3 de junho de 2009

De sabujos que sujam a rua


(RICHTER, Daniel - Halli Galli Polly - 2004)


Estou como sempre atrasado, e dessa vez com o mais nobre e o mais vil dos motivos (a depender do ponto-de-vista): trabalho. De vez em quando surge um free-lance que não deixa o blogueiro morrer de fome. Aliás é sobre isso mesmo que eu queria falar. Outro dia li no blog do Eduardo Guimarães que um sabujo sarnento tascou a seguinte bosta no ventilador da Ditabranda:

FERNANDO DE BARROS E SILVA

O Bolsa-Mídia de Lula

SÃO PAULO - O jornalista Fernando Rodrigues deu uma grande contribuição ao conhecimento da máquina de propaganda do lulismo. A reportagem que publicou ontem na Folha mostra como, na atual gestão, o Planalto adotou uma política radical e sistemática de pulverização da verba publicitária destinada a promover o governo.

Em 2003, a Presidência anunciava em 499 veículos; em 2009, foram 2.597 os contemplados -um aumento de 961%. Discriminada por tipo de mídia, essa explosão capilarizada da propaganda oficial irrigou primeiro as rádios (270 em 2003, 2.597 em 2008), depois os jornais (de 179 para 1.273) e a seguir o que é catalogado como "outras mídias", entre elas a internet, com 1.046 beneficiadas em 2008.

O que isso quer dizer? A língua oficial chama de regionalização da publicidade estatal e a vende como sinal de "democratização". Na prática, significa que o governo promove um arrastão e vai comprando a mídia de segundo e terceiro escalões como nunca antes neste país.

Exagero? Eis o que diz Ricardo Barros (PP-PR), vice-líder do governo e membro da Frente Parlamentar de Mídia Regional: "Cerca de 50% das rádios e dos jornais do interior pertencem ao comunicador. O dono faz o jornal ou o programa de rádio. Se recebe dinheiro, passa a ter mais simpatia e faz uma comunicação mais adequada ao governo. Há uma reciprocidade".

Enquanto, na superfície, Lula trata de fazer a sua guerra retórica contra a "imprensa burguesa", que lhe dá azia, no subsolo do poder a engrenagem montada pelo ministro Franklin Martins se encarrega de alimentar a rede chapa-branca na base de verbas publicitárias. É o Bolsa-Mídia do governo Lula.

Essa mídia de cabresto que se consolidou no segundo mandato ajuda a entender e a difundir a popularidade do presidente. E talvez explique, no novo mundo virtual, o governismo subalterno de certos blogs que o lulismo pariu por aí.



De qualquer lado que você olhe o texto, de cima, de baixo, por dentro, pela esquerda, pela direita, é puro lixo. O cara tem talento, é inegável, pois só mesmo uma pessoa genial para concentrar, em tão poucas palavras, tanta imbecilidade. Mas é uma ótima oportunidade para analisarmos esse cadáver chamado Folha de São Paulo. Temos que aproveitar enquanto ele está aí, insepulto, dando sopa para nós, necrófilos da imprensa golpista.

Tem umas coisas que nem dá para acreditar. O cara defende o quê? Que o governo continuasse a destinar a verba oficial para meia dúzia de nababos? Ho ho ho, aquela frase de um leitor do Nassif permanece ecoando na minha cabeça: "esses caras pensam que a gente não tem cérebro!"

O sujeito usa artimanhas bem mensaleiras. Começa dizendo que o número de publicações onde o governo anuncia cresceu 961%. Ho ho ho. Pra que esse percentual maluco, mêu? Usar a variação percentual faria sentido se se referisse ao montante de recursos usado em propaganda, tipo assim: governo aumenta gastos de propaganda em 961%. Aí tudo bem. Mas dizer que o número de órgãos que recebem verba oficial passou de 499 para 3.000 e logo cresceu 961%, é coisa de louco.

Na realidade, esse débil mental quis dar uma mordidinha com uma boca sem dentes: queria passar a idéia de que o governo Lula ampliou extraordinariamente os gastos com publicidade oficial. Aumento de 961%! O problema desses caras é que o brasileiro, por mais que seja bombardeado dia e noite com porcarias midiáticas, ainda tem cérebro. Para entender o mecanismo dos campeonatos de futebol ou pra não deixar o ricardão tomar seu lugar ou pra não perder o emprego, o brasileiro é obrigado a manter um ou dois neurônios ativos e operantes.

Aí ele acusa o proprietário de um radialeco em Mambucaba de dar apoio ao Lula porque recebe verba oficial. De fato, a vida tornou-se dura para as aves tropicais. O povo, que antes votava inspirado em carinhas bonitas, agora fica de olho no salário mínimo, na taxa de desemprego, não aceita trabalho escravo. Nem precisa roubar, pois se a desgraça bater à porta, terá assistência do Estado. O dono de um radinho independente, que sempre viveu à beira da falência, disputando o quase insignificante mercado de publicidade com uma estação patrocinada pelo coronézinho local, ficará, naturalmente, muito contente com a notícia de que o Estado ampliou a distribuição da publicidade oficial e agora não somente a Transamérica de Belo Horizonte receberá a graninha limpa e certa do governo - ele, o dono de uma pequena rádio de Tiradentes, também terá sua parte! E o Fernando queria que, mesmo com essa novidade boa em sua vida, o sujeito entrasse pra turminha dos 6% que desaprovam Lula?

Fernando esqueceu outra coisa. Rádios e jornais de interior quase sempre são dominados por oligarcazinhos de província ou líderes evangélicos. Botar uma verbinha federal ali pode significar uma tremenda abertura de pensamento. Não necessariamente em prol do Lula. Agora, se o Lula fez isso, e ninguém fez antes, então, meu caro, é ponto pra ele, e você que enfie a tua viola onde lhe aprouver. O que almejas, dom Fernando? What's the point?

Em primeiro lugar, esse texto é um puta desrespeito a todos os pequenos jornais e rádios que recebem verba do Estado. Os jornalões recebem verdadeiras capitanias hereditárias de governos (federal, estadual e municipal) há séculos, e ninguém nunca contestou esse direito. Pela primeira vez, os barnabézinhos do interior começam a receber as sobras da publicidade oficial - sim, porque tenho certeza de que eles recebem bem pouquinho; os jornalões ainda devem abocanhar o grosso da bufunfa - e um colunista da Folha de São Paulo, do alto de sua torre de merda cristalizada, faz uma acusação genérica e universal a milhares de pequenos empresários da comunicação? Ué, onde está a defesa pela imprensa livre? Por que a Folha pode receber publicidade oficial e ser isenta e uma pequena rádio não pode? Por que o dono da rádio é o locutor? Fala sério! Você acha que o governo federal tem condições de monitorar o que milhares de locutores falam do Lula país afora? O governo mal dá conta do que sai na grande imprensa! Apanha diariamente e não consegue responder. Como teria condições de monitorar se cada radiozinho e jornalzinho do interior que recebeu um caraminguá oficial está falando bem ou mal do Lula?

Além disso, o colunista omitiu um fato. Rádios e jornais não falam apenas de política. A decadência da Folha é tão grande que seu próprio colunista esqueceu que um jornal tem funções outras que não falar mal ou bem de governos. Jornais e rádios, mesmo os pequenos, servem para divulgar informações sobre a economia internacional, descrever os gols e as faltas das últimas partidas, informar sobre a morte de Dona Emengarda, relatar a cura de uma doença, alertar sobre o aparecimento de outra doença, acompanhar o preço do feijão; enfim, se o governo está ajudando esses órgãos, está contribuindo para a imprensa livre, não é?

Não, meu caro Fernando de Barros e Silva. Você não vai entender a popularidade do Lula desse jeito. Entender a popularidade do presidente é muito mais fácil do que você imagina. Basta uma olhada rápida nos gráficos abaixo. Não tem mistério. São dados que foram divulgados por um notório petralha chamado Octávio Barros, o diretor de pesquisa do Bradesco.





Sobre a acusação de que a blogosfera estaria recebendo dinheiro pra falar bem do presidente, trata-se de uma idéia bem interessante. Aí volto ao tema da fome, sobre o qual falava no início do post. Esse blog já nasceu, como todos os blogs desse tipo, em estado de falência. Quem me acompanha há um tempo, deve se lembrar que, por um tempo, eu sonhei em ganhar dinheiro com a publicidade eletrônica. Mas o adsense, que é o sistema que paga melhor e com mais transparência, me dá cerca de 1 a 3 centavos por dia. Creio que um africano que cata osso de peixe na beira do Lago Victoria ganha mais que isso... Então já me desencantei de ganhar dinheiro com este blog. Esses anúncios aí do lado, nunca me deram nada. Por isso estou tirando todos. Não dão nada, só tornam o blog mais pesado e constituem propaganda grátis para as empresas.

O irônico é que o sr.Fernando de Barros e Silva trabalha num jornal que recebe muito mais dinheiro do governo federal do que qualquer blog "lulista" jamais sonharia, e falo proporcionalmente ao número de empregados. Esse filho-de-uma-firanga-estrangeira, além de cuspir no prato onde se esbalda, quer cuspir no pirezinho humilde dos radialecos de província, e, pior, cuspir no meu prato vazio!

Entretanto, notei uma consequência bem negativa, pra nós blogueiros, ou pelo menos pra mim, à este peido em forma de coluna de opinião, que é nos deixar na defensiva e despertar nossa pudicícia socialista, que nos faz brandir extratos bancários negativos como prova de honra e castidade! E aí juramos, todos, eterna pobreza e continuamos mordiscando os pés do Leviatã por mais mil anos! A blogosfera de esquerda, e a esquerda de forma geral, deveria refletir profundamente sobre a questão da auto-sustentabilidade. De vez em quando, alguém levanta uma bandeira sobre a necessidade de lançar um jornal de massa "de esquerda", e aí o jornal é lançado e ele inicia uma "campanha contra produtos americanos"; ou seja, logo de cara se queima com 99% das agências de publicidade. A esquerda precisa perder a vergonha de ganhar dinheiro, precisa amadurecer, e precisa lidar com o capitalismo de maneira mais adulta, mais ofensiva! Dinheiro não é pra ser desprezado, e sim pra ser dominado com astúcia e inventividade, porque é com ele, seja em Havana, seja em Miami, que compramos charutos.

A nova esquerda latino-americana virá de gente culta, esforçada, com calos nas mãos, mas sem nenhum apoio familiar; se os partidos não encontrarem mecanismos para sustentar essa nova força intelectual, irão perdê-la, uma hora ou outra, para seus adversários. O Leviatã não descansa, e ele tem o bolso cheio de ouro. Não se trata de comprar a mente dos intelectuais, e sim de se colocar a seu lado, para defendê-los! A liberdade de pensamento não está na imprensa, está nos livres pensadores! Está no intelectual! E a forma mais cruel, e eficaz, de exterminar a intelectualidade é a asfixia econômica.

As respostas estão aí, na nossa cara. Façam editais! Editais públicos, transparentes e republicanos, para que o Estado possa bancar a blogosfera! Editais para blogs de saúde pública, blogs de ciências sociais, blogs de educação, blogs de literatura, blogs políticos! A imprensa conservadora, é claro, vai chiar. Mas dane-se essa imprensa antidemocrática! O Estado, o futuro, o destino, pertencem ao povo, e não às famiglias Marinho, Mesquita e Farias. Danem-se! Tomemos nosso destino em nossas próprias mãos!

Nem falo do tal "governismo subalterno". Creio que um jornal que defendeu a reeleição mensaleira de Fernando Henrique Cardoso e hoje oferece, diariamente, sua bundinha mole para o governador José Serra, não tem nenhuma moral para falar de governismo. Esses caras não entendem que, se eu apóio Lula, é porque eu votei nele e me orgulho do presidente, carajo! Eu não recebo dinheiro pra falar bem do Lula. Ao contrário, eu pago pra isso. Eu tenho liberdade para defender ou atacar quem eu quiser, e não é um chantagistazinho midiático que irá me reprimir. Por que o Obama pode elogiar o Lula e nós não podemos? Teria sobrado mensalão pro Obama também? Aliás, qualquer dia desses, voltamos a falar desse mensalão estranhíssimo, onde deputados do PT recebiam dinheiro para votar com o... PT.

O dia em que o Lula congelar o salário mínimo, baixar salário dos professores, privatizar a Petrobrás, o lulismo desaparecerá num segundo. O brasileiro não é doido. Não somos fanáticos. Apenas exercemos o direito democrático de discordar da interpretação que a Folha de São Paulo faz da conjuntura política! Ou seja, nós (87% da população brasileira... além do Obama) achamos que Lula faz um excelente governo. A mídia vive criticando os tais partidos "sem ideologia", mas sempre que usa o termo ideologia é como sinônimo de atraso. Decidam-se, oras! Eu apóio Lula por ideologia, e por uma ideologia, modéstia à parte, muito sensata, moderada, inteligente, estratégica. Eu me orgulho muito de ter defendido o Lula desde o primeiro momento, desde 2003, quando ninguém o defendia, quando a esquerda em peso lhe havia voltado as costas, chamando-o de traidor para baixo! A esquerda só acordou para seu erro muito depois, quando as estatísticas começaram a mostrar os resultados do trabalho duro e ousado que o governo vinha realizando, sem alarde, mas com muita determinação, na área social. Isso porque a esquerda, até pouco tempo, ainda lia a Folha de São Paulo. Mesmo sabendo do risco de manipulação, muitos intelectuais críticos se informavam exclusivamente pelos jornalões.

Ora, o New York Times não conseguiu convencer a sofisticada, rica e heterogênea intelectualidade americana, em peso, sobre a necessidade de invadir o Iraque? Lembro muito bem porque eu acompanhei de perto. Eu lia o NY Times diariamente, obsessivamente, estarrecido com tamanho descaramento linguístico e ideológico. Eles eram tão astutos, tão cínicos, tão humanos! E, como logo a seguir se verificou, tão filhos-da-puta! Uns anos depois da guerra, o NY Times, como sempre, veio a público pedir desculpas. Nesse intervalo, mais ou menos 1 milhão de iraquianos haviam sido diabolicamente trucidados, outros milhões morreram de inanição, outros milhões imigraram, e o resto ficou traumatizado pra sempre; os museus de Badgá foram saqueados, e tesouros arquitetônicos de dez mil anos foram roubados por mercenários que se aproveitaram do caos criado pela invasão. Ah, ia esquecendo um detalhe bobo... e a indústria bélica faturou uns trilhõezinhos de dólares...

E tudo começou com a diabolização sistemática de Saddam Hussein, assim como fazem hoje com Chávez. Enfim, não há necessidade de muita criatividade. Basta repetir sistematicamente, a la Goebbels, algumas mentiras, que elas se tornarão verdades sagradas no consciente e no inconsciente das pessoas.

Está claro que matérias como essa do Fernando de Barros e Silva são pura merda. Nem falo de busca da verdade. O que há é um desprezo até pela verossimilhança. Acusa-se levianamente todos os jornais pequenos, rádios e blogs do Brasil de trocarem o que possuem de mais sagrado, ou seja, sua liberdade, sua opinião, sua ideologia, por caraminguás do governo federal. É merda pura, já disse, mas a Folha de São Paulo, da próxima vez que levar seus sabujos para dar um passeio, faça-nos o favor de ter em mãos um saco plástico para recolher a sujeira. A rua é pública, mas temos que nos esforçar para deixá-la sempre limpa!

18 comentarios

José Carlos Lima disse...

No meu caso, mais do que defender Lula defendo um projeto que, torço continue com Dilma.

O imprensalão faz de tudo para detonar este projeto que desagrada os ricaços deste País. Interessante se notar que sob Lula a elite não ficou mais pobre, ficou mais rica ainda, o que ocorreu foi que os pobres passaram a poder comer um pouco mais, só isso. Nem isso estes monstros aceitam.

A elite brasileira deve ser a mais ignorante e inconsequente do mundo. Isto ficou provado por ocasião da rejeição da CPMF e agora, com esta CPI da Petrobrás assinada por um grupo de conhecidos corruptos.

Juliano Guilherme disse...

Esse jornalista é um escroto. Um merda. Se eu fosse blogueiro como você e o Eduardo Guimarães, me esforçaria para não ir lá dar-lhe uns supapos na cara. Esses jornalistazinhos playboys da turminha do playboy chefe, o Otavinho, são insuportáveis. A coluna que ele cometeu é abjeta e passa dos limites do mau-caratismo.

Anônimo disse...

Cara, não dá nem pra odiar um sujeito desse.

A mídia dele morreu.

Ele que ainda não percebeu.

Bichão, no momento, estamos "on the top of the dried meat"

Por cima da carne seca!

Os blogs do PHA, do Nassif, do Azenha, estão explodindo de visitas.

O meu tá dando seus estalos por aí. O Óleo do Diabo tá mandando uma brasa maior ainda.

"Os blogs estão bombando"?
Sim, mas é pior do que isso:
No Brasil, a blogsfera política LIVRE se unificou.

E agora ninguém para a gente não.

Fernando Puga disse...

É de lavar a alma o seu artigo. Parabéns.

carlos disse...

grande do rosário,

esse post foi uma catarse.
que se lasque essa imprensa sem-vergonha e cretina.

quer ver um exemplo?
somente ontem o pig informou que os aviôes de buscas dos destroços do avião da air france , r99 e p95 da fab, são fabricados pela embraer. antes, só falavam da excelência das aeronaves francesas. ainda continuam com o complexo de vira-latas.

parabéns, meu amigo!

Rômulo Vita Filho disse...

Bom dia Miguel,
Ufa !!!, depois de acordar, ver/ouvir as tentativas de miriam leitão e alexandre garcia de denegrir o governo Lula, ver a folha c esses articulistas de mierda, ler seu post desabafo é 1 bálsamo. Muito bom !!!
Abs

João Paulo disse...

Muito bem! concordo inteiramente com você!

Fernando Soares Campos disse...

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Miguel, para quem nasceu e se criou em uma pequena cidade do interior mais interior que o material transportado pelas tripas (e com destino certo), sabe muito bem quanto esforço muita gente já fez e faz por aquelas plagas para manter um jornalzinho ou uma emissora de rádio no fundo do quintal. São milhões os que perderam a parada para os coroneis mimetizados que reproduzem por lá amostras grátis de coronelismo midiático. Tenha um bom dia.

P.S.: Meu chará deveria ser grato pelo exame de fezes gratuito que você que lhe concedeu.

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josaphat disse...

Miguel, sou professor de ensino fundamental, como você talvez já o saiba visto visitar-lhe há algum tempo, e, trabalhando para prefeituras do PT (o prefeito de BH não é do PT, mas quem governa, de fato, ainda é o Pimentel) há 7 longos anos, nunca recebi aumento de salário. Vez em quando a reposição de uma "parte" da inflação. Estamos em plena guerra por causa disso. Registro assim, que, nem com o Lula, nem com o PT, recebi, diretamente, quaisquer benefícios substanciais. Digo diretamente porque me dá muita satisfação, pelo menos, ver a vida dos mais pobres do que eu melhorar.
Mas votei no Lula desde a primeira vez, e aquela safadeza da Globo me partiu o coração.
Contudo, enfim, conseguimos. E a emenda saiu muito melhor que o soneto, não é?
Há, sim, na minha escolha por Lula, uma ideologia. De esquerda, acho que ainda podemos chamá-la assim. Mas, mesmo que possam achar piegas, o meu voto é um voto fraterno, é de coração, é por amor mesmo. Mas os outros votos, os de pobreza, já andam cá com meus botões me enchendo o saco!
Veja, os ideais da revolução francesa foram sabotados. A liberdade, de forma alguma, poderia ser associada ao plano econômico, como o fizeram os franceses. A igualdade sim, mas sem que se tirasse a liberdade de expressão (onde ela fica bem) como fizeram e, ainda fazem, os regimes comunistas. A terceira revolução, para mim, é esta na qual estamos empenhados em todos os planos de nossa existência. Fazemo-la em casa, no trabalho, na rua e, especialmente aqui, na internet, onde podemos ser iguais - o blog é de graça e para quem o quiser usar - e ter liberdade de expressão e de opinião. Quanto à fraternidade, essa, bom..., anda já por aí e, espero, virá colocar as coisas nos seus devidos lugares.
Mas nesse imbróglio todo, bem que a gente poderia dar um jeito de ganhar um dinheirinho, né?

Ps. Quanto ao Fernando, peço que não o compare aos amigos caninos, que estes não o merecem. São muito diferentes, diria mesmo o oposto. Nos ensinam a amar.

Ps2. Desde já peço desculpas pelos erros de linguagem que, sei, aparecem aos montes nesses textos longos.

Anônimo disse...

Vc nem imagina o quanto me refestelei lendo esse artigo!!
Sempre tive tendencias esquerdistas e ate descobrir a blogosfera,sentia me a deriva.Mais uma coisa eu devo ao PIG:cada artigo seboso que eu lia na veja ou globo,so reforçava as minhas convicçoes e antes mesmo de descobrir blogs como esse,do prof hariprado e o cloaca news,eu ja tinha percebido que havia algo muito discrepante entre a realidade e o que escreve a PIG.
É tanta mentira e tanto absurdo,que eles estao cavando a propria cova!
A derrocada final é questao de tempo;e nao é muito tempo nao!!

O Anão Corcunda disse...

Bom texto, só uma frase me deixou com uma pulga atrás da orelha:

"A nova esquerda latino-americana virá de gente culta, esforçada, com calos nas mãos, mas sem nenhum apoio familiar"

Como assim, sem 'nenhum' apoio familiar?

Márcio Lacerda de Araújo disse...

Excelente o texto. Deixou-nos de alma lavada.
O que esse sabujo playboy da FSP merece é uma surra bem dada por um cabra macho.
Ele pensa que todos somos iguais a ele: venal.
Se este monte de bosta tiver um blog, com certeza só escreverá aquilo que lhe intere$$ar.

Anônimo disse...

O artigo do tal "jornalista" é uma piada. A Folha, se continuar nessa linha, vai morrer. Pois a perda de credibilidade começa a ficar irrecuperável.

Miguel do Rosário disse...

oi anão, eu cortei um trecho que explicava melhor isso aí. Eu quis dizer que até os anos 60, a esquerda era formada basicamente de pessoas oriundas da classe média. Isso gerava também um tipo de comportamento, um voluntarismo bastante confortável e seguro. A prática política era como um hobby, ou um veleidade juvenil. Agora, as coisas ficaram mais sérias na América Latina, e o amadurecimento social e a evolução histórica provocou mudanças, levando a classe média, incluindo jovens, para a direita, e trazendo a "elite" da classe trabalhadora para a esquerda. Essa elite, porém, não tem segurança patrimonial e os jovens que pretenderem seguir uma trajetória intelectual independente, pela esquerda política, devem assumir um heroísmo maior e lutar pela sobrevivência de forma mais dura e, portanto, mais adulta. Resumindo: surge uma classe intelectual que não tem dinheiro, e vai ter que lutar também contra isso. Afinal, não adianta lutar contra a pobreza dos outros sem antes lutar contra a sua própria. É por aí.

O Anão Corcunda disse...

Concordo quando você faz a crítica do esquerdismo classe média, no seu voluntarismo caridoso e moralista, e cada vez mais à direita.

Também concordo com a luta contra a pobreza incluir a própria pobreza; acrescento somente que a pobreza financeira é tão nociva quanto a pobreza de espírito, muitas vezes misturadas.

Mas acho que essa luta pela sobrevivência não precisa excluir totalmente possíveis colaborações de entes familiares. Até porque, muitas vezes na vida, a parte mais dura da sobrevivência é justamente nas negociações familiares.

Entendo quando você encara o rompimento familiar como momento necessário para esse amadurecimento, essa emancipação. Mas penso que essa é uma fase de negação dialética, acho que o momento de superação, mais interessante, começa quando conseguimos conjugar os rompimentos com novas parcerias - e aí isso vai variar conforme os movimentos de cada estória, num amplo universo de enlaces e desenlaces, enredos e desenredos.

Porque ficar só "militando" contra a instituição familiar me parece ainda um tanto juvenil.

Abraço

Miguel do Rosário disse...

ah, você entendeu mal, ou melhor, eu me expressei mal, anão. quer dizer, voce entendeu bem umas coisas, mas errado a minha visão sobre a família. Eu considero a família nesse sentido um pilar fundamental. Dialeticamente, ela pode ser uma contraponto crucial à lógica da mediocridade que leva pessoas a trabalharem por desespero. A família fornece o suporte fundamental ao desenvolvimento intelectual das pessoas. O que eu quis dizer é que, com as classes baixas ascendendo culturalmente, ampliando sua participação no fornecimento de quadros humanos para a esquerda política, teremos muita gente cujas famílias não poderão ajudar, ou poderão ajudar insuficientemente, por razões óbvias, pela exaustão econômica. por isso é importante a ampliação de sistemas de incentivo, não apenas bolsas universitárias, mas contribuições do Estado para a manutenção desses intelectuais. Mas esse papo tá ficando meio ridículo, de minha parte, porque advogo em causa própria. abraço.

zuleica disse...

Miguel, parabéns por sua análise. Você praticamente encerrou a discussão a respeito do assunto. A mídia corporativa está um tanto desesperada e pode-se perceber isto com posts desse tipo. O Fernando Barros perdeu completamente a noção do que seja jornalismo, quando escreve as barbaridades que se vê nesse artigo. Os blogs políticos têm que tomar a dianteira no debate político, aproveitando esse vácuo que se verifica no jornalismo corporativo. Democratizar a informação e a opinião, levando aos leitores uma visão diferente daquela a que eles se acostumaram. Pensar e refletir é também, a meu ver, questão de hábito e treino. Não somos um bando de Hommer Simpsons, como disse o William Bonner. Parabéns.

O Anão Corcunda disse...

Eu entendo qdo você fala da ascensão econômica de novas gerações que, por meio, principalmente, das políticas sociais do atual governo, muitas delas atingindo em cheio a nossa juventude, como o ProUni. Não sei dizer isso com muita certeza, mas é como se uma boa parte da geração de nossa juventude atual, nas classes mais pobres, esteja ganhando mais dinheiro que os pais, ajudando mais na casa que eles, muitos já em idade razoavelmente avançada, quando arranjar emprego é muito mais difícil. Um exemplo que tem a ver com isso é a ocorrência, muito comum, de filhos em idade escolar, frequentando a escola, em alfabetização, serem filhos de pais analfabetos, aproveitando uma oportunidade que muitos dos pais não puderam aproveitar. E aí como é que um pai analfabeto vai poder ajudar o filho no dever de casa de português? Procede a analogia?

Mas eu acho que isso não exclui a ocorrência, não menos comum, de um pai analfabeto que, apesar de sua deficiência, tá lá preocupadão em acompanhar, da maneira que pode, com muitos erros e muitos acertos, a trajetória do filho na escola. Da mãe desempregada que faz a marmita pro filho ir trabalhar. Isso também é apoio familiar, isso conta muito, isso ajuda.

É que, quando você escreveu "sem nenhum apoio familiar", me pareceu estar desconsiderando um pouco isso, ficou mais focado na questão financeira, como se ela pudesse ser muito separada. Eu acho que a subversão da instituição familiar é uma questão muito crucial nesse sentido, e a economia afetiva se mistura muito com a economia financeira, são muitas vezes indiscerníveis, dada a sua imensa, pilar influência, como você bem lembrou, no desenvolvimento intelectual, na própria vida, humana, das pessoas.

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