24 de maio de 2008

Árbitro dos suicidas (segunda versão)

nas manhãs mal acordadas
por ressaca & futilidades
nas horas de lucidez
e outros luciferinos estados
de consciência
analiso-me
e arranco dores
como quem caça
pombos na rua

nem dou valor às condecorações
e o lento fracasso
dos poetas desfibrados
ou liquefeitos (como eu)
em cachaça

sofro, simplesmente,
sem poesia,
ou adornos insones
nesta manhã tensa
de presságios esmaecidos

será isso, afinal,
uma vingança?

a vida e seus títulos
museu de sucessos
eterno rosário
das compensadoras glórias
que aplacarão a dor
e o remorso inexplicável
de viver, amar, desejar
a felicidade
e temer o câncer
dos sonhos,
da juventude
e dos pretextos
- derrubados
um a um, dominó
de filhos mortos

talvez as guerras
íntimas e secretas
não sejam tão mesquinhas
como aparentam
à primeira vista

talvez estejam em jogo
dólares morais, mercadorias
de pudor
e ódio,
fomes antigas
e duradouras
como baratas

a verdade, porém, pode estar
no rim dos pensadores
ou na luz baça
das estrelas

de maneira que minha solidão
e perplexidade
- duas faces
da mesma
tola independência -
passarão
despercebidas