
“O Signo da Cidade”, de Carlos Alberto Riccelli
“A Via-Láctea”, de Lina Chamie
"Tropa de Elite", de José Padilha

Documentários
“Andarilho”, de Cao Guimarães
“Condor”, de Roberto Mader
“Diário de Sintra”, de Paula Gaitán
“Estratégia Xavante”, de Belisario Franca
“Memória Para Uso Diário”, de Beth Formaggini
“O Engenho de Zé Lins”, de Vladimir Carvalho
“Panair do Brasil”, de Marco Altberg
“Pindorama - A Verdadeira História dos 7 Anões”, de Roberto Berliner, Lula Queiroga e Leo Crivelare
”PQD”, de Guilherme Coelho
“Rita Cadillac, A Lady do Povo”, de Toni Venturi

*

Indicaram-me esse escritor, Furio Lonza. Li uns contos legais dela na revista Germina:
http://www.germinaliteratura.com.br/flonza.htm

8 de setembro de 2007

Limpando o mofo

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Tenho lido O Globo nos últimos dias, o que me proporcionou dezenas de pautas de denúncias contra manipulação da notícia, ideologismos capengas, estupidez explícita. Não quero ser uma versão vermelha do Indignaldo, divertido personagem criado por Alfredo Ribeiro, da Revista Piauí, que simboliza aquele chato eternamente revoltado, à beira de ataque apoplético, com as mazelas da sociedade. A maioria dos missivistas do Globo encaixam-se à perfeição neste perfil, que supôe também um cérebro menor, sem capacidade de elaborar pensamentos autônomos e, por isso, dependente da maconha política que a mídia lhe vende diariamente.

É a segunda vez que compro a revista Piauí, um projeto interessante, que já está concorrendo de forma séria e agressiva com a Caros Amigos, preenchendo uma lacuna deixada por esta última, que, apesar de ser uma importante referência na esquerda, sempre deixou a desejar no campo do debate estético. Mesmo no campo político, a Caros Amigos perde mercado e publicidade ao optar por escolhas editoriais explicitamente ideologizadas. O jornalismo, assim como arte, precisa de mistério.

Eu falava do Globo, onde li, na edição do dia 6 de setembro, uma coluna de Carlos Alberto Sardenberg, figurinha carimbada no espaço editorial da imprensa tupi. Sempre defendendo qualquer coisa com cheiro de conservador. Sempre ataca o Lula, naturalmente. Ontem não foi diferente. O negócio é que Sardenberg ataca o governo Lula usando o surrado argumento chinês. Sardenberg diz que a China vem tirando chineses da linha da pobreza sem Bolsa Família, sem Previdência pública indexada ao salário mínimo, sem programas sociais, com educação em geral paga e com empregos.

Ora ora ora ora ora ora. O cara é conservador ou comunista?! Respondo eu: o cara é conservador assumido. Tudo bem. Tem todo direito. Mas isso torna ridículo, contraditório, absurdo, usar o exemplo da China para atacar o governo Lula. Sem contar que o cara é burro e mentiroso. A China fez muito mais que dar Bolsa Família. Na China, sempre houve distribuição gratuita de alimentos. Tudo bem que apenas o estritamente necessário, uma raçãozinha diária de arroz, mas a prova é que fizeram bem feito é que estão aí, mal ou bem, 1 bilhão e meio de chineses vivos e fortes e com dez mil anos de história pra vender. O cara vem falar em educação paga na China? O cara é maluco. Até as tampas de bueiro sabem que a educação na China é pública. De uns anos para cá abriram colégios particulares para os novo-ricos chineses, mas 99,9% da população tem ensino gratuito.

Esse cara é doido ou quê? Por que esse zé mané não vai escrever editoriais anti-governo lá na China, pra ver o que é bom pra tosse? É muito fácil tirar pobres quando se tem um governo comunista central com direitos ditatoriais. Não tem Bolsa Família mas o Estado chinês tem o controle absoluto e total da economia. Pode distribuir recursos para qualquer lugar em questão de minutos. Não tem uma oposição ou imprensa mordendo seu pé. Aqui temos. É muito mais difícil fazer as coisas com democracia.

Essa é a direita brasileira. Quando o Brasil faz parcerias com a China, critica o Brasil por se relacionar com um país totalitário. Quando quer atacar políticas sociais, chama (errada e burramente) o exemplo da China.

Tem mais. Na mesma página e edição do Globo, tem um artigo do insuperável (em matéria de estupidez e puxação de saco de seus patrõezinhos globais) Demétrio Magnoli. O cara dedica um artigo em um dos jornais de maior circulação do país para tentar provar que essa coisa de ecologia é uma invenção esquerdista. O artigo é surtado, visto que analisa recente discurso do Papa Bento XVI, ultra-conservador, defendendo a ecologia e alertando a humanidade para respeitar e cuidar da natureza. Analisa e ataca o Papa. Ataca o Papa, os ecologistas, a revista Life, colocando-os todos no mesmo saco, todos partícipes de uma grande paranóia coletiva que consiste em se preocupar com as consequências da poluição. "A Heresia de Bento" é o título do artigo.

A dura realidade é que a direita brasileira é obscurantista, pré-industrialista, apatriótica, anti-humanista, anti-natureza. Em outros termos: burra. E pensar que são esses caras que dominam a grande imprensa nacional!

Eu nem comentei aqui os desdobramentos da votação no Supremo Tribunal Federal sobre os 40 do mensalão. Eu já havia observado, antes do resultado, que seria muito difícil que os juízes tivessem peito para enfrentar a mídia. Dito e feito. Aceitaram a denúncia e foram coroados como heróis. Venerados em capas de revistas. Incensados como deuses.

Eu não os culpo por terem aceito a denúncia. São homens e não tinham interesse em se transformar inimigos do poderoso quarto poder. Mas, como lembra a Carta Capital, agora falta provar o mensalão. Chamar o deputado Luizinho de mensaleiro, por receber uma parcela de 15 mil reais, é demais. Luizinho receber dinheiro para votar com o governo? O petista e governista Luizinho? A Carta Capital rememora aos distraídos brasileiros que o Caixa 2 (explicação mais racional para o valerioduto) é sim uma instituição enraizada na cultura política brasileira. É um crime e tem que ser punido. Mas é muito engraçado que os ilustres representantes da opinião pública queiram que o PT seja o mártir exclusivo do Caixa 2 nacional. O Valerioduto nasceu na campanha de Azeredo, até há pouco PRESIDENTE DO PSDB. Por que não elaboram aqueles infográficos com a fotografia do Azeredo no meio?

Por isso é tão relevante, historicamente, a manifestação idealizada por Eduardo Guimarães, diante da sede da Folha de São Paulo, no dia 15 deste mês. O evento reinsere a imprensa, com clareza, no cenário político. Os maiores problemas da imprensa brasileira são a falta de transparência e honestidade ideológica, a mistura descarada entre editorial e informação e a tentativa de produzir, artificialmente, uma "opinião pública".

Não tenho tempo para enumerar todos os exemplos de tentativa de manipulação que leio no Globo. São tantos que gastaria todo meu tempo denunciando-os. Outro dia, por exemplo, publicaram matéria sobre as dificuldades financeiras da Gradiente, uma das raras empresas nacionais do ramo de eletrônicos. Matéria maldosa, caso único na imprensa liberal sobre empresas de grante porte. Mas logo entendi porque o fizeram. Na matéria, lembra-se que o dono da Gradiente, Eugênio Staub, foi um dos primeiros empresários a apoiar a candidatura de Lula. Ora ora ora ora ora ora. ORA ORA. Que tem a ver uma coisa com outra?

A verdade é que o cidadão não pode, sob o risco de ter seu cérebro esvaziado, formar sua opinião a partir de um ou dois jornais escritos. É necessário acessar a internet e experimentar o contraditório.

*

A coluna Nhenhennhén, do Jorge Bastos Moreno, tem o dedo do Ali Kamel. O diretor Opus Dei deu uma prensa no Moreno, que demonstra estilo estranho ao seu habitual. Leia essa nota:

"A outra tese vanguardista do PT é implantar o sistema unicameral no país. Ou seja, extinguir o Senado. Ao contrário da outra, esta tese é absolutamente exequível e previsível. Basta o próprio Senado recusar o pedido de cassação do mandato do presidente Renan Calheiros."

Moreno queria fazer graça, mas o negócio, a meu ver, soou como uma piada proto-fascista. Quer dizer que a decisão do Senado não é soberana? O Senado TEM que, obrigatoriamente, cassar Calheiros, mesmo que não haja nenhuma prova contra ele? Todas as acusações referem-se à suspeita de que um lobbista pagou a pensão de sua amante. Nada foi provado. Cara, vou dizer uma coisa. Nunca gostei do Renan, mas esse processo fascistóide e viciado, esse clima de linchamento, conseguiu o que eu imaginava o impossível: defender o Renan Calheiros. Hoje defendo o Renan Calheiros. Que se condenem as pessoas por seus crimes, e não por incitamento midiático - cheio de maldosas intenções partidárias. Todas as garantias constitucionais básicas: presunção de inocência, ônus da prova para o acusador, tudo virou fumaça. Isso é ética?

7 de setembro de 2007

O manifesto de Eduardo Guimarães

5 comentarios

Até que enfim, alguém com peito para protestar. Não é a Pamela Anderson. É o Eduardo Guimarães, que lançou manifesto com abaixo-assinado e está organizando um evento diante da Folha de São Paulo, no próximo dia 15 de setembro. Leia o manifesto e entre no blog do Eduardo para assinar e saber mais.


Manifesto dos Sem-Mídia


Vivemos um tempo em que a informação se tornou tão vital para o homem que passou a integrar o arcabouço de seus direitos fundamentais. Defender a boa qualidade da informação, pois, é defender um dos mais importantes direitos fundamentais do homem. É por isso que estamos aqui hoje.

No transcurso do século XX, novas tecnologias geraram o que se convencionou chamar de mídia, isto é, o conjunto de meios de comunicação em suas variadas manifestações, tais como a secular imprensa escrita, o rádio, o cinema, a televisão e, mais recentemente, a internet. Essa mídia, por suas características intrínsecas e por suas ações extrínsecas, tornou-se componente fundamental da estrutura social, formada que é por meios de comunicação de massa.

Em todas as partes do mundo - mas, sobretudo, em países continentais como o nosso -, quem tem como falar para as massas controla um poder que, vigendo a democracia, equipara-se aos Poderes constituídos da República. E, vez por outra, até os suplanta. Essa realidade pode ser constatada pela simples análise da história de regiões como a América Latina, em que o poder dos meios de comunicação logrou eleger e derrubar governos, aprovar leis ou impedir sua aprovação, bem como moldar costumes e valores das sociedades. Contudo, há fartura de provas de que, freqüentemente, esse descomunal poder não foi usado em benefício da maioria.

Não se nega, de maneira alguma, que as mídias, sobretudo a imprensa escrita, foram bem usadas em momentos-chave da história, como nos estertores da ditadura militar brasileira, quando a pressão (tardia) de parte dessa imprensa ajudou a pôr fim à opressão de nossa sociedade pelo regime dos generais. Todavia, é impossível ignorar que a ditadura foi imposta ao país graças, também, à mesma imprensa que hoje vocifera seus neo pendores democráticos, nascidos depois que sua recusa pretérita de aceitar governos eleitos legitimamente atirou o país naquela ditadura de mais de vinte anos.

O lado perverso da mídia também se deve, por contraditório que possa parecer, à sua natureza privada, uma natureza que também é - ou deveria ser - uma de suas virtudes. Nas mãos do Estado, a mídia seria uma aberração, mas quando é pautada exclusivamente por interesses privados, seu lado obscuro emerge tanto quanto ocorreria na primeira hipótese, pois um poder dessa magnitude acaba sendo usado por diminutos grupos de interesse. Nas duas situações, quem sai perdendo é a coletividade, pois o interesse de poucos acaba se sobrepondo ao de todos.

A submissão da mídia ao poder do dinheiro é um fato, não uma suposição. Os meios de comunicação privados nada mais são do que empresas que visam lucro e, como tais, sujeitam-se a interesses que, em grande parte das vezes, não são os da coletividade, mas os de grandes e poderosos grupos econômicos. Estes, pelo poder que têm de remunerar o “idealismo” que lhes convêm, cada vez mais vão fazendo surgir jornalistas dispostos a produzir o que os patrões requerem, e o que requerem, via de regra, é o mesmo que aqueles grupos econômicos, o que deixa a sociedade desprotegida diante da voracidade daqueles que podem esmagar divergências simplesmente ignorando-as.

É nesse ponto que jornalistas e seus patrões contraem uma união estável com facções políticas e ideológicas que não passam de braços dos interesses da iniciativa privada, dos grandes capitais nacionais e transnacionais, do topo da pirâmide social. E a maioria da sociedade fica órfã, indefesa diante do poder dos de cima de alardearem seus pontos de vista como se falassem em nome de todos.

Agora mesmo, na crise que vive o Senado Federal, vemos os meios de comunicação alardearem uma suposta "indignação nacional" com o presidente daquela Casa. Esses meios dizem que essa indignação é "da opinião pública", apesar de que a maioria dos brasileiros certamente está pouco se lixando para a queda de braço entre o presidente do Congresso e a mídia. Nesse processo, a "indignação" de meia dúzia de barões da mídia é apresentada como se fosse a "da opinião pública".

O poder que a mídia tem - ou pensa que tem - é tão grande, que ela insulta a ampla maioria dos brasileiros que elegeu o atual governo, dizendo que tal maioria tomou a decisão eleitoral que tomou porque é composta por "ignorantes" que se vendem por "bolsas-esmola" pagas por esse governo. Retoma, assim, os fundamentos do voto censitário, que vigeu no alvorecer da República, quando, para votar, o cidadão precisava ter um determinado nível de renda e de instrução. E o pior, é que a teoria midiática para explicar por que a maioria da sociedade não acompanhou a decisão eleitoral dos barões da mídia, esconde a existência de cidadãos como estes que aqui estão, que não pertencem a partidos, não recebem "bolsas-esmola" e que, assim mesmo, não aceitam que a mídia tente paralisar um governo eleito por maioria tão expressiva criando crises depois de crises.

É óbvio que a mídia sempre dirá que suas tendências e pontos de vista coincidem com o melhor interesse do conjunto da sociedade. Dirá isso, através da confortável premissa (para os beneficiários maiores do capitalismo) de que as dores que a prevalência dos interesses dos estratos superiores da pirâmide social causa aos estratos inferiores, permitirão a estes, algum dia, ingressarem no jardim das delícias daqueles. É a boa e velha teoria do “bolo” que precisa primeiro crescer para depois ser dividido.

É por essas e por outras, que os meios de comunicação, sobretudo no Brasil, sempre tomaram partido nos embates políticos. Demonizam políticos e partidos que grupos de interesses políticos e econômicos desaprovam, e, quando não endeusam, protegem os políticos que aqueles grupos aprovam. Isso está acontecendo hoje em relação ao governo federal e à sua base de apoio parlamentar, por um lado, e em relação à oposição a esse governo e a seus governos estaduais e municipais, por outro. Resumindo: a mídia ataca o governo central em benefício de seus opositores.

Os meios de comunicação se defendem dizendo que atacam o governo central porque ele nada faz de diferente - ou de melhor - do que fazia a facção política que governava antes. Alguns veículos, mais ousados, dizem que os que hoje governam favorecem mais o capital do que seus antecessores. Outros veículos, mais dissimulados, adotam um discurso quase socialista ao criticarem os lucros dos bancos e o cumprimento dos contratos que o governo tem garantido. A mídia chega a fazer crer que apoiaria o governo federal se ele fizesse despencar a lucratividade do sistema bancário e se rompesse contratos. Faz isso em contraposição ao que dizia dos políticos que estão no poder no tempo em que estavam na oposição, quando dizia que não poderiam chegar ao poder porque, lá chegando, descumpririam contratos e prejudicariam o sistema bancário.

A mídia brasileira garante que é “isenta”, que não é pautada por ideologias ou por interesses privados, e que trata os atuais governantes do país como tratou os anteriores. Não é verdade. Bastaria que nos debruçássemos sobre os jornais da época em que os que hoje se opõem ao governo federal estavam no poder e os comparássemos com os jornais de hoje. Veríamos, então, como é enorme a diferença de tratamento. Nunca a oposição ao governo federal foi tão criticada quanto na época em que os que hoje estão no governo, estavam na oposição; nunca o governo foi tão defendido pela mídia quanto era na época em que os que hoje estão na oposição, estavam no governo.

Não é preciso recorrer a registros históricos para comprovar como os pesos e medidas da mídia diferem de acordo com a facção política que ocupa o poder. Basta, por exemplo, comparar a forma como os jornais paulistas cobrem o governo do Estado de São Paulo e como cobrem o governo do país.

A mesma facção política governa São Paulo há mais de uma década. Nesse período, o Estado foi tomado pelo crime organizado. A Saúde pública mergulhou, ainda mais, num verdadeiro caos. A Educação pública permanece como uma das piores do país a despeito da pujança econômica paulista. Assim, começaram a eclodir desastres nunca vistos na locomotiva do Brasil que é São Paulo.

Ano passado, uma organização criminosa aterrorizou este Estado. Essa organização nasceu e se fortaleceu dentro dos presídios controlados pelo governo paulista. A Febem, destinada a recuperar jovens criminosos, consolidou-se como escola de crimes, e as prisões para adultos, alcançaram o status de faculdades do crime. No início deste ano, uma rua inteira ruiu por causa de uma obra da linha quatro do metrô paulistano, administrado pelo governo paulista. Várias pessoas morreram. Foi apenas mais um de muitos outros acidentes que ocorreram nas obras do metrô de São Paulo e a mídia não noticia nada disso, o que lhe deixa óbvio o intuito de proteger o grupo político que governa o Estado mais rico da Federação e que se opõe ferozmente ao governo federal.

A mídia exige CPIs para cada suspeita que a oposição levanta sobre o governo federal, mas não diz uma palavra de todos os escândalos envolvendo o governo de São Paulo. Omite-se quanto à violação dos direitos das minorias parlamentares na Assembléia Legislativa paulista, violação perpetrada pelas maiorias governistas, maiorias que nos últimos anos enterraram dezenas de pedidos de investigação do governo paulista, controlado por políticos que estão entre os que mais exigem investigações sobre o governo federal.

Seria possível passar dias escrevendo sobre tudo que a imprensa paulista deveria cobrar do governo do Estado de São Paulo, mas não cobra. Ler um jornal impresso em São Paulo ou assistir a um telejornal produzido em São Paulo, só serve para saber o que faz de ruim - ou o que a mídia diz que faz de ruim - o governo federal. Quase não há informações sobre o governo paulista, e críticas, há muito menos. O desastre causado pela obra da linha quatro do metrô paulistano foi coberto pela mídia por uns poucos dias. Depois, o assunto desapareceu do noticiário e nunca mais voltou. A mídia esconde e impede qualquer aprofundamento no caso e a sociedade fica sem satisfação.

Assim é com tudo que diga respeito a políticos e partidos dos quais a imprensa paulista gosta. E o mesmo se reproduz pelo país inteiro. A mídia carioca, a mídia baiana, a mídia gaúcha, as mídias de todas as partes do país fazem o mesmo que a paulista, pois todas obedecem aos mesmos interesses, controladas que são por um número ridiculamente pequeno de famílias "tradicionais" que dominam a comunicação no Brasil.

O lado mais perverso desse processo é o de a mídia calar divergências. Cidadãos como estes que assinam este manifesto são tratados pelos grandes meios de comunicação como se não existissem. São os sem-mídia, somos nós que ora manifestamos nosso inconformismo. Muito dificilmente é dado espaço pela mídia para que quem pensa como nós possa criticar o seletivo moralismo midiático ou as facções políticas amigas dos barões da mídia. A quase totalidade dos espaços midiáticos é reservada àqueles que concordam com os grandes meios de comunicação. Jornalistas que ousam discordar, são postos na "geladeira". A mídia impõe uma censura branca ao país.

Claro precisa ficar que os cidadãos que assinam este manifesto não pretendem, de forma alguma, calar a mídia. Pelo contrário, queremos que ela fale ou escreva muito mais, pois queremos que fale ou escreva tudo, não só o que quer.

Mais do que um direito, fiscalizar governos, difundir idéias e ideologias, é obrigação da mídia. Assim sendo, os signatários deste manifesto em nada se opõem a que essa mesma mídia critique governo nenhum, facção política nenhuma, ideologia de qualquer espécie. O que nos indigna, o que nos causa engulhos, o que nos afronta a consciência, o que nos usurpa o direito de cidadãos, é a seletividade do moralismo político midiático, é o sufocamento da divergência, é o soterramento ideológico de corações e mentes.

Por tudo isso, os signatários deste manifesto, fartos de uma conduta dos meios de comunicação que viola o próprio Estado de Direito, vieram até a frente desse jornal dizer o que ele e seus congêneres teimam em ignorar. Viemos dizer que existimos, que todos têm direito de ter espaço para seus pontos de vista, pois a mídia privada também se alimenta de recursos públicos, da publicidade oficial, e, assim sendo, tem obrigação de não usar os amplos espaços de que dispõe como se deles proprietária fosse. Seu papel, seu dever é o de reproduzir os diversos matizes políticos e ideológicos, de forma que o conjunto da sociedade possa tomar suas decisões de posse de todos os fatos e matizes opinativos.

Em prol desse objetivo, hoje está sendo fundado o Movimento dos Sem-Mídia. Trata-se de um movimento que não está cansado de nada, pois mal começou a lutar pelo direito humano à informação correta, fiel, honesta e plural. Aqui, hoje, começamos a lutar pelo direito de todos os segmentos da sociedade de terem como expor suas razões, opiniões e anseios, e de receberem informações em lugar desse monstrengo híbrido - gerado pela promiscuidade entre a notícia e a opinião - que a mídia afirma ser "jornalismo".


São Paulo, 15 de setembro de 2007

Para assinar o manifesto entre no blog do Eduardo Guimarães.
http://edu.guim.blog.uol.com.br/

5 de setembro de 2007

Sobre Curta-Metragens e eventos

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(um dos filmes mais bonitos que vi na vida, do Saraceni. É baseado no conto de Paulo Emílio Sales Gomes. Recentemente, tentaram estragar o tema com o filme Duas Vezes com Helena, uma merda)




O Porta-Curtas é uma iniciativa ótima. Me cadastrei lá e espero ver muitos curtas legais. Gosto de curta-metragem. Quando é bom, óbvio. Há tempos que tenho vontade de me especializar em escrever sobre cinema. Tem muita gente fera fazendo isso, os caras da Contracampo, por exemplo, que são insuperáveis, embora às vezes excessivamente acadêmicos ou com obsessão de parecer inteligentes e experts, o que enche um pouco o saco. Eles sempre têm algo a dizer, todavia, mesmo empoladamente. São sérios e corajosos e fizeram escola. Mas é preciso continuar inovando. Reinventar a própria maneira de escrever sobre cinema. Por isso a iniciativa da organização do Festival de Curtas de São Paulo de criar um blog - em parceria com uma escola de cinema - para publicar críticas sobre os filmes exibidos no evento, foi fantástica.

Mas eu queria falar do Porta-Curtas. Eles criaram um prêmio especial para o Festival de Sampa. Escolheram três filmes. Acontece que não gostei de nenhum dos três. Na onda de desenferrujar a verve crítica, escrevi sobre os referidos trabalhos. Os filmes estão acessíveis gratuitamente no portal.

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Abaixo as críticas mencionadas.


Sobre Lobinho nunca mente, de Ian Samarão Brandão Fernandes 2007, 9 min: o tema é arriscado, e o cineasta tem o mérito de ser corajoso ao abordá-lo. Não é original. Jonnhy vai a guerra transformou o assunto num clássico. Na literatura, temos Samuel Becket, com um trio de romances dedicados ao pesadelo da imobilidade. O curta, portanto, é valente, estranho, provocativo. Mas ruim, muito ruim.

Sobretudo me pareceu um tanto fútil. Coisa de garoto mimado. Diálogos enjoados, mesquinhos. Filme sem movimento, com um narrador de voz monótona e timbre repetitivo. O texto é previsível. Marlene, a empregada, único contraponto humano ao protagonista, é um personagem fantasmagórico, sistematicamente insultado pelo narrador. Há um preconceito de classe profundo, mas o cineasta aparentemente não se dá conta disso e o resultado é feio, ingênuo, irritante. Longe fazer patrulhamento. Isso não quer dizer nada. O filme podia ser do caralho se o personagem dissesse algo interessante. Podia ser pessimista e preconceituoso. Gosto de ler Schopenhauer justamente por causa de seu pessimismo e preconceitos. Mas o alemão sabia ser interessante, sabia mesmo ser engraçado, como quando critica a própria obssessão germânica pela erudição: querer que guardemos na cabeça todos livros que lemos é como querer que guardemos no estômago toda a comida que comemos, diz.

Quando o personagem do "Lobinho" começa a falar, até gostei. A fala é natural, espontânea, autêntica. Ele fala merda e isso é humano, é forte, é arte. Mas ele se repete demais e isso não é arte. A diferença entre a música tribal e o blue-jazz de kansas city é que o segundo se repete menos. Sabe jogar com a repetição, mas sem se repetir verdadeiramente. O cineasta acertou ao usar uma linguagem despojada. Mas errou fragorosamente ao não procurar um texto melhor. O mínimo que se pede de um filme cujo protagonista passa 100% do tempo sem se mover, sem expressão facial, é um pouco de conteúdo. Algum texto que nos faça pensar, mesmo sendo um palavrão. O sujeito poderia berrar: CARALHO! e isso poderia, se inserido num bom contexto, adquirir belos significados metafísicos, filosóficos, artísticos. Ou não significar nada, o que seria mais belo ainda. Apenas um grito de raiva. Nota 3.

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Curiosamente, outro filme do festival também trabalha com a imobilidade. O Homem-estátua (Marcos Magalhães 2007 9 min) tem um bom ritmo nos primeiros minutos. A trilha sonora foi bem produzida. Sempre quis saber o que se passa pela cabeça desses homens-estátuas. Porra, que tipo de cara é esse que passa o dia sem se mover, em troca de míseras moedinhas? Gosto muito dos artistas de rua, mas tenho uma especial antipatia pelos homens-estátuas. Mas isso não prejudicou minha disposição de avaliar bem o curta.

O cineasta usa o olhar do homem-estátua para observar as pessoas, produzindo um caledescópio humano legal. O roteiro demora um pouco a se desenvolver e quando estamos quase de saco cheio, o homem-estátua enfim desce do pedestal e corre para a Caixa Econômica para dar baixa na penhora de seu mono-ciclo.

No entanto, um detalhe me incomodou. Ele consegue pagar a penhora de R$ 2.184,25 com aquelas moedinhas que ganhou durante o dia? O roteirista surtou? Essa irrealidade besta revela um descuido imperdoável. Quando se faz um filme em que o dinheiro é um elemento central da trama – como é o caso - , a verossimilhança é fundamental. Senão, alguém pode pensar que o autor é mais um burguesinho fazendo filme sobre pobre sem ter noção do que faz. Estragou o final e piorou minha avaliação, que, iniciando em nota cinco, caiu para nota 3.

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O brilho dos meus olhos (Ficção, Concorrendo Fest De Allan Ribeiro 2007 11 min) iniciou me assustando com aquelas cenas enfadonhas de trabalhador entrando no trem. Não porque eu tenha algo contra filmar trabalhadores entrando no trem. Critico aqui a forma convencional com que Allan o fez. Conforme o filme avança, a coisa piora. O show de breguice aumenta, até chegar ao apogeu do homem cantando uma música no karaokê de um botequim vagabundo. Caralho, dá medo.

A cena do operário comendo é um atentado à história da cinematografia proletária. Filmar um operário comendo pode ser a coisa mais brega, mais fútil. A velha história do Joãozinho Trinta: coisa de intelectualóide com tesão em ver pião trabalhando e mendigo revirando lata de lixo. Esse filme consegue ser o pior dos três.

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Segue um informe importante, copiado e colado do Porta-Curtas. Irei com certeza. É praticamente ao lado da minha casa. Escreverei sobre.


CINECLUBE BOM DE LAPA inicia suas atividades

Mais um cineclube surge no Rio de Janeiro. Localizado na Lapa, o CINECLUBE BOM DE LAPA inicia suas atividades no dia 3 de setembro, às 21h. Programado pelo jornalista Breno Lira Gomes, o cineclube será quinzenal, com sessões de curtas-metragens e entrada franca.

Para a noite de estréia estão programados PALACE 2, de Fernando Meirelles e Kátia Lund, SETE MINUTOS, de Cavi Borges, Júlio Pecly e Paulo Silva, e O FILME DO FILME ROUBADO DO ROUBO DA LOJA DE FILME, de Marcelo Yuca, Júlio Pecly e Paulo Silva.

À meia noite acontece a Sessão Maldita, com um curta cujo tema envolve sexo, mundo bizarro, terror ou universo trash. O primeiro a ser exibido será ALGOLAGNIA, de Túlio Bambino.

Durante as exibições o público presente irá ganhar pipoca. E no intervalo das sessões ocorrerão sorteios de convites para o filme CIDADE DOS HOMENS.

A próxima sessão do CINECLUBE BOM DE LAPA está prevista para o dia 17 de setembro, com curtas que foram exibidos no Festival do Rio. O Bom de Lapa fica na rua do Riachuelo, 49, Lapa.

3 de setembro de 2007

Tardes do latim vulgar (uma crônica desconexa)

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(Kandinsky)



Tenho uma relação difícil com a hora vespertina. A realidade se torna mais dura, mais direta, à tarde. Talvez seja a luz. Branca, séria, tensa. Consequentemente invento fugas. Ler crônicas do Machado de Assis, por exemplo, ou Diana Caçadora, da Márcia Denser.

Ainda era cedo para ir ao banco, onde eu me encontraria com minha mãe e meu irmão para assinarmos um documento. Então decidi ver como ficara a Biblioteca Nacional depois da reforma.

Continua honesta, simples, e as crônicas do Machadão são sempre boas. Por mais de quarenta anos, Machado colaborou com diversos jornais fluminenses. Com leveza, ironia e inocência Machado fala de tudo e todos sem nunca ofender ninguém - o que não é necessariamente uma virtude, mas com certeza uma forma de elegância.

Depois li algumas páginas dos contos da Denser. Os textos da Denser são ácidos, ágeis, imprevisíveis. Ao contrário do Machadão, nunca são inocentes nem buscam suavidade. Por outro lado, talvez sejam inocentes, mas de uma inocência desesperada, uma inocência que luta para não se transformar em desencanto, em cansaço, em "sabedoria".


*

A verdade é que não me identifico com os seres humanos. Identifico-me muito mais com os cachorros, principalmente os vira-latas, que são mais inteligentes.

*

Sentindo-me assim, naturalmente, não tenho ganas de abordar as questões políticas. Angústia metafísica é foda. Consome a gente por dentro. A tragédia é que eu não consigo estancar esse maldito processo de "amadurecimento". Que não é amadurecimento porra nenhuma. No meu caso, é engessamento da liberdade psíquica. Mas não quero complicar as coisas.

*

O erotismo do Bataille é insuperável, e o latim deveria ser reincorporado à educação básica obrigatória, afinal asinus asinum fricat. O burro coça outro burro. Os bobos se amam e trocam elogios.

*

Contaram-me que o Alexei Bueno escreveu um artigo-resposta à última crônica do Arnaldo Jabor, que havia detonado Fernando Pessoa em prol do João Cabral de Melo Neto. Estou caçando esse texto - quero acompanhar essa briga - adoro polêmicas literárias.

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Abaixo os links de algumas resenhas de minha autoria, publicadas em sites de literatura. Para organizar sob o item Marketing Myself ou coisa parecida.

No Portal Literal foram 3 resenhas
Cão sem Dono
Humanismo fora-da-lei de Márcia Denser
Cineasta mexicano adapta Rubem Fonseca

No Verdes Trigos
Resenha de Ossaturas, de Jeová Santana