(Jonathan Meese, pintor alemão contemporâneo)
Acabo de topar com um artigo de Celso Amorim no blog do Azenha sobre o voto do Brasil na votação do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Como eu me envolvi bastante nessa polêmica, sinto-me no dever de comentá-lo.
Com todo o respeito por nosso grande chanceler, não consegui entender seus argumentos. A impressão que eu tive é que ele está sentindo alguma dorzinha no cotovelo. Bem certo está o Eclesiastes: vaidade das vaidades, tudo é vaidade.
Amorim diz que, após nosso voto no Conselho, o país não irá mais, a pedido do Brasil, "libertar" estrangeiros ou artistas injustamente presos em território iraniano, citando o caso do cineasta Abbas Kiarostami, a americana Sarah Shroud e a francesa Clotilde Reis.
Ora, Amorim acha que o Brasil deveria premiar o Irã por ter chantageado a comunidade internacional com o sequestro de pessoas? Que o Brasil deve renunciar a qualquer pretensão de colaborar na luta pelos direitos humanos no mundo?
Evidentemente que o voto do Brasil terá consequências, mas não para pior. O Brasil votou juntamente com Argentina, Bélgica, Japão, Noruega, Coréia do Sul, Espanha, Suíça, Inglaterra, Polônia, México, Chile, Guatemala, Senegal, Moldova, Ucrânia, Estados Unidos e Zâmbia. Ou seja, 22 países.
Apenas 7 países votaram contra a resolução da ONU: Bangladesh, China, Cuba, Equador, Mauritania, Paquistão e Russia.
E 14 abstiveram-se: Bahrain, Burkina Faso, Camarões, Djibouti, Gabão, Ghana, Jordânia, Malaysia, Mauritius, Nigeria, Arábia Saudita, Tailândia, Uganda e Uruguay.
Repare uma coisa: tirando Equador e Uruguai, todos os outros países que votaram contra ou abstiveram-se são ditaduras reais ou disfarçadas.
Escrevi um post dias atrás mostrando que o Conselho de Direitos Humanos da ONU atua em todo mundo, inclusive nos EUA, Israel e Brasil.
Amorim agora nos lembra que esse tipo de relatoria foi aprovada apenas para poucos países.
Ué, são poucos países porque foram aprovadas poucas relatorias. Não aprovando para o Irã, continuariam a ser poucas. Como há graves violações de direitos humanos no mundo inteiro, o certo é que a ONU amplie o número de relatores especiais, e não o contrário!
Observe que Amorim enfatiza o caráter "simbólico" da relatoria de direitos humanos, que seria "infamante", mas não fornece nenhum dado sobre o porquê, exatamente, assim o seria. Esse "infamante" é um estigma que deve ser derrubado e não reforçado através de posturas resignadas ou tímidas.
De qualquer forma, Amorim não menciona o fato de que o "relator especial" pode ser para poucos, mas o Conselho dos Direitos Humanos produz relatórios e denúncias sobre a situação em todos os países do mundo, sem discriminação, incluindo ditaduras árabes, Brasil, EUA e Israel. Ainda não vi essa informação disseminada em parte alguma a não ser em meu blog.
Na verdade, parece-me que Celso Amorim ficou mordido com a posição desfavorável em que ficou após a mídia vender a narrativa de que Dilma teria "rompido" com a política externa anterior, a qual, segundo a mídia, seria uma política "amiga de ditaduras", "ideológica" e "terceiro mundista". E não só no Brasil. Essa narrativa também se encontra na mídia americana. Houve a tentativa em toda parte de se construir um discurso de "enfim, vencemos". Esse é um discurso falacioso, que parte da esquerda brasileira comprou ingenuamente. Ser independente não é votar sempre contra os EUA, e sim votar contra ou favor os EUA em virtude de nossos princípios e interesses, sem se importar se o Washington Post nos insulta ou nos louva.
Amorim ignora, em seu artigo, uma questão central: a luta concreta pelos direitos humanos, e as inúmeras denúncias de que o Irã comete graves violações contra estes. Não são denúncias de americanos, e sim de intelectuais iranianos, como Shirin Ebadi, a escritora, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Tudo bem que o Nobel pode estar meio desprestigiado, mas ainda é um Nobel!
Certo, o mundo inteiro comete abusos, o Brasil incluso. Amorim, porém, prefere ignorar o sentido do nosso voto, bem explícito no texto lido pela representante brasileira: "O Brasil estimula outros países a cooperarem com todos os mecanismos decorrentes de resoluções e decisões adotadas pelo Conselho. O Brasil espera que os principais patrocinadores desta iniciativa apliquem os mesmos padrões a outros casos de não-cooperação com o Sistema de Direitos Humanos das Nações Unidas. "
Ou seja, o Brasil comprometeu-se a votar da mesma forma em votações similares. Caso assim não o faça, aí sim deve ser censurado.
Reitero ainda que a decisão brasileira foi apoiada por Marco Aurélio Garcia, ex-assessor de Lula e atual assessor de Dilma para assuntos internacionais, e pelo próprio Lula. Repito o que disse anteriormente: Amorim é diplomata cinco estrelas, mas a sua atuação na ONU seguia a orientação de Lula e de Garcia. Tanto é assim que, antes da chegada de Lula, Amorim fora indicado para ONU por nada mais nada menos que FHC, que nunca demonstrou predileção por uma diplomacia independente.
Não estou tentando desconstruir Amorim. É que eu tento pensar no xadrez da política internacional e achei que a decisão do Brasil foi inteligente. Se Lula tivesse sido contra, eu teria discordado de Lula. Procuro analisar as situações com objetividade, sem me importar se alguma autoridade concordou ou não. Amorim, por mais brilhante que seja, é um homem, e está envolvido emocionalmente com os imbróglios do Irã. Por isso é importante haver rotação no poder, porque por mais talentosas que sejam as lideranças políticas, suas opiniões às vezes cristalizam-se, inflexibilizam-se.
A troco de quê o Brasil defenderia o Irã indefinidamente? Para que possa servir de mediador e libertar outra francesa sequestrada em seu território? Seria um motivo absurdo e contraditório: aceitar que um governo sequestre pessoas e premiá-lo por isso. É preciso entender que a decisão do Brasil de apoiar a pretensão do Irã de possuir seu próprio programa nuclear teve um custo político pesado para nós junto às potências ocidentais. Valeu a pena? Valeu. O Brasil passou a ser respeitado. Mas esse respeito se dá justamente porque as potências entendem que o Brasil apoiou o Irã por causa de princípios e não por anti-americanismo: se nós temos direitos a energia nuclear, o Irã também os tem. Da mesma forma, votamos junto com a maioria da comunidade internacional para o envio de um relator ao Irã igualmente por princípios. Abster-nos seria, me desculpem, uma pusilanimidade. O Brasil precisa parar de se abster e ter uma posição mais assertiva: votar a favor ou contra. Se votasse contra o envio, teria que dar explicações muito mais consistentes do que essas apresentadas por Amorim em seu artigo para Carta Capital. E teria que votar contra o envio de relatores em outros pleitos, e assim estaríamos, em vez de colaborar para levar direitos humanos a todo mundo, prejudicando a atuação da ONU neste sentido.
Pode parecer pretensioso de minha parte falar isso, mas paciência: Amorim se distraiu por vaidade e não pensou no melhor movimento no jogo de xadrez da geopolítica, que é feito de avanços e recuos estratégicos. Afinal, votamos por princípios, mas também por interesse econômico e político. Ajudamos ao máximo o Irã, agora deixemos que se virem um pouco sozinhos, ainda mais no CDH, onde não há sanções nem nada. Talvez o susto os ajudem a aprimorar sua democracia, aceitando a existência do homossexualismo, por exemplo. Desde a última votação sobre o Irã, no ano passado, muita coisa aconteceu naquela região. O mundo árabe vive um despertar democrático e humanista, querendo deixar para trás barbaridades como apedrejamento de mulheres, etc. O Brasil tem que apoiar essa onda.
E não venham falar que eu mudei. Quando eu escrevia posts defendendo o Irã, eu sempre fazia longas digressões para lembrar que sabia da violação dos direitos humanos no país. Eu não aceitava que os julgássemos com a arrogância que vemos entre os conservadores. Os persas violam os direitos humanos, mas nós violamos também, em alguns casos até de maneira mais odiosa. Mas nós recebemos de braços abertos os funcionários do Conselho de Direitos Humanos da ONU e eu defenderia com unhas e dentes, se houvesse uma votação, que se enviasse para cá quantos relatores especiais fossem necessários.
O artigo de Amorim é egoísta, porque parece se preocupar apenas em atrair a simpatia da esquerda (inclusive citando Cuba, o que é uma apelação), às custas de lançar Patriota, seu secretário até há pouco, às feras. Não foi leal. Ele poderia até discordar intimamente, mas diante de um parceiro que dá seus primeiros passos, Amorim bem que podia tentar explicar as razões que levaram o governo a votar daquela maneira. Um diplomata não deve pensar em si mesmo, mas no país.
Espero que Amorim não seja uma espécie de Lampreia avermelhado, e não manche sua magnífica atuação à frente da diplomacia brasileira tentando atrapalhar o trabalho de seu colega.
Abaixo o artigo do ex-chanceler.
O apoio do Brasil à resolução da ONU contra o Irã terá consequências
1 de abril de 2011 às 11:51h
por Celso Amorim*, em CartaCapital (via Azenha)
No dia 24 de março, o Brasil apoiou a resolução do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas que instituiu um Relator Especial para investigar a situação no Irã. Esse tipo de relator sobre um país específico, do ponto de vista simbólico, representa o nível mais alto de questionamento sobre o estado dos direitos humanos. Para se ter uma ideia, apenas oito países estão sujeitos a esse tipo de escrutínio.
Se excluirmos o Haiti, cuja inclusão se deve sobretudo aos efeitos de catástrofes naturais e contou com o apoio do próprio governo de Porto Príncipe, todos os demais (Camboja, Mianmar, Somália etc.) foram palco de tragédias humanitárias graves. São em geral países muito pobres, ditos de menor desenvolvimento relativo, em que o Estado, seja por incapacidade (Burundi, Haiti), seja em razão de sistemas políticos autocráticos (Coreia do Norte, Myanmar), não atende minimamente às necessidades dos seus cidadãos.
Mesmo países, certa ou erradamente, considerados pelas potências ocidentais como ditaduras (Cuba, China e Líbia, antes dos últimos acontecimentos) ou que passaram a ser qualificados como tais recentemente (Egito e Tunísia, antes da Revolução do Jasmim) não fazem parte dessa lista infamante. Noto, a propósito, que um recente artigo publicado no Herald Tribune dava conta da opinião de um ex-diplomata norte-americano sediado em Teerã de que haveria no Irã mais elementos de democracia do que no Egito de Mubarak, então apontado como exemplo de líder árabe moderado. Que eu me recorde, o Irã é o único país que poderia ser classificado como uma potência média que está sujeita a esse tipo de escrutínio. Não procedem explicações que procuram minimizar a importância da decisão com comparações do tipo: “O Brasil também recebe relatores” ou “não houve condenação”.
Não há como comparar os relatores temáticos que têm visitado o Brasil com a figura de um relator especial por país. Na semiologia política do Conselho de Direitos Humanos e de sua antecessora, a Comissão, a nomeação de um relator especial (ressalvados os casos de desastres naturais ou situações pós-guerras civis, em que o próprio país pede ou aceita o relator) é o que pode haver de mais grave. Se não se trata de uma condenação explícita, implica, na prática, colocar o país no banco dos réus. Quando fui ministro do presidente Itamar Franco, viajei a Cuba com uma carta do nosso chefe de Estado, a qual, além de referir-se à ratificação do Tratado de Tlatelolco, sugeria que Cuba fizesse algum gesto na área de direitos humanos.
Cuba admitiu convidar o Alto Comissário das Nações Unidas para o tema, mas recusou-se terminantemente a receber o relator especial sobre o país. Conto isso não para justificar a atitude de Havana, mas para ilustrar a reação que desperta a figura do relator especial. Não cabe assim diminuir a importância do voto da semana passada. Pode-se concordar ou não com ele, mas dizer que não afetará as nossas relações com Teerã ou a percepção que se tem da nossa postura internacional é tapar o sol com a peneira.
Nos últimos meses e anos, o Brasil participou de várias ações ou empreendeu gestões que resultaram na libertação de pessoas detidas pelo governo iraniano, tanto estrangeiros quanto nacionais daquele país. É difícil determinar qual o peso exato que nossas démarches tiveram em situações como a da norte-americana Sarah Shroud ou do cineasta Abbas Kiarostami. No primeiro caso, a jovem alpinista veio nos agradecer em pessoa. Em outros casos, como a da francesa Clotilde Reiss, não hesito em afirmar que a ação brasileira foi absolutamente determinante. Mesmo no triste caso da mulher ameaçada de apedrejamento, Sakineh Ashtiani, os apelos do nosso presidente, seguidos de várias gestões no meu nível junto ao ministro do Exterior iraniano e ao próprio presidente Ahmadinejad, certamente contribuíram para que aquela pena bárbara não tenha se concretizado.
Poderia mencionar outros, como o do grupo de bahais, cuja condenação à morte parecia iminente. Evidentemente, tais ações só puderam ser tomadas e só tiveram efeito porque havia um certo grau de confiança na relação entre Brasília e Teerã, grau de confiança que não impediu que o presidente Lula tenha demonstrado ao presidente iraniano o absurdo de suas declarações que negavam a existência do Holocausto ou que propugnavam pela eliminação do Estado de Israel. Parece-me muito improvável que o governo brasileiro se sinta à vontade para esse tipo de démarche depois do voto do dia 24. Ou caso se sinta, que os nossos pedidos venham a ser atendidos. Muito menos terá o Brasil condições de participar de um esforço de mediação como o que empreendemos com a Turquia, em busca de uma solução pacífica e negociada para a questão do programa nuclear iraniano (o que, certamente, fará a alegria daqueles que desejam ver o Brasil pequeno e sem projeção internacional). Oxalá eu esteja errado.
A questão que acho justo aqui levantar é, dada a sua interpretação bem particular do texto do ex-chanceler, o seu conhecimento acerca da história política e social do Irã, sobretudo a das últimas décadas. Você se julga realmente capacitado para tecer análises acerca das ações políticas e diplomáticas do governo iraniano? A primeira vista, dado o tom juvenil de líder de classe do secundário, onde o enfatizar das crenças pessoais vale mais do que a análise dos fatos, dou-me o direito de achar que não. Mas não se desespere, acostume-se com isto, pois no mundo adulto soberania intelectual se conquista com a aceitação das deficiências.
Saúde e vida longa!
Deusdédit R Morais
Não me desespero, Deusdédit, rs. Mas eu não teci análises sobre ações políticas e sociais do Irã, e sim do Brasil!
Do Irã, sei o que o embaixador do país disse em entrevista recente a um jornal brasileiro:
É o único país do mundo que não tem gay?
Na República Islâmica do Irã, não há.
Se houver, há punições?
Nossa visão sobre esse tema é diferente da de vocês. É um ato feio, que nenhuma das religiões divinas aceita. Temos a responsabilidade humana, até divina, de não aceitar esse tipo de comportamento. Existe uma ameaça sobre a saúde da humanidade. A Aids, por exemplo. Uma das raízes é esse tipo de relacionamento.
A Aids é uma punição divina aos gays?
Não creio nisso. Mas vi que no Carnaval [do Brasil] foram distribuídos 90 milhões de preservativos, e isso é muito feio. Não é a favor da saúde da humanidade.
Miguel,
Vejo que você continua a blindar alguns "personagens" do governo Dilma com argumentos desconexos da realidade, optando por ataques pessoais à pessoa do Mestre Celso Amorim. Mestre, porque ele é considerado mundialmente um dos melhores embaixadores, queira você ou não, isso é FATO.
E como grande conhecedor de causa que Celso Amorim tem nesta área (e você Miguel, passa muuuuito longe, haja visto seus argumentos desconexos), devo concordar piamente com o Mestre (como fiz nos "post" anterior).
No post anterior o comentário do Raphael Tsavkko Garcia ilustra muito bem a situação.
Segue abaixo o comentário do Raphael.
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Raphael Tsavkko Garcia disse...
Miguel, se Dilma foi torturada ou é mulher pouco importa em termos de política externa. Estamos falando de política de Estado e não dela, não da visão dela, mas de uma visão de país que foi construída por oito anos.
Aliás, é engraçado que Dilma queira passar pra Pol Externa seu martírio (foi torturada) mas não mova uma palha na abertura dos arquivos - mas este é outro assunto.
Quanto à entrevista, pegue a primeira pergunta, nesta Amorim deixa claro porque não condenou o Irã, e isto continua válido:
"Para você ter esse tipo de influência, você tem que ter um diálogo. Nós defendemos os direitos humanos ativamente. Atuamos em várias situações evitando agravamentos, inclusive ajudando a soltar pessoas. Outro dia, o presidente da sociedade baha’i me agradeceu porque fizemos gestões fortes em favor de baha’is condenados à morte.
Nós tínhamos condições de fazer essas gestões. Se estivéssemos permanentemente condenando o Irã, sei lá se eles teriam resolvido atender a um pedido nosso.
Eu tinha liberdade para pegar o telefone, como fiz, para falar com o ministro sobre a questão da Sakineh (...). Soltamos a (professora) francesa Clotilde Reiss – e foi o Brasil, não há a menor dúvida.
Como conseguir isso se se assume uma postura só de condenação? Você tem que optar. Não dá para fazer as duas. Acho que o presidente (francês Nicolas) Sarkozy tentou fazer as duas, bater forte e dialogar ao mesmo tempo. Os iranianos não dialogaram."
Com condenação não há diálogo.
E no começo da segunda resposta Amorim deixa claro que há sim mudanças na política externa:
"É bom que tome rumos próprios. Cada pessoa é uma pessoa, cada momento é um momento. O momento é da Dilma. Há continuidade nas linhas básicas, mas cada situação é uma situação. "
Claro que ele vai achar bom, vai elogiar, ele não só é diplomata acostumado à usar linguagem que não diz nada enquanto diz tudo (e vice versa), como apoia o governo. Não iria se indispor. Mas deixa claro que há um rumo próprio.
E, que eu saiba, Dilma não foi eleita pra isso, e sim pra CONTINUAR o que o governo anterior fez.
A mudança está clara, e é péssima. Podemos alienar de vezes o Irã, contribuir para seu radicalismo e fechar as portas da negociação.
Quanto ao Brasil não pode condenar outros violadores sem condenar o Irã, acho que você não entendeu o cerne da política externa de Amorim/Lula. Negociação e não condenação. Este era o mote. Por isto o Brasil passou a ser respeitado, porque chegava a acordos.
http://oleododiabo.blogspot.com/2011/03/ultima-defesa-de-dilma.html#comments
Edson, eu uso argumentos lógicos aqui muito bem conectados à realidade. Exponho esses argumentos com o máximo de didatismo possível. A maioria dos diplomatas e cientistas políticos concorda comigo, além da própria diplomacia brasileira, portanto não sou nenhuma aberração. O relator especial de DH não é condenação. A situação do Irã é difícil mesmo, ele é perseguido pelos EUA, isso é um fato, e acho lamentável que essa votação tenha acontecido agora, pouco tempo depois da votação no Conselho de Segurança e na Assembléia Geral, mas não faria sentido o Brasil votar contra o relator, porque neste caso teria que votar contra também em outras oportunidades, e assim não colaboraria com os direitos humanos. Além disso, não acho que seria inteligente o Brasil ir contra a comunidade internacional nesse momento. Observe que a grande maioria dos países latino-americanos votou junto com o Brasil, inclusive Argentina, liderada pela grande Cristina.
Vc não teria tornado a postar sobre se não houvesse este artigo do Celso Amorim que termina dizendo "oxalá eu esteja errado". Voce pode dizer que oxalá esteja correto. Convenhamos que Amorim agora possa ser mais livre em se expressar. Vamos aguardar novos acontecimentos. Resolvi abrir todo o dia o blog do planalto antes dos demais. Outro dia Dilma recebeu mulheres escritoras e cineastas outro dia o artista Chico Dias. São fatos que não causando polemicas em mim causam satisfação.
De qualquer forma agradeço sua argumentação a respeito do Irã. O caso de relator especifico é bem emblemático. Para coerência aguardemos que outro relator seja também nomeado para algum outro pais. Nesse ínterim pode ser que os EUA, que desautorizou Lula/Amorim/Brasil venham utilizar a nomeação do relator para impedir o Irã a desenvolver seu programa nuclear (sem bomba lógico. Que não sirva de pretexto. Oxalá estejamos certos.
Luiz, os eua não podem usar o relator para impedir o irã de desenvolver o programa nuclear. uma coisa não tem a ver com otura.
abraço,
oxalá estejamos certos.
Boa noite, Miguel.
Acompanho seus escritos porque admiro o quê escreve e como escreve. Leio alguns 'blogs' mas não costumo escrever comentários por pura falta de saco.
Só que lendo os comentários deparei-me com o seguinte: "Estamos falando de política de Estado e não dela, não da visão dela, mas de uma visão de país que foi construída por oito anos."
Creio que esta visão de país ainda está em construção. E este projeto em andamento não se esgotou com Lula e nem se esgotará com Dilma. Pode ser que ela esteja no comando agora para dar continuidade executiva até Lula se candidatar em 2014, caso não haja sucessor a altura. Pode ser...
A impressão que me dá é que o pessoal está indignado porque ela não rompeu com imperialismo (desculpe o arcaismo mas foi irresistível) e não defendeu quem é o principal entrave (por enquanto) para o apetite americano naquela área.
De qualquer maneira, gostei muito da sua crítica ao artigo porque é realista.
Continue assim e um grande abraço.
Miguel disse:
"A maioria dos diplomatas e cientistas políticos concorda comigo, além da própria diplomacia brasileira"
Aí eu replico:
Tem como citá-los?
Pois os únicos diplomatas e políticos que concordaram abertamente com a posição do embaixador Patriota estão ligados à "direita" derrotada (PSDB/DEM/PPS), portanto sem crédito algum sobre política internacional.
Infelizmente você continua desconectado no âmbito da Política e do Direito Internacional.
Acho engraçado os comentaristas que gritam horrorizados "como você têm a audácia de querer saber sobre o assunto" Miguel, isso é tipicamente brasileiro. Acham que você só pode saber sobre um dado assunto se tiver doutorado no mesmo rs...
Escrevo este porquê achei interessante destacar um ponto no texto: de que "haveriam consequências".
Oras, toda decisão que você toma na vida têm consequências boas ou ruins, mas o brasileiro é "programado" para ter medo de consequências como "vou te matar se você não ficar quieto e não protestar", e "isperto" como só ele sabe ser acabou aplicando a idéia para tudo.
As vezes me pergunto como que esse país um dia ainda pode pretender ir para frente com uma população dessas.
Miguel, concordo contigo que é fraco o argumento que, para que possamos continuar intervindo na questão da soltura de presos internacionais no Irã, é preciso que estejamos sempre alinhados com esse país nas diversos contextos de que tratam os conselhos da ONU. Isso equivale a admitir chantagem.
O texto do Celso Amorim informa, entretanto, que somente pouquíssimos países tiveram aprovado um relator especial de DH, embora, como você tem informado, outras resoluções, com força provavelmente inferiores, tenham sido deferidas a esse respeito para países como Israel, Arabia Saudita, EUA, Brasil.
Parece então haver uma gradação na questão do Irã que não tem comparação com o habitual do CDH da ONU, o que sugere ser política a questão e esconder a possibilidade de outras sanções.
Resta saber, pois, que país propôs essa ação contra o Irã e o porque da seletividade.
Oi Adriano, quem propôs foi a Suécia e, claro, os EUA. Não é segredo de ninguém que os EUA perseguem o Irã. Mas o Brasil não poderia, desta vez, ficar contra todas as democracias ocidentais, sob o risco de se isolar, e aí sim sair perdendo no xadrez diplomático. O Irã tem que receber sim os enviados do Irã, e se são poucos os relatores especiais, que sejam mais, para que esse estigma se dilua um pouco.
Na verdade, Amorim justifica-se pelas decisões de sua gestão, confundindo essa justificativa, que é válida, com a votação no CDH e os movimentos futuros.
Num país onde temos os maiores movimentos de homossexuais e simpatizantes do mundo, é preciso marcar uma posição firme em relação a um país que, ridiculamente, afirma que não existem homossexuais em seu país e os criminaliza.
Edson, não me refiro aos diplomatas tucanos, mas se você olhar para os países que votaram junto com o Brasil, e compará-los aos que votaram contra, verá que não foi uma decisão absurda. Lembre-se que não estamos no Conselho de Segurança, onde o jogo é muito mais pesado e são poucos países que votam.
O artigo do AMorim só comprova o que eu havia dito antes: A polítca Externa mudou. Gostando ou não, isto é fato. E Dilma não foi eleita pra fazer mudanças.
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Dilma foi eleita para governar. E governar implica em mudanças, porque não é possível agir sem mudar. Quando nos movimentamos, nos mudamos de um lugar para o outro. As coisas mudam mesmo paradas, visto que são outras no tempo.
Além disso, a continuidade do governo Dilma não tem esse sentido. Seria um absurdo elegermos alguém que não tivesse o direito de tomar decisões próprias. O sentido da continuidade é mantermos uma política externa independente. Você caiu no conto do vigário de que o Brasil era "pró-Irã", e agora não consegue tirar isso da cabeça.
Engraçado, o Celso Amorim, artífice de toda a política externa brasileira, também deve ter caído no conto... Como ele é burro!
Continuísmo significa não dar guinadas, mas apenas realizar correções pontuais. A condenação ao Irã - novamente, retomo Amorim - é uma guinada.
Não votei na Dilma pra isso.
Quanto ao comentario anterior do Edson, que usou comentário meu, perfeito.
Eu não sei, Miguel, que maioria de analistas e diplomatas concorda com você, porque a maioria também concordava com Celso Amorim... Será que estes estão indo apenas na onda? Aliás, sei de vários professores que continuam a defender a gestão amorim e criticam a atual, vide o professor Reginaldo Nasser, da PUCSP.
É mera questão de manter sua posição e não vergar com o vento.
A pol. Externa de Amorim foi um marco, agora ele critica a guinada atual, então a política ext dele deixou de ser a melhor? só porque é preciso defender, blindar Dilma acima de tudo?
A política externa tem que mudar sempre, tem que se aprimorar sempre. Não pode ficar parada no tempo. Mencionar que "é preciso blindar Dilma acima de tudo" é fugir ao debate. Eu trouxe argumentos aqui.
Eu votei na Dilma para isso, para fazer uma política externa inteligente, que seja sensível aos ventos e às circunstâncias, e não para ela papagaiar sem criatividade o que foi feito antes.
Celso Amorim fez uma política externa magnífica, diante das circunstâncias que ele enfrentou. Agora é seguir em frente e fazer a mesma coisa, com coragem de surpreender.
Leia a entrevista de Marco Aurélio Garcia:
(http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/4/3/politica-externa-mudou-diz-garcia)
As circunstâncias que Dilma enfrenta são as mesmas de Lula. O que mudou? A única mudança foi a tentativa dos EUA de se aproximar. Ao invés do Brasil aproveitar o momento e pressionar, preferiu agir como amiguinho e isolar o Irã.
Não podia ser pior.
E, ´´e interessante notar que Amorim antes era gênio, mas agora sua opinião não importa.
Se isso não é blindar Dilma, não sei o que é.
Raphael, mudou tudo. O fórum é outro, é a primeira votação no Conselho de Direitos Humanos. As outras se deram no Conselho de Segurança e na Assembléia Geral.
Não existem gênios neste sentido que você está falando. Isso é bobagem. Existem ações geniais. Decisões certas na hora certa. As lideranças mais brilhantes cometem erros. Eu me baseio em argumentos.
Sei que você não vai acreditar, mas se a decisão do Brasil fosse outra, eu iria achar errado e assim me expressaria. Se o Lula discordasse, eu discordaria de Lula.
Os EUA sempre tentaram se aproximar. É importante a gente fazer uma aproximação estratégica dos EUA, para ganharmos cacife para cobrarmos deles depois. Este era o momento, visto que a votação não implica em sanção econômica e está em linha com os princípios do Brasil em relação aos direitos humanos.
Em 90% das votações similares, o Brasil votou da mesma forma, isso é que você finge não entender. O Brasil não pode tratar o Irã de maneira diferente do que já tratou outros países que violam direitos humanos.
Como sempre Miguel voce sempre analisa esta questão por um viés que lhe interessa.Porém até agora esta comissão só condenou SETE????, será que não existem outros piores na frente??? a questão Miguel é sinples: passaram o Irã para a frente e o Brasil foi atras. Eu até poderia concordar com voce se outros países estivessem na frente. Agora quando vai ser o próximo??? eu respondo, quando for do interesse americano, aliás este é um que deveria estar na frente do Irã. Sinto muito Miguel, não estou contra este governo, pelo contrário, esta acontecendo muita coisa interessante, como, por exemplo, o abandono da politica ortodoxa de combate a inflação, taxação do capital estrangeiro especulativo, retomada do controle da Vale, etc. Porém , no caso do Irã foi só para agradar o grande irmão. Um abraço fraterno
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José Marcos, o CDH não condena ninguém. Só tem 7 porque foi criado em 2006, mas há denúncias e relatórios contra dezenas de países. Amorim fala que foram criados relatorias especiais apenas para 7. É uma coisa cumulativa: agora tem 8. Amanhã terá 10 e daqui a alguns anos terá dezenas.
O Irã não está na mira apenas dos EUA. A União Européia também tem uma implicância muito grande com o Irã, por causa de suas declarações anti-semíticas muito fortes, além da violência contra jornalistas estrangeiros e homossexuais. Ele já estava na berlinda há tempos. O fato dos EUA perseguirem o Irã ajuda, com certeza. Mas outras votações virão. Não tem sentido ficarmos nesse joguinho de quem vem primeiro e quem vem depois. O fato de vir primeiro não quer dizer que viola mais. Se fosse assim o primeiro país para o qual se aprovou um relator seria o pior de todos, o que não é o caso.
No caso do Haiti, o próprio presidente pediu que se enviasse um relator para o país, o que mostra que muitas nações consideram positivo a vinda desse relator, para que a ONU possa ajudar o país a vencer seus problemas na área de direitos humanos.
As votações no Conselho de Direitos Humanos são democráticas. Se o mundo quisesse podia ter negado o envio de um relator especial para o Irã. Não dá para ficarmos culpando os EUA por tudo ad eternum. As decisões da ONU implicam em co-responsabilidade. Assim como não devemos subestimar o poder dos EUA, também é errado atribuirmo-lhes mais poder do que efetivamente possuem. Essa votação foi uma derrota para o Irã, sim, mas por culpa: 1) do fato de ser um país que, de fato, tem cometido graves violações contra os direitos humanos, segundo denúncias de inúmeros cineastas, escritores e intelectuais do país, que hoje vivem exilados na Europa, aí incluindo uma iraniana que ganhou prêmio Nobel; 2) falta de habilidade do Irã ao não renovar o mandato dos relatores anteriores, o que evitaria que o tema fosse a votação no CDH da ONU, causando contrangimento ao país.
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