23 de junho de 2005

O que não mata nos deixa mais fortes

Genoíno, Dirceu, Dilma Rousseff, tiveram uma larga e dura experiência de luta contra a ditadura militar. Foram presos, torturados e, anos depois, brigaram pela criação das diretas, pela fundação do PT, e entraram de vez no mundo da política. Nesse tempo todo, passaram por grandes dificuldades.

Enfim, chegaram ao poder. E agora enfrentam os problemas próprios de quem possui o poder político, mas não o econômico. A oposição está montada sobre a mídia. Os líderes da oposição não tem sequer o pudor de lerem manchetes de jornal na tribuna. Roberto Jefferson, na entrevisa ao Roda Viva, não cansava de repetir que somente a imprensa pode mudar os rumos da CPI, o que, a meu ver, significa, transformá-la num circo político que aprofunde a sensação de instabilidade política no país.

Entretanto, a estratégia da oposição, se bem compreendida pelo PT, pelo governo, e seus quadros, poderá se voltar contra ela própria. Se tiverem paciência, serenidade, para aguardarem as investigações irem até o fim. Passado o furacão, devem cobrar, na mesma moeda, a conta da mídia e da oposição.

É notável que os movimentos sociais e a intelectualidade progressista, ou de "esquerda" estavam um pouco desorientados com a chegada de Lula ao poder. Perderam o "grande inimigo", que era o Estado, histórico representante das elites. Agora, que vêem a oposição usando munição pesada contra o governante que eles ajudaram a eleger, encontram novamente um adversário contra o qual lutar. Estão enxergando, na estratégia da oposição, uma articulação maquiavélica para debilitar o governo Lula e retornar ao poder.

A articulação das elites para derrubar o governo Lula vem sendo negada com sarcasmo pelos colunistas dos grandes jornais. Falam no aumento da renda dos milionários e dos banqueiros, como se esse fato pudesse ser atribuído à Lula. No ambiente democrático-capitalista brasileiro, o que Lula poderia fazer para reduzir as taxas de lucratividade das elites. Todos sabem que o grande capitalista ganha em qualquer circunstância. A economia cresce, ele ganha. A economia cai, ele ganha. O dólar sobe, ele ganha; o dólar cai, ele ganha. Lula é eleito, ele ganha. Lula perde, ele ganha. Mesmo se dando bem, as elites tem sua ideologia, e ela não é petista. É uma ideologia conservadora e retrógrada, que criminaliza os movimentos sociais e quer retomar as rédeas do governo federal para terminar a devastação feita pelo governo FHC. Quer privatizar de vez a Petrobrás, o Banco do Brasil, quer enterrar a agricultura familiar, instituir um aparato de segurança pública fascista e brutal, como Alckmin vem fazendo em São Paulo.

Felizmente, a grande mídia não tem mais a força de antigamente. Diversos sites de prestígio, como o Agência Carta Maior, e mesmo revistas conceituadas, como a Carta Capital, estão fazendo uma cobertura mais isenta, mais ponderada, sobre o episódio envolvendo as denúncias de Roberto Jefferson.Há muitos outros sites e blogs. Claro que há o preconceito reprimido contra Lula e o PT; e que explodiu facilmente com as mentiras super-divulgadas de Jefferson. Mas esse preconceito iria explodir mais dia menos dia. A crise de hoje é a oportunidade do governo Lula se aproximar dos movimentos sociais, que mostram lealdade e são "blindados" contra a influência da grande mídia, porque experimentam, eles próprios, o veneno diário que ela inocula na opinião pública contra eles; e também dos intelectuais de esquerda, que são tantos e tão importantes, e que possuem visão crítica o bastante para ler a Folha, o Estadão, e não se envenenarem.

O governo Lula tem sido bem sucedido no campo econômico. Mas não pode esquecer que o poder nasce na política e morre na política. A crise mostrou fragilidade no campo político, e foi sorte que aconteceu há quase dois anos da eleição, dando tempo, ao governo, para reconstruir sua imagem e sua estratégia. Uma boa comunicação com o público é fundamental. Portanto, o governo precisa apoiar e incentivar jornais, revistas e sites alternativos, que mostrem uma visão independente e íntegra. Sem esquecer, contudo, que independência, como dizia Rui Barbosa, que era acusado de tendencioso por defender a abolição da escravatura, não significa passividade diante dos fatos, e que não existe imparcialidade diante da injustiça. Onde há mentira, é preciso apontá-la e condená-la; e não erigi-la como manchete de jornal, como muitos vem fazendo...

3 comentarios

Anônimo disse...

Nesse momento devemos estar atentos e prontos para tomar decisões contra os corruptos e corruptores, sejam eles do PT ou do PSDB ou de qualquer outro partido. Não é um problema esquerda x direita, povo x elite dominante. Não é nada disso. É roubalheira e isso não é aceitável em nenhum governo.
Há uma pergunta que não quer calar.
O Lula está deslumbrado com o poder e não vê nada ou ele é ignorante mesmo?

Anônimo disse...

Fiz o comentário anterior e não gosto de ser "anônimo".

Pois muito bem,meu nome é Carlos Alberto, 28 anos, sou de Curitiba, formado em Ciências Contábeis e Auditor Contábil.

carlos_alberto_2201@hotmail.com

Miguel do Rosário disse...

Roubalheira não é aceitável em nenhum governo. Mas infelizmente existe e para isso foram criadas as instituições responsáveis. Roubalheira se apura e se condena, mas não se pode transformá-la em pretexto para desestabilização política. Quem apura roubalheira é a Polícia Federal e o Ministério Público. E estão fazendo.

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