1 de outubro de 2011

Bola fora do governo


Na minha humilíssima opinião, foi uma tremenda bola fora. Justamente o tipo de coisa que eles esperavam para cair de pau no governo "do PT". A ministra transformou o trabalho importante que faz à frente da secretaria num estereótipo previsível e desgastante, colando no petismo o estigma de adversário da liberdade de expressão. Com isso, reforça preconceitos ideológicos e joga toda uma categoria de profissionais liberais (publicitários, artistas, jornalistas, modelos, gente que lida diretamente com o risco de ser "censurado" pelo governo) contra o PT e contra a própria esquerda.

E acho que foi um erro não apenas pela questão política, mas um erro concreto, de avaliação do assunto. Se fosse um caso de saúde pública, tudo bem. Acho que a regulamentação da mídia faz sentido nesse ponto. Há muita reportagem furada, em jornais impressos e na TV, sobre uso de remédios, etc, e isso deveria passar por filtros de especialistas, de preferência nem ligados ao governo, mas a um conselho formado por acadêmicos totalmente isentos politicamente.

Entretanto, proibir uma propaganda da Gisele porque ela se insinua sensualmente ao marido? Ora, trata-se da situação mais humana do mundo! Humana, correta e necessária à continuidade da espécie. E o contrário também é verdadeiro! Um companheiro ou companheira estão sempre procurando seduzir um ao outro, e nada melhor do que um charminho especial para amenizar o impacto da confissão de um deslize. No meio desse debate, li que as mulheres já correspondem a quase 60% da mão de obra do país. Ou seja, elas já pagam as contas e não precisam mais provar nada a ninguém.

Temos os problemas de diferenças salariais, etc, mas acredito que estamos num rumo acelerado para uma era de total equanimidade entre os gêneros; e, ouso dizer, até com vantagem para as mulheres. A capacidade de comunicação de uma mulher, sua doçura no trato com o público, um senso maior de responsabilidade e a superioridade cada vez mais evidente (já comprovada estatisticamente) no nível de educação formal, prometem tempos em que as mulheres estarão, literalmente, por cima da carne seca. E eu estou contentíssimo com isso. Para mim, o mundo melhorará muito quando houver mais mulheres no comando dos negócios e da política, pela maior sensibilidade que elas demonstram ao lidar com problemas humanos, ecológicos e sociais; e sobretudo, por sua aversão maior à violência física, o que poderá pôr fim aos últimos conflitos bélicos que ainda atormentam e desestabilizam a ordem global.

Essa equanimidade, porém, não significa extinguir as características da mulher, incluindo aí seus defeitos, vícios e obsessões, se é que podemos chamá-los assim. Uma publicidade, assim como uma arte narrativa qualquer, deve explorar não apenas o lado bom do ser humano. Dante Alighieri escreveu uma trilogia maravilhosa: O Inferno, O Purgatório e O Paraíso; mas é o Inferno que sempre despertou o interesse do público. Ninguém sequer lê os outros dois. Pretender que se descreva a mulher, em comerciais publicitários, como um ser perfeito, que nunca usará sua beleza e sua sensualidade para obter o que deseja, é falsear a realidade. E confundir o poder de sedução de uma mulher, que é um conhecimento e um talento legítimos, que as mulheres estudam, exercitam e praticam desde a mais tenra idade - desde meninas! - com o trabalho de uma prostituta, é uma agressão à inteligência e ao bom senso. Detalhe: os homens também estudam e praticam a sedução desde garotos. Pode-se dizer que o poder de persuadir (e, portanto, de seduzir) tem sido uma das principais ambições do homem desde que a escrita foi inventada.

Vocês sabem que minha maior diversão, além de bater na direita, é dar umas porradas na esquerda de vez em quando. Essa é a hora: a esquerda tem que parar de ser cafona!

A cafonice da esquerda é um problema grave, porque naturalmente afasta de si toda uma categoria de profissionais da criatividade que exercem influência poderosa na opinião pública. Eu lembro de uma cena muito bem construida do filme "Meu irmão é filho único", que trata justamente disso. É a história de dois irmãos italianos: o mais velho se torna um famoso sindicalista de esquerda, charmoso e bem sucedido existencialmente; o outro, meio que para chamar a atenção, ingressa num movimento fascista. E tem esta cena, num anfiteatro de faculdade pública, onde os comunistas organizam audição de uma sinfonia de Beethoven a qual acrescentam uma "letra" repleta de clichês esquerdistas. O jovem fascista, desencantado com seu grupo, aceitara participar do evento. É um rapaz simples, não-intelectual, mas tem bom gosto suficiente para entender que se trata de uma barbaridade estética. Ele comenta isso com o irmão comunista, que o compreende e ri. O espectador então entende que o movimento comunista nasce de gente humilde, trabalhadores sem nenhuma sofisticação, ou estudantes que cultivam um idealismo simplório e romântico, e é normal que seja contaminado por sua estética "naif" e às vezes até grosseira.

Acontece uma coisa, todavia, que faz o irmão mais novo entender, definitivamente, que a "cafonice" da esquerda era - neste caso ao menos - inofensiva e singela, e que por isso deveria ser defendida da violência e arrogância de seus adversários. Um grupo de fascistas invade o anfiteatro portando paus e facas, num protesto violento contra a suposta agressão à obra de Beethoven. O irmão mais novo, então, completa sua conversão ao anti-fascismo. É óbvio que, numa situação como aquela, muito mais imoral que a cafonice musical dos comunistas é a intolerância brutal dos fascistas.

Voltando à Gisele, lembrem-se que ela falava com seu marido, não com seu patrão ou professor, o que faz ruir por terra todas as teorias conspiratórias sobre a "exploração" da sensualidade feminina.

Marta Suplicy escreveu em sua coluna de hoje na Folha um texto meio confuso sobre o tema; ao fim do qual, ela pede-nos para inverter a situação: "mude a Gisele para um bonitão. Vejamos: talvez na primeira cena ele teria de vir de bermuda mal ajambrada, com um copo de cerveja na mão e, nesse momento, apareceria "errado". Depois, ele apareceria como? Um bonitão, cara de inteligente, de gentil/doce, de intelectual... Ih, a mulherada é bem mais complexa."

Ora, não vi nada demais na inversão. Muitas mulheres super-aprovariam o bonitão bem vestido no lugar do outro mal ajambrado. Além disso, Marta imiscui-se num campo que não é o dela: o da publicidade, e põe de lado o principal: a liberdade de expressão, que não pode ficar na mão de burocratas sem humor e sem criatividade.

Ah, assista ao anúncio:

48 comentarios

Anônimo disse...

Bola fora do Oleo do Diabo

"Entretanto, proibir uma propaganda da Gisele porque ela se insinua sensualmente ao marido? Ora, trata-se da situação mais humana do mundo!"

Então o Oleo do Diabo defende que a Gretchen apareça na tv, em propaganda, fazendo sexo anal com o marido porque trata-se da situação mais humana do mundo entre os dois?

@GersonCarneiro

Anônimo disse...

O José Serra na campanha presidencial de 2010 fez uso do método Hope, recomendou que garotas conseguissem votos através da seduçao.

O Oleo do Diabo concorda e apoia o Jose Serra?

@GersonCarneiro

José Marcio Tavares disse...

Pela primeira vez discordo de você. Pelo menos em parte. Eu acho que seu artigo é do tipo "devemos mudar, mas com o cuidado de deixar tudo como está". Sory.

Anônimo disse...

Vejo esse assunto pegando fogo há dias por ai, até agora não entendi nada e nem mesmo me interessei pelo ocorrido, só sei que logo passa

spin

Miguel do Rosário disse...

Po, Gerson, que comparação, hein? Mas até que você deu uma boa ideia de publicidade, mas teria que ser depois das 22 horas. Quanto ao Serra, você sabe muito bem que eu o apoio incondicionalmente.

Oi Marcio, tá me chamando de um legítimo representante da família Leopardi? Eu acho que devemos mudar o que há de errado, e não mexer no que não tem nada a ver.

Miguel do Rosário disse...

Gerson, uma coisa é um comercial brincalhão, talvez de mau gosto, insinuar que a melhor forma de transmitir ao marido a informação de que seu cartão de crédito estouro seja vestindo uma lingerie. É natural, partindo de uma loja que vende... lingerie. Outra coisa é um candidato a presidente da república convocar suas eleitoras que usem a sedução para convencer seus namorados a votarem nele. Serra não é dono de loja de lingerie.

SPIN IN PROGRESS disse...

Agora entendi. Ao que tudo indica as feministas não gostaram da peça, devem ter se sentido objeto, aquele trololó, segue texto:

Conar instaura processo ético para investigar campanha "Hope Ensina"

O Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) informou no dia 29 de setembro (quinta-feira), em nota enviada à Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), que instaurou o processo ético número 225/11, para investigar o caso do anúncio "Gisele Bündchen - Hope Ensina".

De acordo com a nota enviada pela SPM, a instauração do processo foi solicitada pela SPM, dia 27, uma semana depois que o anúncio começou a ser veiculado nas redes privadas da televisão brasileira. O Conar informa ainda que o julgamento ocorrerá "em breve".

“A decisão de encaminhar a representação foi tomadas foi tomada pela SPM, depois que sua Ouvidoria Pública Nacional recebeu diversas denúncias de que a propaganda, que começou a ser veiculada dia 20, teria conteúdo discriminatório ao reforçar o estereotipo da mulher como objeto sexual de seu marido”, diz a nota.

A campanha, denominada "Hope ensina", protagonizada pela modelo Gisele Bundchen, estimula as mulheres a fazerem exposição do corpo e insinuações sensuais para amenizar possíveis reações de seus companheiros frente a incidentes do cotidiano.

De acordo com a representação da SPM, a "propaganda promove o e ignora os grande avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas. E também apresenta conteúdo discriminatório contra a mulher, infringindo os arts. 1° e 5° da Constituição Federal".

O CONAR - O Conar é uma organização não governamental, com a diretoria formada por representantes das principais agências publicitárias do país e membros de setores da sociedade civil.

Trata-se de uma organização do setor, nascida em 1970, com o objetivo de autorregulamentar o conteúdo publicitário veiculado produzido pelas agências e veiculado na mídia.

O órgão não tem poder de proibir ou vetar a veiculação de material publicitário, mas sim o de sugerir a sua suspensão, tanto aos veículos como às agências publicitários que os produziram, caso julgue que ele afronte o Código de Ética da categoria.

"O Conar atende a denúncias de consumidores, autoridades, dos seus associados ou ainda formuladas pela própria diretoria. Feita a denúncia, o Conselho de Ética do Conar - o órgão soberano na fiscalização, julgamento e deliberação no que se relaciona à obediência e cumprimento do disposto no Código - se reúne e a julga, garantindo amplo direito de defesa ao acusado. Se a denúncia tiver procedência, o Conar recomenda aos veículos de comunicação a suspensão da exibição da peça ou sugere correções à propaganda. Pode ainda advertir anunciante e a agência", informa o órgão em seu sítio na internet.|SPM/PR.

http://www.revistafator.com.br/ver_noticia.php?not=175542

Reginna Sampaio disse...

Estava vendo um filme na tv quando me deparei com dita propaganda durante um intervalo. Fiquei abismada , me senti ofendida com a propaganda e minha primeira atitude foi ir ao twitter postar minha indignação . Confesso nunca me liguei no feminismo mas essa propaganda me ofendeu . Assim como me ofenderam os comentários machistas que li ontem durante apresentação da cantora Shakira no Rock In Rio , descobri que a maioria dos homens ainda dividem as mulheres em "gostosas" e 'não gostosas " e o que é pior boa parte das mulheres aceitam isso naturalmente. Parece que ainda estamos em épocas remotas onde o papel politico da mulher era seduzir os reis a diferença é que os reis daquela época eram Reis mesmo com coroa , reino e tudo mais ! Hj em dia a sociedade capitalista transformou todos os homens em reis e as mulheres, claro, continuam tendo que seduzi-los o tempo todo até pra contar tolice pro próprio marido .

Miguel do Rosário disse...

Reginna, os homens também tem que seduzir suas mulheres. Não é preciso ser Gisele Bundchen para seduzir. Não estamos em nenhuma época remota. As mulheres não aceitam nada, elas trabalham duro, estudam muito, e ascendem social e politicamente, cada vez mais. Uma delas até virou presidente da república.

Anônimo disse...

As mulheres e o movimento feminista sabem onde aperta o calo.

A direita sempre procurando um assunto para detonar o governo "do PT", fazer o que né

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=165254&id_secao=6

Anônimo disse...

Perfeito, Reginna Sampaio.

"Serra não é dono de loja de lingerie."

Quer dizer, se fosse poderia usar toda a criatividade dele para praticar machismo.

E o que me diz de donos de cervejaria que não são donos deloja de lingeries mas seguem o mesmo caminho quanto a utilização do machismo em propagandas?

@GersonCarneiro

Miguel do Rosário disse...

Gerson, a TV já tá cheia de comercial feminista, alguns que me ofendem. Aquele da Bombril, por exemplo. O Brasil e a própria televisão tem problemas maiores a enfrentar.

Anônimo disse...

Discordo. Quem faz a classificação do que é mal maior e mal menor? Enfim...

@GersonCarneiro

Anônimo disse...

Desculpe, mas nunca vi um comercial 'feminista'. Não que eu me lembre agora. O comercial da Bombril foi rechaçado pelas próprias feministas, por se utilizar e alimentar um clichê nocivo, baseado na ideia da simples inversão da dominação de uns sobre os outros, enquanto os movimentos feministas, os movimentos sérios que eu tenho visto, pleiteiam apenas igualdade de condições ('iguais na diferença').
Quanto ao comercial, bom, eu não sou mulher, então, não teria como me colocar no lugar e mesmo entender o que causou ofensa. Acho que é um comercial que talvez seja simplesmente bobo, de mau gosto talvez, mas que apenas reproduz coisas de que a sociedade já está impregnada. Em todo caso, como alguém disse aí acima, 'as mulheres sabem onde o calo aperta'.

Luiz Felipe M. Candido.

Miguel do Rosário disse...

Oi Luiz, o comercial pode ser de mau gosto, machista. O erro do governo foi tentar censurá-lo. É um comercial bobinho, apesar de descaradamente machista. Assim como quase todos os comerciais da televisão. Não se muda isso com canetada governamental. No mínimo, teria que permitir um debate da sociedade sobre o tema.

Danilo Morais disse...

Esta não é uma questão do governo ou do PT. Esta é uma questão de se colocar contra o machismo e o sexismo da sociedade brasileira. Também não é necessário ser feminista para ser anti-machista e anti-sexista. Bueno, caso entendamos que a comunicação social e a propaganda é estratégica para reproduzir ou mudar visões de mundo, a propaganda da HOPE deve ser, com certeza, colocada em discussão, por reforçar a subalternidade da mulher no Brasil.
Danilo Morais

Geopolêmica disse...

Patrulhamento. Existe o de direita e o de esquerda. Patrulheiros nem sempre defendem causas urgentes. O que a seus olhos, Miguel, e aos meus pode ser de péssimo gosto para muitos é ABSURDO. Questão de relevância, nisso concordo contigo.

Anônimo disse...

Li certa vez sobre uma mãe que decidiu criar os filhos dela (um menino e uma menina) de forma exatamente igual, inclusive dando bonecas para o menino e caminhõezinhos de brinquedo para a menina para que os dois tivessem os mesmos tipos de brinquedos. Os dois por um tempo pareceram agir de forma igual, até que um dia a mãe pegou a menina embalando nos braços o caminhãozinho como se fosse um bebê, dizendo "Não se preocupe caminhãozinho, nada vai acontecer com você".

Mulheres e homens são diferentes, ponto. É correto dar direitos e deveres iguais para os sexos (não ser diferenciado ao procurar um emprego por exemplo), mas os dois têm COMPORTAMENTOS DISTINTOS e não adianta tentar mudar isso. Homens dividem mesmo mulheres em "gostosas e não gostosas", e isso é natural. O problema é que a mulher imagina a relação com o sexo oposto de uma forma tão fantasiada e impossível que nem ela consegue se entender, muito menos entender o que para o sexo oposto é perfeitamente normal.

É por isso que tão poucos casamentos dão certo. O homem quer simplesmente uma companheira, enquanto que a mulher quer um príncipe encantado.

Anônimo disse...

Não podemos negar que o ponto fraco do homem é o sexo.
Isso não é diferente na natureza, os bichos usando seus truques para conquistar uma parceira.
De fato é um comercial passaria despercebido não fosse essa ventania provocada pelas feministas.
Para me conquistar, no lugar da Gisele tinha que ser um Cauã.

Paulão

Rogério Floripa disse...

Vivemos numa sociedade de caretas.



Documentário - Da Servidão Moderna
É uma servidão voluntária, acatada pela totalidade dos escravos que se arrastam pela superfície da Terra.http://fwd4.me/07hi

José Marcio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Marcio disse...

Caro Miguel, você me convenceu. Realmente a ministra deu uma coroca chata. A peça publicitária não é questão de saúde pública e politicamente foi um erro tremendo. Eu só fico meio preocupado quando você fala de "situação mais humana do mundo". Acho que esse tipo de pensamento é um tanto ou quanto reacionário (talvez a palavra seja um pouco pesada demais). Pois existem "situações mais humanas do mundo" que, no meu entender, devem ser extintas.

sobre o tema no meu humilhíssimo blog: http://migre.me/5P2j5

Miguel do Rosário disse...

Marcio, esta frase refere-se exclusivamente ao contexto, que é a mulher seduzir o marido. Assim como o marido seduz a esposa. Isso é que é humano. Não creio que seja reacionário. Não entro no mérito da maneira pela qual esta sedução é feita, visto que o processo de sedução certamente não segue, quase nunca, padrões politicamente e rigorosamente corretos. As pessoas fazem as maiores loucuras, palhaçadas, estrepolias, para seduzir. Ficar de sutiã para o marido não me parece uma das mais diabólicas.

Abs

Celso disse...

Ah, conceitos, preferências... Vejam bem, se numa situação real, o cara é o dono de um carro caríssimo, e, de repente, a mulher(que já bateu esse carro outras vezes...), aparecesse na frente dele vestindo essas lingeries, mesmo assim não ia passar sem bronca, não. Sabe, o que me deixa puto não é o fato de insinuarem um padrão de comportamentopara escapar de uma responsa, de uma bronca, mas a esperteza. É o tal “jeitinho”, mais uma vez, só que sendo demonstrado de outra forma. Vale lembrar que muitos homens, hoje em dia, estão tão saturados dessas ”imagens de beleza”, que preferem as mulheres reais, com “defeitos”. Quem (suponho) ainda se deixa levar por essas ilusões devem ser algumas consumidoras de lingeries (as que podem pagar, claro). Me indago: qual será a eficácia dessa forma de propaganda? Quantas mulheres conseguiu levar às compras com esse argumento ? Porque, a propaganda, sem a polêmica que gerou, é muito ingênua mesmo.

José Carlos Lima disse...

Como se vê, um assunto polêmico, nunca se chegará a um consenso, talvez nem é isso que se queira. Só discordo da direita usar isso para denegrir a esquerda. Mas é exatamenta da Época que vem um texto, do Paulo Moreira Leite, que não denigre o governo Dilma por conta disso. O artigo coloca o tema sob a dicotomia mercado x liberdade.

Direito de Venda Não é Liberdade de Expressão
http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite/2011/10/01/direito-de-venda-nao-e-liberdade-de-expressao/

A mobilização de jornalistas em torno da campanha da calcinha e sutiã de Gisele é mais complicado do que se parece...
http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite/2011/10/01/3806/

Outro argumento. É possível considerar que, mesmo atuando na esfera cultural e das relações simbólicas (chique, não?) esta publicidade é tão nociva para as relações humanas como o cigarro é prejudicial à saúde das pessoas. Essa visão poderia levá-lo a considerar que as duas propagandas merecem receber o mesmo tratamento.
Você também pode achar que tudo isso é bobagem, patrulha, autoritarismo.

Mas vamos nos entender: esta é a discussão.

http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite/2011/10/01/ainda-no-sutia-de-gisele/

Anônimo disse...

Caro Miguel,
Não sou blogueiro coorperativista, então com todo respeito e admimarção que tenho por você, neste artigo A "BOLA FORA FOI DO MIGUEL E DO ÓLEO DO DIABO".
Momento de falta de inspiração, melhor esquecer.
Se tiver tempo leia diversos artigos bem fundamentados no meu blog.
Sem outros comentário.
Um abraço amigo,
Saraiva

Miguel do Rosário disse...

Saraiva, mantenho minha opinião. Foi bola fora. Se for proibir a propaganda da Gisele, tem que proibir quase todos os comerciais. O que me choca é a falta de isonomia. O comercial pode ser ruim, mas daí querer censurar é uma estupidez. Pode-se considerar o anúncio de mau gosto, mas daí a proibi-lo. Essa galera das redes sociais, blogs, estão ficando muito patrulheiros e mau humorados. Com isso, desmoralizam o discurso de que precisamos regulamentar a mídia. Regulamentar para isso? Para censurar qualquer anunciozinho meia boca? É um discurso politicamente reacionário, ingênuo, contraproducente. Se fosse um homem bonitão no lugar da Gisele? Daria na mesma. O anúncio em questão é inofensivo. Pode ser sexista. Mas tudo é sexista. Uma das coisas mais importantes no humor é jogar com os clichês. As piadas do Costinha sobre as "bichinhas" hoje em dia seriam proibidas?

Celso disse...

Só pra completar meu comentário... acabei de ver todas as propagandas, e minha opinião continua a mesma. O problema principal, acho eu, é a mensagem "ensinada" que é errada, e não achei graça nenhuma, pois só mostra uma total falta de respeito,também, aos homens, que, nesse ponto de vista, são uns parvos que, à mostra de um corpinho bonito numa lingerie, aceitam qualquer tipo de coisa. Acredito que tem meios de se fazer melhores propagandas abordando a sensualidade feminina de forma positiva, sem associar a maus exemplos de comportamento (que a gente sabe que tem muitos homens e mulheres que fazem disso uma prática pra se "darem bem").

Marcio Tavares disse...

Please, alguém poderia explicar ao ignorante aqui o que vem a ser um "blogueiro cooperativista"?
Eu já não sei direito o que é "Blogueiro progressista". Agora vem o Saraiva com mais uma pra me deixar blogado, ou melhor, bolado.

Wilsoleaks Alves disse...

O comercial está explicitamente ENSINANDO a mulheres, de todas as idades, como devem se portar caso dêem uma bola fora.
O governo deveria se calar quanto a esta aula?
Claro que não Miguel, aí seria desgoverno. Não devemos esquecer que é o PT que está no comando não o PSDB/DEM, erros sempre existirão, contudo, ser conivente com falhas grosseiras pode ser lesivo para a consciência progressista.
Piadas de mau gosto devem sim ser proibidas, bem como todo e qualquer tipo de veiculação que fira a dignidade humana.

Francisco Ebeling Barros disse...

Bola fora do Óleo do Diabo.

Vale lembrar que não existe um governo enquanto forma monolítica e única. Existem vários órgãos dentro de um governo que muitas vezes entram em conflito.

Válido que um desses cumpra seu dever de denunciar algo que deve ser extirpado da sociedade. Se o outro órgão não acatar, é do jogo democrático.

Anônimo disse...

Bola Fora é a caretice geral, fui

Spin

Miguel do Rosário disse...

Oi Francisco, que é do jogo democrático eu sei. Pode-se democraticamente fazer vários ataques à liberdade de expressão. Nessa toada, porém, proibir-se-á quase tudo. Assista ao anúncio, se formos proibir aquilo, teremos que fazê-lo com muito mais coisa. Minha crítica é falta de isonomia, o exagero, a paranóia anti-sexista.

Miguel do Rosário disse...

Wilsonleaks, o comercial não está ensinando nada. É evidente que aquilo é uma brincadeira, um joguinho erótico inocente entre o casal, mais do que explicável pelo fato do produto oferecido ser uma... lingerie. Está havendo uma rigidez conservadora que não consigo entender.

Francisco Ebeling Barros disse...

Miguel,

existe um cientista político argentino chamado Guillermo O'Donnell que escreveu sobre como a possibilidade de que alguem se candidate a um cargo político pode ser entendida enquanto "aposta institucionalizada". Trata-se da presunção, por parte do Estado, de que os indíviduos desempenharão com responsabilidade "cívica e moral" essa "dotação de direitos". Da mesma forma, acredito que a liberdade de expressão deve ser entendida como uma via de mão dupla: ela nos é conferida, mas devemos usar dela com responsabilidade. Está na constituição que mulheres ou outros indivíduos não devem ser discriminados. A propaganda o faz, delegando à mulher um determinado papel social. Ainda que se contraargumente que se trate de uma brincadeira, há ali preconceitos profundamentos enraizados e que estão sendo perpetuados. Como queremos caminhar em direção a uma sociedade mais justa (inclusive no que tange à questão do gênero), acho que a propaganda rompeu com um compromisso público.

Por que não abrir um precedente? Por que não dar limites? Com decisões drásticas (porém simbólicas) as coisas mudam. Em algum momento algum legislador ou juíz deve ter dado um basta as propagandas racistas que até então existiam? Se por um lado a sociedade brasileira melhora em termos de distribuição de renda e riqueza entre homens e mulheres, o plano simbólico ainda fica atrás...

Francisco Ebeling Barros disse...

E convenhamos, esse papo de liberdade de expressão é mi mi mi da direita. Desde quando, cara pálida, uma empresa rica que pode pagar por ríquissimos comerciais "sofre" de verdade com esse problema?

A liberdade de expressão das mulheres pobres que não aguentam mais homens que as encham de porrada foi respeitada?

Miguel do Rosário disse...

Chico, você está falando coisas bonitas, mas em tese, sem levar em conta o objeto em questão. O comercial não faz qualquer insinuação à violência física ou mesmo psicológica. A Gisele aparece rindo, e dado o símbolo que ela representa, de ser uma mulher esplendorosamente linda, e visto que o objetivo de qualquer publicidade ligada a produtos de beleza (aí incluindo lingeries) foca na valorização da beleza da mulher, o objetivo do comercial é fazer a mulher valorizar sua beleza para suavizar a irritação do marido. Nada de violência.

Tem um clássico do Durkhein, que fala que o crime é necessário à sociedade. Não fossem os roubos e os assassinatos, que definem para a gente o que é um crime de verdade, estaríamos condenando as pessoas porque esbarramos uns nos outros, ou porque levantamos a voz no momento errado. É assim que estaremos se a gente instituir um rigor exagerado nessas questões. Se um comercial qualquer mostrar um detalhezinho insignificante que uma burocrata do governo considere sexismo, e provoque e convença para que outra burocrata do Conar entenda que assim o é, estaremos violentando cada vez mais a liberdade de expressão, caminhando para um universo sufocante, onde imperará a caretice insípida na comunicação.

Francisco Ebeling Barros disse...

Acho que você mesmo deu a base para a réplica. É assim tem que funcionar. Se a burocrata considerar isso e o conar tiver aprovado, verá-se que se tratou de uma decisão democrática... Qual o erro aí?

Miguel do Rosário disse...

Não é um erro de ordem democrática institucional. Ou até seja talvez. Em tese, esse mesmo burocrata pode proibir então qualquer anúncio que lhe der na telha, e o Conar proibir qualquer outro. É um problema de ordem da liberdade de expressão. A democracia é uma ordem cheia de falhas, brechas, instabilidades. Ela é perfeita (ou quase) apenas enquanto um espírito constitucional. Na prática, pode ser autoritária e leviana (como neste caso) com coisinhas bobas, e tolerante com tremendos absurdos. Há pouco tempo, ficamos sabendo que uma garota ficou presa numa prisão masculina, sendo estuprada por semanas a fio. O que o governo fez? Enfim, acho que o governo deve focar no combate a coisas mais concretas e graves, deve reforçar as delegacias de mulheres e fazer programas públicos mais eficazes voltados para questões femininas, inclusive na educação. E não fazer um ato arbitrário de escolher um comercial (entre milhares de outros até piores) e escolhê-lo como bode expiatório.

Francisco Ebeling Barros disse...

Neste caso seria o dever do órgão cuidar tanto deste caso quanto daquele da menina estuprada na prisão...

Você defenda a liberdade de expressão do Rafinha?

Miguel do Rosário disse...

Claro que eu defendo a liberdade de expressão do Rafinha! Defendo até a do Fernandinho Beira Mar. Todo cidadão tem direito à liberdade de expressão. Mas acho também que apresentadores de tv precisam, obviamente, saber discernir uma piada de uma grosseria. E pagar pelas consequências de seus erros. Mas não gosto desse sadismo pró-crucificador, inquisitorial, carola, moralista, das redes sociais, sempre com sangue na boca para condenar alguém, para jogar alguém nas profundezas do inferno. Advirta-se o Rafinha, tá bom, sem exagero. Ele não é nenhum bandido. O Brasil tá cheio de problemas criminais muito mais graves que demandam atenção das pessoas e do Estado.

Francisco Ebeling Barros disse...

Você acha carola alguem criticar um sujeito (ou até querer processa-lo) por sentir-se no direito de dizer que as mulheres feias devam ser estupradas em nome do humor? Isso tem que ser combatido, cara. Desculpa aí, mas não vejo uma grande diferença entre o que faz a secretaria e o que fez o IBAMA... Cada um defende seu eixo temático...

Francisco Ebeling Barros disse...

O princípio é até similar:

- Quer explorar a atividade de gerar energia elétrica na Amazônia? Então respeite as convenções ambientais.
- Quer explorar o segmento de mercado que vende para mulheres? Então faça-o com o mínimo de respeito..

Miguel do Rosário disse...

Este foi um caso emblemático, que seguramente irá ocupar os debatedores em torno do tema da liberdade de expressão por séculos. Foi evidentemente uma grosseria, que depõe contra o humorista. Mas ao mesmo tempo é isso que as pessoas gostam nele, esse lado meio bandido, com suas piadas infames. Fazer o quê? Proibe-se, aparece outro, e mais outro. A liberdade é para isso também, tem esse lado sombrio, espinhoso. É o caso, então, do legislativo elaborar algum código mínimo de comportamento? Talvez. Até onde, porém, vai a necessidade de coibirmos pela lei se podemos mudar as pessoas através da educação? Não seria mais bonito que esse tipo de piada não fosse dita na tv simplesmente porque as pessoas acham-na grosseira e sem graça, do que porque fosse proibida por lei?

Pessoalmente, eu não gosto do CQC, acho que eles são sempre tendenciosos em suas pautas políticas, pró-conservadores (apesar da libertinagem do gogó), mas sei que muita gente adora o programa deles.

Anônimo disse...

Miguel,
É a primeira vez que leio o teu blog. Vim através de outro que fazia referência ao teu, tratando da campanha publicitária da Hope. Em primeiro lugar devo dar os parabéns pelo seu blog, em razão da sua lucidez ao tratar desse caso. Até sendo ditático ao responder a muitos que se apresentam confusamente com posicionamento moralista e medievalista. Parabéns. AFP

Anônimo disse...

Caro Miguel,
a atitude da ministra Iriny foi uma mera resposta automatica ao que o comercial proclama. Um comentarista acima se refere ao fato de que este uso da sensualidade é ofensivo pra nós homens pois faz com que sejamos complacentes com mancadas em funçao de promessas sexuais. Se minha namorada (que é uma mulher comum de 37 anos) fosse utilizar este recurso, eu ia rir da postura ridicula dela e nao aceitaria tais justificativas, porque antes de mais nada, somos adultos responsaveis pelos nossos atos, o que a propaganda procura evitar. Isto me incomodou profundamente. Estou cansado de ver gente pondo a culpa em outros, nao cumprir o que prometeu e tentar se esquivar. Chega de passar a mao na cabeça de cretinos como RBastos et caterva.

Ricardo- Campinas, SP

JCB disse...

Com a vantagem que uma semana me dá, seus comentários me impelem a pensar que você está se transformando - se já não era - um reacionário de direita dos piores.

Miguel do Rosário disse...

JCB, respondi você no post sobre a esquerda caduca.

Postar um comentário