10 de outubro de 2011

A paranóia sexista e anti-libertária da esquerda caduca

(Deve ter algum sexismo na figura aí)

O meu post sobre o Rafinha Bastos suscitou reações carinhosas por parte dos amigos. Um blogueiro afirmou que eu deveria ter escrito sob efeito do álcool, depois que eu tinha surtado, que se tratava de uma opinião exótica (disso eu gostei) e que eu apenas me prejudicava (essa não entendi). Uma blogueira esclareceu que "ainda" não desejava que eu quebrasse os dentes, visto que esperava uma retratação. É lindo o espírito democrático! É lindo o espírito de paz e fraternidade entre os colegas!

Todo mundo reclama da falta de diversidade de opiniões na mídia, e de repente pretendem impor a mesma teocracia monolítica na blogosfera. Vários se manifestaram como se fosse absurdo o simples fato de eu ter emitido aquela opinião. Uma tuiteira passou dias me xingando de sexista e proferindo palavrões. Uma outra já me deu tanto block que deve ter construído uma muralha de concreto, embora minhas palavras - contra a minha vontade, já que eu não quero ser mais xingado - sempre arranjem um jeito de furar o bloqueio.

Já tentaram me explicar várias vezes o que é sexismo, mas ainda tenho dificuldades para entender completamente esse tema. Talvez alguma feminista possa "desenhar" para mim (elas sempre querem desenhar para que possamos compreender). Uma delas disse que se eu elogiar o jantar preparado por minha mulher, por exemplo, estaria sendo um "sexista benevolente".... Isso me confundiu um pouco. Na minha casa, onde sou eu o cozinheiro oficial, a recíproca seria válida?

Enviaram-me um artigo publicado na Carta Capital, da Rosane Pavam, onde somos brindados com uma longa xaropada - culta, é verdade, mas ainda sim uma xaropada - sobre o que é ou não humor. O texto é cheio de contradições insolúveis. Limito-me a reproduzir este trecho:

Chico Anysio, assim como Jô Soares, sempre proferiu piadas sexistas, machistas e misóginas, mas, como lembra o historiador Saliba, quase sempre encarnando outros personagens, como oligarcas e nhonhôs: “Os preconceitos estavam lá, todos, alguns em toda a sua crueza, mas eram reversíveis, mudavam de lado a todo o momento, os papéis eram trocados, retomando o universo do burlesco”.

Ou seja, se Rafinha inventasse "personagens", se "mudasse de lado a todo momento", podia continuar fazendo o que faz. Um humorista agora tem ser igual ao Chico Anísio para ser aprovado? Tudo isso segundo o historiador Saliba, não se esqueça. Viva o historiador Saliba! Os humoristas devem ler Bergson antes de abrir a boca! E o padrão de humor deve continuar sendo os programas da Globo!

Minha surpresa, no entanto, foi maior com o artigo de Marcos Coimbra, publicado no Azenha. O politólogo também demonstrou profundo conhecimento sobre humor, como se pode constatar na conclusão de seu texto:

Só se for para quem acha graça nas velhas piadas que ridicularizam mulheres, negros, indígenas, portugueses, nordestinos, homossexuais, loucos e deficientes.

Confesso que essa é uma opinião interessante. Coimbra, porém, esqueceu de acrescentar leprosos, anões, vesgos, fanhos (se bem que estes podem ser classificados no grupo "deficientes"; mas é legal detalhar), argentinos e paraguaios. Mais um pouquinho, e Coimbra incluía todo o espectro humano que, segundo ele, não pode virar objeto de piadas. Bem, pelo menos sobrarão os bichos, embora eu desconfie que algumas ongs lutarão para que estes não sofram com o nosso corrosivo e degenerado humor.

Escuso-me de comentar as suas comparações com as leis da Suécia. Neste campo da restrição à propaganda, assim como em tantos outros, sempre há alguma lei escandinava que a gente pode copiar. Deve ser por isso que a Suécia tornou-se uma potência no campo do audiovisual e da liberdade de expressão. Coimbra - ironizando a mídia - lembra que o "lulo-petismo" não chegou à Suécia. Pois é, de fato, lá chegou foi o neonazismo, no parlamento e no Executivo.

O mais curioso mesmo é que as pessoas - na falta de outro argumento - vem me atacar chamando-me de "reacionário", como esse, que me deliciou especialmente:
Com a vantagem que uma semana me dá, seus comentários me impelem a pensar que você está se transformando - se já não era - um reacionário de direita dos piores.

O engraçado é que eu pensava justamente que o meu erro tinha sido ideologizar o debate. Ou seja, eu acreditava que isso (o ímpeto de censurar e o espírito de linchamento) não fosse necessariamente uma coisa da esquerda, mas se tratava puramente de um tolo e ingênuo moralismo da classe média "politizada", travestido de indignação. Também tinha a esperança que as pessoas objetivavam restringir apenas a publicidade, que teria regras próprias, menos livres que outras formas de comunicação. Não, o desejo é restringir o humor também. Atenção, humoristas que gostam de dar  aquela "meia hora de bunda"! O bicho pode pegar para vocês também!

Como se pode constatar pela reação das pessoas à "sugestão" da ministra Iriny Lopes de que a Globo inserisse uma informação pública na novela das oito, há uma intenção real de interferir igualmente na ficção. Para a ministra, o certo não seria o governo fazer um anúncio no intervalo da novela - tem que enfiar a informação no meio da trama. Maravilha. Na novela do SBT sobre a ditadura, deveriam informar o telefone da comissão de direitos humanos da ONU no meio das sessões de tortura... Por que ninguém nunca pensou nisso antes!

Meus amigos, acho que meu amigo blogueiro está certo. Estou ficando louco. Toda cerveja que bebi na vida resolveu finalmente cobrar a conta da minha lucidez. Tenho opiniões exóticas. Meus dentes já começam a doer com a possibilidade de serem quebrados. E, por fim, tornei-me um empedernido e odioso reacionário!

Sim, só pode ser isso, porque é isso ou então eles que é que enlouqueceram todos! Eles é que estão bebendo muito! Eles é que se tornaram reacionários! E tomem cuidado, porque neste caso a realidade pode lhes quebrar os dentes!

Quando eu penso estar isolado numa ilha, rodeado de estranhos por todos os lados, eis que leio um artigo do Mino Carta, intitulado: "Já não se fazem gênios como antigamente?", que me deixa ainda mais desamparado. Não estava disposto a comentar esse texto, porque gosto muito do Mino, respeito-o profundamente, etc. Mas visto que ele aparece justamente nesse contexto de opiniões esdrúxulas, sou forçado a lembrar ao grande Mino que o tempo do Renascimento, descrito brilhantemente por Jacob Burckhardt, foi um tempo de tiranos crudelíssimos, massacres, exploração mais vil do povo. O trecho abaixo, portanto, que resume a tese do meu editor preferido, contém uma premissa equivocada.

Há uma conexão transparente entre todas as atividades humanas praticadas no mesmo momento, e a Renascença é extraordinário momento de mudança e renovação. A turva, aturdida hora que vivemos agora é de decadência.

Não vivemos nenhuma decadência. O sufrágio universal (incluindo aí o voto das mulheres) só começou a ser implantado nas democracias modernas a partir da década de 60, no século passado. O analfabetismo no mundo só agora tem caído substancialmente. Ainda há desgraça, fome e doenças no planeta, mas nada que se compare ao medievo, onde a longevidade média dos homens não ultrapassava os trinta anos. O mundo de hoje oferece oportunidades de ascensão social a um percentual muito mais alto da população do que na época de Michelângelo. Naquela época, os artistas dependiam de tiranos assassinos e papas corruptos para sobreviver, hoje podem vender seu trabalho diretamente ao público. Eu tenho infinita admiração pelo Renascimento italiano, Mino, e já tive o privilégio de estar em Florença por duas vezes (uma delas por quatro meses) e ler a Divina Comédia e Petrarca no original e namorar de perto o portão do Batistério e a torre planejada por Giotto na praça do Duomo, mas eu sei que as condições políticas daquele tempo eram bem piores do que vemos hoje no Brasil, por exemplo. E se não temos nenhum Dante Alighieri, tivemos um Dante Milano.

Observação importante: eu critico o Mino mas ele continua sendo meu editor preferido; não sou como alguns de vocês que, só porque não aprovam uma opinião, condenam a pessoa à fogueira eterna. A mesma coisa vale para Marcos Coimbra, um politólogo que respeito profundamente, apenas me concedo o atrevido direito de discordar nesse tema.

Observação importante 2: posso nunca ter tido nenhuma projeção midiática; sou apenas um reles blogueiro semi-anônimo; mas o respeito ao indivíduo e à dignidade que vocês cobram diariamente da grande mídia, espero que tenham comigo.

Temos um país repleto de problemas trágicos para serem solucionados. As grandes cidades brasileiras que eu conheço estão semidestruídas. Lixo na rua, saneamento precário, saúde pública deficiente. Tipo de problema que já não apoquenta muito os suecos. A Dilma teria se acovardado ao recuar no caso do novo imposto da Saúde? O Brasil precisa melhorar a gestão do setor, mas precisa também de mais recursos. E o governo - através da ministra Iriny Lopes - se desgastando perseguindo Rafinha Bastos, publicitários de empresas de lingerie e novelistas de tv!

Quanto aos programas de humor e telenovelas, continuo defendendo mais e mais liberdade, e zero interferência do governo. Em casos extremos, que a questão seja decidida pela Justiça, mas que esta julgue, por sua vez, sempre com bonomia e tolerância máxima. Há situações excepcionais que devem ser coibidas, como aquela tv que mostrou uma menina sendo estuprada em pleno dia. De resto, porém, deixemos de ser hipócritas, reacionários e censores. O sexismo na TV e no humor só poderá ser vencido pela luz, pela transparência, pela liberdade, não pela mão pesada, quase sempre desastrada nesses assuntos, do Estado.

51 comentarios

Quanto Tempo Dura disse...

Olha, eu fiz esse mini quadrinho uma semana atrás (e não ficou tão bom quanto parecia na minha cabeça)

Mas eu fico com a impressão de que ele vai ser cada vez mais útil nessa nossa interneta.

Cê vai ver que tem bastante a ver com esse post

http://twitpic.com/6tpz5q

Castor Filho disse...

Prezado Miguel
O esquerdismo desses seus críticos é o que se vê disseminado pela internete nacional - a internacional/ocidental não é muito diferente - e na nossa ínclita ministra; aliás, ela é resultado (somatória) dessas vozes canhotas sem ideologia.
Abraços
Castor
PS Será que esses seus açodados críticos conhecem "Esquerdismo, a doença infantil do cominismo"?

Anônimo disse...

Miguel,
Acertou no ponto. A pior característica de uma parte (relativamente grande) da esquerda é desqualificar quem pensa diferente, ás vezes muito pouco diferente. Espero que no futuro não tenhamos vergonha de nos assumir de esquerda, igual a direita tem hoje.
André Martins

thiago sant'anna disse...

Véio, leio todos os seus posts a mó tempão e raramente comento. Mas como estão indo pra cima de você, só quero registrar que concordo inteiramente com sua opiniões neste assunto. Abraço

Fernando Souza Jr. disse...

Putz, vou guardar esse dia na memória: sendo de esquerda e achando absurdamente ridícula e anti-democrática a atuação da Ministra Iriny Lopes nos últimos tempos, descobri hoje, lendo seus textos, que não estou sozinho nessa. Muito obrigado!
PS.: você vai na mosca quando escolhe a palavra para designar tudo isso: MORALISMO. E o moralismo é daquelas pragas adaptáveis a qualquer meio ambiente, inclusive no campo ideológico.

Rildo Ferreira disse...

Caro Miguel.
Acredito haver uma mudança cultural em curso e acredito que pessoas ou segmentos tiram proveito da oportunidade para ganhar notoriedade.
Eu fui um dos que lhe criticou, mas deixo claro que meu pensamento nada tem a ver com "sexismo" ou o "politicamente correto", mas com educação. Como já disse José Carlos Libâneo, somos todos educadores e o que nos diferencia dos professores em sala de aula é a intencionalidade.
A TV tem sido importante para inculcar valores em nossas crianças [e nos adultos também] e se você vê muitos jovens com cabelos arrumados tipo moicanos, foi porque Neimar apareceu na TV desse jeito. Se aparece um objeto de ornamento num dos personagens de qualquer novela, na semana seguinte o paramento estará nas bancas dos camelôs do RJ porque passa a ser objeto de desejo dos "noveleiros".
A TV intervém na subjetividade das pessoas. Não fosse assim, ai do Marketing! Por isso penso que algumas coisas para serem ditas pelos comunicadores devem ser pensadas como o que vai ser dito pode influenciar na vida das pessoas.
Particularmente penso que o medo assumiu o lugar do respeito de algumas coisas porque criminalizam tudo. Eu, embora filiado no PT desde 1985, não sei se sou de direita ou de esquerda. Prefiro dizer que sou daqui mesmo e o outro que interprete de que lado é o "daqui mesmo", mas daqui mesmo quero ter o direito de dizer o que penso, quero ter o direito de mudar de opinião, quero ter o direito de ser diferente quando a diferença me inclui e de ser igual quando a diferença me exclui (Pedro Demo), por isso penso que você tem o direito de pensar como pensa e de expor seus pensamentos sem ser (dis) criminalizado por isso.

Valdir Fiorini disse...

Várias vezes discordei de suas opiniões, mas nem sequer achei relevante dizer isso. Já nossos amiguinhos ao discordar de qualquer coisa falam em "traição", preconceito, reacionarismo e, claro!, rompem relações. Se fosse somente entre nós já seria muito mau, mas os caras rompem também com um governo progressista que mal dava seus primeiros passos por causa de uma visita a uma festa e uma ministra da qual não gostam.

Para mim é uma mistura de intolerância com uma vasta e profunda ignorância. Esses "militantes" deviam "militar" menos e ler mais, muito mais, antes de se autodesignarem porta-vozes da esquerda, das mulheres, das minorias e de tudo mais que existe de abstrato e, portanto, não-mensurável.

Francisco Ebeling Barros disse...

O seu problema na minha opinião, Miguel, é que você continua com pedras na mão. Eu não concordo com as suas opiniões mas também não sou a favor te de linchar por isso. Mas acho feio você colocar todo mundo no mesmo pote dizendo que se trata de uma "paranóia sexista e anti-libertária da esquerda caduca".

O Anão Corcunda disse...

Fala Miguel.

Tô assinando embaixo dos teus textos sobre esses episódios da lingerie e do humorista.

O comercial e as piadas do cara são de fato uma grande bosta.

Mas o que os esquerdistas não conseguem ver (e pelo jeito não vão conseguir nunca) é que não adianta ficar cagando regras e proibições enquanto uma grande parcela da sociedade, em todas as castas econômicas, simplesmente adora o comercial ou ri horrores de piadas tão ruins quanto.

Diante disso, qualquer medida burocrática de "controle social" é pateticamente ineficaz e parece que tem o efeito inverso: pois passa o recibo do sucesso da propaganda ou da piada.

E aí acabam caindo num lugar ainda mais neurótico, que é o de institucionalizar os próprios humores e afetos, aumentando a munição da repressão sexual, da agressividade e dos tabus - que certamente não vão deixar de cobrar seu preço.

Se a ministra talvez emitisse uma nota de repúdio ao comercial, ficaria de bom tamanho, e olhe lá. Pois não há "medidas diretas" que dêem conta desse campo do humor, do amor, da sexualidade, mas os burocratas não vão querer perder seu quinhão institucional, sejam ele de "esquerda" ou "direita". Mas também não precisamos ficar esperando muito deles, eles são muito numerosos e barulhentos - e conservadores até dizer chega.

Mas enfim, a patrulha ideológica de esquerda é a que mais incomoda mesmo, porque mais próxima, mais íntima de nossas idéias.

Abraço.

Jurandyr Leite disse...

Miguel, acompanho e continuarei acompanhando seus posts. Você é quase um amigo que não conheço pessoalmente. Compartilho muito de suas opiniões, e discordo de algumas poucas. Mas um amigo a gente sempre lê com um carinho especial, e tenta justificar e defender de outros, mesmo que discorde de uma posição específica. Resolvi, então, emitir minha discordância (parcial) neste caso.
É um assunto complicado e seu texto ajuda a tratá-lo com a complexidade necessária. Coibir (e proibir) posições pela via do massacre das ideias únicas é sempre muito mais perigoso do que o autoritarismo de um ator identificado. É o caminho para o fascismo. Na internet temos as irritantes hordas que andam de site em site, de blog em blog, acusando o desvio moral, político, ético. A esquerda tem isto, a direita, os ambientalista (muito): se não é o igual ao que eles julgam correto, então é corrupto, se vendeu, é idiota e por ai vai. O caminho de entender o argumento do outro (e não necessariamente concordar) é talvez o maior aprendizado para a democracia. (A propósito, existem os corruptos, os que se venderam, os idiotas.)
Sobre o tal rafinha e o cqc: vi apenas trechos e para mim bastou. É um programa que me agride desde sempre, não consigo ver graça, humor ou bom senso. Antes que me acusem de ser mal humorado, aviso que faço piadas o tempo todo, com quase tudo.
Acho que dar declarações que agridem setores da sociedade e ter pessoas que financiam, pagam, seguem e acham legal serve para mostrar que este desrespeito e agressão está na sociedade. O tal rafinha e o cqc, são veículos. Mas é preciso dizer também que estas declarações e programas furam a postura do politicamente correto, que é hipócrita e perigosa: não fale, mas pratique.
Quando este humor agressivo incomoda é legítimo que haja o posicionamento contrário (ou muitos posicionamentos contrários, como neste caso). Há as "hordas" que respondem dentro do sinal que aprenderam (isto é legal, isto é idiota), mas também há bons argumentos. Estes podem dizer, como eu, que não é humor porque não me faz rir, embora seja humor para outros (simples assim). É uma boa discussão saber o quanto esta agressividade é espelho, mas também reproduz e reforça preconceitos e agressões. E se reforça preconceitos e agressões, quando é necessário "meter a colher"?
De certo, censura não. Mas colocar em debate, sim, sempre. Tratar como um programa preconceituoso, fazer campanha contra, boicotar, não financiar, porque não? Se eles dizem o que querem e tratam todos como idiotas, porque os incomodados não podem fazer o mesmo?
Não concordo com a posição de que piadas agressivas socialmente sejam piadas inocentes, ou por serem comuns, não produzem efeitos. Se agrediu tantos, precisam ser respondidas. Isto faz a vida em sociedade.
Na empolgação do debate é importante não tratar o outro como preconceituoso, só porque este se sente agredido.

Srta Beltrana disse...

Caro Miguel, falta, para muitos, o discernimento entre GANG e grupo de afinidadedes...
Numa GANG, há verdades únicas e inquestionáveis, que devem ser vividas à risca, por quem dela (da GANG) faz parte...
Qualquer dissonância é traição, e com execração pública deve ser punida...
Dito isto, é preciso reconhecer que, dentro da blogsfera progressita, onde até mesmo essa simples denominação, causa confusão, podemos identificar o comportamento GANG, e o comportamento grupo de afinidades latu senso, onde divergências em stricto senso (rs), não apenas são aceitas, como são desejáveis para que um grupo não se transforme numa seita...
Te leio sempre, e acho normal que alguns posts teus traduzam exatamente o que penso, enquanto outros , algo bem diferente do que penso.
E assim, a vida e banda passam, enquanto uns realmente vivem a "diversidade", e outros, (coisa mais bizarr!) em nome dela, sem o menor respeito aos diferentes, cobram a unidade de opinião/posicionamento/defesas e/ ou críticas...

André disse...

Anão Corcunda,
O que eu gostaria de ter visto da Ministra (ou do ministério) seria um videozinho mostrando uma mulher cheia de hematomas tentando escolher uma lingerie que evitasse uma surra por alguma bobagem.
Algo que deslocasse a campanha da Hope para o papel de vilã (no sentido de estar fazendo troça de um assunto muito sério para algumas mulheres) e não de mártir da esquerda autoritária.
André Martins

André disse...

Posso indicar um texto que gostei?
http://sul21.com.br/jornal/2011/10/o-cqc-ainda-esta-no-jardim-de-infancia-do-politicamente-incorreto/
André Martins

Miguel do Rosário disse...

Oi Chico, não estou com nenhuma pedra na mão. Estou na boa, tranquilíssimo. Nem boto todos no mesmo balaio. A linguagem tem essas coisas. As pessoas vestem a carapuça ou não.

Guilherme Scalzilli disse...

Piada sem graça

A propaganda com Gisele Bündchen, o personagem machista da novela global e as desventuras do tal Rafinha Bastos motivaram um clima de patrulhamento que precisa ser questionado enquanto resta algo a debater. A cada batalha moralista a esquerda se distancia do espírito libertário e tolerante que a diferenciava dos adversários. E permite que tais valores sejam apropriados pelo conservadorismo decadente, transformando-o em repositório de boas plataformas negligenciadas. Aconteceu com a descriminalização da maconha, por exemplo, e agora acontece com a liberdade de expressão.

Concordo que há limites para certas manifestações públicas, e sou defensor antigo de uma legislação específica voltada à imprensa. Mas quem estabelece limites no entretenimento, na farsa ou na ficção? O Tribunal dos Valores Éticos e Sociais? A Liga das Senhoras Ridentes analisará trocadilhos e anedotas? Qualquer dignidade que se julgar desrespeitada poderá vetar a provocação alheia? E se as vítimas de gangues psicóticas tentarem proibir “Laranja Mecânica”? Vamos amaldiçoar os velhos traquinas de Mario Monicelli ou os idiotas de Lars von Trier porque ridicularizam incautos e doentes? A animação “Family guy” será metida no índex degenerado? Há diferença entre vetar um filme sérvio ruim ou “Je Vous Salue, Marie”?

Essas questões incômodas evidenciam o perigo de se tolerar precedentes regulatórios na atividade criativa. Se os paralelos soam exagerados é porque os vilões momentâneos pertencem à chamada cultura de massas, tida como descartável, indigna de compartilhar as prerrogativas republicanas daqueles que a menosprezam. Os sábios jamais permitiriam bedelhos nas suas diversões “cultas”, mas não hesitam em determinar o que as audiências ignorantes podem assistir. A pedagogia do bom gosto camufla uma visão pejorativa do que é popular (nas muitas acepções possíveis), adquirindo um viés social pernicioso e, no limite, autodestrutivo.

Assusta ler setores da blogosfera recorrendo à bula politicamente correta para justificar seus arroubos censórios. Mas há lógica no raciocínio. O que motiva essa fantasia eugênica, moldada em padrões medíocres de conduta, é a anulação da individualidade e a conseqüente asfixia das divergências. O êxtase coletivista do pensamento único busca formar rebanhos homogêneos e dóceis, que aplaudem qualquer mistificação despótica para evitar a pecha de reacionário ou preconceituoso. Nem sempre funciona, e é por isso que ainda apostamos na democracia.

http://guilhermescalzilli.blogspot.com/

Miguel do Rosário disse...

André Martins, muito bom o texto do Sul 21!

Juliano Guilherme disse...

Miguel, esse tema arte x ética é complicado para cacete, nós sabemos muito bem disso. Para início de conversa a própria ética é fruto de intermináveis discussões, principalmente as diferenças e semelhanças com sua prima, a moral.
Sabemos também que a liberdade é a libido da criação artística. O artista as vezes é um santo as vezes é um tarado pervertido. Quem vai julgar?
No entanto vivemos em sociedade. Egon Schiele era um gênio, mas abusou sexualmente da menina de 13 anos? Pedofilia? Não sei, mas que abusou, abusou, simplesmente porque sua arte era abusada por definição. Foi preso. A sociedade vienense da época era hipócrita, (falsa)moralista? Sem dúvida. Mas que a arte flerta perigosamente com o crime, também sabemos. Não com o assassinato e o estupro como ações objetivas, mas com o conceito de morte e violência. A arte é perigosa. A sociedade real concreta mundana tem dificuldade de lidar com a subjetividade "tarada" da arte. Sabemos muito bem disso. E não tem como ser diferente.
Você arrumou sarna para se coçar, cara. Mas tu gostas, né?
No entanto, tome cuidado para não fazer com a ministra Iriny, o que estão fazendo contigo. Embora saiba que já deves estar tomando esse cuidado. Mas deixe isso mais claro para os outros que te conhecem menos do que eu. E ah, o Jurandir, acima, disse coisas pertinentes.
Estamos precisando encontrar-nos para conversar sobre esse trepidante e exitante tema. Mergulhados numa cerveja geladíssima, evidente

Miguel do Rosário disse...

Fala Juliano, esta semana a gente toma uma. Semana passada, quase morri na festa da abertura do Festival do Rio (de cinema) por causa do uísque falsificado que tomei por lá. Por isso fiquei fora do ar.

A ministra é uma mulher, pelo que eu entendi, bastante forte. Espero que seja também bastante inteligente para ouvir com humildade as críticas.

José Marcio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcio Tavares disse...

Miguelito, só gostaria de dar um pitaco sobre a questão do "eu apenas me prejudicava (essa não entendi)".
O comentarista tenta alertá-lo que, se você tiver a veleidade de, um dia, precisar de alguém ou de alguma instituição dominada pela "esquerda", você tá fudido.

Isso mesmo. Pra ser simpático com essa "esquerda tijuco-lacerdista" incrustada principalmente no PT você tem que ser fluente em esquerdês, sindicalês e politiquês.

Não saber o que é "sexista" ou "questão de gênero" é um pecado mortal! "Vai fazer um curso no Brasas-Esquerdista pra depois poder escrever sobre qualquer coisa sem ser chamado de reacionário, seu burro!" rsrs

Tem que concordar com a maioria. Mesmo que isso seja contra suas convicções. Não pode apontar discordância com os "capas-pretas". Tem que arrumar um parlamentar para puxar o saco. Do contrário terminará como eu: anotando recadinho para a "petista^" aspone do diretor "petista" do BNDES.

Nunca faça como o escrevinhador que vos escreve que sempre trabalhou 0800 para o PT e para eleger o Lula. Ganhe bastante dinheiro como profissional de campanhas eleitorais e sindicais. Quem trabalha de graça como o bacaba do Marcio Tavares não tem credibilidade.

Mas se você for um vagabundo dentro do PT, um vagabundo dentro do sindicato, mas rezar direitinho pela cartilha de uns 3 capas, aí você terá tudo de mão beijada. Mesmo que você nunca tenha chegado na hora numa reunião do sindicato ou do PT; mesmo que você só tenha sido sindicalista pra viajar muito (inclusive para o exterior) sem depois dar um informe sequer do que serviu a tal viagem. Com tudo isso, se você for um cara bem comportado, como diria o Gonzaguinha vai ganhar "um fuscão no juízo final". E essa gente detesta quem se diz stalinista. Tem horror a simples menção ao nome dele. Mas copiaram de Stalin suas piores caractarísticas: o burocratismo, a adulação e o puxa-saquismo.

Quem dera que eles tivessem herdado de Stalin a coragem, a capacidade de trabalho e a convicção no socialismo!

Mas eu sei que você com a capacidade que tem não dificilmente vai precisar de um "fascista de estrelinha". Mas é sempre bom um pouco de prudência, Miguelito.

Eu já sou aposentado, não sou artista nem tenho pretensões a me candidatar a nada.

Meto porrada nesses fascio-esquerdistas mesmo! Foda-se!

PS: desculpe o estilo um tanto ou quanto "enérgico".

André Lux disse...

Eu discordei da sua defesa do tal de Rafinha Bastos simplesmente porque acho que ele não precisa ser defendido. Ele está apenas colhendo o que plantou. Quem fala o que quer ouve o que não quer, esse tipo de coisa. Os babacas e os mauricinhos psicóticos tem direito de se expresarem? Tem, claro! Mas não sou eu quem vai defendê-los quando eles ofenderem alguém com suas piadas nojentas e sem graça...

No mais, a esquerda tem muito moralista, nisso eu concordo. E falta bom humor também.

Abraços!

José Marcio disse...

Fiat Lux

Miguel do Rosário disse...

Oi André, eu o defendi por uma questão de princípio, porque hoje é um piadista ruim, amanhã pode ser um piadista legal.

Rogério Tomaz Jr. disse...

Não entendi direito.

1. Quer dizer que "inimigo" ou "adversário" só pode ser gente grande ou "intituições" ou empresas? Um indivíduo não pode, porque ele sozinho é irrelevante ou fraco demais?
Mas não se trata de um cara que tem mais de SEIS MILHÕES de seguidores (é mais do que a soma da tiragem de Veja, Época, Isto É, Folha de São Paulo, O Globo, Estadão, Valor Econômico, Zero Hora e Correio Braziliense juntos) que é (segundo o NY Times) o tuiteiro MAIS INFLUENTE DO MUNDO?

2. A não ser que aí no Rio (onde "Paraíba" nem é sequer considerado preconceito, na visão DOS CARIOCAS, óbvio) humor seja sinônimo de preconceito/ofensa, onde está escrito que só se pode fazer rir a partir de formas ou características físicas (ou supostamente sociais) de alguns tipos de pessoas? Eu, cearense-criado-no-Maranhão-filho-de-baiano-apaixonado-por-Pernambuco, conheço pelo menos umas 2 mil piadas muuuito engraçadas que não são escrotas com quem quer que seja...

3. Esquerda "caduca" que defende direitos humanos (a não ser que você, Miguel, não saiba, tratamento indigno/ofensivo/preconceituoso é violação de direito humano), que é exatamente um dos traços distintivos em relação à direita? Ou a esquerda "moderna" e efetivamente "libertária" deveria deixar de lado essa bandeira?

4. Curioso que você se faz de vítima e reclama - "pretendem impor a mesma teocracia monolítica na blogosfera" - das críticas que sofreu por defender uma concepção (humor é apenas humor e não faz mal a ninguém, por isso não deveríamos fazer debate político em cima dele) que é DOMINANTE na sociedade...

Enfim, cansei de mostrar as suas contradições nesse texto. Que, para você, obviamente, não são contradições, pois contraditórios são os "esquerdistas caducos" e as feministas que "sempre querem desenhar para que possamos compreender", não é mesmo?

Ingênuo Habermas e ingênuos seus seguidores ao achar(em) que o mundo de ideias se sobrepõe ao mundo real, onde as disputas de poder estão vinculadas às disputas de ideias...

Abrs

Antonio Luiz disse...

Tempestades em copos d'água!
Enquanto isso, os cães ladram!

Miguel do Rosário disse...

Prezado Rogério, se formos considerar tratamento indigno, do ponto-de-vista legal, qualquer piada politicamente incorreta, então iremos transformar esse problema em algo tão gigantesco que não poderemos controlá-lo jamais.

Não me faço de vítima, apenas informei o que tinha acontecido.

É claro que podemos (e devemos) fazer este debate político. Por isso estou aqui. O que eu disse é que devemos fazê-lo ouvindo o contraditório.

Parte do que entendo por humor, é rir de si mesmo. É rir das nossas características físicas e sociais. É humor também, embora o humor não seja só isso. De qualquer forma, é errado a gente querer impor ao mundo apenas a forma de humor que consideramos correta.

Rafinha pode ter a quantidade de seguidores que tenha. É apenas um indivíduo. Não aprovo linchamento político ou moral de ninguém. Famoso ou anônimo. De qualquer forma, eu protestei contra o fato desse linchamento partir, em parte ao menos, de um campo político com o qual eu me identifico, e portanto que não quero ver agindo dessa maneira. Acho errado.

Não entendi o lance das contradições. O mundo é contraditório mesmo. Meu texto aqui tem como objetivo defender a liberdade de expressão, em primeiro lugar; em segundo lugar, descontaminar a esquerda de um posicionamento reacionário, que corresponde a um erro político e moral muito sério.

Abraço.

André Lux disse...

Só digo uma coisa mais: quem deveria estar defendendo o tal de Fafinha Bastos é o Marcelo Tas e todos os outros panacas que vivem fazendo bravatas contra um suposto "cerceamento da liberdade de expressão" quando alguém do governo fala, por exemplo, em regulamentação da mídia. Esses caras mostraram suas verdadeiras faces: hipócritas, falsos moralistas e cínicos. Estão deixando o amiguinho de bullying "humorístico" ser linchado enquanto se fingem de mortos para salvar o deles da reta.

Enquanto isso, pessoas inteligentes e humanistas ficam brigando por causa desse tipo de gente escrota...

Miguel do Rosário disse...

Antonio Luiz, isso aqui é um debate em torno de um tema muito importante, que são os limites da liberdade de expressão numa democracia moderna e o posicionamento da esquerda diante desta questão.

Não é tempestade em copo d'água, nem devemos fingir posicionamentos homogêneos por causa de um suposto inimigo lá fora nos espreitando.

Abs.

Adilson disse...

Miguel,

Concordo plenamente que o respeito tem que estar acima de tudo, de tudo! Concordo tb quando fala da intolerância, vaidade, insensatez e outras coisas mais que acometem seres humanos de todas as partes e lados, incluindo esquerda e direita.

Lembro-me que na época do Massacre de Realengo, quando publiquei um texto a respeito, tive uma surpresa com a falta de sensibilidade e a visão rígida de muitos que se diziam progressistas..

Aliás, tenho notado em alguns lugares uma subida brusca de tom que tem preocupado..mas isso é outra coisa.

Enfim, tens meu apoio.

abraço

Miguel do Rosário disse...

Pois é, André. Marcelo Tas e colegas são covardes, mas também são empregados pragmáticos com medo de perder seus salários.

O assunto aqui já mudou um pouco do tema "Rafinha Bastos" e se tornou um debate sobre os limites da liberdade de expressão e o posicionamento da esquerda quanto a isso.

Informo que o pior, que eu previa, já aconteceu. Hoje no Globo, um reacionário gaúcho metido a filósofo publicou um longo artigo dizendo que o governo Dilma era a cabeça de forças inimigas da liberdade de expressão. Ou seja, entregamos a tocha da liberdade de expressão, pela qual a esquerda sempre lutou, de mão beijada para a direita, e tudo por causa de um mauricinho que faz piadas sujas.

Além disso, está havendo um envenamento extremamente negativo do debate em torno da democraciação da comunicação. Muita gente agora afirma, com todas as letras, que essa democratização deve mexer no conteúdo das criações televisivas, aí incluindo o humor e a ficção. Ou seja, a essência do debate foi contaminada, visto que nunca foi essa a bandeira dos que pregam a democratização da comunicação social no Brasil. Nunca foi "normalizar" o humor da televisão brasileira. Nunca foi interferir no conteúdo de novelas, etc.

José Carlos Lima disse...

Democratizar os meios de comunicação diz respeito à abertura deste setor da economia para pemitir concorrência, mais empresas, e fim da concentração de propriedades tais como rádio, jornal, tv para um mesmo coronel midiático. Se conseguirmos isso tá bom demais.

O Anão Corcunda disse...

André Martins,

quando você diz que a propaganda da Hope "está fazendo troça de um assunto muito sério para as mulheres", você só está esquecendo que há uma parcela enorme de mulheres que deve ter adorado a propaganda, que deve fazer exatamente aquilo com os maridos.

Esse tipo de jogo de sedução machista é muito comum entre grande parte das mulheres e essa propaganda só pode ser construída a partir disso. O nível de adesão imaginária a uma propaganda dessa é enorme. Vale a pena insistir na repressão disso? Eu acho uma grande perda de tempo...

Agora, eu realmente concordo que o governo poderia investir numa publicidade bem-feita, pra fazer contraponto a essa aí. Mas discordo que tenha que ser propaganda mostrando uma mulher cheia de hematomas, seria uma coisa vingativa e terrorista. Assim como acho muito escrota a propaganda que rola nos maços de cigarro (como se alguém deixasse de fumar por causa daquelas fotos) e assim como é muito moralista a "doentização" do "tabagismo".

Um belo exemplo de propaganda bacana e poética foi feita pelo Ministério da Saúde há uns tempos sobre uso de camisinha no carnaval. Colocaram 'Com que Roupa?' do Noel Rosa como música-tema. Genial! Uma música fantástica, conhecida, de um compositor genial e que traz uma conotação maliciosa e libertária. Ainda mais se comparada à tenebrosa propaganda do 'Bráulio' que havia no ministério anterior.

Mas pra isso, meu caro, precisamos votar melhor e trabalhar na formação de quadros melhores, mais criativos e capazes de bolar essas coisas, ao invés de quadros que ficam atrás de censuras que no final das contas só fomentam as propaganda babacas e as massas reacionárias.

Abs.

André Lux disse...

Marcelo Tas não passa de um covarde cínico e hipócrita

Por tudo que fez e deixou de fazer no episódio da censura ao colega Rafinha Bastos, o sujeito mostrou que o caráter dele é feito de algo que ele realmente tem de sobra: bosta.

Leia aqui: http://tudo-em-cima.blogspot.com/2011/10/marcelo-tas-nao-passa-de-um-covarde.html

Marco disse...

Miguel,

Você escreve bem demais e graças ao poder da sua retórica estava quase convencido dos seus argumentos. Só detestei o título. Principalmente o "anti-libertária".

Sou de esquerda, relativamente jovem e sou sim, um anti-libertário. A prioridade histórica da esquerda é corrigir a desigualdade naturalizada na sociedade. Em situações de inflexão filosófica há sim um ponto onde a liberdade libertária impede a igualdade. Começar negando isso é assumir o direitismo, pelo menos acadêmico-intelectual. Para "corrigir desigualdades", não dá para ser libertário; é preciso regular uma série de procedimentos e até mesmo condutas, para que, no limite, pelo menos todos possam fazer as mesmas piadas infames e o corpo social não se dilua.

Mas, digressão à parte, quando quase ia dando o braço a torcer (a desconstrução do artigo da Rosana Pavan é ótima) e aderindo a ideologia da Mulher Melão (ela disse sob a proibição da propaganda algo do tipo: Por que que eles não proíbem crianças de passar fome? Tanta coisa para se preocupar...) me chegou o artigo do Maringoni.

Ele enfoca o assunto sob a perspectiva que eu creio ser mais adequada: não se trata de censura - até porque se fosse, Rafinha teria que ter sido amordaçado depois da asneira sobre as estupradas. "É a grana envolvida, estúpido!"

Brincandeirinha... Tirando a última frase (desnecessária), espero que você não se ofenda com a minha respeitosa discordância. Concordo quanto ao linchamento desnecessário e à entrega de mão beijada da bandeira da liberdade de expressão aos bastiões da moralidade do PIG. Mas o único cerceamento nesse caso, é o de natureza pecuniária.

Abraços

Juliano Guilherme disse...

A arte sempre terá problemas tanto com a esquerda quanto com a direita.
Embora o tal Rafinha e nem ninguém no CQC mereça tal denominação.
Então qual é o caso deles, especificamente? Não ceder a tentação de censurar algo absolutamente censurável.
Mas por outro lado, Miguel, espinafrá-los com inteligência não é apenas legítimo, como necessário, certo?

Miguel do Rosário disse...

Oi Juliano, espinafrá-los é um direito democrático, mas do jeito que vinha ou vem sendo feito apenas lhes dão ibope. É algo como jogar fora a água suja (eles), com o bebê dentro (a liberdade de expressão). Não devemos subestimar a inteligência dos brasileiros, achando que os jovens se tornarão novos Rafinhas apenas porque o seguem no Twitter ou o vêem na TV. Ou que as pessoas falarão para alguma mulher na rua que "comeria-na junto com seu bebê". Claro que não. As pessoas seguem o Rafinha no Twitter justamente para assistir o lado grotesco, canalha, até mesmo mau caráter que tem em si mesmo, saudavelmente reprimido. É um processo natural. Sempre tivemos humor assim no Brasil. Chico Anísio tinha vários quadros em que seus personagens externavam preconceitos até mesmo caricatos. A diferença é que a nova geração dos humoristas incarna esses personagens. Não temos que levá-los tão à sério!

Marco, você tocou no ponto. No entanto, se a esquerda perder o discurso da liberdade para a direita (como já vem acontecendo há um tempo), estará dando um tiro no próprio pé. É evidente que maioria da juventude se agarrará com muito mais paixão ao discurso de liberdade do que o da igualdade. A liberdade é muito mais sedutora que a igualdade.

O problema da "normalização" nos costumes é um vício democrático que remonta a seus primórdios (Grécia Antiga). O esplendor democrático vivido pelo Brasil irá acentuar talvez esse pendor vicioso, que é o lado obscuro e reacionário da democracia. Mas uma democracia madura e autoconfiante, consciente, deve superar esse pendor autoritário de suprimir o que uma suposta "maioria" (no caso, representada pelo governo eleito) não aprova para debaixo do tapete.

O PT já perdeu o jovem em grande parte, que votou na Marina Silva. Se enveredar por esse moralismo, irá se distanciar ainda mais da juventude, que é libertária sim, por natureza. É curioso como a defesa da liberação das drogas tem sido encampada no Brasil não pela esquerda, mas por Fernando Henrique Cardoso.

Se a esquerda encampar o discurso da "normalização" do humor brasileiro, a interferência em novelas e em publicidades, estará se caracterizando como um movimento conservador. Um movimento com razões talvez até justas e compreensíveis, mas conservador. E nesse sentido, estará à direita do espectro político, pelo menos nesse tema, e com isso perderá, como disse, o apoio da parcela mais brilhante da juventude. Não me refiro ao pequeno percentual de jovens politizados e ligados a partidos, nem aos jovens conservadores ligados às igrejas, mas os jovens liberais. Perderá o apoio da classe artística, que é muito influente. Enfim, a esquerda perderá muito de seu brilho, que hoje já difícil de cintilar, em função das inevitáveis concessões que é forçada a fazer em nome da governabilidade. A esquerda se tornará careta, convencional, e isso certamente trará consequências importantes para o seu futuro político.

Sobre o texto do Maringoni, ainda não o li e não posso comentá-lo.

Abraço em todos.

Reginna Sampaio disse...

Miguél vc está esquecendo de uma coisinha básica : toda ação gera uma reação . Ninguém censurou rafinha bastos, ele disse o que quis e quando quis agora tem que assumir as consequências . Ora que liberdade de expressão é essa que só funciona para um lado ? O mesmo direito que ele tem de dizer o que ele quiser eu tenho de criticar o que ele disse , ou não ? Ou a minha liberdade de expressão tem que se calar ante a dele ? Dizia vovó "quem fala o que quer ouve o que não quer " . Agora falar o que quer, fazer o que se quer sem o mínimo respeito a ninguém e depois chorar de vítima é que não dá . Todo mundo tem o direito de dizer o que quer mas tem que assumir as consequências de seus atos e palavras . Fez e falou o que quis ótimo mas tem que assumir as consequências . O cantor Bruno usou toda sua liberdade de expressão para chamar as mulheres brasileiras de piranhas em show nos EUA mas na verdade ele deveria estar fazendo um elogio afinal feministas são muito paranóicas . Hoje o mesmo rafinha bastos disse para uma jornalista da Folha que tentou entrevista-lo " chupa meu grosso e vascularizado cacete " isso deve ser paranóia de feminista afinal ele é um homem elegante e de alta classe . Enfim sinceramente esa foi a última vez que entrei nesse blog ,plagiando a direita vou dizer : CANSEI !!!!!!!!!!

Miguel do Rosário disse...

Reginna, você tem o direito de criticar o Rafinha quanto quiser. E não sou advogado dele para ficar defendendo-o de toda merda que ele fala e as pessoas, como você agora, retransmitem ad infinitum. Minha preocupação é com a saúde pública, a sujeira nas ruas, a violência urbana e a miséria. É óbvio que ele está reagindo de maneira calculadamente escandalosa. O Lar Von Triers disse que adorava Hitler em Cannes para chamar a atenção, mas não vou perder tempo odiando-o por causa disso. Milhares de celebridades diariamente agridem repórteres verbalmente. Estou tentando fazer um debate desapaixonado aqui. Isso aqui não é um tribunal de exceção de Rafinha Bastos. Minha crítica é vermos um campo político assumir o papel de juiz de exceção de um humorista que nitidamente está se comprazendo ou surtando com o escândalo. Acho normal que as pessoas se irritem ou odeiem Rafinha Bastos, afinal ele se esforça para que isso aconteça: minha crítica é transformar esse ódio numa questão política e ideológica, germinando um discurso em prol da normalização do humor e demais ingenuidades autoritárias.

Antonio Luiz disse...

Miguel,
Para mim não se trata de analisar o posicionamento da esquerda ou não. Aliás, definir ou categorizar do que se trata a "esquerda" já é bastante polêmico. E não acho que se trata de uma questão moralista e que atenta contra a liberdade de expressão. Para mim resume-se a uma questão que mais teria a ver com o PROCON ou ANVISA. Esses órgãos poderiam se preocupar com a difusão da bosta através dos canais de televisão. De CQCs a Datenas.
Eu posso mudar de canal. E quem não pode?

Antonio das Mortes disse...

Datenas? Pô, eu me amarro no Datena, apesar de suas invenctivas contra os ateus. Acho-o engraçado para cacildes.

De qualquer forma, eu sempre posso desligar a tv e ler um livro. Ou sair para tomar uma cerveja.

E quem não pode? Escuta rádio e bebe cachaça.

Patricia Amoredo disse...

Miguel, comento aqui apenas para dizer que acompanho seus posts há muito tempo e entendo perfeitamente o que você quer dizer com o cuidado que temos de separar entre a nossa irritação com um besta como o Rafinha e a criação de um pensamento censor e reacionário. Sou mulher, feminista, de esquerda e sou contra qualquer normalização do humor. Não preciso de paternalismo do governo ou da blogosfera para me defender. Parabéns pelo post!

Anônimo disse...

Anão Corcunda,
Por isso eu disse que é um assunto sério para "algumas" mulheres. E por isso eu acho que não deveria haver uma movimentação do governo no sentido de repressão, mas no sentido de gerar uma certa "vergonha alheia" com um videozinho no youtube (por exemplo).
André Martins

Anônimo disse...

O que não entendo é porque o governo se preocupa tanto com um comercial de lingerie e se acovarda tanto com relação á Ley de Médios.

Anônimo disse...

Miguel,
Viva a diversidade de opiniões. Esse texto também é muito bacana => http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/maringoni-rafinha-nao-dancou-por-machismo-mas-por-mexer-com-gente-rica.html
Abc,
João Luiz Pena

Rafael Coutinho disse...

Nao se trata de ditadura esquerdocratica nos blogs. Trata-se de valores morais que devem ser preservados (nao disse conservados), juntamente com a integridade psicológica de uma sociedade que nao merece se sujeitar à segregação. De um lado esta a maioria sem um posicionamento de justiça social e desleixada para com o próximo e do outro uma esmagada minoria colocada como um zero à esquerda sempre que reivindica seus direitos.
Quero eclarecer que sou um adolescente de 18 anos, ainda num ambiente escolar sub pressao de um vestibular que se aproxima. Me contextualizei a fim de mostrar a proximidade que tenho com outros jovens, assim como eu, mas que alguns deles reproduzem essas piadas que depressiam o proximo sem nenhuma reflexao critica a esse respeito, e tambem criticam o “politicamente correto”.
Nesse sentido, venho ao senhor blogueiro propor um momento hipotetico de altruismo no qual voce seria o pai de uma garota, a Patricia, que estuda em uma otima escola, mas que por um ‘descuido paterno’ foi sequestrada e estuprada. Essas noticias, por mais que se queira o contrario, acabam se espalhando. Passado uma parcela do trauma, Paty volta as aulas e por nao se enquadrar no esteriotipo de beleza ouve de seu colega que o heroi que a estuprou merecia uma congratulaçao. A vitima, ainda em choque, conta para seu pai que se revolta e vai à direcao da escola. Mas o diretor dessa escola esta sempre atento à blogosfera e se deixa influenciar pelo que lê por lá. Assim, responde que o menino falou aquela asneira porque ouviu de um energumeno que entrou na sua casa atravez da TV e nao tem culpa. E o diretor tambem afirma que assim como leu num blog, o “Óleo do Diabo”, o senhor pai deve estar contaminado por um “ódio ’santo’” e que esta escolhendo “um alvo fraco, ou seja, um indivíduo, um cidadão brasileiro” para descarregar sua fúria. Como se não bastasse, o chefe educador pergunta ao presente pai se ele acha correto “focar esse ódio num jovem humorista”, que so teve a intensao de divertir seus colegas, que deram boas risadas. Não ouvindo resposta imediata, ele ameniza e diz que ele pode ate estar errado por um lado, mas esta preservado a liberdade de expressao desse aluno. Neste momento o senhor blogueiro, suposto pai, faz uma reflexao sobre a minha proposta de se colocar no lugar do outro...
Por fim, quero lembrar que esse acontecimento é hipotetico mas se baseia nos frequentes relatos de Bullying cometidos nas instituiçoes de ensino de todos os niveis socioeconomicos, no entanto seus alvos são sempre muito semelhantes. Lembro, tambem, ao senhor blogueiro que voltar atras num erro demonstra dignidade, sabedoria. Portanto, relutar em defender uma causa esta relacionada a indole de cada um, e há de se questionar a defesa de um pobre humorista como Rafinha Bastos.
Rafael Coutinho

Miguel do Rosário disse...

Prezado Rafael,

muito obrigado por comentar no blog, mas o seu exemplo é extremamente tolo. Porque a partir dele poderemos pensar que alguém deceparia os braços e as pernas de uma garota, apenas porque viu isso no filme "Encaixotando Helena". A socidedade tem que ser madura. Ou seja, o rapaz em questão no colégio não poderia ser perdoado porque viu na tv. O diretor de colégio que você criou seria um imbecil completo. Existe uma coisa chamada bom senso e ridicularizar uma garota recém estuprada estoura qualquer bom senso. Eu critiquei essa piada de Rafinha, como infeliz, grosseira, e desastrada. Meu posicionamento aqui é que não se pode usar uma piada ruim como base para construirmos uma "normalização" à fórceps do humor na TV. A normalização possível é o bom senso. O cara conta uma piada grosseira, as pessoas não gostam , o cara é demitido ou coisa que o valha e pronto. O cara falou uma merda e ponto final. Não é motivo para extrapolarmos e dizer, como estão fazendo por aí, que Rafinha pregou o estupro. Isso é falta de proporção. Rafinha falou merda. Quem não fala? Quem aí não falou merda que atire a primeira pedra.

kivas Arquitetura disse...

Bom texto. Mas acho que a história do 'Bastas" nos coloca dentro daquelas circunstâncias que a 'solução' moral, não moralista, depende do diálogo.Lembro agora de uma palestra do Cortella que trabalhou com índios que os recebeu em São Paulo para mostrar a 'civilização'.Explica ele que para os Xavantes no caso, 'dinheiro' era comida; assim lá foi ele mostrar o mercado central mostrar toda aquela fartura e qualidade alimentar que maravilhou os caciques.Num determinado momento eles olham e vem um miserável de rua colhendo os restos alimentares, tomates rejeitados etc.O cacique pergunta: Por que ele não pega ali do fruto bom ? Cortella respondeu que, quase sem palavras, por que era assim...!
Diante disse os índios pediram para ir embora, não do mercado...mas do passeio, voltar para aldeia não queriam ver mais nada.
A sociedade está sempre fazendo novos acordos e, no momento parece que para uma atuação pública desta monta...Bastou, não vou dizer cansou para não ideologizar de maneira oblícua.
Já dizia um grande historiador da arte.
Civilização. Não defino.Reconheço.
Parece vago...mas a sociedade não é um corpo moral nitidamente definido e imóvel. Quando isto acontece temos os autoritarismos.
Seu texto tem as qualidades de nos lembrar disto e é preciso reconhecer o espaço de que nem sempre tudo que é dito precisa ser aturado de qualquer forma INTOLERANTEMENTE tolerável. Para todo dia de Bastos pode existir um dia de Basta quero me divertir

Rafael Coutinho disse...

O exemplo é sim extremamente tolo, mas foi embasado no bom senso de quem saiu em defesa de Rafinha Bastos. E por falar em bom senso, que decepçao ouvir do senhor blogueiro que a normatizaçao possivel é esse danado do bom senso. Este é muito subjetivo. Voce acha que usou de bom senso ao defender Rafinha Bastos? Voce acredita que todos tem o mesmo bom senso, e qual bom senso seria melhor, o de cá ou o de lá? E eu,sob a luz do seu olhar, estou tendo bom senso?
Nao, essas perguntas nao tem respostas. Pois caso forem respondidas, essas respostas nao seriam seguras uma vez que partiram do particular para a construçao de uma verdade universal.
No momento, entendo que as respostas que voce me deu ate hoje refletem o quao vazia esta a bagagem que carrega consigo. Porque francamente, achar que a liberdade que o bom senso nos proporciona vai nos trazer grandes beneficios e duradouros é cair novamente no estado do Caos, lembrando que o “Homem é o lobo do proprio Homem”.
Nesse sentido, equilibrando-se entre o caos (estado sem lei) a ordem (no caso a regulamentacao) que chegaremos a um estagio de maturidade social, ou melhor, de Übermensch.
Rafael Coutinho

Miguel do Rosário disse...

Rafael, desculpe usar o termo tolo, acho que foi um pouco ofensivo. Não tive a intenção. Minha defesa não foi exatamente da pessoa Rafinha, que me parece no momento bastante desequilibrado, mas do cidadão Rafinha, enquanto uma Madalena cheia de pecados como todos nós, e que foi vítima, a meu ver, de muita gente lançando pedras com demasiada volúpia.

Anônimo disse...

Não dá nem pra dizer que Rafinha Bastos é um comediante porque ele é sem graça demais...

Mas, o que eu queria dizer é: temos que rir! Rir das mulheres, e dos homens, e dos homossexuais e dos heterossexuais e dos loucos e dos sãos e dos novos e dos velhos e de todos - ninguém está a salvo do ridículo da vida!

Anônimo disse...

Jovem Óleo do Diabo, és grande sua ingenuidade. A esquerda é mãe do politicamente correto. A esquerda quer ser a polícia do mundo. A esquerda não aceita vozes dissonantes. Sempre que fala de democracia, observe e note, a esquerda precisa explicar que não é a democracia ocidental, burguesa e o cacete, ou seja, as favas o indivíduo.
Resumindo: você está falando de ateísmo para a Santa Inquisição. Cuidado, vão te perseguir. Tens colhões para suportar?

abraço,

Adilson Cruz

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