11 de outubro de 2011

Rubiáceas floridas para John Stuart Mill


Hoje de madrugada, pouco antes do amanhecer, desabou uma chuvasca assustadora. Como o buraco do ar condicionado ainda está aberto, um vento muito forte, barulhento, escapava por ali, agitando as cortinas e esfriando o quarto-sala onde eu durmo. Levantei para tirar as roupas do varal externo e contemplar os relâmpagos. Quem bom estar em casa, pensei, antes de voltar para debaixo do edredon.

Lembrei então da entrevista que fiz à tarde com um diretor de cooperativa. Ele havia me dito que as perspectivas metereológicas para Minas Gerais eram boas para esta semana. O café precisa de muita chuva, para compensar os quase 120 dias sem água que passou na região. E precisava que chovesse agora, a tempo de provocar a abertura dos botões florais e garantir a renda dos quase cinco milhões de empregos gerados em suas lavouras.

Entretanto perdi o sono, e voltei para o computador, no escritório-salinha de jantar que montei perto da entrada. Não tirava da cabeça o desejo de baixar um livro de John Stuart Mill, sobre a liberdade de expressão, do qual sempre ouvira falar.

Baixei o livro e agora estou no meio da leitura. É muito emocionante. Ele imprime um tom dramático à sua defesa da liberdade, mas com uma argumentação tão racional quanto uma fórmula algébrica. O ritmo e a sintaxe do texto, por sua vez, têm aquela leveza e densidade poéticas dos grandes clássicos. Essa é uma das ideias que tenho de literatura, aliás, que não se trata apenas de ficção. Também os clássicos da filosofia, política e história constituem o patrimônio literário da humanidade. Um dia escrevo sobre isso.

O original em inglês está aqui, e eu dei upload numa tradução aqui. Intitula-se "On Liberty", ou "Sobre a Liberdade". Você também pode ler o capítulo sobre liberdade de expressão neste site.

Só volto a postar depois que digerir cada palavra, porque é um livro absolutamente imprescindível e urgente para mim neste momento. O café precisa de chuva para produzir suas lindas flores brancas com aroma de jasmin. Eu preciso ler este livro. A blogosfera e o Brasil precisam de liberdade. Como disse um maluco que tomou LSD e foi parar, por acaso, no sítio do John Lennon: tudo faz sentido agora, irmão.


Imagem: Wesley Duke Lee. 

18 comentarios

Anônimo disse...

O Café precisa de chuva.
Você precisa ler o livro.
Nos precisamos de você - florindo!!!!



nora j. santos silva

Eliete Toledo disse...

Realmente é um belo texto, mas me parece que a argumentação funciona mais no campo do desejável, da nossa (?) busca constante em nos tornarmos seres humanos melhores. Tentei fazer um esforço de memória – é, é duro envelhecer – e sem consultar o texto novamente não tenho certeza do que vou afirmar, mas arrisco: nos poucos exemplos do “mundo real” que dá para “desenhar” sua argumentação, vemos que o buraco é mais embaixo. Esclareço: estou pensando justamente no exemplo da igreja católica que antes de canonizar seus santos escutaria a argumentação do advogado do diabo. Seria bacana, não? O cúmulo da intolerância ouvir o “outro lado”... Infelizmente, o mundo real até na “veneranda” instituição é um tanto diferente, vide as últimas santificações – ou seja lá o nome que dão – do último papa e do fundador da opus dei, que parecem ser feitas sob medida para desmentir a história de “ouvir o outro lado pacientemente”.
Outro argumento bacana é o questionamento da ideia de decidir pelos outros. Perfeito, mas volto a insistir: funciona no mundo real? As pessoas realmente estão tendo acesso aos múltiplos lados de toda e qualquer questão para tomarem suas decisões. Acho horrendo esse papo de PIG e coisa e tal, mas me preocupa a homogeneização de tudo, a prevalência de uma visão única em todo o canto que a gente vá, inclusive na incensada “blogosfera”.
É isso.

Eliete Toledo disse...

Baixei agora a versão em português sugerida por você. Espero não ter cometido injustiças ao brilhante MIll.
Abraço
Eliete Toledo

SPIN IN PROGRESS disse...

Caro Miguel, seus textos tem sido uma grande contribuição à blogosfera.
Antes que eu me esqueça, amanhã é feriado, dia de pararmos um pouco.
Parar implica em desligar-nos de tudo, inclusive de nós mesmos.
Amanhã quero não-ser, esvaziar-me, afastar-me, desligar tudo.
Somos gratos a você, bom feriado.

Anônimo disse...

Concordo com vc e com os blogueiros que discordaram de Rafinha Bastos. São dois pontos de vista diferentes, não discordo de vc nem do Eduardo Guimarães

Paulão

Anônimo disse...

Segue link para um texto na Carta Capital

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-personagem-rafinha-bastos

Augusto dos Santos

Anônimo disse...

Chupa meu cacete, diz Rafinha Bastos à Mônica Bergamo

http://www.advivo.com.br/blog/implacavel/chupa-meu-cacete-diz-rafinha-bastos-a-reporter

Agusto dos Santos

Anônimo disse...

Isso também, do Gilberto Maringoni, na Carta Maior

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/maringoni-rafinha-nao-dancou-por-machismo-mas-por-mexer-com-gente-rica.html

Augusto dos Santos

Miguel do Rosário disse...

Pois é, garoto mau mesmo o Rafinha, né. Deveria ser condenado à fogueira e execração pública.

Anônimo disse...

Miguel, não podemos nos esquecer de que é grave a falta de liberdade de expressão na grande impensa monopolizada. Tente postar um comentário apontando quem está por detrás das marchas contra a corrupção e não conseguirás. Neste sentido que disse que concordo tanto com vc como com o Eduardo Guimarães. Vocês são amparadores da liberdade de expressão. Claro que o Eduardo Guimarães entra um pouco na questão do conteúdo e vc não. Viva a blogosfera. Bom feriado, abração

Paulão

Anônimo disse...

O que não podemos é deixar esta direita decrépita tomar para si a bandeira da luta pela liberdade de expressão e contra a corrupção. Isso eles nunca praticaram, com certeza.

Paulão

Anônimo disse...

O que não podemos é deixar de lado a luta pela democratização da comunicação. Não se pode deixar tudo por conta do mercado, às vezes tem que se interferir no conteúdo, a conferir:
Do Nassif: SBT multado por propaganda disfarçada e a Veja não será multada por causa da capa com propaganda de remédio disfarçada de noticia?

Claro, talvez não tenha a ver com a postagem, só estou me reportando à questão da liberdade confundida com libertinagem, com o vale tudo.
Entendo sua colocação e respeito, mas nem tudo ao deus mercado, nem tudo aos coronéis midiáticos senão isso aqui vira a casa de mãe joana

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/sbt-multada-por-publicidade-disfarcada-e-a-veja

Paulão

Anônimo disse...

Complicado a caixa de comentários do blogspot, não há como postar imagem nem video e nem mesmo link!
Sobre liberdade de imprensa
http://altamiroborges.blogspot.com/2011/10/gisele-bundchen-onde-esta-censura.html

Marco disse...

Caro Miguel,

Peço desculpa por interromper suas reflexões acerca do texto do Stuart Mill. Por obrigação, travei contato com várias passagens dele na época do mestrado. Para mim, sua importância foi apenas relativa. À época estava envolvido numa batalha intelectual para desmascarar os liberais citados a todo instantes, mas meus "alvos" eram Tocqueville e Constant.
Mudando um pouco de assunto, peço que nos ajude a divulgar:
O PIG e as Greves
No Anti-PIG
http://oantipig.blogspot.com/2011/10/o-pig-e-as-greves.html

Saudações

José Carlos Lima disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
alex disse...

Fracasso das marchas globais pela alienação política

Do Blog do Milton Temer

Dois episódios extremamente significativos resultaram como marca das "marchas contra a corrupção"que a Rede Globo, por seu jornal, rádios e TVs, tentou mobilizar em várias capitais do País, no feriado de ontem: a participação social bem menor do que a esperada, e a expulsão de pelo menos dois militantes políticos orgânicos: o deputado Paulo Rubem, do PDT, em Pernambuco; e um portador da bandeira do PSOL, que acompanhava o senador Randolfe, segundo seu relato publicado. Difícil imaginar que manifestação realmente identificada com as bandeiras propostas possam ter nesses dois exemplos os seus inimigos a combater.

O Globo, em busca de explicações para o fracasso que reconheceu, chegou a recorrer a cientistas políticos que declararam, delicadamente, não haver condições para impor "primaveras" que só têm sentido quando organizadas de forma espontânea.

Faltou, e certamente os entrevistados a ela não se referiram por limites de delicadeza, citar a principal razão do fracassso a despeito de todo o empenho anterior na promoção do fato que queriam transformar em notícia: a Rede Globo não tem credibilidade social para mobilizar uma luta política de viés progressista. Principalmente, quando essa luta política usa valores que nunca foram do espectro de característica de suas emissoras de rádio e tv, ou de seu jornalão.

Os que aceitaram a convocação - com as exceções normais de qualquer estatística - estavam na verdade atendendo à convocação para os passos iniciais de uma fortemente ideologizada campanha de despolitização da Política. Estavam sendo integrados a um Partido com objetivos claros: através de bandeiras corretas, desqualificar a vida política organizada, e principalmente os Partidos da esquerda combativa, que não se rendeu nem se vendeu, para os quais tais bandeira são parte de um espectro amplo de lutas transformadoras.

Ìntegra do artigo acima:
http://miltontemer38.blogspot.com/

GLOBO ORGANIZA O PARTIDO DA DESPOLITIZAÇÃO DA POLÍTICA
http://miltontemer38.blogspot.com/2011/10/globo-organiza-o-partido-da.html?spref=fb

Anônimo disse...

Vc é um defensor irrestrito da liberdade de expressão e isso nos conforta, vc, o Edu, e toda a blogosfera, todos acrescentam

spin in progress disse...

Em Goiás cidadão é condenado por ter dito que o governador Perillo teria "estuprado o estado".
O juiz entendeu que o cidadão chamou Perillo de estuprador.
Ué, eu não sabia que "estado" era nome de gente
http://www.advivo.com.br/blog/spin-in-progress/liberdade-de-imprensa-os-maus-exemplos-dos-governadores-tucanos

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