3 de abril de 2011

Sobre a dialética na diplomacia


O ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, tem sido tremendamente mal compreendido, difamado, insultado, nas redes sociais, de maneira bastante injusta. Por ocasião da visita de Obama ao Brasil, muita gente chegou a levantar a bandeira Fora Patriota, o que me pareceu insensato, visto que Lula recebeu Bush em 2003, e ninguém quis derrubar Celso Amorim por causa disso.

Há também falta de informação sobre quem é Patriota, de onde veio, quem o apadrinhou.

Bem, o padrinho de Patriota é o próprio Celso Amorim. Em março de 2007, Antonio Patriota assumiu a embaixada do Brasil em Washington, que é, compreensivelmente, a missão mais complexa na diplomacia brasileira. Foi uma escolha de Lula e Amorim. Patriota foi também chefe de gabinete do Ministério de Relações Exteriores e secretário-geral do Itamaraty, ainda na gestão de Amorim. Era o segundo homem mais poderoso na instituição depois do chanceler. Sua escolha representa, portanto, uma continuidade. O que não significa que ele não possa e não deva imprimir a seu mandato um estilo próprio. Nem que a política externa não deva seguir uma dinâmica original, segundo os preceitos da dialética, astúcia e bom senso.

Eu não sei o que Dilma pretende fazer exatamente em termos de política internacional, mas tenho a impressão que o governo brasileiro quer melhorar as relações com os Estados Unidos. A última votação no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em que o Brasil votou a favor do envio do relator especial ao Irã, serviu a esse objetivo.

Foi uma jogada inteligente porque matou vários coelhos com uma só pancada.
  1. Agradou os grupos de direitos humanos do mundo inteiro, que vem reclamando do Irã há tempos. Entendo que estes grupos são instrumentalizados pelos EUA, mas mesmo assim tem atuação muito respeitada junto à opinião pública mundial.
  2. Ajudou a fortalecer o Conselho de Direitos Humanos da ONU, uma seção da entidade que foi criada contra o desejo dos EUA, e que até hoje representa um incômodo para Washington por causa de sua linha independente. O CDH já fez denúncias duras contra os próprios EUA.
  3. Restabeleceu uma relação de confiança com os EUA e União Européia.
Não é possível agradar gregos e troianos, contudo, e há o lado ruim nessa história:

  1. Criou atrito com o Irã.
  2. Passou a impressão, para setores mais radicais da esquerda brasileira, de que a diplomacia brasileira se alinhou à política de Washington.
  3. Ajudou os falcões da guerra em sua implacável estratégia de isolar o Irã, irritar o regime, fazê-los cometer erros diplomáticos incontornáveis, e criar assim condições para intervir de alguma maneira no país..

A diplomacia, no entanto, é um delicado jogo de xadrez, onde é preciso jogar com muita calma, sabendo a hora de trocar uma peça por outra, de atacar, de recuar. 

Da mesma forma que não interessa ao Brasil queimar pontes com nenhum país do oriente médio, também não nos interessa fazê-lo com a União Européia e Estados Unidos. O Brasil não é respeitado no mundo apenas porque se relaciona bem com os países em desenvolvimento, mas sim porque também temos excelentes relações com as grandes democracias ocidentais.

O Brasil tornou-se um interlocutor respeitado nos últimos anos não somente porque teve a ousadia de "defender" o Irã, mas porque o fez em linha com seus princípios, e não por cálculo geopolítico menor.

É preciso entender, todavia, que o Irã, que eu sempre defendi, e continuo defendendo contra qualquer sanção econômica, tem uma ação diplomática, me desculpem o termo, ridícula. Eu sempre falei isso, nos mesmos textos em que defendia o Irã. Os discursos de Ahmadinejad negando a existência do Holocausto ou pregando a destruição de Israel fazem corar diplomatas em qualquer parte do mundo. Mesmo que consideremos que a mídia ocidental faz traduções tortas para acentuar o efeito agressivo de suas falas, os diplomatas iranianos conhecem várias línguas e lêem a mídia ocidental. Eles sabem o efeito terrível das palavras de seu presidente. E não fazem nada. 

Além disso, o que o embaixador iraniano fez, em recente entrevista à Folha, no Brasil, não adveio de nenhum erro de tradução. Reproduzo um trecho abaixo:

É o único país do mundo que não tem gay?
Na República Islâmica do Irã, não há.

Se houver, há punições?
Nossa visão sobre esse tema é diferente da de vocês. É um ato feio, que nenhuma das religiões divinas aceita. Temos a responsabilidade humana, até divina, de não aceitar esse tipo de comportamento. Existe uma ameaça sobre a saúde da humanidade. A Aids, por exemplo. Uma das raízes é esse tipo de relacionamento.

A Aids é uma punição divina aos gays?
Não creio nisso. Mas vi que no Carnaval [do Brasil] foram distribuídos 90 milhões de preservativos, e isso é muito feio. Não é a favor da saúde da humanidade.


Observe que essa fala aconteceu em março deste ano. Depois de tudo que fizemos pelo Irã, o sujeito vem aqui e fala que "é muito feio" o Brasil distribuir preservativos, e que isso não é a favor da saúde da humanidade! E num país onde acontecem eventos de celebração da liberdade de orientação sexual que reúnem centenas de milhares de pessoas, declara que o homossexualismo "é um ato feio, que nenhuma das religiões divinas aceita. Temos a responsabilidade humana, até divina, de não aceitar esse tipo de comportamento. Existe uma ameaça sobre a saúde da humanidade. A Aids, por exemplo. Uma das raízes é esse tipo de relacionamento"!

O que é isso?

Quando eu li essa entrevista, eu fiquei realmente puto com esse cara e com o Irã também. Pensei com meus botões: "ai ai ai, a gente defende esses malucos e eles vem aqui e falam essas merdas. Assim não dá."

Sabem o que isso significa? Que o Irã encarcera pessoas apenas por serem homossexuais.

Por que toda aquela a gritaria contra o Bolsonaro, cujas declarações não chegam nem perto do nível de violência expressas por esse diplomata? Ele não discrimina verbalmente os gays, ele nega-lhes o direito à existência! E afirma que é justo o Estado puni-los por causa disso! A esquerda brasileira não se preocupa mais com direitos humanos no mundo? Entendo que estes são desrespeitados em toda parte. Nos EUA, em Israel, no Brasil, eles também são violados, mas só poderemos combater essas violências nos EUA, em Israel e no Brasil se também as combatermos no Irã.

Ora, eu continuo defendendo o direito do Irã de possuir tecnologia nuclear, como qualquer outro país do mundo. Os iranianos que se opõem ao regime dos aiatolás também defendem. Apoiei e ainda apoio que o Brasil lute contra qualquer imposição de sanções econômicas ao Irã.

Em suma, eu respeito profundamente a soberania do Irã e o princípio da autodeterminação dos povos, conforme expresso em nossa Constituição.

Mas não posso negar que é um país que violenta os direitos humanos. O Brasil também violenta os direitos humanos, mas não através de uma política de Estado. E recebemos de braços abertos as comitivas de direitos humanos da ONU e de qualquer outra organização ligada ao tema.

Entendo perfeitamente que o Irã é perseguido pelos EUA por causa de seu petróleo e de sua política independente no oriente médio.

Conheço também um pouco da história política e social do Irã, seus golpes de Estado e suas ditaduras de direita alinhadas aos EUA, etc, as guerras contra o Iraque, onde também tínhamos o dedo ocidental, abastecendo Saddam Hussein de armas químicas, experimentadas pela primeira vez em civis e militares iranianos.

O Irã tem todas as razões do mundo para odiar o Ocidente e, em particular, os Estados Unidos.

Mas não tem razão para criminalizar gays, nem para executar jovens por venderem ilegalmente bebidas alcóolicas, conforme tem denunciado o secretário geral da ONU. Não tem razão quando aceita castigos como mutilação, lapidação e apedrejamento, como penas chanceladas pelo Estado.

Outros países árabes fazem coisas parecidas e a ONU não faz nada? Ora, já demonstrei que não é bem assim. O Conselho de Direitos Humanos da ONU tem feito denúncias contra todos os países do mundo, inclusive EUA, Israel e Arábia Saudita. Não aprova relator especial para esses países? Então que se aprove.

O voto brasileiro representou uma afirmação de que agiremos de maneira mais atenta em relação aos direitos humanos. Essa é uma das responsabilidades que o novo peso do Brasil no mundo nos impõe. E a presidente Dilma já deixou bem claro que haverá uma preocupação especial com a violação de direitos humanos no Brasil também, citando o caso dos presídios, onde há situações medievais.

Agindo coerentemente, por princípios, o Brasil poderá fazer a hipocrisia americana no tema direitos humanos voltar-se contra os próprios americanos. Em vez de abster-se na votação, o que seria pusilânime e inútil, ou votar contra a resolução, alinhando-se a ditaduras como Arábia Saudita e China, o Brasil preferiu alinhar-se às democracias ocidentais, mas enfatizando que iremos lutar para que a mesma dureza do CDH da ONU em relação a violações de direitos humanos no Irã seja aplicada a todos os países onde existam denúncias consistentes.

Na minha opinião, o Brasil agiu bem, porque mostrou que não defendia o Irã porque tinha "amizade" por ditaduras, mas por entender que as condenações anteriores eram injustas e contraproducentes. Poderá voltar a defender o Irã em votações futuras, em pleitos relativos a outros temas, e a opinião brasileira será ainda mais respeitada, porque o mundo verá que nossa defesa do Irã não é um gesto infantil de auto-afirmação (o que apenas denotaria insegurança), e sim um ato objetivo e racional em benefício da paz e da justiça.

42 comentarios

Marcelo disse...

Boa noite, Miguel.

Acho que esta entrevista do Marco Aurélio Garcia no esp ajuda a entender esta dialética. A posição do jornal é tão exagerada tentando apontar diferenças entre os dois governos que enfia até uma possível perda de espaço do professor dentro do governo Dilma. E, no final, acaba sendo uma ótima aula. O início da sua última resposta é primorosa: "Minha sala continua do mesmo tamanho".(http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/4/3/politica-externa-mudou-diz-garcia)
PS: A chamada da matéria assustará os mais apressados que dirão 'Eis aí mais um vendilhão!'

Miguel do Rosário disse...

Obrigado, Marcelo. A entrevista é realmente uma aula.

Luiz Monteiro de Barros disse...

Á exaustão. Agora temos dois tipos de PIG. Todos são contra a esquerda do Brasil seja ela eleita ou não. O ESP agora é PIG ameno. Não tenho a sua capacidade dialetica, porisso o acompanho no Oleo do Diabo. Será que não percebem a estrategia de primeiro desconstruir Lula e depois o não liberalismo de Dilma. Eta país injusto. Porem Dilma "ocultamente" vai alcnçar que um "País rico é um país sem pobreza"

Miguel do Rosário disse...

luiz, o que é ESP?

spin disse...

E falando em maus-tratos a gays,,..
Alô MEC e autoridades policiais, flagrante de homofobia na escola

Resumo do Vídeo: Um adolescente homofóbico, seguido por um outro com uma camera na mão procura na escola um adolescente apelidado de "lady Gaga ", na cidade de Gentil Mata , em Alagoas- Brasil . Ao encontrar com o adolescente gay o outro adolescente Homofobico começa a agredi-lo fisicamente e o ameaça verbalmente, na presença de outros alunos/as.

A Imagem é revoltante e encontra-se no You Tube pelo endereço:

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=-CP6s1MmeIk#at=151

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Quantos acordos os EUA e aliados conseguiram com o Irã na base das ameaça e condenações? Zero.

Quantos acordos (incluindo soltura de presos e etc) conseguiu o Brasil ao NÃO condenar o Irã, mas preferir negociar?

I rest my case.

Até parece que a mudança de posição do BRasil vai fazer com que a opinião do embaixador do Irã no Brasil mude, o que Ahmadinejad se sensibilize. A posição do BRasil só vai conseguir uma coisa: Fechar um dos últimos canais de diálogo que restava entre o Irã e o resto do mundo.

Palmas pra Patriota e Dilma!

Miguel do Rosário disse...

Raphael, Brasil não condenou o Irã. Aprovou o envio de um relator de direitos humanos. O canal não foi fechado que eu saiba. E não manteremos esse canal funcionando se, para manter o diálogo com o Irã, o fecharmos com as democracias ocidentais. Você mesmo falou, é um canal. Temos que cuidar das duas pontas.

Miguel do Rosário disse...

E o objetivo não é fazer o Irã soltar um preso ou outro, e sim não sequestrar mais estrangeiros em seu território, nem aprisionar artistas nacionais por conta de seus trabalhos.

douglas da mata disse...

É um mundo estranho, pois vejam: Se pegarmos o trecho do embaixador iraniano, no que tange os homoafetivos e a distribuição de camisinhas no Carnaval, veremos um ponto de inflexão com o discurso do bolsonaro, e esse repete o discurso do tea party estadunidense, com tintas nacionais à lá 64.

Logo, se fôssemos retirar algum raciocínio simplista desse episódio, iríamos enxergar do mesmo lado, a ultra-esquerda que esperneou contra o Patriota, bolsonaro, os fundamentalistas isalâmicos e a direita estadunidense.

Mas como assim?

Será que há mais similaridades entre eles?

Mundo estranho esse. não?!

Flavio Lima disse...

Pois é Douglas. E o Tsako vem aqui fazer suas declarações malandras e oportunistas. Sera mais uma similaridade?

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Miguel, leia o próprio Celso Amorim, o nome técnico da decisão pode não ser condenar, mas o simbolismo é de uma condenação. Esse discurso está ultrapassado pelos fatos.

E, que eu me lembre, não fechamos canal algum com o "ocidente" quando nao condenamos o Irã repetidas vezes e ainda fizemos um acordo com eles que humilhou os EUA. Porque fecharíamos agora?

E, por favor, é MUITA inocência achar que esta condenação vai trazer qualquer mudança, senão a de radicalizar ainda mais o Irã...

Douglas: Política externa e política interna de um país são coisas completamente diferentes. É por isso que existem escolas específicas para se analisar política externa (Relações Internacionais e Itamaraty), com teorias próprias para analisar o comportamento interestatal.

Discursos baseados em moralidade não funcionam quando se trata de relações entre países.

Meu caro Flávio, vai dormir. Você não tem a capacidade de dialogar.

Miguel do Rosário disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

Miguel do Rosário disse...

Raphael, não é condenação. O simbolismo negativo da relatoria especial de direitos humanos é um estigma que precisa ser superado, senão teremos que jogar o CDH no lixo.

Não fechamos canal mas obstruimos sim nossa comunicação com Europa e EUA, em relação especificamente ao Irã, e essa votação poderia dificultar mais ainda.

Desta vez era diferente porque era a primeira votação sobre o Irã no Conselho dos Direitos Humanos, não podemos comparar com as anteriores.

Agora sim, poderíamos dificultar a nossa posição de "um canal". Com o voto pelo relator (seguindo Argentina, Espanha, etc), poderemos, no futuro, defender o Irã junto às potências respeitados como interlocutores que sabem a hora de apoiar ou não o Irã, de acordo com a justiça de cada momento.

Não creio que esse voto vai radicalizar o Irã, porque não traz sanções econômicas. Pode evitar, na prática, o aumento das violações de direitos humanos no Irã. Pode salvar vidas e evitar torturas. É uma advertência importante.

O Conselho de Direitos Humanos não pode ser jogado no lixo. Ele foi criado justamente para despolitizar o debate sobre o tema, visto que as decisões não implicam em sanções.

A comparação que o Douglas faz é válida sim, porque há uma comoção nacional muito grande por conta das falas do Bolsonaro, mas não se discute uma situação infinitamente pior, que é a criminalização brutal que os homossexuais sofrem no Irã. Isso deve ser falado, deve ser discutido. O novo peso do Brasil no mundo também nos traz responsabilidades no campo dos direitos humanos.

O apoio do Brasil ao Irã em outras oportunidades nunca foi um aval para o que acontece por lá nesse sentido.

Confira a entrevista de Marco Aurélio Garcia linkada pelo primeiro comentarista. Ela observa que o Brasil votou similarmente na ONU em 90% dos casos.

Amorim está explicando a sua posição, e acabou confundindo isso com um esclarecimento sobre a nova posição brasileira. Ele foi brutalmente criticado pela mídia brasileira e mundial por sua posição em relação ao Irã e agora se sente na obrigação de justificar isso.

Quem desenhou a política externa do Brasil não foi apenas Amorim, mas também Lula e Marco Aurélio Garcia. Os dois defendem a decisão brasileira de aprovar o envio de um relator ao Irã. Garcia explica com muita calma essa dialética, dificil de ser entendida por quem pensa política com apenas dois neurônios: o do sim e o não.

Direitos humanos não tem nada a ver com moralidade. É a coisa mais importante de tudo. A humanidade tem que ser mais rigorosa consigo mesma nessas questões, até porque é uma chance de estabelecer valores universais comungados pelos diferentes povos.

Por favor, não ofenda meus comentaristas nesse espaço de comentários. O Flavio tem toda capacidade de dialogar.

É engraçado, eu passei anos tentando mostrar os acertos da política externa de Lula em relação ao Irã. Meu maior medo, porém, era justamente que frutificasse a percepção de que o Brasil não se preocupava com direitos humanos, o que não era o caso. As votações na ONU tinham outra finalidade. Com essa votação, o Brasil conseguiu, finalmente, mostrar que sua defesa do Irã nunca foi aceitação das barbaridades que se cometem por lá, e sim o respeito pela soberania do Irã, que tem direito a pesquisar energia nuclear, e não pode sofrer sanções econômicas por problemas políticos domésticos que apenas serão agravados por estas.

Em relação aos direitos humanos, porém, era preciso sim marcar a posição brasileira contra a absurda criminalização do homossexualismo que existe no Irã, num grau que não existe em nenhum outro país do mesmo porte no mundo, nem na Arábia Saudita.

Edson disse...

Abaixo-assinado pede fim dos processos contra os ativistas

Entre na campanha contra a criminalização dos manifestantes, assine e divulgue aos seus contatos

• Após uma ampla campanha que contou com apoio e solidariedade de setores democráticos e de esquerda, os 13 ativistas detidos no protesto do dia 18 de março contra Obama foram libertados. A criminalização dos manifestantes, porém, não terminou com as 72 horas de detenção no presídio. Os ativistas detidos continuam indiciados em crimes como “tentativa de incêndio” e podem ser condenados e presos.

Por isso a campanha agora gira em torno do fim dos processos contra os companheiros, um grave exemplo de criminalização dos movimentos sociais. Já está no ar um novo abaixo-assinado, dirigido ao Governo Federal e estadual, reivindicando o arquivamento dos processos. O primeiro abaixo-assinado, exigindo a libertação dos presos, chegou a 8 mil assinaturas em apenas três dias e contou com nomes como Fábio Konder Comparato e Dainel Aarão dos Reis.

Assine, divulgue, repasse aos seus contatos e ajude a derrotarmos de vez essa política repressiva que se abate contra os ativistas que ousam se levantar contra o imperialismo.

Nomes dos acusados:

Rafael Rossi - Professor do estado, dirigente sindical do SEPE
Pâmela Rossi - Professora do estado
Thiago Loureiro "Tibita" - Estudante de Direito da UFRJ, funcionário do Sindjustiça
Yuri Proença da Costa - Carteiro dos Correios
Gualberto Tinoco "Pitéu" - Servidor do estado e dirigente sindical do SEPE
Gabriela Proença da Costa - Estudante de Artes da UERJ
Gilberto Silva - Eletricista
Gabriel de Melo Souza Paulo - Estudante de Letras da UFRJ, DCE UFRJ
José Eduardo Braunschweiger - Advogado
Andriev Martins Santos - Estudante UFF
Vagner Vasconcelos - Movimento MV Brasil
Maria de Lurdes Pereira da Silva - Dona de casa
J. P. - Estudante Colégio Pedro II

http://pstu.org.br/internacional_materia.asp?id=12573&ida=0

http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N8248

Anônimo disse...

Acho muito lindo a onu fazendo denuncias contra os eua,israel,arabia saudita...como é imparcial!!
Alguma denuncia dessas ja deu em alguma coisa?nao ne?
Ah,deve ser pq é um orgao de fachada,que so funciona qdo os eua mandam!!
Alem disso,é fundamental para cuidar dos campos de refugiados palestinos e afins!!

Miguel do Rosário disse...

Anonimo, já é um começo. É um "simbolismo". Em política, denúncias correspondem a propaganda negativa, tem efeito importante sim.

Denúncias de abusos de direitos humanos pelo Irã, sem sanções econômicas, também não dão em nada neste sentido, mas tem efeito político.

Roberto SP disse...

"Não aprova relator especial para esses países? Então que se aprove."

Toda a hipocrisia do seu comentário está na frase acima.

Espere sentado os Estados Unidos aprovarem a mesma coisa para a Arábia Saudita que é ainda mais restritiva aos direitos humanos do que o Irã.

Aproveita e espera sentado também a OUNO aprovar e executar alguma medida contra o massacre da Palestina e o ROUBO de seu território por Israel.

Não entender esse golpe sujo dos Estados Unidos é ser muito ingênuo ou mal intencionado.

Adriano Matos disse...

Acho que você tem razão, Miguel, e o Brasil acertou votando a favor do envio do enviado especial de DH da ONU pro Irã.

Nesse campo pantanoso da diplomacia internacional coube a nós manter a coerência que se estabelece na medida em que votamos CONTRA sanções ao Irã na Assembleia das Naçôes Unidas e no Conselho de Segurança da ONU declarando, como justificativa, que esses não eram os foruns adequados pra debater a questão.

Os DH como qualquer outros direitos são relativizados em nome da política maior e sim, os EUA, são hipócritas em defendê-lo seletivamente. Mas não é por isso que a gente tenha que fazer o mesmo, pelo lado oposto.

Miguel do Rosário disse...

Roberto, você falou bobagem, me desculpe. A ONU já aprovou medidas contra Israel não apenas no CDH (muitas) quanto no Conselho de Segurança. A Arábia Saudita também tem sido um alvo constante de investigação do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Arábia Saudita: http://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=8329&LangID=E

(há várias outras denúncias e relatórios contra Arábia Saudita no CDH da ONU)

Relatório que denuncia EUA: http://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=10477&LangID=E

O que acontece é que o Irã é alvo também da mídia, ao contrário dos outros países, onde essas denúncias e relatórios não são divulgados, transmitindo a sensação de que o CDH só quer saber do Irã, o que não é verdade.

Você já leu esse post?
http://oleododiabo.blogspot.com/2011/03/politica-domestica-poluiu-debate-sobre.html

Miguel do Rosário disse...

Olá Adriano, pois é. Há uma confusão muito grande nesse assunto. Em 90% dos casos em que se pediu investigação sobre direitos humanos no CDH da ONU, o Brasil votou a favor. No caso do Irã, ainda não o tinha feito, porque é a primeira vez que o caso vai a votação no CDH, que foi criado em 2006.

Miguel do Rosário disse...

Seria importante que as pessoas dessem algum crédito ao Marco Aurélio Garcia. Ele foi o coordenador ideológico da campanha de Dilma Rousseff, e o ideólogo da política externa de Lula. Ele era o cara de partido, de ideologia, do PT. Amorim é um diplomata brilhante, mas quem pensava as questões ideológicas da política externa brasileira era Marco Aurélio Garcia, assessor direto de Lula, e que agora tem ainda mais estrutura sob a gestão Dilma.

http://oleoclipping2.blogspot.com/2011/04/politica-externa-mudou-diz-garcia.html

Luis Henrique disse...

Quer dizer que, no fim das contas, quem distorce a coisa, as posições do Brasil na ONU, é tão somente a mídia porca? Eu me lembro que a justificativa do Brasil sobre não condenar o Irã na ONU na época do Celso Amorim era de que 'não era o fórum adequado para fazê-lo', e que não houve 'mudança de posição' como dizem por aí?

Miguel do Rosário disse...

Também, Luis. A mídia brasileira, e também a americana, tentaram usar o episódio como um grito de "enfim, vencemos", o que lhe dava oportunidade de bater em Lula e Amorim, e ao mesmo tempo posar de dona da verdade em relação a Dilma.

Não podemos, no entanto, tomar decisões de política externa pensando se a mídia vai elogiar ou insultar. Ela influencia das duas maneiras, e talvez ainda de forma mais perniciosa (pois subreptícia) quando elogia, como foi o caso.

Garcia explicou que em mais de 90% das votações sobre envio de relatores de Direitos Humanos e investigações similares, o Brasil votou a favor. Não seria justo ser contra no caso do Irã.

Além do mais, Garcia explicou, Dilma de fato quer dar mais ênfase às questões de direitos humanos, porque ela foi torturada e quer lutar contra esse tipo de barbaridade em todo mundo, e o único fórum legal onde essa luta pode ser feita de maneira um pouco mais independente das ingerências geopolíticas interesseiras, é o Conselho de Direitos Humanos da ONU, onde não há sanções mas se pode pressionar os países a serem mais cuidadosos nessa questão, para não terem sua imagem afetada.

Miguel do Rosário disse...

Tsakko, você agora posa de apoiador da política de Lula em relação ao Irã, mas nem sempre foi assim.

Você acreditou piamente na propaganda midiática sobre a fraude no processo eleitoral que elegeu Ahmadinejad. Não há provas de que houve fraude. O Conselho dos Guardiões viu falhas em algumas vilas do interior, mas nada que alterasse em um décimo a votação avassaladora de Ahmadinejad.

Lembre-se do que você falou:

"Nos bastidores, porém, é a esquerda anacrônica e o governo Iraniano que denunciam intervenções sérias da CIA no processo eleitoral, claramente fraudado."

Claramente fraudado!

E aí desanca o presidente Lula. Respeito suas críticas a Lula, mas não acho honesto você agora vir incensá-lo na tentativa de denegrir Dilma.

"Lula não para!

É realmente uma vergonha ter um presidente tão cego."

De forma geral, você repercute todas as informações midiáticas que mostravam o Irã como um demônio, e ficou cego à tentativa que houve, de fato, de desestabilizar o regime iraniano, através da pior forma: negando-lhe legitimidade eleitoral. Não se faz isso. Nenhum país deve se meter no processo eleitoral do outro, a não ser que, antes, tenha sido chamado para atuar como observador eleitoral.

"A fraude clara, por si só, implode qualquer tentativa de caracterizar os protestos como financiados e insulflados pelo exterior, em especial pelos EUA e Israel."

Eu fui pesquisar em seu blog, porque me lembrava que você foi um dos mais críticos ao Irã naqueles tempos, e acho estranho que você omita isso agora. Demonizações do processo eleitoral, como a de que você participou, são uma violência muito maior do que aprovar relator de direitos humanos.

http://tsavkko.blogspot.com/2009/06/ira-influencia-externa-e-noticias-do.html

Você escreveu vários posts falando sobre a fraude no Irã.

Neste outro post, você chega a criticar Lula por sua "defesa da impunidade na ONU quanto aos Direitos Humanos...."

Interessante... naquela época, quando era para denegrir Lula, você se interessava por direitos humanos. Agora, que você quer denegrir Dilma, não se interessa mais...

"Jamais vi qualquer crítica direta ao presidente, em momento algum o presidente foi criticado pela MP da Grilagem, pelo apóio à fraude no Irã, pela defesa da impunidade na ONU quanto aos Direitos Humanos...."

Como os tempos mudam! Você então elogia a postura de Obama quanto ao Irã, em oposição à "lamentável" perfomance de Lula. Nem parece o mesmo reagiu com fúria contra a presença de Obama aqui no Brasil, usando todos os artifícios para bater em Dilma.

Olha, quanto ao Irã, eu discordo. Pelo que andei lendo - e li muito, e grande coisa de veículos dos EUA como o Huffington Post, o Obama foi bem incisivo em suas declarações e não fez metáforas lamentáveis."

http://tsavkko.blogspot.com/2009/06/cidadaniacom-e-luladas-uma-critica.html

Miguel do Rosário disse...

Aquilo sim foi tentativa de um golpe de Estado. A CIA participou inclusive de correntes de twitter, e lavando o cérebro da opinião pública ocidental.

A questão do relator de direitos humanos da ONU é algo tranquilo, não tem poder de desestabilizar um regime. No máximo, obriga-lo-á a ser mais comedido em sua repressão a homossexuais e a intelectuais críticos ao governo.

Miguel do Rosário disse...

E aqui você chama a esquerda de anacrônica e insensível por não reagir às barbaridades que aconteciam no Irã:

"Pelo visto eu não estou sozinho em achar que parte da Esquerda está ficando maluca."

http://tsavkko.blogspot.com/2009/07/ira-esquerda-anacronica-2.html

O que você queria que "a esquerda" fizesse? Que bancasse um golpe de Estado no Irã? Que interviesse no país? Que aprovasse sanções no Conselho de Segurança da ONU?

*

Aqui voce defende abertamente intervenções em países por conta de abusos dos direitos humanos:

"Não intervir, nestes termos significa apoiar, concordar. Não tem escapatória."

http://tsavkko.blogspot.com/2009/06/lula-e-farsa-da-defesa-dos-direitos.html

E dá crédito a todas as organizações de direitos humanos, que sabemos instrumentalizadas pelos EUA. Encerrando o post com uma pérola:

"Mais um desserviço à política externa brasileira, aos Direitos Humanos e à democracia."

*

"Em meio a todo horror no Irã, à violência sem igual da polícia e das milícias, os assassinatos, torturas e prisões arbitrárias, ainda existem aqueles que vem a CIA pode detrás de tudo, vêem uma conspiração internacional sionista para derrubar o democrata Ahmadinejad."

http://tsavkko.blogspot.com/2009/06/ira-esquerda-anacronica.html

*

Suas denúncias eram válidas, de fato, o Irã age com extrema brutalidade na repressão a seus críticos. Mas qual deveria ser a reação mundial? Intervir militarmente no Irã, aplicar sanções econômicas, ou fazer como fez o governo Dilma: no fórum adequado, no Conselho dos Direitos Humanos, aprovar o envio de um relator?

Miguel do Rosário disse...

No comentário das 5/4/11 1:35 PM, faltou uma aspas no parágrafo final. Ficou parecendo que o texto é meu, mas é do Tsakko:

"Olha, quanto ao Irã, eu discordo. Pelo que andei lendo - e li muito, e grande coisa de veículos dos EUA como o Huffington Post, o Obama foi bem incisivo em suas declarações e não fez metáforas lamentáveis."

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Miguel, todos estes posts são de 2009. Sim, esta ERA minha posição. Aliás, em relação às fraudes no Irã acredito até hoje que Lula poderia ou deveria ter dito alguma coisa. As fraudes existiram, isso é fato.

Mas quanto à posição do BRasil na ONU, há muito que venho defendendo as posições de Celso Amorim.

Durante as eleições a esquerda realmente fez papel de imbecil (parte dela) em acusar o Movimento Verde de ser mandado pela CIA, estas críticas ainda mantenho.

MAs você confunde as coisas misturando posts e posições.

NEstes posts sobre a Esquerda Anacrônica, faço uma crítica à Esquerda - e não ao governo - por poucos terem se manifestado em apoio à oposição iraniana. Isto nada tem a ver com Amorim ou Lula. É um posicionamento da esquerda contra uma fraude que ocorreu.

Critiquei o Lula neste post (http://tsavkko.blogspot.com/2009/06/ira-influencia-externa-e-noticias-do.html) por suas declarações infelizes. ele deveria ter ficado calado. Em qualquer situação, com amizade ou sem, elogiar um processo eleitoral fraudulento é um absurdo. O silêncio teria sido a melhor escolha.

Retomei a questão mais pra frente, quando já havia passado a defender a política exsterna Lulista e de Amorim:
http://tsavkko.blogspot.com/2010/08/ira-e-brasil-midia-e-questao-de-estado.html

MAs, realmente, revi minha posição em relação ao que escrevi neste post: http://tsavkko.blogspot.com/2009/06/lula-e-farsa-da-defesa-dos-direitos.html

Tolamente eu acreditava no discurso dos Direitos Humanos. Fui ligado à Conectas, ONG que constantemente condena(va) o Lula e isto pesou. Mas minha posição mudou - ainda durante o governo Lula.

Minha posição começa a mudar a partir deste post: http://tsavkko.blogspot.com/2010/08/estaria-o-brasil-se-alinhando-as.html

Em que começo a questionar alguns aspectos da política externa lulista.

todos temos direito a mudar de opinião, não é mesmo?

Passei, a partir de agosto de 2010, a defender a política externa de Lula. Não nego ou escondo minha posição anterior, mas mudei (http://tsavkko.blogspot.com/2010/08/ira-e-brasil-midia-e-questao-de-estado.html)

Nem sempre defendi a pol. externa de Amorim/Lula, mas quer dizer que ter mudado de opinião não é válido?e quanto a defender a política de Dilma só por Dilma e não por esta ser efetivamente boa?

Se eu tivesse mantido minha posição anterior eu talvez até pudesse estar gostando da política Dilmista. Mas, felizmente, cresci e aprendi com meus erros.

Logo depois da vitória de Dilma, aliás, postei sobre a política de amorim, elogiando, antes mesmo de saber da guinada revoltante de agora: http://tsavkko.blogspot.com/2010/11/dilma-venceu-e-agora-politica-externa.html

Se quiser apontar o dedo, ao menos faça a pesquisa completa!=)

Anônimo disse...

Miguel e Raphael, permitam-me dar uma rápida opinião sobre essa conversa tão rica de voces. Acho sim que as pessoas mudam sim, mas as conjunturas também mudam. A mudança da conjuntura (criação de uma Comissão de Direitos Humanos) faz com que a posição diplomática atual do Brasil esteja adequada, na minha opinião.

Cláudio Freire

Werner Piana - @SAGGIO_2 disse...

amigo Miguel... um rapaz culto como vc não deve se utilizar do termo "opção sexual". Tá errado. Que tal "orientação sexual"?
Abs

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Claudio: Sim, conjunturas mudam, mas NADA me faz crer que alguma coisa tenha efetivamente mudado além do presidente e do chanceler. No campo internacional as coisas continuam as mesmas. Nada justifica a mudança de posição do Brasil. O próprio Celso Amorim concorda.

Miguel do Rosário disse...

A conjuntura é totalmente diferente, Raphael. O fórum é outro. O Brasil estaria menosprezando o CDH da ONU se o usasse para fazer proselitismo geopolítico contra os EUA. Não é assim que se mostra independência. Direitos humanos é coisa séria. O Brasil, além disso, usou a votação sobre o Irã para mandar seu recado: quer ver o CDH da ONU usar os mesmos parâmetros em outras votações.

Luis Henrique disse...

Não posso afirmar, com 100% de certeza, que em 2009 as eleições para presidente no Irã foram ou não fraudadas. Eu aposto na negativa, ou seja, que de fato houve uma tentativa frustrada de uma 'revolução colorida (verde)' bancada por EUA e Israel, como o Miguel defende, e que o resto foi 'conto do vigário' da mídia porca. Lembrem-se que Ahmadinejad foi eleito da primeira vez pois seu antecessor, Mohammad Khatami, tentou uma aproximação com o ocidente, e o que o ocidente fez? Tapou os ouvidos. Foi um fiasco que deu uma boa base de popularidade no Irã para Ahmadinejad - o povo sabia muito bem que o que as promessas de Mousavi significavam à época.

Miguel do Rosário disse...

Certo, Luis. Com 100% de certeza, não sei nem se as eleições na Suíça são fraudadas. O fato é que naquele momento ultradelicado para o Irã, em que a legitimidade do regime foi questionada, e a mídia ocidental passou a papagaiar aos quatros ventos que foi fraude e ponto final, o meu amigo Raphael Tsakko, assim como tantos outros, começaram a bater no Lula dizendo que este não ligava para os direitos humanos do Irã. Caíram na ladainha da mídia. Aquele era o momento de defender o Irã, porque o regime viveu uma crise política gravíssima. Nem entro no mérito se os manifestantes contra o governo estavam certos ou não. Provavelmente havia sim motivos para protesto, não sei se pela fraude, mas sobretudo para pedir mudanças democráticas no regime, mas era um problema doméstico do Irã e nenhum outro país deveria se meter. E aí várias lideranças políticas começaram... a se meter.

Acho muito engraçado que, depois de bater tanto no Lula pedindo ao presidente que condenasse o Irã por abuso no quesito direitos humanos, a mesma pessoa venha agora bater em Dilma porque ela aprova uma medida para enviar um relator (não é condenação, diga-se de passagem) da ONU para investigar a situação dos direitos humanos no país. Realmente... é querer ser sempre do contra, sempre na hora errada.

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Miguel, Luis: Tenho contatos no Irã, amigos no país, que fazem parte de militância política de esquerda e foram Às ruas com o Movimento Verde. Não são pagos pela CIA e sim lutavam pela liberdade do povo contra uma fraude descarada.

A Mídia passou a dar apoio depois sim, claro que havia o interesse. Da mesma forma que vocÊ vai dizer que não existe luta por liberdade no Egito, Tunísia e Líbia porque depois de algum tempo o ocidente passou a apoiar os que protestavam?

Essa tese da conspiração global da CIA é mais tosca do que qualquer coisa. Foi EXATAMENTE isto que critique nos postas antigos, mais do que a política externa em si.

E a conjuntura não é outra. Em 1 mês o mundo não mudou. Mudou o Brasil. Pra pior, aceitando pedido de Obama pra condenar o Irã. Mas aí não tem conspiração nenhuma, né?

Miguel do Rosário disse...

Ninguém falou que a CIA organizou as manifestações. O que houve foi uma instrumentalização do momento político delicado no Irã. Os EUA surfaram na crise para tentar derrubar o governo iraniano.

Repito pelo milésima e última vez. Não houve condenação, mas aprovação de envio de um relator no Conselho dos Direitos Humanos.

O Irã tem problemas de direitos humanos graves e chancelados pelo regime, como a criminalização do homossexualismo, a um nível que nem a Arábia Saudita ou outro país homofóbico faz. Tem que investigar sim. Se o Brasil não desse o voto, estaria enfraquecendo o CDH da ONU, o que não interessa ao Brasil. O texto do voto foi bem claro ao lembrar que o Brasil defenderá que, em outras votações, cobrará que se use o mesmo parâmetro da votação sobre o Irã. Não foi apenas Obama que pediu para o Brasil votar desta maneira, foi um desejo soberano da presidenta brasileira, que é uma lutadora visceral pelos direitos humanos, visto ter passado por experiências extremamente dolorosas na ditadura militar.

Outros 21 países votaram pelo envio do relator. Não teria sentido o Brasil se colocar, nesta votação, ao lado de ditaduras como China e Arábia Saudita, em vez de votar junto com as democracias com as quais partilha os ideais de democracia e direitos civis.

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Você diz que não houve condenação, o Celso Amorim discorda. Simples. Disse Amorim: "Não procedem explicações que procuram minimizar a importância da decisão com comparações do tipo: “O Brasil também recebe relatores” ou “não houve condenação”.

Você pode repetir mil e uma vez, não torna verdade.

Aliás, repasso: http://tsavkko.blogspot.com/2011/04/posicao-do-brasil-frente-ao-ira-mudanca.html

Sue comentário comparando Arábia Saudita e Irã está errado. Como assim o Irã é pior que os Sauditas nesse ponto? Está errado. É engraçado que no Irã o Estado paga cirurgia de mudança de sexo, algo mais avançado que no Brasil...

É um tipo de comparação indevida e desnecessária.

Se vamos defender os DH, espero o Brasil condenando a arábia Saudita e os EUA logo logo. Será que vai? DH não é a pauta, isso é subterfúgio.

Porque Obama não pediu ao Lul/Amorim pra votar contra o Irã? Ou, se pediu, porque não foi atendido?

Repito a pergunta, QUANTOS acordos os EUA e aliados conseguiram condenando o Irã? E quantos o BRasil conseguiu SEM condenação?

E, desculpa, mas eu tenho que rir, "ideais de democracia e direitos civis"? Claro, os EUA são o bom exemplo, mas só pra eles, pro resto do mundo eles pensam diferente, vide... A Arábia Saudita!

Política internacional não é idealismo.

Miguel do Rosário disse...

não é política internacional. são direitos humanos.

não houve condenação. celso amorim falou em "simbolismo" forte, mas não usou o termo "condenação".

e me atenho a argumentos, não a que amorim falou, porque aí teríamos uma guerrinha para dizer quem falou o quê, pois marco aurélio garcia afirmou que não houve condenação.

o que você prega é simplesmente a destruição do CDH da ONU, pois seria o que aconteceria se as votações seguissem simplesmente os rivalidades entre os países. há denúncias, há relatórios, há testemunhas, há todo um processo antes de uma votação como essa.

e o brasil, repito, votou em mais de 90% dos casos, a favor de investigações e relatorias sore direitos humanos.

Luis Henrique disse...

Raphael,

O que houve no Irã foi uma coisa.
O que houve no Egito e na Tunísia foi outra e, em relação ao que está acontecendo agora nesses países, eu digo que é muito cedo para julgar.
E o que está acontecendo na Líbia acabou em outra coisa - uma guerra civil. E, infelizmente, os rebeldes líbios parecem que já foram 'devidamente' enquadrados pelo ocidente:

http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MC30Ak01.html
http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MC31Ak02.html

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Bem, Miguel, Amorim era apenas o chanceler, se a opinião dele não vale, então não sei mais o que vale. Agora ele não é mais bom o suficiente, porque defender Dilma está acima de tudo.

E, sim, direitos humanos, e daí? Política internacional é diferente. discurso dos DH é demagógico, falho, parcial, responde a interesses de potências.

Volto a perguntar, até que você me responda, QUANTOS acordos os EUA conseguiram condenando, constrangendo ou votado contra o Irã em qualquer esfera? E o Brasil, não condenando ou votando contra?

Luis: Quando eu discordei disso? tunísia e Egito foram revoluções completas, no Irã o processo foi abortado pela fortíssima repressão estatal.

Miguel do Rosário disse...

Raphael, Amorim era o chanceler e o Lula era o presidente da república, chefe dele. E Marco Aurélio Garcia era o formulador ideológico da política externa. E Lula e Garcia aprovam o voto do Brasil.

Se o Conselho de Direitos da ONU não servir para perseguir os direitos humanos, então não serve para nada. E se o CDH for desmoralizado, será lucro para os EUA, que foram contra a sua implantação.

Política se faz na Assembléia Geral e no Conselho de Segurança, no CDH, o papo é direitos humanos.

Luis Henrique disse...

Raphael, o que ocorre na Tunísia e no Egito apenas será uma 'revolução completa' se a revolução política vier acompanhada de uma revolução social. Isso ainda há de se ver.

O que houve no Irã, ao meu ver, foi uma 'revolução colorida' falha, e contou sim com tentáculos da CIA, tal qual o golpe frustrado contra o Chávez em 2002. Sobre seus amigos iranianos, desculpe a minha ignorância, mas achava que a militância política de esquerda havia sido completamente dilacerada sob o brutal regime do Xá Reza Pahlavi. Você sabe melhor do que eu o resto da História, mas digo-lhe que, fosse quem fosse eleito presidente do Irã em 2009, a natureza do regime não iria mudar, a Sharia continuaria em vigor e revolução nenhuma iria acontecer. O que houve mesmo foi intervenção extrangeira - em especial no 'ciberativismo' - e muita, mas muita manipulação midiática para que nós, tolos ocidentais, acreditássemos que com Mousavi presidente o Irã se transformasse de repente em um outro país.

Concordo 100% com você que o discurso de direitos humanos na política é 'demagógico, falho, parcial e responde a interesses de potências', porém o Miguel acerta ao dizer que no CDH não se discute política. Claro, as potências sempre vão manipular a discussão sobre direitos humanos em qualquer lugar que seja - até num papo de buteco pé-sujo qualquer - mas aí são outros quinhentos.

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