Prezados, reproduzo aqui o meu último comentário no Fórum da Novae, referente ao artigo de Luciano Martins, publicado nessa revista.
Excelente o artigo de Luciano Martins Costa, A inexorável descontrução de Lula. Realista ao ponto mesmo de beirar um pessimismo brutal. Mas subestima um pouco a inteligência do povo brasileiro, como se todo ele ainda fosse submisso à influência da mídia paulista. Lula tem grande força nos rincões esquecidos do país, muita força no nordeste, muita força sobretudo onde os programas sociais estão operando. Lula elegeu-se com 53 milhões de votos, e pelo menos há aí uns 30 milhões que são diretamente beneficiados diretamente pelos programas sociais e estão garantidos. Com esta crise, as forças conservadoras querem impor Ciro Gomes ou Alckmin, e tem grande chance de consegui-lo. Agora, fácil não vai ser. A grande imprensa terá que queimar cartuchos. Outro fator esquecido pelo articulista. Lula não vai ficar parado. Como ele próprio já demonstrou em seus recentes discursos direcionados ao proletariado, existe um outro Lula, combativo, indignado, dentro do Lula paz e amor criado por Duda Mendonça. Ao descontruir o Lula atual, as elites vão encontrar, debaixo da casca, o Lula antigo, com linguagem incendiária de luta de classes. Finalmente, o articulista esqueceu uma coisa. Lula não é mais uma ameaça da esquerda. Ele é uma realidade, ocupa o poder. Tem acesso a informações e possui conexões com outros setores econômicos tão poderosos quanto os setores econômicos que o combatem. O articulista trabalha com a hipótese das elites econômicas agirem sob a mesma bandeira, e sabemos que isso é muito difícil. As elites também combatem entre si. Desta vez, será difícil. Lula tem um orçamento de 200 bilhões de reais nas mãos. Diante da possibilidade de perder as eleições, a vontade de poder falará mais alto que o desejo de estabilizar os mercados, e Lula será tentado (e torço para que caia nessa tentação) pelo populismo, por ações mais grandiosas que melhorem efetivamente a situação do povo.
Enfim, o articulista fez uma projeção muito lúcida sobre as ações da mídia e das forças econômicas para descontruir Lula, mas esqueceu o fator fundamental: faltou combinar com os russos, ou seja, com o time adversário, com os movimentos sociais e grandes sindicatos, os quais, diante da iminente queda de seu líder (e Lula, há que se admitir, permanece um grande líder de massas), já prometeram se manifestar com vigor inquietante para as elites. "Ousem depor! Ousem apear Lula do Planalto! Vamos pra rua protestar!", já repetiram lideranças de poderosos sindicatos. Os próprios movimentos sociais, agora organizados numa frente única, já divulgaram manifesto condenando as intenções golpistas da direita. Já vi esse filme antes. A imprensa, no afã de descontruir Lula, acaba por iludir-se a si própria. O articulista mesmo disse: irão pipocar estatísticas distorcidas sobre a queda de popularidade de Lula. Moçoilas bem vestidas e lindas correrão os condomínios de luxo de São Paulo perguntando aos membros da corte se Lula deve ser enxotado. É sabido que a massa não tem voz. Ela só se manifesta mesmo nos grandes momentos. Existem incógnitas na História. Na verdade, ninguém sabe o que vai acontecer. Mas agora ninguém pode dizer que a história está morta. Quando a luta de classes se acende, é porque o país conseguiu reviver sua dinâmica e está novamente se desenvolvendo. Lula pode até perder ou ser deposto, mas a paixão e o desejo de mudança que o elegeram não morrerão, porque não são reflexos do capricho de uma classe média sempre hesitante, mas sim do estrondoso clamor das massas por um país melhor. Clamor esse que, embora silenciado, pode explodir a qualquer momento, principalmente se estas massas virem seu líder estiolar sob golpes traiçoeiros da direita brasileira. Lula poderia, por exemplo, morrer agora num acidente doméstico. As massas não morrem. A cada trabalhador morto, nascem cinco, dez outros com mais fome e mais ambição. E a mídia não vai conseguir mentir eternamente. Viva a democracia.
23 de julho de 2005
Lá no Hell Bar
Seja o primeiro a comentar!
Postei um texto político lá no hellbar.blogspot.com.
Acho que vou começar a concentrar meus textos todos lá. Acho que vai ficar mais prático.
Leiam o hellbar.blogspot.com
Acho que vou começar a concentrar meus textos todos lá. Acho que vai ficar mais prático.
Leiam o hellbar.blogspot.com
Nova edição semanal do AP
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Está no ar a nova edição semanal do AP, vale conferir.
www.arteepolitica.com.br
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22 de julho de 2005
Ainda sobre a crise
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Abaixo, meu último comentário no Manifeste-se da Novae.
Agradeço o companheiro Fernando Soares por ter lido e apreciado meu artigo "A crise não é de hoje" e aproveito esse fórum para fazer mais alguns comentários sobre a crise política. O comentário 1482, do Gilson, por exemplo, é exemplar de um segmento numeroso da opinião pública nacional, e mesmo sendo mal educado, merece ser respondido por causa justamente de seu caráter exemplar. Se você entrar no blog do Ricardo Noblat, encontrará milhares como ele. Considero-os vítimas mentais de uma confusão criada, por um lado, pela mídia, e de outro pelos (já citados em meu comentário 1479) dilemas do próprio socialismo contemporâneo, o qual está sendo, ou deveria ser, representado pelo governo Lula.
Gilson afirma, e esta é opinião quase geral, e todos estão corretos, que as elites se beneficiam da política econômica do governo Lula.
No entanto, o erro não está aí. O erro está em se esquecer de que essas elites, por serem detentoras do capital, se beneficiariam também de qualquer outra política econômica. Se o Banco Central aumenta os juros, eles ganham, porque são detentores de títulos públicos, cujos juros, pagos pelo governo, aumentam sua riqueza. Se o Banco Central baixa os juros, eles ganham também, porque, como grandes proprietários, serão certamente os primeiros a conseguir bilionários empréstimos a juros baixos, que usarão para aumentar mais ainda o latifúndio urbano e rural. Ou seja, as elites ganham de qualquer jeito. Ganham quando o país se desenvolve e ganham quando o país afunda.
O capital compra tudo. Nem próprio Marx preveria que o capital, em mãos do Partido Comunista Soviético, acabaria por perverter a cabeça dos próprios dirigentes comunistas.
O lucro das elites, portanto, não tem a ver com o governo Lula, mas com a dinâmica do próprio capitalismo mundial, que é concentrador.
O processo político é, como todo processo complexo, contraditório. Ao repor o Brasil nos trilhos do desenvolvimento, fazendo o PIB nacional crescer vigorosamente, estabilizar a moeda, controlar a inflação e reduzir o desemprego, Lula acabou dando mais força ao capitalismo nacional.
Gilson se engana ao achar que as elites apóiam Lula. Elas se beneficiam da política econômica, mas, apesar de tudo, ainda sim querem um tucano na presidência. Sabe porquê? Porque querem ganhar ainda mais.
Além disso, Gilson esquece dum fator crucial para se entender o processo político. O fator ideológico. Existem grandes capitalistas que seriam capazes de sacrificar parcela de seu patrimônio apenas para satisfazer sua ideologia. Não pense que apenas os pobres e classe média são capazes de se sacrificarem por ideais. Os ricos também estão dispostos a perderem agora para ganharem lá na frente.
O processo político venezuelano, que se mostra bem semelhante ao que vem ocorrendo no Brasil, mostrou isso de forma bem clara. As elites venezuelanas quase cometeram suicídio econômico. Os pequenas e médios empresários, os alto executivos da Pdveza, apostaram numa greve suicida, que fez o PIB da Venezuela recuar 30% em 2003, por conta de seu ódio de classe contra aquele que representava um ideal de mudança na América Latina.
Lula optou por uma política conservadora porque, como bom nordestino e ex-operário, sabe que a prudência é sempre bem vinda, ainda mais para um povo que não suporta mais sofrer.
É claro que o governo Lula tem contradições. Seria impossível não tê-las. Mao Tsé Tung escreveu um livro maravilhoso entitulado "Sobre a contradição", em que ele explica ao povo chinês, aos intelectuais e aos dirigentes de seu partido, que o princípio da contradição é inerente a todo ente político, e que a existência da contradição é uma evidência de vida e de dinamismo. Governos, partidos e organizações políticas sempre carregam, em seu bojo, contradições que, apesar de nunca se resolverem, evoluem de acordo com as forças com as quais elas interagem.
A crise política foi importante para todos. O governo Lula, mesmo prejudicado em sua imagem, conseguiu livrar-se da proximidade de figuras indesejáveis, tanto de partidos aliados como do próprio PT.
Mas o mais importante da crise foi preparar o país, a imprensa, as instituições, os intelectuais, para as eleições do ano que vem. Não houvesse a crise, a sociedade entraria em 2006 inocente e despreparada para combater a caixa 2. Os empresários que planejavam apoiar candidatos em 2006 pensarão duas vezes antes de aceitarem um Caixa 2 que pode comprometer a imagem de sua firma.
Quanto ao papel da imprensa, fica mais uma vez evidente que a sociedade brasileira precisa construir defesas contra exageros da mídia. Se os colunistas cobram, com razão, ao governo respeito pelas instituições democráticas, eles devem respeitar aquela que é uma das mais importantes e representativas da democracia, a instituição da presidência da república, que deve ser respeitada por representar a a vontade de 63 milhões de brasileiros, a maioria dos quais não assina a Veja e não lê o Estado de São Paulo, quanto mais manda email ou participa de Fòrum.
OBS: Momento histórico, desemprego atinge 1 dígito, 9.5%, segundo o IBGE, um dos menores índices dos últimos 10 anos. Polícia Federal nunca prendeu tantos corruptos. Por que será que a crise política não atingiu a economia? Porque não é uma crise, é um saudável expurgo de corruptos.
Agradeço o companheiro Fernando Soares por ter lido e apreciado meu artigo "A crise não é de hoje" e aproveito esse fórum para fazer mais alguns comentários sobre a crise política. O comentário 1482, do Gilson, por exemplo, é exemplar de um segmento numeroso da opinião pública nacional, e mesmo sendo mal educado, merece ser respondido por causa justamente de seu caráter exemplar. Se você entrar no blog do Ricardo Noblat, encontrará milhares como ele. Considero-os vítimas mentais de uma confusão criada, por um lado, pela mídia, e de outro pelos (já citados em meu comentário 1479) dilemas do próprio socialismo contemporâneo, o qual está sendo, ou deveria ser, representado pelo governo Lula.
Gilson afirma, e esta é opinião quase geral, e todos estão corretos, que as elites se beneficiam da política econômica do governo Lula.
No entanto, o erro não está aí. O erro está em se esquecer de que essas elites, por serem detentoras do capital, se beneficiariam também de qualquer outra política econômica. Se o Banco Central aumenta os juros, eles ganham, porque são detentores de títulos públicos, cujos juros, pagos pelo governo, aumentam sua riqueza. Se o Banco Central baixa os juros, eles ganham também, porque, como grandes proprietários, serão certamente os primeiros a conseguir bilionários empréstimos a juros baixos, que usarão para aumentar mais ainda o latifúndio urbano e rural. Ou seja, as elites ganham de qualquer jeito. Ganham quando o país se desenvolve e ganham quando o país afunda.
O capital compra tudo. Nem próprio Marx preveria que o capital, em mãos do Partido Comunista Soviético, acabaria por perverter a cabeça dos próprios dirigentes comunistas.
O lucro das elites, portanto, não tem a ver com o governo Lula, mas com a dinâmica do próprio capitalismo mundial, que é concentrador.
O processo político é, como todo processo complexo, contraditório. Ao repor o Brasil nos trilhos do desenvolvimento, fazendo o PIB nacional crescer vigorosamente, estabilizar a moeda, controlar a inflação e reduzir o desemprego, Lula acabou dando mais força ao capitalismo nacional.
Gilson se engana ao achar que as elites apóiam Lula. Elas se beneficiam da política econômica, mas, apesar de tudo, ainda sim querem um tucano na presidência. Sabe porquê? Porque querem ganhar ainda mais.
Além disso, Gilson esquece dum fator crucial para se entender o processo político. O fator ideológico. Existem grandes capitalistas que seriam capazes de sacrificar parcela de seu patrimônio apenas para satisfazer sua ideologia. Não pense que apenas os pobres e classe média são capazes de se sacrificarem por ideais. Os ricos também estão dispostos a perderem agora para ganharem lá na frente.
O processo político venezuelano, que se mostra bem semelhante ao que vem ocorrendo no Brasil, mostrou isso de forma bem clara. As elites venezuelanas quase cometeram suicídio econômico. Os pequenas e médios empresários, os alto executivos da Pdveza, apostaram numa greve suicida, que fez o PIB da Venezuela recuar 30% em 2003, por conta de seu ódio de classe contra aquele que representava um ideal de mudança na América Latina.
Lula optou por uma política conservadora porque, como bom nordestino e ex-operário, sabe que a prudência é sempre bem vinda, ainda mais para um povo que não suporta mais sofrer.
É claro que o governo Lula tem contradições. Seria impossível não tê-las. Mao Tsé Tung escreveu um livro maravilhoso entitulado "Sobre a contradição", em que ele explica ao povo chinês, aos intelectuais e aos dirigentes de seu partido, que o princípio da contradição é inerente a todo ente político, e que a existência da contradição é uma evidência de vida e de dinamismo. Governos, partidos e organizações políticas sempre carregam, em seu bojo, contradições que, apesar de nunca se resolverem, evoluem de acordo com as forças com as quais elas interagem.
A crise política foi importante para todos. O governo Lula, mesmo prejudicado em sua imagem, conseguiu livrar-se da proximidade de figuras indesejáveis, tanto de partidos aliados como do próprio PT.
Mas o mais importante da crise foi preparar o país, a imprensa, as instituições, os intelectuais, para as eleições do ano que vem. Não houvesse a crise, a sociedade entraria em 2006 inocente e despreparada para combater a caixa 2. Os empresários que planejavam apoiar candidatos em 2006 pensarão duas vezes antes de aceitarem um Caixa 2 que pode comprometer a imagem de sua firma.
Quanto ao papel da imprensa, fica mais uma vez evidente que a sociedade brasileira precisa construir defesas contra exageros da mídia. Se os colunistas cobram, com razão, ao governo respeito pelas instituições democráticas, eles devem respeitar aquela que é uma das mais importantes e representativas da democracia, a instituição da presidência da república, que deve ser respeitada por representar a a vontade de 63 milhões de brasileiros, a maioria dos quais não assina a Veja e não lê o Estado de São Paulo, quanto mais manda email ou participa de Fòrum.
OBS: Momento histórico, desemprego atinge 1 dígito, 9.5%, segundo o IBGE, um dos menores índices dos últimos 10 anos. Polícia Federal nunca prendeu tantos corruptos. Por que será que a crise política não atingiu a economia? Porque não é uma crise, é um saudável expurgo de corruptos.
21 de julho de 2005
Carta a um leitor
Seja o primeiro a comentar!
Um leitor de um de meus artigos publicados na Novae espalhou um email bem crítico. Não foi vulgar, contudo, e por isso achei que merecia uma resposta inteligente, com o fim de contribuir para o debate político que é a própria essência da democracia, o próprio exercício da liberdade.
Como minha carta ficou longa e detalhada, achei que valia a pena compartilha-la com os leitores deste blog.
Prezado Daniel de Souza Falkemberg,
Obrigado por comentar meu texto. Creio que temos mais idéias afins do que imaginas. Acredito que ambos desejamos o melhor para o país e que as diferenças se resumem na interpretação dos fatos políticos e, sobretudo, da crise ora em curso. Em primeiro lugar, não sou fanático em nada. As idéias que apresento são fruto do meu precário discernimento, lastreado na leitura que faço da história e dos acontecimentos; mas nunca me pretendi dono da verdade ou deixei de estar aberto à mudanças em minha forma de pensar.
Entendo que o momento histórico em que vivemos, com suas paixões políticas subitamente acesas pela crise, não nos permite ter uma visão totalmente lúcida e isenta do processo. Tanto os artigos que defendem quanto os que atacam o governo Lula são eivados de adjetivos, são emocionados, desencantados, raivosos; e a interpretação que deles se faz ainda é mais apaixonada.
Você mesmo falha em sua crítica, informal eu sei, mas mesmo assim uma crítica, ao admitir que nem leu o artigo inteiro, o que lhe tira a credibilidade para atacar o texto como um todo.
Sou um polemista e gosto quando algum artigo meu é lido por pessoas que pensam diferente. Se quiser ver outros artigos mais atualizados, e talvez até mais elucidativos da minha forma de pensar, confira no oleododiabo.blogspot.com.
Não sou e nunca fui petista, apesar de sempre ter nutrido grande respeito por esse partido. Agora, acho que você incorre em muitas contradições, como ao atacar o uso de termos como "direita e esquerda" e depois dizer que "esquerda sou eu, esquerda é o povo". Desculpe-me, mas isso é uma tremenda bobagem. Se você é de esquerda, isso vamos ver se você tem disposição, altruísmo e educação para realizar um debate em alto nível; se tiveres preguiça para isso, não és realmente de esqueda, como dizes, e sim de direita, que se caracteriza nos dias de hoje justamente por isso, pelo egoísmo, pela arrogância na posse da verdade e, agora com essa crise, pela explosão de ressentimento e ódio que solta sobre o governo Lula.
Existe ilegalidade e ela está sendo investigada e punida. Agora, acho que é infantil você misturar isso com a competência notória do governo Lula na condução administrativa do país, que nunca viu um crescimento tão vigoroso, sustentado, nos últimos 20 anos, nunca viu uma política externa tão bem sucedida.
Controle da inflação, moeda estável, dívida pública em declínio, rompimento com o FMI, investimento recorde na agricultura familiar, e combate à corrupção, esse é o diferencial do governo Lula.
Não existe governo perfeito. Em política, a comparação é feita com outros políticos. Se Lula está sendo melhor que FHC, o que é minha opinião, inclusive no combate à corrupção, então ele está fazendo um bom governo, o que é inclusive a opinião de quase 60% dos brasileiros, segundo as últimas pesquisas de opinião. Esse grau de aprovação é muito difícil para um governante em meio de mandato, ainda mais num país que herdou 500 anos de injustiça social e mais especificamente 8 anos de desmandos privatizantes e endividantes do governo tucano.
A corrupção que grassou no governo anterior, e que chegou até o governo Lula, mas que agora, finalmente, está sendo implodida por uma conjuntura mais transparente e por uma atitude corajosa do presidente, foi infinitamente superior ao que ocorre hoje. "Nunca se viu tanta corrupção", diz Merval Pereira, do Globo, querendo atiçar - e conseguindo - a classe média contra Lula.
O que significa o dinheiro que está em jogo, entre Valério e Delúbio, em relação aos processos de privatização do governo FHC, da Telebrás, da Vale do Rio Doce, só para citar dois monstruosos exemplos.
Ah, mas a Vale hoje está muito melhor, dirá você. Está porque está colhendo agora os frutos de 20 anos de pesquisa patrocinada por dinheiro público. Está porque o preço do minério de ferro está 2000% mais alto do que na época em que ela pertencia ao povo. Hoje a Vale pertence à Antonio Ermirio de Moraes. Se estivesse em mãos do poder público, talvez não estivesse tão moderna, tudo bem, mas estaria em mãos do povo, e estaria, juntamente com a Petrobrás, patrocinando a cultura e projetos sociais. Estaria contribuindo para o bem estar do brasileiro.
Além disso, o que se aponta de grave, além da própria privatização, contra a vontade popular, foi o preço pago. Moedas podres, 1 bilhão de reais em títulos podres. O Brasil entregou de graça uma das jóias da coroa. Além disso, a Vale tem importância estratégica na geopolítica mundial, na medida em que o Brasil detém as maiores jazidas mundiais de ferro.
Enfim, solicito a você que acompanhe os noticiários com a cabeça mais fria. Concordo com você inteiramente que o mais importante são as instituições democráticas. Muito mais importante que Lula e qualquer outro governante, é o respeito às instituições democráticos. Então peço à você que observe como as instituições democráticas estão resolvendo a crise, investigando culpados e inocentando os inocentes.
E peço a você que observe que, da mesma forma que existe corrupção, também existe mentira. E se você é tão enfático, com razão, em condenar a corrupção, também deve ser na condenação da mentira e do uso político de uma crise para desestabilizar um país que conta com instituições tão sólidas e tentar se derrubar um presidente com inédito respaldo popular.
Quem conhece a história de Lula sabe que é completamente desvairada a teoria de que ele sabia do que estava acontecendo. É claro que ele sabia que existia corrupção no país. Mas, conforme seus próprios argumentos, o país tem suas instituições, tem uma Procudadoria Geral da União, tem Ministério Público, tem Tribunal de Contas, Polícia Federal, Justiça, e não cabia à Lula, nem ele tinha instrumentos para isso, para descobrir corrupção, e sim às instituições.
Agora, deixe Lula em paz. Se não gosta dele, vote em outro em 2006. Agora não entre nessa onda golpista. A maioria esmagadora da esquerda brasileira nunca desejou o impeachment de FHC. Eu sempre achei odioso esses Fora FHC Fora FMI. Para mim, as coisas se resolvem institucionalmente e democraticamente. E assim continuará sendo.
Então, por favor, não colabore com essa onda que pode tirar o Brasil de seus trilhos pacíficos. Que se prendam os culpados, mas que se respeitem as instituições, sobretudo uma das mais importantes, que é a instituição da Presidência da República, que é o símbolo máximo da democracia.
Como minha carta ficou longa e detalhada, achei que valia a pena compartilha-la com os leitores deste blog.
Prezado Daniel de Souza Falkemberg,
Obrigado por comentar meu texto. Creio que temos mais idéias afins do que imaginas. Acredito que ambos desejamos o melhor para o país e que as diferenças se resumem na interpretação dos fatos políticos e, sobretudo, da crise ora em curso. Em primeiro lugar, não sou fanático em nada. As idéias que apresento são fruto do meu precário discernimento, lastreado na leitura que faço da história e dos acontecimentos; mas nunca me pretendi dono da verdade ou deixei de estar aberto à mudanças em minha forma de pensar.
Entendo que o momento histórico em que vivemos, com suas paixões políticas subitamente acesas pela crise, não nos permite ter uma visão totalmente lúcida e isenta do processo. Tanto os artigos que defendem quanto os que atacam o governo Lula são eivados de adjetivos, são emocionados, desencantados, raivosos; e a interpretação que deles se faz ainda é mais apaixonada.
Você mesmo falha em sua crítica, informal eu sei, mas mesmo assim uma crítica, ao admitir que nem leu o artigo inteiro, o que lhe tira a credibilidade para atacar o texto como um todo.
Sou um polemista e gosto quando algum artigo meu é lido por pessoas que pensam diferente. Se quiser ver outros artigos mais atualizados, e talvez até mais elucidativos da minha forma de pensar, confira no oleododiabo.blogspot.com.
Não sou e nunca fui petista, apesar de sempre ter nutrido grande respeito por esse partido. Agora, acho que você incorre em muitas contradições, como ao atacar o uso de termos como "direita e esquerda" e depois dizer que "esquerda sou eu, esquerda é o povo". Desculpe-me, mas isso é uma tremenda bobagem. Se você é de esquerda, isso vamos ver se você tem disposição, altruísmo e educação para realizar um debate em alto nível; se tiveres preguiça para isso, não és realmente de esqueda, como dizes, e sim de direita, que se caracteriza nos dias de hoje justamente por isso, pelo egoísmo, pela arrogância na posse da verdade e, agora com essa crise, pela explosão de ressentimento e ódio que solta sobre o governo Lula.
Existe ilegalidade e ela está sendo investigada e punida. Agora, acho que é infantil você misturar isso com a competência notória do governo Lula na condução administrativa do país, que nunca viu um crescimento tão vigoroso, sustentado, nos últimos 20 anos, nunca viu uma política externa tão bem sucedida.
Controle da inflação, moeda estável, dívida pública em declínio, rompimento com o FMI, investimento recorde na agricultura familiar, e combate à corrupção, esse é o diferencial do governo Lula.
Não existe governo perfeito. Em política, a comparação é feita com outros políticos. Se Lula está sendo melhor que FHC, o que é minha opinião, inclusive no combate à corrupção, então ele está fazendo um bom governo, o que é inclusive a opinião de quase 60% dos brasileiros, segundo as últimas pesquisas de opinião. Esse grau de aprovação é muito difícil para um governante em meio de mandato, ainda mais num país que herdou 500 anos de injustiça social e mais especificamente 8 anos de desmandos privatizantes e endividantes do governo tucano.
A corrupção que grassou no governo anterior, e que chegou até o governo Lula, mas que agora, finalmente, está sendo implodida por uma conjuntura mais transparente e por uma atitude corajosa do presidente, foi infinitamente superior ao que ocorre hoje. "Nunca se viu tanta corrupção", diz Merval Pereira, do Globo, querendo atiçar - e conseguindo - a classe média contra Lula.
O que significa o dinheiro que está em jogo, entre Valério e Delúbio, em relação aos processos de privatização do governo FHC, da Telebrás, da Vale do Rio Doce, só para citar dois monstruosos exemplos.
Ah, mas a Vale hoje está muito melhor, dirá você. Está porque está colhendo agora os frutos de 20 anos de pesquisa patrocinada por dinheiro público. Está porque o preço do minério de ferro está 2000% mais alto do que na época em que ela pertencia ao povo. Hoje a Vale pertence à Antonio Ermirio de Moraes. Se estivesse em mãos do poder público, talvez não estivesse tão moderna, tudo bem, mas estaria em mãos do povo, e estaria, juntamente com a Petrobrás, patrocinando a cultura e projetos sociais. Estaria contribuindo para o bem estar do brasileiro.
Além disso, o que se aponta de grave, além da própria privatização, contra a vontade popular, foi o preço pago. Moedas podres, 1 bilhão de reais em títulos podres. O Brasil entregou de graça uma das jóias da coroa. Além disso, a Vale tem importância estratégica na geopolítica mundial, na medida em que o Brasil detém as maiores jazidas mundiais de ferro.
Enfim, solicito a você que acompanhe os noticiários com a cabeça mais fria. Concordo com você inteiramente que o mais importante são as instituições democráticas. Muito mais importante que Lula e qualquer outro governante, é o respeito às instituições democráticos. Então peço à você que observe como as instituições democráticas estão resolvendo a crise, investigando culpados e inocentando os inocentes.
E peço a você que observe que, da mesma forma que existe corrupção, também existe mentira. E se você é tão enfático, com razão, em condenar a corrupção, também deve ser na condenação da mentira e do uso político de uma crise para desestabilizar um país que conta com instituições tão sólidas e tentar se derrubar um presidente com inédito respaldo popular.
Quem conhece a história de Lula sabe que é completamente desvairada a teoria de que ele sabia do que estava acontecendo. É claro que ele sabia que existia corrupção no país. Mas, conforme seus próprios argumentos, o país tem suas instituições, tem uma Procudadoria Geral da União, tem Ministério Público, tem Tribunal de Contas, Polícia Federal, Justiça, e não cabia à Lula, nem ele tinha instrumentos para isso, para descobrir corrupção, e sim às instituições.
Agora, deixe Lula em paz. Se não gosta dele, vote em outro em 2006. Agora não entre nessa onda golpista. A maioria esmagadora da esquerda brasileira nunca desejou o impeachment de FHC. Eu sempre achei odioso esses Fora FHC Fora FMI. Para mim, as coisas se resolvem institucionalmente e democraticamente. E assim continuará sendo.
Então, por favor, não colabore com essa onda que pode tirar o Brasil de seus trilhos pacíficos. Que se prendam os culpados, mas que se respeitem as instituições, sobretudo uma das mais importantes, que é a instituição da Presidência da República, que é o símbolo máximo da democracia.
A crise não é de hoje
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A atual crise brasileira insere-se numa crise maior do moderno socialismo mundial. Esse socialismo democrático que decidiu não romper com as regras jurídicas globais sobre questões chave como o direito à propriedade privada e às liberdades individuais.
A liberdade de expressão, outro princípio fundamental das democracias modernas, também é aceita e defendida incondicionalmente pelo socialismo contemporâneo que pregam os partidos de esquerda da atualidade. No entanto, vemos como a liberdade de imprensa se volta contra as próprias instituições democráticas, visto que a imprensa é privada e representa interesses de seus próprios donos mais do que os interesses da nação.
O problema é que, após a queda dos regimes comunistas do Leste Europeu e da Rússia, e da avalanche teórica produzida pelos economistas neo-liberais, a esquerda ficou realmente desamparada do ponto-de-vista conceitual.
Após o fracasso econômico, social e político de diversos regimes neo-liberais na América Latina, os partidos de esquerda começam a tomar o poder. No entanto, o mesmo vazio conceitual, a mesma perplexidade teórica, que tinham enquanto oposição aos regimes conservadores, eles demonstram no poder.
Chávez, Kirchnner, Lula, e qualquer outro governante de "esquerda", enfrenta e enfrentará esse tipo de problema.
Naturalmente, o exercício do poder pelas esquerdas é que, somente agora, possibilitará aos intelectuais contemporâneos, escreverem as novas receitas, lastreados em experiências reais, em crises reais, e não mais em abstratas teses acadêmicas sobre como seriam governos de esquerda na América Latina.
Kant já dizia que todo e qualquer conhecimento só começa pela experiência. Isso porque, apesar de existirem juízos puros, que não são dependentes da experiência para serem demonstrados, somente a experiência nos toca os sentidos e nos faz pensar sobre o ser e o mundo.
Se este processo é doloroso e angustiante, isso só corrobora sua dignidade e sua necessidade, pois as grandes descobertas conceituais costumam sempre ser acompanhadas de algum tipo de sofrimento.
A deficiência da esquerda estava ligada justamente à distância que estava do poder. Na medida em que ela atinge o poder, todos os seus dilemas e crises internas são extraordinariamente amplificados, porque são expostos à sociedade, porque são cobrados diretamente pelos outros poderes da democracia, o legislativo e o judiciário, instâncias que, dependendo do momento histórico, atuam do lado conservador ou do lado progressista.
Com os erros de Lula e do partido dos trabalhadores, poderemos construir, para o futuro próximo, uma nova esquerda, que seja lastreada em sólidos fundamentos econômicos, políticos e éticos. Não estou dizendo que o governo Lula e o PT acabaram. Pelo contrário, caso tenham musculatura política para vencer a oposição golpista, Lula e o PT sairão da crise mais experientes. Todos saíremos mais experientes.
Os políticos de esquerda no Brasil estão desorientados diante da crise porque é o próprio socialismo que ainda não foi devidamente modernizado, enriquecido, conformado às realidades complexas das sociedades contemporâneas. É impressionante como a direita consegue, às vezes, ser bem sucedida em seus ataques conceituais, e ainda mais impressionante como a extrema esquerda se junta no mesmo palanque dessa direita para enfiar, sem dó, o dedo na ferida que também é dela, visto que a extrema-esquerda também não sabe como vencer, por exemplo, o imperialismo americano. A extrema-esquerda não consegue nem eleger vereador, como saberá enfrentar o poderio das classes conservadoras no Brasil?
Marx foi um grande pensador, o maior filósofo de todos os tempos, segundo pesquisa recente feita por uma respeitada instituição inglesa. No entanto, creio que até Marx enfrentaria muitas crises se ele tivesse tido a oportunidade de exercer o poder. Creio que muitos dos dilemas enfrentados por Lênin, Mao, Stálin e Fidel, seriam também vividos por Marx e ele seria obrigado a responder da mesma forma.
Outro pensamento importante que tive em relação à crise atual é que a história é feita pela força e pelo pensamento. Mas é a força o elemento preponderante quando se vive, no calor do momento, a história. Vale o sangue frio, o cálculo, a capacidade de argumentação, a força militar, a força física mesmo.
O pensamento não é afeito às correrias do momento. É por isso que a sociedade brasileira, no momento em que se atacava Getúlio, apoiou o ataque. Mas após a morte do líder trabalhista, que possibilitou uma profunda reflexão, a opinião pública mudou de lado. È por isso que a sociedade brasileira, sobretudo grande parte da classe média e a quase totalidade da classe alta, apoiou o golpe militar; mas mudou de opinião após pensar melhor sobre a questão. É por isso que tanta gente no Brasil, envolvido pela atmosfera opressiva de confusão, adere ao discurso "forte" da direita e da extrema-esquerda, como sempre subitamente "fortalecida" pela grande mídia, que a usa, como sempre usou, para seus próprios interesses.
Às classes conservadoras sempre interessou a existência de uma esquerda de fachada, histéria, inofensiva, insignicante eleitoralmente, para transmitir ao mundo a imagem de que vivemos uma democracia real.
A ironia disso tudo é que os trabalhadores nunca obtiveram avanços expressivos enquanto foram respeitadores do Estado de Direito. Até porque o Estado de Direito sempre foi um instrumento usado pelas classes dominantes para conservar o poder.
Vargas fez uma revolução porque o processo eleitoral no qual venceu seu adversário foi uma farsa, uma grande corrupção. Usou a força física. O PT, enquanto integrante de uma frente maior pela democracia e inimigo visceral de estratégias de força física, dificilmente conseguiria chegar ao poder enquanto não usasse das mesmas regras usadas por seu adversários.
O erro foi interpretar esse advérbio "dificilmente" em sua pior acepção. O erro foi cair na tentação de optar pelo caminho mais fácil.
Errou sim, e feio. Mas não morreu. Todos nós erramos. Aprendemos com nossos erros. O PT ainda é o principal partido de esquerda da América Latina. Seu fim seria uma derrota terrível não apenas para os trabalhadores brasileiros, mas de todo mundo. É notório que os olhos dos trabalhadores do mundo inteiro estão, desde a vitória de Lula, voltados para o Brasil.
A luta pela justiça social não nasceu com Lula ou PT. É uma luta muito antiga, que talvez tenha nascido junto com a espécie humana, e desta fonte, estou seguro, é que jorram todas as coisas boas da humanidade: poesia, filosofia e teorias políticas.
Não subestimemos a importância do Estado para as artes e para a felicidade social. É interessante reler a Razão na História, de Hegel, para entendermos como as artes, a filosofia, a religião, dependem da existência do Estado, assim como o Estado depende da existência da arte, da filosofia e da religião. Sim, também da religião, pois esta é que nos ensina a produzir mentalmente algo superior à nós mesmos. As leis humanas são transcrições modernas das leis religiosas. Nas profundezas do espírito humano é o respeito às leis divinas que respeitamos mais. Não matamos porque temos medo de sermos presos, mas porque possuímos uma moral universal.
O que estamos vivendo agora servirá como injeção de adrenalina em toda pessoa politizada. Para a esquerda, vale o alerta para seus intelectuais e artistas. As populações pobres da América Latina não merecem outra decepção histórica. Elas não suportam mais sofrimento.
Quero ainda advertir as classes altas no Brasil: a criminalidade nas grandes metrópoles chegou a um nível insuportável e somente o desenvolvimento social irá trazer paz às cidades. Que não tentem depor um líder carismático como Lula. Isso acarretaria um terrível risco de convulsão social. Os pobres não lêem o Globo. Eles amam Lula e acreditam nele, porque Lula simboliza o povo. Que achem então alguém melhor que Lula, mas não tentem tirá-lo para colocar Alckmin no lugar. Não vai dar certo. Também não acredito no Garotinho, com sua política de segurança pública violenta e seu menosprezo pelas instituições.
É hora de voltar aos livros, de lermos e relermos os clássicos e, principalmente, de escrevermos os clássicos politicos da modernidade. Não esqueçamos de que o domínio do conhecimento é a única coisa que, no longo prazo, garante o poder. A fragilidade das esquerdas ainda é essa: falta-lhe solidez conceitual para superar os conservadores. A classe dominante sabe escrever, sabe falar, sabe manipular mentes e corações, sabe exatamente onde atacar o governo Lula, como destruir suas bases sociais. Muitos políticos e intelectuais de esquerda ainda não sabem como se defender. A própria fragilidade conceitual do socialismo moderno os deixa desamparados. Não vale mais citar Marx. O momento é de produzirmos novos pensamentos, novas respostas a um mundo cujos modos de produção se desenvolvem febrilmente, produzindo novas classes, novos dilemas e, felizmente, novas soluções a cada instante.
Intelectuais: chega de desencanto, chega de covardia, chega de melancolia. É hora de botar a cachola pra funcionar e produzirmos os livros que embasarão os governos progressistas latino-americanos dos próximos cem anos.
Nesse momento, é necessária uma união firme e combativa de trabalhadores e intelectuais contra o sofisticado, discreto e perigoso golpismo das elites e da mídia. No curto prazo, a história é escrita pela força, então mostremos, sindicatos, movimentos sociais, estudantes, intelectuais e povo em geral, nossos músculos. Mas não resolveremos os dilemas atuais do socialismo apenas atacando a direita brasileira e seu braço midiático. A esquerda, desde que optou pela democracia, pelo respeito as leis e pela convivência com a liberdade da imprensa, estará sempre vulnerável a crises desse tipo enquanto não tiver produzido uma bibliografia sólida que permita, assim como permitiu pessoas como Lênin e Mao, elaborar programas de ação que eletrizem as massas com uma esperança que não se dissolva na primeira crise, mas que seja dura como o diamante; duradoura e firme como o anseio milenar dos homens por justiça e liberdade.
19 de julho de 2005
Mais crise
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Nadando contra a corrente
Por Miguel do Rosário*
Para encontrar algumas respostas sobre a atual crise política, precisamos sair um pouco do Brasil, onde o ar parece empestiado e fazer uma breve visita a nosso irmão do norte. Por exemplo, sempre me perguntei, perplexo, como um país como os Estados Unidos, com uma elite intelectual tão poderosa, pôde se curvar à racionalidade estúpida da guerra?
Durante os meses que antecederam a invasão do Iraque, acompanhei obsessivamente a imprensa norte-americana, seus colunistas, suas coberturas sobre os perigos de Saddam, suas reportagens sobre os filhos de Saddam. Lembro que notei, em todo o período, um grande "acordão" entre a grande mídia no sentido de produzir uma legitimidade crítica, democrática, lastreada na opinião pública, sobre a importância dos EUA invadirem o Iraque. Os intelectuais que combatiam essa racionalidade não tinham estatura ou bagagem conceitual para serem efetivos. E quando o tinham, como o linguista Noam Chomsky, eram completamente excluídos da grande mídia.
Aqui no Brasil, vejo uma situação semelhante no que toca ao uso da mídia para a realização de determinados objetivos políticos.
Dito isto, centremos nosso debate sobre a crise política ora em curso no país. Setores da esquerda acusam a direita de estar patrocinando a crise, através de seus braços midiáticos e partidários. Outros, tanto da esquerda, quanto da grande área "neutra", que inclui sobretudo jornalistas e analistas políticos, acreditam que a crise foi produzida pela própria esquerda, como um homem-bomba que explodisse em casa, matando sua própria família.
Como quase todas as verdades, o correto está na média ponderada destas duas opiniões. A crise política vivida pelo PT é a eclosão de uma crise reprimida até o momento, contida pela aura de vitória provocada pela eleição de Lula e pelo crescimento do partido, uma crise do próprio socialismo mundial. Naturalmente, a direita, com auxílio luxuoso de seu histórico aliado, a mídia oligárquica, sabe explorar ao máximo essa crise interna do socialismo. Da mesma forma que a esquerda também nunca deixou de se beneficiar das contradições, erros e fraquezas conceituais nas idéias e projetos de seus adversários.
Antes de prosseguirmos, façamos uma breve digressão sobre os termos esquerda e direita. Muita gente, hoje em dia, incluindo grande parte do mundo acadêmico, não gosta mais desses conceitos. Os termos são, de fato, ultrapassados, mas não temos, por enquanto, outros mais adequados. Eu uso esses termos utilizando o senso comum. A linguagem, apesar de dinâmica, é sempre conservadora. Mudar, de forma significativa, uma forma de falar, leva décadas, para não dizer séculos.
Nesse momento, psicografo críticas de vários leitores: "Mas e a corrupção? E o caixa 2 do PT? E Delúbio Soares, Marcos Valério, onde ficam nessa história? Você está tergiversando... A crise não é ideológica. De fato, o que há é somente corrupção, e só isso".
Respeitando a opinião de todos, discordo. Em primeiro lugar, a questão criminal ainda não está esclarecida. O que há, confessadamente, é caixa 2 de campanha. Admite-se que todos os partidos o fazem. Se todos os fazem, é uma prática política, e a legislação eleitoral terá que ser atualizada ou, então, autuar a todos os partidos. Culpa-se o PT por ter pregado a ética e a diferença, mas novamente temos aí uma hipocrisia generalizada. Chegaria o PT aonde chegou sem usar dos mesmos instrumentos de seus adversários? As regras de uma luta não são impostas por um ou outro contendor, mas pela própria luta. Se há erros, é na própria disputa, não no PT. Os segmentos sociais representados pelo PT exigiam a vitória política e não a intransigência a princípios jurídicos. Se os trabalhadores fossem tão agarrados a princípios jurídicos, conforme agora se decreta na mídia, não haveria invasões de terra ou de prédios vazios.
Sei que incorro agora em argumentos arriscados, mas é preciso que ponhamos os pontos nos is. O PT foi um partido fundado por trabalhadores; seus erros, portanto, não são apenas de seus dirigentes, são erros da classe trabalhadora em sua ânsia, justificada, legítima e nobre, de atingir o poder. Em outros tempos, os trabalhadores já fizeram muito pior do que caixa 2 de campanha: já fizeram revoluções sangrentas. É claro que a classe média moralista arrepia-se ao escutar o argumento de que "os fins justificam os meios". Não se trata disso. No caso, trata-se de disputa política. As relações de poder só mudam quando os de cima perdem suas cabeças. Sem a vitória política, os trabalhadores nunca chegariam ao poder, e a sociedade brasileira seria mantida, sabe-se lá por mais quantos anos, na obscuridade quanto às práticas partidárias e à corrupção estatal.
Os trabalhadores no poder foram desajeitados? Não tiveram competência de abafar CPIs? Não conseguiram abafar os escândalos de corrupção? Não conseguiram mentir? Excelente. Isso mostra, mais uma vez, que a classe trabalhadora possui uma moral superior à moral das elites.
Agora, é preciso esclarecer. A classe trabalhadora erra. Não se pode confundir a classe trabalhadora com um coro de anjos. Os trabalhadores bebem, gostam de mulheres (ou homens), gostam de viagens, diversão, tem problemas financeiros, ficam doentes, suas esposas (ou maridos) também gostam de roupas bonitas, assistir filmes, ir à praia. Enfim, a classe trabalhadora é composta de seres humanos, vulneráveis, como todos, à corrupção. O fato de que, em sua grande maioria, o político que representa a classe trabalhadora ter sido sempre pobre e tenha passado por necessidades financeiras, não ajuda em nada. Pelo contrário, sabe-se que grande parte dos corruptos vieram de famílias humildes. É a velha história, a velha promessa de "nunca mais passarei fome" e daí para o vale tudo é um pulo.
Agora, quando vemos parlamentares do PFL tentarem cassar o próprio partido dos trabalhadores por motivo de corrupção, temos uma violação inadmissível das regras democráticas. Parlamentares do PSDB, PFL e PMDB sempre estiveram envolvidos em práticas de corrupção, caixa 2, e nunca sequer se cogitou em cassar os partidos, e sim as pessoas acusadas.
Qualquer candidato a vereador nesse país sabe que, para se eleger, é preciso dinheiro. Esse, aliás, é o grande problema do capitalismo democrático. Elege-se com dinheiro. O marketing, a publicidade, as relações públicas, são instrumentos necessários, essenciais, mas extremamente dispendiosos. Eu tenho uma parente que tentou se eleger vereador por Juiz de Fora, pelo PCdoB, perdeu e está endividada até hoje.
Em outros termos, a classe trabalhadora também precisa de dinheiro para eleger seus candidatos. Marcos Valério conseguiu empréstimos para o partido dos trabalhadores? O problema é de Marcos Valério e da direção do partido naquele momento. Valério, na época, era um sujeito de ficha limpa. E muitas empresas, para conseguir empréstimo no banco, apresentam como garantia contratos com estatais. Isso é normal. Fidel Castro conseguiu dinheiro até com a CIA para financiar a guerrilha.
No caso de Marcos Valério, ele não apenas tinha contratos ainda maiores com empresas privadas, como também com o governo tucano de Minas. E, sempre é bom lembrar, a maioria de seus contratos vieram do governo federal anterior.
Tem problemas aí? Com certeza, deve ter. Dirigentes do PT erraram ao aceitarem a intermediação de Valério. Arriscaram demais e puseram em risco o próprio patrimônio ético e político do PT. Mas daí a culpar o próprio partido dos trabalhadores, é jogar a culpa de um erro de alguns sobre toda a classe trabalhadora representada pelo PT.
Está se produzindo uma grande confusão na opinião pública, com vistas a invialilizar a reeleição de Lula em 2006. Fatos díspares, sempre negativos ao PT, são lançados diariamente na mídia. Não importa a correlação entre eles. Muitos deles são falsos, distorcidos, misturados a acusações reais. O que importa é debilitar, ou mesmo destruir, politicamente a mais forte instituição democrática já construída pelo proletariado nacional.
Sem apoio dos principais meios de comunicação, dos principais segmentos econômicos, Lula e o PT, serão obrigados a comunicar-se diretamente com as massas.
Valter Pomar, vice-presidente recém empossado do PT, escreveu artigo interessante publicado no site do partido, entitulado "Don't Panic: a saída está na margem esquerda", em que argumenta que há um novo projeto político e econômico querendo ser imposto no Brasil, e que não inclui o aumento do salário mínimo que Lula prometeu e vem cumprindo (lenta e prudentemente, mas firmemente). Não inclui o fim do endividamento externo. Não inclui uma Alca soberana para o Brasil. Esse projeto pretende trazer um forte crescimento econômico lastreado numa redução brutal dos gastos públicos, elevação do superávit para até 7% e super-exploração dos trabalhadores.
É esse o Brasil que nos espera, caso o PSDB consiga retomar as rédeas da nação. Infelizmente, não tenho ilusões quanto à posição da maioria dos intelectuais. Um crescimento desse porte pode trazer grande benefício para as classes letradas, no curto prazo. É bom pra classe média, e pode inclusive ser bom pra cultura no curto prazo (venda de livros, peças de teatro, cinema, etc). A opinião pública visível (cartinhas pra jornais, sites e revistas) entrará, como sempre entrou, na onda anti-PT e anti-Lula. Convencer o povo será tarefa mais difícil, mas com um bombardeio televisivo intenso, talvez dê resultados satisfatórios.
Esse projeto político, contudo, é ruim para o povo, para a agricultura familiar, para a grande massa de excluídos. No longo prazo, é um projeto insustentável. É novamente a burguesia querendo chupar o sangue do povo, buscando manter seus privilégios por mais uma ou duas décadas. Mesmo a cultura será prejudicada, pois continuará restrita ao mesmo grupo de privilegiados. A indústria do livro nunca atingirá a massa da população, permanecendo, após um breve boom, estagnada como sempre.
Isso sem contar que, dominando o Brasil, líder da América do Sul, a alta burguesia dá um passo importante para a derrubada de outros governos progressistas do continente: Venezuela, Argentina, Uruguai e os próximos governos de esquerda do Chile, Peru e Bolívia.
Odeio teorias conspiratórias, mas não há como deixar de observar que os serviços de inteligência dos Estados Unidos (CIA e Casa Branca) podem ter detectado que a única maneira de freiar os ímpetos revolucionários que começam a despertar na América Latina é derrubar Lula e recolocar um governante submisso aos interesses do capitalismo norte-americano: a saber, Geraldo Alckmin ou qualquer outro candidato do PSDB.
* 30 anos, jornalista e escritor. Editor do site Arte & Política (www.arteepolitica.com.br). Colunista da revista Novae (www.novae.inf.br).
Por Miguel do Rosário*
Para encontrar algumas respostas sobre a atual crise política, precisamos sair um pouco do Brasil, onde o ar parece empestiado e fazer uma breve visita a nosso irmão do norte. Por exemplo, sempre me perguntei, perplexo, como um país como os Estados Unidos, com uma elite intelectual tão poderosa, pôde se curvar à racionalidade estúpida da guerra?
Durante os meses que antecederam a invasão do Iraque, acompanhei obsessivamente a imprensa norte-americana, seus colunistas, suas coberturas sobre os perigos de Saddam, suas reportagens sobre os filhos de Saddam. Lembro que notei, em todo o período, um grande "acordão" entre a grande mídia no sentido de produzir uma legitimidade crítica, democrática, lastreada na opinião pública, sobre a importância dos EUA invadirem o Iraque. Os intelectuais que combatiam essa racionalidade não tinham estatura ou bagagem conceitual para serem efetivos. E quando o tinham, como o linguista Noam Chomsky, eram completamente excluídos da grande mídia.
Aqui no Brasil, vejo uma situação semelhante no que toca ao uso da mídia para a realização de determinados objetivos políticos.
Dito isto, centremos nosso debate sobre a crise política ora em curso no país. Setores da esquerda acusam a direita de estar patrocinando a crise, através de seus braços midiáticos e partidários. Outros, tanto da esquerda, quanto da grande área "neutra", que inclui sobretudo jornalistas e analistas políticos, acreditam que a crise foi produzida pela própria esquerda, como um homem-bomba que explodisse em casa, matando sua própria família.
Como quase todas as verdades, o correto está na média ponderada destas duas opiniões. A crise política vivida pelo PT é a eclosão de uma crise reprimida até o momento, contida pela aura de vitória provocada pela eleição de Lula e pelo crescimento do partido, uma crise do próprio socialismo mundial. Naturalmente, a direita, com auxílio luxuoso de seu histórico aliado, a mídia oligárquica, sabe explorar ao máximo essa crise interna do socialismo. Da mesma forma que a esquerda também nunca deixou de se beneficiar das contradições, erros e fraquezas conceituais nas idéias e projetos de seus adversários.
Antes de prosseguirmos, façamos uma breve digressão sobre os termos esquerda e direita. Muita gente, hoje em dia, incluindo grande parte do mundo acadêmico, não gosta mais desses conceitos. Os termos são, de fato, ultrapassados, mas não temos, por enquanto, outros mais adequados. Eu uso esses termos utilizando o senso comum. A linguagem, apesar de dinâmica, é sempre conservadora. Mudar, de forma significativa, uma forma de falar, leva décadas, para não dizer séculos.
Nesse momento, psicografo críticas de vários leitores: "Mas e a corrupção? E o caixa 2 do PT? E Delúbio Soares, Marcos Valério, onde ficam nessa história? Você está tergiversando... A crise não é ideológica. De fato, o que há é somente corrupção, e só isso".
Respeitando a opinião de todos, discordo. Em primeiro lugar, a questão criminal ainda não está esclarecida. O que há, confessadamente, é caixa 2 de campanha. Admite-se que todos os partidos o fazem. Se todos os fazem, é uma prática política, e a legislação eleitoral terá que ser atualizada ou, então, autuar a todos os partidos. Culpa-se o PT por ter pregado a ética e a diferença, mas novamente temos aí uma hipocrisia generalizada. Chegaria o PT aonde chegou sem usar dos mesmos instrumentos de seus adversários? As regras de uma luta não são impostas por um ou outro contendor, mas pela própria luta. Se há erros, é na própria disputa, não no PT. Os segmentos sociais representados pelo PT exigiam a vitória política e não a intransigência a princípios jurídicos. Se os trabalhadores fossem tão agarrados a princípios jurídicos, conforme agora se decreta na mídia, não haveria invasões de terra ou de prédios vazios.
Sei que incorro agora em argumentos arriscados, mas é preciso que ponhamos os pontos nos is. O PT foi um partido fundado por trabalhadores; seus erros, portanto, não são apenas de seus dirigentes, são erros da classe trabalhadora em sua ânsia, justificada, legítima e nobre, de atingir o poder. Em outros tempos, os trabalhadores já fizeram muito pior do que caixa 2 de campanha: já fizeram revoluções sangrentas. É claro que a classe média moralista arrepia-se ao escutar o argumento de que "os fins justificam os meios". Não se trata disso. No caso, trata-se de disputa política. As relações de poder só mudam quando os de cima perdem suas cabeças. Sem a vitória política, os trabalhadores nunca chegariam ao poder, e a sociedade brasileira seria mantida, sabe-se lá por mais quantos anos, na obscuridade quanto às práticas partidárias e à corrupção estatal.
Os trabalhadores no poder foram desajeitados? Não tiveram competência de abafar CPIs? Não conseguiram abafar os escândalos de corrupção? Não conseguiram mentir? Excelente. Isso mostra, mais uma vez, que a classe trabalhadora possui uma moral superior à moral das elites.
Agora, é preciso esclarecer. A classe trabalhadora erra. Não se pode confundir a classe trabalhadora com um coro de anjos. Os trabalhadores bebem, gostam de mulheres (ou homens), gostam de viagens, diversão, tem problemas financeiros, ficam doentes, suas esposas (ou maridos) também gostam de roupas bonitas, assistir filmes, ir à praia. Enfim, a classe trabalhadora é composta de seres humanos, vulneráveis, como todos, à corrupção. O fato de que, em sua grande maioria, o político que representa a classe trabalhadora ter sido sempre pobre e tenha passado por necessidades financeiras, não ajuda em nada. Pelo contrário, sabe-se que grande parte dos corruptos vieram de famílias humildes. É a velha história, a velha promessa de "nunca mais passarei fome" e daí para o vale tudo é um pulo.
Agora, quando vemos parlamentares do PFL tentarem cassar o próprio partido dos trabalhadores por motivo de corrupção, temos uma violação inadmissível das regras democráticas. Parlamentares do PSDB, PFL e PMDB sempre estiveram envolvidos em práticas de corrupção, caixa 2, e nunca sequer se cogitou em cassar os partidos, e sim as pessoas acusadas.
Qualquer candidato a vereador nesse país sabe que, para se eleger, é preciso dinheiro. Esse, aliás, é o grande problema do capitalismo democrático. Elege-se com dinheiro. O marketing, a publicidade, as relações públicas, são instrumentos necessários, essenciais, mas extremamente dispendiosos. Eu tenho uma parente que tentou se eleger vereador por Juiz de Fora, pelo PCdoB, perdeu e está endividada até hoje.
Em outros termos, a classe trabalhadora também precisa de dinheiro para eleger seus candidatos. Marcos Valério conseguiu empréstimos para o partido dos trabalhadores? O problema é de Marcos Valério e da direção do partido naquele momento. Valério, na época, era um sujeito de ficha limpa. E muitas empresas, para conseguir empréstimo no banco, apresentam como garantia contratos com estatais. Isso é normal. Fidel Castro conseguiu dinheiro até com a CIA para financiar a guerrilha.
No caso de Marcos Valério, ele não apenas tinha contratos ainda maiores com empresas privadas, como também com o governo tucano de Minas. E, sempre é bom lembrar, a maioria de seus contratos vieram do governo federal anterior.
Tem problemas aí? Com certeza, deve ter. Dirigentes do PT erraram ao aceitarem a intermediação de Valério. Arriscaram demais e puseram em risco o próprio patrimônio ético e político do PT. Mas daí a culpar o próprio partido dos trabalhadores, é jogar a culpa de um erro de alguns sobre toda a classe trabalhadora representada pelo PT.
Está se produzindo uma grande confusão na opinião pública, com vistas a invialilizar a reeleição de Lula em 2006. Fatos díspares, sempre negativos ao PT, são lançados diariamente na mídia. Não importa a correlação entre eles. Muitos deles são falsos, distorcidos, misturados a acusações reais. O que importa é debilitar, ou mesmo destruir, politicamente a mais forte instituição democrática já construída pelo proletariado nacional.
Sem apoio dos principais meios de comunicação, dos principais segmentos econômicos, Lula e o PT, serão obrigados a comunicar-se diretamente com as massas.
Valter Pomar, vice-presidente recém empossado do PT, escreveu artigo interessante publicado no site do partido, entitulado "Don't Panic: a saída está na margem esquerda", em que argumenta que há um novo projeto político e econômico querendo ser imposto no Brasil, e que não inclui o aumento do salário mínimo que Lula prometeu e vem cumprindo (lenta e prudentemente, mas firmemente). Não inclui o fim do endividamento externo. Não inclui uma Alca soberana para o Brasil. Esse projeto pretende trazer um forte crescimento econômico lastreado numa redução brutal dos gastos públicos, elevação do superávit para até 7% e super-exploração dos trabalhadores.
É esse o Brasil que nos espera, caso o PSDB consiga retomar as rédeas da nação. Infelizmente, não tenho ilusões quanto à posição da maioria dos intelectuais. Um crescimento desse porte pode trazer grande benefício para as classes letradas, no curto prazo. É bom pra classe média, e pode inclusive ser bom pra cultura no curto prazo (venda de livros, peças de teatro, cinema, etc). A opinião pública visível (cartinhas pra jornais, sites e revistas) entrará, como sempre entrou, na onda anti-PT e anti-Lula. Convencer o povo será tarefa mais difícil, mas com um bombardeio televisivo intenso, talvez dê resultados satisfatórios.
Esse projeto político, contudo, é ruim para o povo, para a agricultura familiar, para a grande massa de excluídos. No longo prazo, é um projeto insustentável. É novamente a burguesia querendo chupar o sangue do povo, buscando manter seus privilégios por mais uma ou duas décadas. Mesmo a cultura será prejudicada, pois continuará restrita ao mesmo grupo de privilegiados. A indústria do livro nunca atingirá a massa da população, permanecendo, após um breve boom, estagnada como sempre.
Isso sem contar que, dominando o Brasil, líder da América do Sul, a alta burguesia dá um passo importante para a derrubada de outros governos progressistas do continente: Venezuela, Argentina, Uruguai e os próximos governos de esquerda do Chile, Peru e Bolívia.
Odeio teorias conspiratórias, mas não há como deixar de observar que os serviços de inteligência dos Estados Unidos (CIA e Casa Branca) podem ter detectado que a única maneira de freiar os ímpetos revolucionários que começam a despertar na América Latina é derrubar Lula e recolocar um governante submisso aos interesses do capitalismo norte-americano: a saber, Geraldo Alckmin ou qualquer outro candidato do PSDB.
* 30 anos, jornalista e escritor. Editor do site Arte & Política (www.arteepolitica.com.br). Colunista da revista Novae (www.novae.inf.br).
13 de julho de 2005
Ponderação e honestidade
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Parece papo de velho. E é. Mas o momento é mesmo de trazer o máximo de ponderação e honestidade em nossos debates sobre os rumos políticos do país. Ponderação na linguagem e no conteúdo dos discursos e artigos; honestidade em admitir erros em todas as instâncias do poder e da sociedade civil.
Erraram o governo, os partidos, a imprensa, a opinião pública, mas desses erros nascerão verdades duradouras que servirão como mais um tijolo, mais uma pedrinha para sustentar nossa ainda insegura democracia.
Errou o governo por razões óbvias, por ter se associado a figuras como Roberto Jefferson, o qual soube se aproximar de Lula para enfiar-lhe uma adaga nas costas, mesmo jurando eterna admiração pelo presidente. Há rumores, que prefiro não acreditar, mas que não consideraria como totalmente absurdos, de que o ex-presidente do PTB seria agente da CIA, e teria recebido dinheiro para desestabilizar o governo Lula, com vistas a derrubá-lo e, com isso, debilitar o "mal vermelho" que vem se alastrando pelo continente sul-americano.
Geralmente, é muito difícil para o cidadão comum ler com clareza o que realmente está em jogo no Brasil. Fala-se sobre os lucros recordes dos bancos para ridicularizar a hipótese de que a direita (leia-se os banqueiros) estaria interessada em desestabilizar Lula. Esquece-se, porém, que justamente o fato de estar ganhando tanto dinheiro, faz com que a elite se sinta segura para arquitetar estratégias sutis, como convém à política moderna, para impedir a reeleição de Lula em 2006 e colocar um agente mais confiável do PSDB.
Sim, porque por mais que o governo Lula seja severo quanto às contas públicas e conservador em sua política macro-econômica, as elites, sobretudo seus elos internacionais, permanecem intranquilas quanto ao futuro político da nação.
Só o fato do Brasil ganhar destaque no cenário internacional, já faz com que a disputa pelo poder no país alcance um novo status. Quem dominar o Brasil, dominará a América Latina, isso parece claro para as elites internacionais. Não estou sendo delirante, paranóico ou conspiratório. Isso é uma coisa óbvia e inclusive normal. Digo mais, é até saudável, na medida em que observamos que a dinâmica da história de todas as nações sempre foi afetada pela conjuntura internacional.
Com a Venezuela, oriente médio e a unificada Europa seguindo caminhos cada vez mais originais e independentes das grandes multinacionais norte-americanas, só resta, aos falcões de Bush, fincarem as garras no doce e pacífico Brasil.
Lula conseguiu empurrar, com a barriga, a Alca para um futuro distante, além de exigir condições justas que fizeram hesitar os representantes do Império.
Se estivéssemos sob a batuta dos tucanos, a situação política estaria tensa na América Latina. FHC não teria tanta disposição de ajudar a Venezuela, por exemplo, a sair da crise. Sempre evitando atritos com os EUA, os tucanos não teriam a iniciativa de criar um grupo de amigos da Venezuela, sob a égide da OEA, para fiscalizar o referendo de 2004, que Chávez ganhou. Estaríamos já dentro da Alca, com empresas americanas ganhando licitações junto ao governo.
Arnaldo Jabor é um execelente redator e ensaísta. O fato de ter declarado, em artigo e depois no debate em que participou na Flip (tendo sido vaiado), apoio ao governo anterior, de FHC, revela franqueza raríssimas vezes vista na mídia. Se Estadão, Folha, Veja e Isto é, divulgassem declarações simlares, de que o governo FHC foi o mais moderno que o Brasil já teve, o público teria melhores condições de defender sua autonomia crítica diante das opiniões extremadas e do noticiário muitas vezes tendencioso.
Um verdadeiro conservador, em sua acepção mais nobre, é um homem culto, vivido e articulado. Suas idéias são defendidas com lógica fria. Em geral, o conservador é um pouco mais pessimista que o não-conservador. O conservador não acredita em grandes mudanças na questão social brasileiro. Muitos articulistas e escritores conservadores revelam-se brilhantes no que fazem.
Mas a política moderna, sobretudo no Brasil, que ainda possui um grande vazio institucional, precisa de mais do que palavras bonitas, recheadas de citações de clássicos, ou metáforas criativas e engraçadas, como sói ser o inconfundível estilo de Jabor.
A política moderna precisa ser incisiva sem ser apressada, pragmática sem perder a ideologia, severa sem ser cruel.
Os articulistas não conservadores, ou intelectuais orgânicos da "revolução", se é que ainda cabe usar esse termo aqui, deveriam continuar sua luta incessante pela divulgação de suas idéias, mas sem a arrogância de se considerarem, aprioristicamente, proprietários da verdade.
A senadora Ideli Salvati, do PT, deu entrevista ao Jô Soares de hoje (terça-feira) e mostrou-se pouco à vontade no programa, sobretudo porque ainda não se recuperou emocionalmente da calúnia desferida pelo deputado Roberto Jefferson em sua última atuação na CPI: de que Ideli também estava envolvida no tal escândalo do Mensalão.
O gordo tem sido mais esperto que se imagina. Volta e meia ataca O PT. Mas também tem dado generoso espaço aos parlamentares congressistas se comunicarem com o povo, inclusive do próprio PT. Equilibrando o fato de ser um dos mais importantes formadores de opinião do país e ser empregado das Organizações Globo, Jô tem conseguido lucrar com a crise, fazendo seu programa obter níveis recordes de audiência, ao mesmo tempo em que contribui para a normalização do clima político através do debate democrático, saudável, entre os diversos segmentos políticos. Ciente, tanto por suas próprias pesquisas internas, como pela prestigiada pesquisa do CNT/Sensus, de que Lula se mantém "blindado" contra as denúncias de corrupção, Jô, assim como todos diversos outros articulistas, percebe que esta crise tem muito de artificial. Crimes e corrupção sempre existiram. A diferença é que, agora, estão sendo apurados e gente rica está indo pro xadres.
Lula tem sido inteligente quando evita, a todo custo, criticar o papel hiper-crítico, quase histérico, golpistas para uns, tucanóide para outros, que a imprensa vem assumindo sobre a crise. Em seu últim discurso público no Brasil, durante evento em que se reuniu com lideranças sindicais que foram à Brasília prestar solidariedade e apoio ao presidente, defendeu a liberdade da imprensa. Ressaltou sua importância mesmo em momentos em que a imprensa parece se voltar contra o governo com virulência excessiva.
Paradoxalmente, e contrariando a tese de muitos analistas políticas, o instituto CNT/Sensus divulgou, segundo a Folha, que a popularidade de Lula aumentou em junho para 40%, depois de ter caído a 39% no mês anterior.
Enquanto isso, a Veja, tendenciosa como sempre, divulga pesquisa patrocinada pelo PSDB de que 52% dos brasileiros acham que Lula sabia do mensalão. A própria revista admite a incongruência da pesquisa, porque em outra pergunta, os mesmos 52% afirmam que Lula "é honesto". A pesquisa da Veja ficou totalmente desmoralizada pelos números, mais abrangentes e mais confiáveis do Sensus. Tendo sido o instituto mais usado pela oposição em 2003 para criticar Lula, em função das estimativas do CNT sobre o aumento do desemprego no primeiro ano do atual governo, pega mal, soa derrotismo, pronunciamentos como o de Garotinho, de que a pesquisa teria sido encomendada pelo governo. Serra, prefeito de São Paulo pelo PSDB, inclusive entra em risível contradição, ao desqualificar os dados positivos sobre o governo Lula e elogiar o fato de que os números mostram que ele é ainda o candidato mais forte contra Lula.
Na verdade, não há provas nem de que realmente haveria mensalão. O dinheiro, movimentado por Marcos Valério, pode ser para lobby de deputados, senadores, empresários, ou ambos. Pode ser lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, mil outras coisas. Portanto, é no mínimo leviando realizar uma pesquisa do tipo que a Veja fez, logo nesse momento tão delicado de nossas instituições.
Aliás, vale lembrar a omissão do jornal Nacional desta quarta-feira (13/07/2005) sobre o resultado da pesquisa.
Os jornais tem que se mostrar vigilantes quanto às investigações, mas sem exageros sensacionalistas que encubram interesses eleitorais de políticos que pretendem disputar com Lula a reeleição de 2006.
Pela verdade e pela justiça! E, por falar em justiça, vale lembrar que temos uma Constituição, onde estão expressas as mais puras, nobres e belas frases da literatura brasileira. Toda vez que um novo percentual da Constituição se torna realdade, nos aproximamos mais do sonho de sermos um país melhor, um país de crianças felizes e trabalhadores satisfeitos.
Por falar em trabalhadores satisfeitos, as vendas recordes registradas nas indústrias de automóveis explicam, em boa parte, o inabalável apoio que os principais sindicatos brasileiros vêm manifestando para com o presidente. Em boa situação financeira, as empresas não pensam mais em demissões em massa, e os operários obtém pequenos percentuais sobre os lucros nas vendas.
Erraram o governo, os partidos, a imprensa, a opinião pública, mas desses erros nascerão verdades duradouras que servirão como mais um tijolo, mais uma pedrinha para sustentar nossa ainda insegura democracia.
Errou o governo por razões óbvias, por ter se associado a figuras como Roberto Jefferson, o qual soube se aproximar de Lula para enfiar-lhe uma adaga nas costas, mesmo jurando eterna admiração pelo presidente. Há rumores, que prefiro não acreditar, mas que não consideraria como totalmente absurdos, de que o ex-presidente do PTB seria agente da CIA, e teria recebido dinheiro para desestabilizar o governo Lula, com vistas a derrubá-lo e, com isso, debilitar o "mal vermelho" que vem se alastrando pelo continente sul-americano.
Geralmente, é muito difícil para o cidadão comum ler com clareza o que realmente está em jogo no Brasil. Fala-se sobre os lucros recordes dos bancos para ridicularizar a hipótese de que a direita (leia-se os banqueiros) estaria interessada em desestabilizar Lula. Esquece-se, porém, que justamente o fato de estar ganhando tanto dinheiro, faz com que a elite se sinta segura para arquitetar estratégias sutis, como convém à política moderna, para impedir a reeleição de Lula em 2006 e colocar um agente mais confiável do PSDB.
Sim, porque por mais que o governo Lula seja severo quanto às contas públicas e conservador em sua política macro-econômica, as elites, sobretudo seus elos internacionais, permanecem intranquilas quanto ao futuro político da nação.
Só o fato do Brasil ganhar destaque no cenário internacional, já faz com que a disputa pelo poder no país alcance um novo status. Quem dominar o Brasil, dominará a América Latina, isso parece claro para as elites internacionais. Não estou sendo delirante, paranóico ou conspiratório. Isso é uma coisa óbvia e inclusive normal. Digo mais, é até saudável, na medida em que observamos que a dinâmica da história de todas as nações sempre foi afetada pela conjuntura internacional.
Com a Venezuela, oriente médio e a unificada Europa seguindo caminhos cada vez mais originais e independentes das grandes multinacionais norte-americanas, só resta, aos falcões de Bush, fincarem as garras no doce e pacífico Brasil.
Lula conseguiu empurrar, com a barriga, a Alca para um futuro distante, além de exigir condições justas que fizeram hesitar os representantes do Império.
Se estivéssemos sob a batuta dos tucanos, a situação política estaria tensa na América Latina. FHC não teria tanta disposição de ajudar a Venezuela, por exemplo, a sair da crise. Sempre evitando atritos com os EUA, os tucanos não teriam a iniciativa de criar um grupo de amigos da Venezuela, sob a égide da OEA, para fiscalizar o referendo de 2004, que Chávez ganhou. Estaríamos já dentro da Alca, com empresas americanas ganhando licitações junto ao governo.
Arnaldo Jabor é um execelente redator e ensaísta. O fato de ter declarado, em artigo e depois no debate em que participou na Flip (tendo sido vaiado), apoio ao governo anterior, de FHC, revela franqueza raríssimas vezes vista na mídia. Se Estadão, Folha, Veja e Isto é, divulgassem declarações simlares, de que o governo FHC foi o mais moderno que o Brasil já teve, o público teria melhores condições de defender sua autonomia crítica diante das opiniões extremadas e do noticiário muitas vezes tendencioso.
Um verdadeiro conservador, em sua acepção mais nobre, é um homem culto, vivido e articulado. Suas idéias são defendidas com lógica fria. Em geral, o conservador é um pouco mais pessimista que o não-conservador. O conservador não acredita em grandes mudanças na questão social brasileiro. Muitos articulistas e escritores conservadores revelam-se brilhantes no que fazem.
Mas a política moderna, sobretudo no Brasil, que ainda possui um grande vazio institucional, precisa de mais do que palavras bonitas, recheadas de citações de clássicos, ou metáforas criativas e engraçadas, como sói ser o inconfundível estilo de Jabor.
A política moderna precisa ser incisiva sem ser apressada, pragmática sem perder a ideologia, severa sem ser cruel.
Os articulistas não conservadores, ou intelectuais orgânicos da "revolução", se é que ainda cabe usar esse termo aqui, deveriam continuar sua luta incessante pela divulgação de suas idéias, mas sem a arrogância de se considerarem, aprioristicamente, proprietários da verdade.
A senadora Ideli Salvati, do PT, deu entrevista ao Jô Soares de hoje (terça-feira) e mostrou-se pouco à vontade no programa, sobretudo porque ainda não se recuperou emocionalmente da calúnia desferida pelo deputado Roberto Jefferson em sua última atuação na CPI: de que Ideli também estava envolvida no tal escândalo do Mensalão.
O gordo tem sido mais esperto que se imagina. Volta e meia ataca O PT. Mas também tem dado generoso espaço aos parlamentares congressistas se comunicarem com o povo, inclusive do próprio PT. Equilibrando o fato de ser um dos mais importantes formadores de opinião do país e ser empregado das Organizações Globo, Jô tem conseguido lucrar com a crise, fazendo seu programa obter níveis recordes de audiência, ao mesmo tempo em que contribui para a normalização do clima político através do debate democrático, saudável, entre os diversos segmentos políticos. Ciente, tanto por suas próprias pesquisas internas, como pela prestigiada pesquisa do CNT/Sensus, de que Lula se mantém "blindado" contra as denúncias de corrupção, Jô, assim como todos diversos outros articulistas, percebe que esta crise tem muito de artificial. Crimes e corrupção sempre existiram. A diferença é que, agora, estão sendo apurados e gente rica está indo pro xadres.
Lula tem sido inteligente quando evita, a todo custo, criticar o papel hiper-crítico, quase histérico, golpistas para uns, tucanóide para outros, que a imprensa vem assumindo sobre a crise. Em seu últim discurso público no Brasil, durante evento em que se reuniu com lideranças sindicais que foram à Brasília prestar solidariedade e apoio ao presidente, defendeu a liberdade da imprensa. Ressaltou sua importância mesmo em momentos em que a imprensa parece se voltar contra o governo com virulência excessiva.
Paradoxalmente, e contrariando a tese de muitos analistas políticas, o instituto CNT/Sensus divulgou, segundo a Folha, que a popularidade de Lula aumentou em junho para 40%, depois de ter caído a 39% no mês anterior.
Enquanto isso, a Veja, tendenciosa como sempre, divulga pesquisa patrocinada pelo PSDB de que 52% dos brasileiros acham que Lula sabia do mensalão. A própria revista admite a incongruência da pesquisa, porque em outra pergunta, os mesmos 52% afirmam que Lula "é honesto". A pesquisa da Veja ficou totalmente desmoralizada pelos números, mais abrangentes e mais confiáveis do Sensus. Tendo sido o instituto mais usado pela oposição em 2003 para criticar Lula, em função das estimativas do CNT sobre o aumento do desemprego no primeiro ano do atual governo, pega mal, soa derrotismo, pronunciamentos como o de Garotinho, de que a pesquisa teria sido encomendada pelo governo. Serra, prefeito de São Paulo pelo PSDB, inclusive entra em risível contradição, ao desqualificar os dados positivos sobre o governo Lula e elogiar o fato de que os números mostram que ele é ainda o candidato mais forte contra Lula.
Na verdade, não há provas nem de que realmente haveria mensalão. O dinheiro, movimentado por Marcos Valério, pode ser para lobby de deputados, senadores, empresários, ou ambos. Pode ser lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, mil outras coisas. Portanto, é no mínimo leviando realizar uma pesquisa do tipo que a Veja fez, logo nesse momento tão delicado de nossas instituições.
Aliás, vale lembrar a omissão do jornal Nacional desta quarta-feira (13/07/2005) sobre o resultado da pesquisa.
Os jornais tem que se mostrar vigilantes quanto às investigações, mas sem exageros sensacionalistas que encubram interesses eleitorais de políticos que pretendem disputar com Lula a reeleição de 2006.
Pela verdade e pela justiça! E, por falar em justiça, vale lembrar que temos uma Constituição, onde estão expressas as mais puras, nobres e belas frases da literatura brasileira. Toda vez que um novo percentual da Constituição se torna realdade, nos aproximamos mais do sonho de sermos um país melhor, um país de crianças felizes e trabalhadores satisfeitos.
Por falar em trabalhadores satisfeitos, as vendas recordes registradas nas indústrias de automóveis explicam, em boa parte, o inabalável apoio que os principais sindicatos brasileiros vêm manifestando para com o presidente. Em boa situação financeira, as empresas não pensam mais em demissões em massa, e os operários obtém pequenos percentuais sobre os lucros nas vendas.
# Escrito por
Miguel do Rosário
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quarta-feira, julho 13, 2005
Seja o primeiro a comentar! # Etichette: Política
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9 de julho de 2005
Editorial Arte & Política
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Segue, em primeira mão para os leitores deste blog, o editorial do AP impresso, que será lançado na próxima quinta-feira, na Lapa.
Combate à corrupção não é circo político
O jornal Arte & Política nasceu no início dos anos 90 do desencanto de alguns estudantes com a política burocrática, convencional, partidista, dos diretórios acadêmicos, e da percepção de que a política nacional havia perdido consistência pela falta de criatividade, assim como a arte debilitara-se em função de seu crescente distanciamento da realidade política brasileira.
A pobreza estética da política, pensávamos, era resultado de, por um lado, um marxismo conservador e sectário que desqualificava idéias novas, modernas, mais compreensivas e tolerantes em relação ao individualismo, vaidade e ambições do homem contemporâneo; de outro, um neo-liberalismo egoísta, contraditório, cruel e totalmente inadequado à nossa realidade econômica e social.
A anemia política da arte era consequência de vinte anos de ditadura repressora e da hegemonia de teorias estéticas, importadas (é claro) dos States, que criavam um abismo instransponível entre a produção artística e os anseios políticos de justiça social, fazendo a arte regredir a um estágio infantilóide e alienado.
Tinha de haver uma síntese dialética, acreditávamos, entre a arte e a política. Em cima desta teoria, fundamentada em boa parte sobre pensamentos libertários, criamos o jornal e, desde então, produzimos vinte e oito edições impressas, outras tantas eletrônicas, além das festas de lançamento que vêm se tornando famosas em toda cidade.
Não tínhamos pudor de ser um jornal de opinião. Fomos críticos da visão simplista com que a mídia interpretou o 11 de setembro, negando as óbvias relações com o histórico de terror estatal perpretado pelos Estados Unidos ao longo de toda a segunda metade do século XX (e continuado nestes primeiros anos do séc.XXI).
Também apoiamos Lula em 2002, e festejamos, junto com a grande maioria do povo brasileiro, a vitória do combativo sindicalista que havia criado a CUT, o PT, e simbolizava uma nova era política no país.
Depois, criticamos o desencanto fariseu que, mal se inicia o governo Lula, cobrava mudanças impossíveis no curto prazo. Compreendemos as dificuldades inerentes à gestão de um Estado quase falido por oito anos de desgoverno tucano e fragilizado pela hostilidade perigosa de poderosas forças financeiras.
Com alegria, vimos o presidente Lula superar as dificuldades iniciais e, já no segundo ano, trazer estabilidade econômica e política ao país e firmar importantes parcerias internacionais.
O tempo passou e agora, na metade de 2005, assistimos estarrecidos, como todos os brasileiros, a deflagração de uma crise política de proporções inquietantes, envolvendo figuras do alto escalão governamental, atingidas por denúncias feitas pelo deputado federal Roberto Jefferson. E acompanhamos, desconfiados, embora receptivos, o aparecimento de indícios de que a cúpula do partido que governa o país estaria envolvida num enorme esquema de corrupção.
A crise aumentou, surgiram novos atores, novas testemunhas e novos documentos numa trama obscura na qual se mesclam corrupção e jogo político.
De repente, a crise tomou tal vulto, que não nos sentimos preparados ou informados o suficiente para prosseguirmos colocando a mão no fogo por figuras em quem depositávamos nossa confiança. Mas não queremos copiar os erros da imprensa venezuelana que, atiçada por uma clima emocional carregado de hostilidade e preconceito, patrocinou um golpe hediondo contra a primeira democracia das Américas. Também não queremos repetir o mesmo discurso derrotista dos que confundem "esquerda" com "amargura" e "desencanto", nem legitimar a ladainha oportunista de figuras com pretensões eleitorais.
Desejamos, até que tudo fique esclarecido, nos manter neutros em relação ao governo cuja eleição apoiamos, mas diante do qual nos sentimos livres para criticar, e fincar nossa bandeira longe de partidos e mais perto dos movimentos sociais. Quando as verdades vierem à tona, juntamente com documentos e provas esclarecedoras (não valem vagas suspeitas ou ilações maldosas feitas pela imprensa), estaremos ao lado da justiça.
Por fim, queremos deixar claro que não aceitamos que agentes obscuros se aproveitem do momento delicado em que vive o país, com o Congresso Nacional desmoralizado por denúncias intestinas, para produzir, juntamente com a mídia oligárquica, uma campanha de desestabilização política a um governo eleito pelo voto popular.
Combate à corrupção não é circo político
O jornal Arte & Política nasceu no início dos anos 90 do desencanto de alguns estudantes com a política burocrática, convencional, partidista, dos diretórios acadêmicos, e da percepção de que a política nacional havia perdido consistência pela falta de criatividade, assim como a arte debilitara-se em função de seu crescente distanciamento da realidade política brasileira.
A pobreza estética da política, pensávamos, era resultado de, por um lado, um marxismo conservador e sectário que desqualificava idéias novas, modernas, mais compreensivas e tolerantes em relação ao individualismo, vaidade e ambições do homem contemporâneo; de outro, um neo-liberalismo egoísta, contraditório, cruel e totalmente inadequado à nossa realidade econômica e social.
A anemia política da arte era consequência de vinte anos de ditadura repressora e da hegemonia de teorias estéticas, importadas (é claro) dos States, que criavam um abismo instransponível entre a produção artística e os anseios políticos de justiça social, fazendo a arte regredir a um estágio infantilóide e alienado.
Tinha de haver uma síntese dialética, acreditávamos, entre a arte e a política. Em cima desta teoria, fundamentada em boa parte sobre pensamentos libertários, criamos o jornal e, desde então, produzimos vinte e oito edições impressas, outras tantas eletrônicas, além das festas de lançamento que vêm se tornando famosas em toda cidade.
Não tínhamos pudor de ser um jornal de opinião. Fomos críticos da visão simplista com que a mídia interpretou o 11 de setembro, negando as óbvias relações com o histórico de terror estatal perpretado pelos Estados Unidos ao longo de toda a segunda metade do século XX (e continuado nestes primeiros anos do séc.XXI).
Também apoiamos Lula em 2002, e festejamos, junto com a grande maioria do povo brasileiro, a vitória do combativo sindicalista que havia criado a CUT, o PT, e simbolizava uma nova era política no país.
Depois, criticamos o desencanto fariseu que, mal se inicia o governo Lula, cobrava mudanças impossíveis no curto prazo. Compreendemos as dificuldades inerentes à gestão de um Estado quase falido por oito anos de desgoverno tucano e fragilizado pela hostilidade perigosa de poderosas forças financeiras.
Com alegria, vimos o presidente Lula superar as dificuldades iniciais e, já no segundo ano, trazer estabilidade econômica e política ao país e firmar importantes parcerias internacionais.
O tempo passou e agora, na metade de 2005, assistimos estarrecidos, como todos os brasileiros, a deflagração de uma crise política de proporções inquietantes, envolvendo figuras do alto escalão governamental, atingidas por denúncias feitas pelo deputado federal Roberto Jefferson. E acompanhamos, desconfiados, embora receptivos, o aparecimento de indícios de que a cúpula do partido que governa o país estaria envolvida num enorme esquema de corrupção.
A crise aumentou, surgiram novos atores, novas testemunhas e novos documentos numa trama obscura na qual se mesclam corrupção e jogo político.
De repente, a crise tomou tal vulto, que não nos sentimos preparados ou informados o suficiente para prosseguirmos colocando a mão no fogo por figuras em quem depositávamos nossa confiança. Mas não queremos copiar os erros da imprensa venezuelana que, atiçada por uma clima emocional carregado de hostilidade e preconceito, patrocinou um golpe hediondo contra a primeira democracia das Américas. Também não queremos repetir o mesmo discurso derrotista dos que confundem "esquerda" com "amargura" e "desencanto", nem legitimar a ladainha oportunista de figuras com pretensões eleitorais.
Desejamos, até que tudo fique esclarecido, nos manter neutros em relação ao governo cuja eleição apoiamos, mas diante do qual nos sentimos livres para criticar, e fincar nossa bandeira longe de partidos e mais perto dos movimentos sociais. Quando as verdades vierem à tona, juntamente com documentos e provas esclarecedoras (não valem vagas suspeitas ou ilações maldosas feitas pela imprensa), estaremos ao lado da justiça.
Por fim, queremos deixar claro que não aceitamos que agentes obscuros se aproveitem do momento delicado em que vive o país, com o Congresso Nacional desmoralizado por denúncias intestinas, para produzir, juntamente com a mídia oligárquica, uma campanha de desestabilização política a um governo eleito pelo voto popular.
Editorial de Arte & Política
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Ao final desta tarde, estarei publicando, neste blog, um esboço com o editorial para a nova edição impressa de Arte & Política. Haverá festa de lançamento na próxima quinta-feira 14, na Lapa, no Casarão Cultural dos Arcos.
Abordarei, naturalmente, fatos relacionados à crise política.
Abordarei, naturalmente, fatos relacionados à crise política.
8 de julho de 2005
O perigo tucano ronda Pindorama
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Inúmeras vezes, observando a perfomance de Lula na liderança do governo federal, penso em seus defeitos e erros.
Agora, em meio à crise, notando que Lula revela uma fragilidade política até então desconhecida, também senti, em vários momentos, inclinação para criticá-lo.
Então, pensei: não, não entrarei no rebanho dócil tocado pela mídia. Não confundirei as coisas. A crise mostra que Lula, governo e PT, erram, e muito, mas não podemos achar que qualquer outro governante ou partido seria perfeito.
Lula não é perfeito. Quando avaliamos um governante, não devemos cobrar perfeição dele, nem de seu governo. Em primeiro lugar, temos um Estado com problemas seculares: quantas vezes o MST já fez críticas ao fato de que funcionários do Incra atrasavam a entrega de documentos relativos à reforma agrária, mesmo após a decisão ter partido das altas esferas do governo?
Em política, devemos pensar em termos de luta política. Quem se beneficiaria com o fim do governo Lula? O cidadão, a organização, o partido, seja qual for o segmento social que critica Lula deve entender que existe uma diferença entre a crítica construtiva e a destrutiva.
O que está sendo feito agora, e sendo transformado em crise, é destrutivo, e visa alçar novamente ao poder o Partido Social Democrata Brasileiro, o famoso PSDB.
A estratégia de Fernando Henrique Cardoso de pressionar Lula para não disputar a reeleição, ou pior, terminar com a própria instituição da reeleição, é de um cinismo inacreditável. E mais incrível ainda é que o espírito de cinismo paira, na maior cara de pau, pelos colunistas da Folha.
Vale refletir como os colunistas ascendem hierarquicamente nos grandes jornais. Fácil: compreendendo como pensam seus patrões e vestindo a camisa das mesmas idéias. E sabemos muito bem como pensam os donos da Folha. Tanto a Folha como o Estadão apoiaram, abertamente, o candidato José Serra.
O que me aborrece é ver como grande parte da opinião pública se mostra vulnerável às essas estratégias. Há ainda aquele segmento constante de pessoas que confundem seus problemas pessoais, suas amarguras, com o momento do país. Quinhentos anos de pobreza e injustiça social também tiveram consequências sobre a psicologia coletiva, produzindo uma massa de descrentes na democracia, na política, e na própria possibilidade de justiça social.
Não ao déficit nominal zero - A proposta de Delfim Netto começa a causar polêmica. Inicialmente, sem conhecê-la direito, pensei que seria uma possiblidade do Brasil superar a questão dos juros altos. Entretanto, havia deixado claro que a proposta teria que passar pelo crivo do debate público. Pois bem. Parece que, já de início, o "debate público" já a condenou. Então eu, humildemente, acato a opinião de gente mais preparada que eu e passo a condenar também tal medida como imprópria politicamente, perigosa economicamente e explosiva socialmente. A matéria que me convenceu da inviabilidade e mesmo de seu aspecto anti-social está na Agência Carta Maior, aqui.
Agora, em meio à crise, notando que Lula revela uma fragilidade política até então desconhecida, também senti, em vários momentos, inclinação para criticá-lo.
Então, pensei: não, não entrarei no rebanho dócil tocado pela mídia. Não confundirei as coisas. A crise mostra que Lula, governo e PT, erram, e muito, mas não podemos achar que qualquer outro governante ou partido seria perfeito.
Lula não é perfeito. Quando avaliamos um governante, não devemos cobrar perfeição dele, nem de seu governo. Em primeiro lugar, temos um Estado com problemas seculares: quantas vezes o MST já fez críticas ao fato de que funcionários do Incra atrasavam a entrega de documentos relativos à reforma agrária, mesmo após a decisão ter partido das altas esferas do governo?
Em política, devemos pensar em termos de luta política. Quem se beneficiaria com o fim do governo Lula? O cidadão, a organização, o partido, seja qual for o segmento social que critica Lula deve entender que existe uma diferença entre a crítica construtiva e a destrutiva.
O que está sendo feito agora, e sendo transformado em crise, é destrutivo, e visa alçar novamente ao poder o Partido Social Democrata Brasileiro, o famoso PSDB.
A estratégia de Fernando Henrique Cardoso de pressionar Lula para não disputar a reeleição, ou pior, terminar com a própria instituição da reeleição, é de um cinismo inacreditável. E mais incrível ainda é que o espírito de cinismo paira, na maior cara de pau, pelos colunistas da Folha.
Vale refletir como os colunistas ascendem hierarquicamente nos grandes jornais. Fácil: compreendendo como pensam seus patrões e vestindo a camisa das mesmas idéias. E sabemos muito bem como pensam os donos da Folha. Tanto a Folha como o Estadão apoiaram, abertamente, o candidato José Serra.
O que me aborrece é ver como grande parte da opinião pública se mostra vulnerável às essas estratégias. Há ainda aquele segmento constante de pessoas que confundem seus problemas pessoais, suas amarguras, com o momento do país. Quinhentos anos de pobreza e injustiça social também tiveram consequências sobre a psicologia coletiva, produzindo uma massa de descrentes na democracia, na política, e na própria possibilidade de justiça social.
Não ao déficit nominal zero - A proposta de Delfim Netto começa a causar polêmica. Inicialmente, sem conhecê-la direito, pensei que seria uma possiblidade do Brasil superar a questão dos juros altos. Entretanto, havia deixado claro que a proposta teria que passar pelo crivo do debate público. Pois bem. Parece que, já de início, o "debate público" já a condenou. Então eu, humildemente, acato a opinião de gente mais preparada que eu e passo a condenar também tal medida como imprópria politicamente, perigosa economicamente e explosiva socialmente. A matéria que me convenceu da inviabilidade e mesmo de seu aspecto anti-social está na Agência Carta Maior, aqui.
7 de julho de 2005
Notícias do front
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As jornalistas Teresa Kruvinel, Cristina Lobo, mais uma representante do JB e outra da revista Isto é, realizaram um debate interessante hoje no programa do Jô. O gordo, aliás, vem dedicando espaço integral de seus programas à crise política, numa atitude que acho muito responsável de sua parte, porque permite à opinião pública beber um pouco mais de esclarecimentos em assunto que vem se revelando tão complexo.
Kruvinel e Lobo mostram-se, desde sua primeira participação no Jô, bem críticas e ponderadas em relação a tudo que está acontecendo. Parecem conscientes do papel crucial que exercem na vida política nacional. Lobo deu sua versão sobre o que seja o mensalão. Presidentes de partidos políticos, com esquemas montados dentro de estatais, desviavam verba pública e pagavam determinada soma para que parlamentares mudassem de partido político.
O depoimento de Valério trouxe um pouco mais de confusão ao debate, em vista da tranquilidade inquietante demonstrada pelo publicitário na CPI. Há confronto direto entre afirmações dele e de Jefferson. Aliás, a situação de Jefferson vem se complicando. O sujeito que ajudou a montar o equipamento que gravaria a conversa com Maurício Marinho, o funcionário dos Correios flagrado recebendo 3 mil reais em dinheiro, disse que agiu sob orientação de Jefferson. Esta afirmação corrobora a tese de que Jefferson queria pegar Marinho pelo fato do funcionário não estar repassando dinheiro dos Correios para o PTB, e sim embolsando ele mesmo.
A crise vem causando forte estrago na imagem dos politicos. O sensacionalismo descontrolado da mídia pode contribuir para o surgimento de lideranças messiâncias com propostas de moralizar o país.
Tucanos de bico negro sobrevoam os vales da morte.
Kruvinel e Lobo mostram-se, desde sua primeira participação no Jô, bem críticas e ponderadas em relação a tudo que está acontecendo. Parecem conscientes do papel crucial que exercem na vida política nacional. Lobo deu sua versão sobre o que seja o mensalão. Presidentes de partidos políticos, com esquemas montados dentro de estatais, desviavam verba pública e pagavam determinada soma para que parlamentares mudassem de partido político.
O depoimento de Valério trouxe um pouco mais de confusão ao debate, em vista da tranquilidade inquietante demonstrada pelo publicitário na CPI. Há confronto direto entre afirmações dele e de Jefferson. Aliás, a situação de Jefferson vem se complicando. O sujeito que ajudou a montar o equipamento que gravaria a conversa com Maurício Marinho, o funcionário dos Correios flagrado recebendo 3 mil reais em dinheiro, disse que agiu sob orientação de Jefferson. Esta afirmação corrobora a tese de que Jefferson queria pegar Marinho pelo fato do funcionário não estar repassando dinheiro dos Correios para o PTB, e sim embolsando ele mesmo.
A crise vem causando forte estrago na imagem dos politicos. O sensacionalismo descontrolado da mídia pode contribuir para o surgimento de lideranças messiâncias com propostas de moralizar o país.
Tucanos de bico negro sobrevoam os vales da morte.
6 de julho de 2005
Não jogaremos a toalha
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Tenho acompanhado atentamente tudo que vem sendo escrito sobre a crise, e vejo que alguns argumentos se repetem. Um deles, por exemplo, remete à desesperança, ao desencanto e mesmo à desistência de militantes no tocante à luta por justiça social. Pois bem, a mim parece que existem forças que estão sempre querendo enterrar a esperança. Não, não são forças da direita. Essas forças também estão na esquerda. São forças que, mais que políticas, são morais. É a força, ou falta de força, da senilidade, de pessoas que confundem a proximidade da morte com o fim do país. Ou confundem o fracasso pessoal, ideológico, no sentido de compreender as complexidades da vida e do mundo, com o fracasso da política, com o fracasso do país.
Não posso dizer quanto aos outros, mas digo que, no meu caso, não existe nenhum desencanto, nem fraqueza. Esta crise política, que não considero mais artificial, mas sim extremamente inflada pela mídia, só fez aumentar minha vontade em lutar pela causa da justiça social.
Nos anos 90, houve uma grande inversão de valores. Artistas e intelectuais conservadores, entre eles a chamada nova geração de blogueiros, sentiram-se no píncaro do prestígio. Todos aqueles adolescentes que fizeram intercâmbio para os Estados Unidos nos anos 80, passaram a arrotar seus conhecimentos da cultura norte-americana com inaudita arrogância. Yes, man, I am so fucking smart! The book is on the table, yeah!!
Sem bandeiras políticas, passaram a dedicar-se a denegrir e criticar a esquerda.
Tudo bem, tudo maravilhoso. Esses jovens fazem parte da vida social brasileira e suas críticas também ajudaram a modernizar a esquerda nacional. No entanto, vejo que a atual crise política, que vem deixando a todos atarantados, trouxe à baila a insatisfação de segmentos minoritários do PT para com os rumos ditados pelo Campo Majoritário. Critica-se o pragmatismo eleitoral do PT moderno, quando foi justamente esse pragmatismo que permitiu o crescimento do partido e o afastou da tendência ao desaparecimento que tragou outros partidos de esquerda na década de 90.
Dentro do PT e na esquerda em geral, há sempre os arautos do fracasso. Marcos Aurélio Weissheimer, da Agência Carta Maior, em seu último artigo, "Crise no PT tem nome e sobrenome", fala que a crise é resultado do fracasso do chamado Campo Majoritário. Como fracasso? Não ganhou o PT o governo federal? Na realidade, a crise é resultado do sucesso do PT, que cresceu rápido demais, entrou em contato com realidades novíssimas e ainda não sabe lidar com elas de maneira eficiente. Mas quem é que sabe? A vida, para qualquer ser humano e qualquer partido, é sempre um turbilhão de surpresas, e o verdadeiro aprendizado só acontece na prática.
Weissheimer entra em contradição diversas vezes em seu artigo. Admite que as novas estratégias do PT foram resultado de consenso, foram escolhas democráticas, feitas por militantes e integrantes do partido; e, no entanto, repete o velho bordão de que o novo PT seria uma negação do PT primordial. Deseja ele um retrocesso?
O PT, como partido moderno, que objetiva o poder (e não há mal nisso, pois só o poder transforma a realidade social), precisa estar sempre mudando. Não é possível que fique amarrado a procedimentos e estratégias do passado. O PT moderno não foi uma escolha de Genoíno ou Dirceu. Foi uma escolha de 53 milhões de eleitores.
Naturalmente, para intelectuais com ranço acadêmico, seria sempre mais confortável um partido de esquerda acadêmico, cuja atuação se limitasse ao discurso abstrato, à crítica literária ao neo-liberalismo. Mas não é isso que o povo deseja. O povo quer ver o país crescendo, quer ver caras novas no poder. Se a esquerda continuasse, ou continuar, a fazer cara de nojo para a política, então a direita, que pelo menos não tem pudor de gostar do poder, voltará a ditar as cartas no país, se é que não continua ditando hoje.
Há quem diga que os conceitos de esquerda e direita estão ultrapassados desde a queda do muro de Berlim. Tenho sido crítico desta visão, que no fundo carrega, em si, a teoria do pensamento único. No entanto, reconheço certa razão em seus argumentos. Os grandes pensadores ensinam que as verdades não ficam depositadas em posições extremadas, mas flutuam sempre próximas ao que se chama de bom senso, e posições ponderadas sempre são vitoriosas em qualquer discussão.
Ou seja, nem esquerda e direita deixaram de existir, nem possuem o mesmo sentido do passado. O fato é que estes são conceitos acadêmicos, abstratos, que variam com o tempo. Ao povo interessa o combate à fome, à miséria, ao desemprego, e não se Lula ou o PT está sendo tão de esquerda quanto pensam intelectuais que escrevem para o site A ou B.
Consenso n#1: O melhor programa social do Brasil é o crescimento econômico. Com uma população de mais de 180 milhões de habitantes, das quais mais de 50 milhões são pobres, seria impensável supor que o Estado poderia resolver, por si só, o problema social.
Diferença n#1: A esquerda sabe que o Estado, mesmo não podendo dar assistência à todos os pobres do país, deve se concentrar nos segmentos mais miseráveis, a fim de evitar uma explosão social, e sobretudo por razões estritamente humanitárias. São segmentos que não serão alcançados por nenhum crescimento econômico, pelo menos não antes que consigam uma melhora na auto-estima.
Já a direita não concorda com essa tese. Acha que os miseráveis são consequência natural do capitalismo; são preguiçosos ou descendentes de preguiçosos e sua incorporação à sociedade de mercado deve se pautar pelo mercado; devem lutar para conseguir inserir-se, inicialmente, nos trabalhos mais primários.
Existem outros consensos e outras diferenças. A sabedoria de Lula está em amarrar os agentes econômicos antagônicos a seu governo em políticas de consenso, para poder deslanchar políticas "não-consensuais", como o Bolsa Família, os programas de financiamento à agricultura familiar e a política externa.
O governo passou os dois primeiros anos arrumando a casa, e justamente quando a estabilidade econômica e monetária, a deflação, o crescimento no emprego, na renda, na indústria, na exportação, formavam a conjuntura necessária para a implementação de projetos sociais mais ousados, além da redução nos impostos, vem a crise, como uma bomba política que interrompesse o processo de paz.
Reitero: não acho que seja conspiração da direita. Trata-se de luta política, com participação da mídia. Há corrupção no PT? Sim. Há corrupção no governo? Sim. Mas existe investigação? Existe. A PF e o Ministério Público estão investigando? Estão. A PF pediu a quebra do sigilo bancário do PT. Alguém já pensou em algo parecido nas contas do PSDB, em pleno governo tucano? Não.
Existe alguma coisa bem diferente no país. E pra melhor. Há corrupção? Há. Mas também há mais transparência: foi o decreto de Lula contra a lavagem de dinheiro, obrigando bancos a informarem saques em valor superior a 100 mil reais, que permitiu à sociedade capturar Valério. Foi a modernização da Polícia Federal, com investimento em tecnologia e proridade à repressão de crimes de colarinho branco, o que tem permitido à instituição a agilidade e a independência no combate à corrupção nos altos escalões.
É preciso entender que a mentira está nas entrelinhas, nas ligeiras (mas essenciais) distorções da verdade, no exagero, na associação de fatos díspares, na omissão de fatores. É assim que os jornais vêm fabricando uma crise cada vez maior, demonizando figuras como Delúbio Soares, Dirceu e Genoíno. Usa-se uma verdade pequena para legitimar uma mentira grande. Quando se pedem provas, divulgam pistas. Quando se pedem pistas, divulgam boatos, ou "intuições" Jeffersianas.
Nas últimas entrevistas de Jefferson e Genoíno, é impressionante como os jornalistas tentam, de todas as formas, fazer os entrevistados cair em armadilhas retóricas, e principalmente, como tentam chegar à figura de Lula.
O Globo mantém um colunista radicalmente reacionário, como Olavo de Carvalho, que escreve aos sábados, e se quisesse ser realmente neutro politicamente, teria que dar espaço à um outro, radicalmente revolucionário. Mas não. Olavo, com sua ladainha agressivamente conservadora, tem espaço garantido. É a verdadeira face do Globo.
É sintomático que o Arnaldo Jabor também venha ficando cada vez mais agressivo. Somos bombardeados semanalmente por sua adolescência idílica, quando ele e outros "artistas" brincavam de fazer política. É a maneira dele de se desculpar de seu passado romântico.
Hoje, Jabor chama a esquerda brasileira de "burra", "estúpida", o que supõe, nele mesmo, um juiz dotado de extrema inteligência, e diz que o governo de FHC foi "o mais moderno que já teve esse país". Alguém poderia lembrar ao Jabor quem foi mesmo FHC. Alguém poderia lembrá-lo dos mais de cem escândalos de corrupção de FHC? Alguém poderia lembrá-lo de que FHC mais que triplicou a dívida pública brasileira, peso que ainda hoje carregamos, e que é a grande Cruz do governo Lula? Alguém pode lembrá-lo que ele fez o país se ajoelhar diante do FMI? Alguém pode lembrá-lo que ele sucateou, no quesito qualidade, o ensino público? Que criminalizou os movimentos sociais? Fez uma política externa abaixo da medíocre? Que quase quebrou o país em 1999 com uma política cambial arrogante e incompetente? Que elevou os juros a quase 50%?
O negócio é que os colunistas e apresentadores da grande imprensa brasileira estão à serviço da classe dominante. E isso não é teoria conspiratória, é apenas o óbvio ululante. A grande imprensa não ajudou Lula a se eleger e não vai ajudar ele a se reeleger, agora isso está claro. Não tem problema. Quem elegerá Lula, mais uma vez, não será a mídia. Será o povo.
Assim como Chávez venceu a mídia golpista venezuelana, Lula pode vencer a mídia (que finge que não é) golpista brasileira.
Não posso dizer quanto aos outros, mas digo que, no meu caso, não existe nenhum desencanto, nem fraqueza. Esta crise política, que não considero mais artificial, mas sim extremamente inflada pela mídia, só fez aumentar minha vontade em lutar pela causa da justiça social.
Nos anos 90, houve uma grande inversão de valores. Artistas e intelectuais conservadores, entre eles a chamada nova geração de blogueiros, sentiram-se no píncaro do prestígio. Todos aqueles adolescentes que fizeram intercâmbio para os Estados Unidos nos anos 80, passaram a arrotar seus conhecimentos da cultura norte-americana com inaudita arrogância. Yes, man, I am so fucking smart! The book is on the table, yeah!!
Sem bandeiras políticas, passaram a dedicar-se a denegrir e criticar a esquerda.
Tudo bem, tudo maravilhoso. Esses jovens fazem parte da vida social brasileira e suas críticas também ajudaram a modernizar a esquerda nacional. No entanto, vejo que a atual crise política, que vem deixando a todos atarantados, trouxe à baila a insatisfação de segmentos minoritários do PT para com os rumos ditados pelo Campo Majoritário. Critica-se o pragmatismo eleitoral do PT moderno, quando foi justamente esse pragmatismo que permitiu o crescimento do partido e o afastou da tendência ao desaparecimento que tragou outros partidos de esquerda na década de 90.
Dentro do PT e na esquerda em geral, há sempre os arautos do fracasso. Marcos Aurélio Weissheimer, da Agência Carta Maior, em seu último artigo, "Crise no PT tem nome e sobrenome", fala que a crise é resultado do fracasso do chamado Campo Majoritário. Como fracasso? Não ganhou o PT o governo federal? Na realidade, a crise é resultado do sucesso do PT, que cresceu rápido demais, entrou em contato com realidades novíssimas e ainda não sabe lidar com elas de maneira eficiente. Mas quem é que sabe? A vida, para qualquer ser humano e qualquer partido, é sempre um turbilhão de surpresas, e o verdadeiro aprendizado só acontece na prática.
Weissheimer entra em contradição diversas vezes em seu artigo. Admite que as novas estratégias do PT foram resultado de consenso, foram escolhas democráticas, feitas por militantes e integrantes do partido; e, no entanto, repete o velho bordão de que o novo PT seria uma negação do PT primordial. Deseja ele um retrocesso?
O PT, como partido moderno, que objetiva o poder (e não há mal nisso, pois só o poder transforma a realidade social), precisa estar sempre mudando. Não é possível que fique amarrado a procedimentos e estratégias do passado. O PT moderno não foi uma escolha de Genoíno ou Dirceu. Foi uma escolha de 53 milhões de eleitores.
Naturalmente, para intelectuais com ranço acadêmico, seria sempre mais confortável um partido de esquerda acadêmico, cuja atuação se limitasse ao discurso abstrato, à crítica literária ao neo-liberalismo. Mas não é isso que o povo deseja. O povo quer ver o país crescendo, quer ver caras novas no poder. Se a esquerda continuasse, ou continuar, a fazer cara de nojo para a política, então a direita, que pelo menos não tem pudor de gostar do poder, voltará a ditar as cartas no país, se é que não continua ditando hoje.
Há quem diga que os conceitos de esquerda e direita estão ultrapassados desde a queda do muro de Berlim. Tenho sido crítico desta visão, que no fundo carrega, em si, a teoria do pensamento único. No entanto, reconheço certa razão em seus argumentos. Os grandes pensadores ensinam que as verdades não ficam depositadas em posições extremadas, mas flutuam sempre próximas ao que se chama de bom senso, e posições ponderadas sempre são vitoriosas em qualquer discussão.
Ou seja, nem esquerda e direita deixaram de existir, nem possuem o mesmo sentido do passado. O fato é que estes são conceitos acadêmicos, abstratos, que variam com o tempo. Ao povo interessa o combate à fome, à miséria, ao desemprego, e não se Lula ou o PT está sendo tão de esquerda quanto pensam intelectuais que escrevem para o site A ou B.
Consenso n#1: O melhor programa social do Brasil é o crescimento econômico. Com uma população de mais de 180 milhões de habitantes, das quais mais de 50 milhões são pobres, seria impensável supor que o Estado poderia resolver, por si só, o problema social.
Diferença n#1: A esquerda sabe que o Estado, mesmo não podendo dar assistência à todos os pobres do país, deve se concentrar nos segmentos mais miseráveis, a fim de evitar uma explosão social, e sobretudo por razões estritamente humanitárias. São segmentos que não serão alcançados por nenhum crescimento econômico, pelo menos não antes que consigam uma melhora na auto-estima.
Já a direita não concorda com essa tese. Acha que os miseráveis são consequência natural do capitalismo; são preguiçosos ou descendentes de preguiçosos e sua incorporação à sociedade de mercado deve se pautar pelo mercado; devem lutar para conseguir inserir-se, inicialmente, nos trabalhos mais primários.
Existem outros consensos e outras diferenças. A sabedoria de Lula está em amarrar os agentes econômicos antagônicos a seu governo em políticas de consenso, para poder deslanchar políticas "não-consensuais", como o Bolsa Família, os programas de financiamento à agricultura familiar e a política externa.
O governo passou os dois primeiros anos arrumando a casa, e justamente quando a estabilidade econômica e monetária, a deflação, o crescimento no emprego, na renda, na indústria, na exportação, formavam a conjuntura necessária para a implementação de projetos sociais mais ousados, além da redução nos impostos, vem a crise, como uma bomba política que interrompesse o processo de paz.
Reitero: não acho que seja conspiração da direita. Trata-se de luta política, com participação da mídia. Há corrupção no PT? Sim. Há corrupção no governo? Sim. Mas existe investigação? Existe. A PF e o Ministério Público estão investigando? Estão. A PF pediu a quebra do sigilo bancário do PT. Alguém já pensou em algo parecido nas contas do PSDB, em pleno governo tucano? Não.
Existe alguma coisa bem diferente no país. E pra melhor. Há corrupção? Há. Mas também há mais transparência: foi o decreto de Lula contra a lavagem de dinheiro, obrigando bancos a informarem saques em valor superior a 100 mil reais, que permitiu à sociedade capturar Valério. Foi a modernização da Polícia Federal, com investimento em tecnologia e proridade à repressão de crimes de colarinho branco, o que tem permitido à instituição a agilidade e a independência no combate à corrupção nos altos escalões.
É preciso entender que a mentira está nas entrelinhas, nas ligeiras (mas essenciais) distorções da verdade, no exagero, na associação de fatos díspares, na omissão de fatores. É assim que os jornais vêm fabricando uma crise cada vez maior, demonizando figuras como Delúbio Soares, Dirceu e Genoíno. Usa-se uma verdade pequena para legitimar uma mentira grande. Quando se pedem provas, divulgam pistas. Quando se pedem pistas, divulgam boatos, ou "intuições" Jeffersianas.
Nas últimas entrevistas de Jefferson e Genoíno, é impressionante como os jornalistas tentam, de todas as formas, fazer os entrevistados cair em armadilhas retóricas, e principalmente, como tentam chegar à figura de Lula.
O Globo mantém um colunista radicalmente reacionário, como Olavo de Carvalho, que escreve aos sábados, e se quisesse ser realmente neutro politicamente, teria que dar espaço à um outro, radicalmente revolucionário. Mas não. Olavo, com sua ladainha agressivamente conservadora, tem espaço garantido. É a verdadeira face do Globo.
É sintomático que o Arnaldo Jabor também venha ficando cada vez mais agressivo. Somos bombardeados semanalmente por sua adolescência idílica, quando ele e outros "artistas" brincavam de fazer política. É a maneira dele de se desculpar de seu passado romântico.
Hoje, Jabor chama a esquerda brasileira de "burra", "estúpida", o que supõe, nele mesmo, um juiz dotado de extrema inteligência, e diz que o governo de FHC foi "o mais moderno que já teve esse país". Alguém poderia lembrar ao Jabor quem foi mesmo FHC. Alguém poderia lembrá-lo dos mais de cem escândalos de corrupção de FHC? Alguém poderia lembrá-lo de que FHC mais que triplicou a dívida pública brasileira, peso que ainda hoje carregamos, e que é a grande Cruz do governo Lula? Alguém pode lembrá-lo que ele fez o país se ajoelhar diante do FMI? Alguém pode lembrá-lo que ele sucateou, no quesito qualidade, o ensino público? Que criminalizou os movimentos sociais? Fez uma política externa abaixo da medíocre? Que quase quebrou o país em 1999 com uma política cambial arrogante e incompetente? Que elevou os juros a quase 50%?
O negócio é que os colunistas e apresentadores da grande imprensa brasileira estão à serviço da classe dominante. E isso não é teoria conspiratória, é apenas o óbvio ululante. A grande imprensa não ajudou Lula a se eleger e não vai ajudar ele a se reeleger, agora isso está claro. Não tem problema. Quem elegerá Lula, mais uma vez, não será a mídia. Será o povo.
Assim como Chávez venceu a mídia golpista venezuelana, Lula pode vencer a mídia (que finge que não é) golpista brasileira.
Ilações maldosas
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O lenço de Desdêmena em mãos de um outro homem continua sendo a prova principal para que Otelo a condene e a mate. Existem provas, suspeitas e ilícitos, mas daí à conclusão de que os dirigentes do PT, Dirceu e Genoíno, estejam envolvidos, é outra história.
Continuo como sempre na contra-mão da mídia, e apostando que esteja havendo uma grande fraude midiática com vistas à desestabilizar o governo Lula.
Miriam Leitão, na mesma linha que quase todos os colunistas e apresentadores, continua escarnecendo da teoria conspiratória apresentada por Delúbio Soares e pelos movimentos sociais, segundo a qual a direita estaria realizando uma manobra midiática para debilitar o PT e o governo.
No entanto, não acho que serão Miriam Leitão, Boris Casói, Merval Pereira, ou seja lá quem for, que vão denunciar a conspiração.
Aliás, nem acho que haja conspiração. Há sim uma luta política da qual participam agentes econômicos; e os jornalistas cinco estrelas do país são comprometidos com o grande capital. O que eles não entendem é que a sua maneira de pensar já é comprometida. É impossível para eles fugirem disso.
Se fossem um pouco menos arrogantes, poderiam ser mais imparciais neste momento. Mas não. O exercício do "colunato" é um poder que sobe à cabeça, e faz o jornalista perder, em certos momentos, o bom senso.
O Jabor transformou-se no mais fanático tucano já visto nas praias brasileiras. No artigo de hoje descreve o governo tucano como o "mais moderno que tivemos". Ora, fica bem claro que estamos no meio de uma luta política, que estava adormecida, mas borbulhando no íntimo de todos esses intelectuais, que escalaram a hierarquia dos grandes jornais não à tôa, mas porque compartilham, ou aprenderam a compartilhar, dos ideais conservadores de seus donos. Não estou acusando-os propriamente de nada. São, em geral, profissionais competentes e exímios redatores, mas não sou eu, Miguel do Rosário, que vou agora me render à lógica esmagadora dos meios de comunicação de massa e dizer: "é, estou decepcionado, o PT acabou, o Brasil acabou, estamos todos chafurdando num grande mar de lama...".
Não, não é conspiração da direita, meus amigos. Há mais de dez anos que a direita simplesmente nega-se a si própria. O pensamento único impôs-se. Por outro lado, usa-se a complexidade de um governo de coalizão para confundir a opinião pública. Onde está o governo de esquerda?, perguntam, sarcásticos, alguns jornalistas. Nestes momentos esquecem que Lula participou do Fórum de São Paulo, com dirigentes de esquerda de todo mundo. Esquecem que Lula deu fim ao acordo com o FMI. Esquecem que Lula deu apoio à Chávez na hora mais difícil. Esquecem que Lula vem dando forte apoio à agricultura familiar. Essas são plataformas de esquerda. O governo pode ter ministros de direita e ter base parlamentar em partidos de centro e direita; essa sãos as novidades do mundo moderno, meu camarada. Agora, o importante é se o pão está chegando na mesa do cidadão; em quantidade, qualidade e preço.
Se a política econômica é "mais ortodoxa" que a do governo anterior, conforme diz, maliciosamente, Jefferson, não se sabe querendo apoiar Pallocci ou querendo confundir a opinião pública e minar o eleitorado progressista - não é porque Lula tenha abraçado a ideologia neo-liberal. É que Lula e Pallocci descobriram, após chegarem ao poder, que o Estado brasileiro estava amarrado à determinadas estruturas, e que, para ser livre, ele teria que se contrair, fazer um recuo estratégico macro-econômico, com vistas a libertar-se no futuro próximo. O Brasil exporta mais de dois mil produtos, está portanto amarrado juridicamente a um comércio internacional de grande porte, não pode mudar nada de repente.
Outra coisa é essa mania dos colunistas de justificar qualquer excesso da oposição como "repetição" do petismo de outrora. Nunca se acusa um tucano ou pefelista de irresponsável, e sim compara-o ao petismo na era FHC.
Há uma grande contradição. Se esses colunistas são contra o PT, então porque defendem ou justificam atitutes políticas insensatas por parte de parlamentares da oposição, com o argumento de que estariam apenas repetindo velhas práticas do PT? E se o PT errou no passado; e, como partido humano, é claro que errou; porque não poderia mudar? Por que toda mudança agora se tornou em "virar as costas a tudo que sempre defendeu?" Quer dizer que um partido que chega ao poder pela primeira vez, e tem acesso às engrenagens de todo o sistema burocrático, teria que continuar com o mesmo discurso que tinha quando não sabia de nada e apenas criticava, às cegas, a política econômica de outros governos?
Não, não é conspiração, repito, é simplesmente luta política. Não é fácil. É duro. Principalmente porque somos obrigados a usar as armas deles, da mídia, e não as nossas; a sua linguagem, não a nossa. Antes de dizermos algo afirmativo, temos que descontruir o discurso deles. Não adianta dizermos o que pensamos. Temos que, primeiramente, negar o que eles tem, e depois afirmar. Pensamos que essa fase havia acabado, com a vitória de Lula, e nosso papel seria apenas monitorar, criticar e, principalmente, propor novas políticas, mas vemos que a luta é constante na política. O PT talvez tenha errado nisto. Não se preparou para a luta. Relaxou a guarda, deixou que o inimigo se aproximasse e, à queima-roupa, fincasse fundo a adaga da traição e da mentira.
É, Genoíno, você foi torturado na década de 70, sobreviveu, tornou-se deputado, o PT chegou ao poder, e pensaste que a luta havia acabado? Não, ninguém lhe poupará em respeito à sua idade. E cada vez que demonstrares fraqueza, os cães cairão por cima de ti com mais sanha. Como dizia Heráclito, a luta é uma constante. A história do Brasil está viva.
A esquerda não é um conceito morto. Velho, tudo bem, mas quer coisa mais velha que o termo "conservador", e, no entanto, mais contemporânea? A direita está com esse Papa aí, que é contra o uso de camisinha, e pregou isso na África, onde a Aids dizima milhões de pessoas por ano. A direita é o Bush, que está causando dor e morte no oriente médio.
A direita é contra Chávez. E, aliás, é com Chávez que encontramos explicação para parte da crise brasileira. Jabor, Miriam Leitão, Merval, são todos ácidos críticos de Chávez. Sobretudo porque Cisneros, o magnata das comunicações da Venezuela, é amigo pessoal de seus patrões.
O conceito de esquerda precisa ser atualizado? Precisa. É mais difícil hoje em dia, na América Latina, saber quem é esquerda? É. Por outro lado, a esquerda latino-americana é muito mais responsável, muito mais consequente e mais vitoriosa do que era há vinte, trinta anos atrás. Tornou-se mais democrática, mais moderna, mais complexa; aceita o diálogo, aceita coalizão, sem esquecer seu princípio básico: a luta pela justiça social.
Demorou muito tempo para Lula chegar ao poder. Foram muitos anos de luta, de estudos, de embates ideológicos, de prática política. Muito da dinâmica havia diminuido após a vitória, e muitas pessoas colocaram-se numa expectativa já previamente desencantada, cansada, senil, triste.
Pois é justamente para isso que servem as crises: para despertar os espíritos adormecidos, para liberar energias que descansavam, preguiçosamente, em sofás macios e salas empoeiradas. É hora dos intelectuais progressistas mostrarem o rosto e falarem o que pensam da situação atual.
Eu estou assistindo tudo e acho tudo um grande circo. Tem dinheiro na jogada? Tem. O PT está lidando com grandes somas de dinheiro? Está. Não queriam que o PT se tornasse um partido de massas? Tem quadros políticos corruptos no PT? Tem. Isso é inevitável quando se trata de um partido de massas. O negócio é controlar, botar na cadeia.
Outra coisa ridícula é esse protesto da OAB contra a Polícia Federal. Quer dizer que a PM pode matar, pode arrombar, tudo sem mandado judiciário Agora a PF não pode prender rico. Não pode invadir escritório de advogado riquinho. Por quê? Porque é advogado? Ou por quê é rico? Se invadissem escritóriozinhos furrecas do subúrbio e prendessem dois ou três advogazinhos de porta de cadeia, tudo bem. Agora quando começam a prender gente com dinheiro, aí a alta sociedade começa a tremer.
A PF não invade por decisão pessoal de delegados. Ela cumpre ORDEM JUDICIAL. Ouviram? ORDEM JUDICIAL. Vão reclamar lá com o homem da capa preta, aquele que bate o martelo e, teoricamente, prende bandido rico e bandido pobre.
E vamo que vamos.
Continuo como sempre na contra-mão da mídia, e apostando que esteja havendo uma grande fraude midiática com vistas à desestabilizar o governo Lula.
Miriam Leitão, na mesma linha que quase todos os colunistas e apresentadores, continua escarnecendo da teoria conspiratória apresentada por Delúbio Soares e pelos movimentos sociais, segundo a qual a direita estaria realizando uma manobra midiática para debilitar o PT e o governo.
No entanto, não acho que serão Miriam Leitão, Boris Casói, Merval Pereira, ou seja lá quem for, que vão denunciar a conspiração.
Aliás, nem acho que haja conspiração. Há sim uma luta política da qual participam agentes econômicos; e os jornalistas cinco estrelas do país são comprometidos com o grande capital. O que eles não entendem é que a sua maneira de pensar já é comprometida. É impossível para eles fugirem disso.
Se fossem um pouco menos arrogantes, poderiam ser mais imparciais neste momento. Mas não. O exercício do "colunato" é um poder que sobe à cabeça, e faz o jornalista perder, em certos momentos, o bom senso.
O Jabor transformou-se no mais fanático tucano já visto nas praias brasileiras. No artigo de hoje descreve o governo tucano como o "mais moderno que tivemos". Ora, fica bem claro que estamos no meio de uma luta política, que estava adormecida, mas borbulhando no íntimo de todos esses intelectuais, que escalaram a hierarquia dos grandes jornais não à tôa, mas porque compartilham, ou aprenderam a compartilhar, dos ideais conservadores de seus donos. Não estou acusando-os propriamente de nada. São, em geral, profissionais competentes e exímios redatores, mas não sou eu, Miguel do Rosário, que vou agora me render à lógica esmagadora dos meios de comunicação de massa e dizer: "é, estou decepcionado, o PT acabou, o Brasil acabou, estamos todos chafurdando num grande mar de lama...".
Não, não é conspiração da direita, meus amigos. Há mais de dez anos que a direita simplesmente nega-se a si própria. O pensamento único impôs-se. Por outro lado, usa-se a complexidade de um governo de coalizão para confundir a opinião pública. Onde está o governo de esquerda?, perguntam, sarcásticos, alguns jornalistas. Nestes momentos esquecem que Lula participou do Fórum de São Paulo, com dirigentes de esquerda de todo mundo. Esquecem que Lula deu fim ao acordo com o FMI. Esquecem que Lula deu apoio à Chávez na hora mais difícil. Esquecem que Lula vem dando forte apoio à agricultura familiar. Essas são plataformas de esquerda. O governo pode ter ministros de direita e ter base parlamentar em partidos de centro e direita; essa sãos as novidades do mundo moderno, meu camarada. Agora, o importante é se o pão está chegando na mesa do cidadão; em quantidade, qualidade e preço.
Se a política econômica é "mais ortodoxa" que a do governo anterior, conforme diz, maliciosamente, Jefferson, não se sabe querendo apoiar Pallocci ou querendo confundir a opinião pública e minar o eleitorado progressista - não é porque Lula tenha abraçado a ideologia neo-liberal. É que Lula e Pallocci descobriram, após chegarem ao poder, que o Estado brasileiro estava amarrado à determinadas estruturas, e que, para ser livre, ele teria que se contrair, fazer um recuo estratégico macro-econômico, com vistas a libertar-se no futuro próximo. O Brasil exporta mais de dois mil produtos, está portanto amarrado juridicamente a um comércio internacional de grande porte, não pode mudar nada de repente.
Outra coisa é essa mania dos colunistas de justificar qualquer excesso da oposição como "repetição" do petismo de outrora. Nunca se acusa um tucano ou pefelista de irresponsável, e sim compara-o ao petismo na era FHC.
Há uma grande contradição. Se esses colunistas são contra o PT, então porque defendem ou justificam atitutes políticas insensatas por parte de parlamentares da oposição, com o argumento de que estariam apenas repetindo velhas práticas do PT? E se o PT errou no passado; e, como partido humano, é claro que errou; porque não poderia mudar? Por que toda mudança agora se tornou em "virar as costas a tudo que sempre defendeu?" Quer dizer que um partido que chega ao poder pela primeira vez, e tem acesso às engrenagens de todo o sistema burocrático, teria que continuar com o mesmo discurso que tinha quando não sabia de nada e apenas criticava, às cegas, a política econômica de outros governos?
Não, não é conspiração, repito, é simplesmente luta política. Não é fácil. É duro. Principalmente porque somos obrigados a usar as armas deles, da mídia, e não as nossas; a sua linguagem, não a nossa. Antes de dizermos algo afirmativo, temos que descontruir o discurso deles. Não adianta dizermos o que pensamos. Temos que, primeiramente, negar o que eles tem, e depois afirmar. Pensamos que essa fase havia acabado, com a vitória de Lula, e nosso papel seria apenas monitorar, criticar e, principalmente, propor novas políticas, mas vemos que a luta é constante na política. O PT talvez tenha errado nisto. Não se preparou para a luta. Relaxou a guarda, deixou que o inimigo se aproximasse e, à queima-roupa, fincasse fundo a adaga da traição e da mentira.
É, Genoíno, você foi torturado na década de 70, sobreviveu, tornou-se deputado, o PT chegou ao poder, e pensaste que a luta havia acabado? Não, ninguém lhe poupará em respeito à sua idade. E cada vez que demonstrares fraqueza, os cães cairão por cima de ti com mais sanha. Como dizia Heráclito, a luta é uma constante. A história do Brasil está viva.
A esquerda não é um conceito morto. Velho, tudo bem, mas quer coisa mais velha que o termo "conservador", e, no entanto, mais contemporânea? A direita está com esse Papa aí, que é contra o uso de camisinha, e pregou isso na África, onde a Aids dizima milhões de pessoas por ano. A direita é o Bush, que está causando dor e morte no oriente médio.
A direita é contra Chávez. E, aliás, é com Chávez que encontramos explicação para parte da crise brasileira. Jabor, Miriam Leitão, Merval, são todos ácidos críticos de Chávez. Sobretudo porque Cisneros, o magnata das comunicações da Venezuela, é amigo pessoal de seus patrões.
O conceito de esquerda precisa ser atualizado? Precisa. É mais difícil hoje em dia, na América Latina, saber quem é esquerda? É. Por outro lado, a esquerda latino-americana é muito mais responsável, muito mais consequente e mais vitoriosa do que era há vinte, trinta anos atrás. Tornou-se mais democrática, mais moderna, mais complexa; aceita o diálogo, aceita coalizão, sem esquecer seu princípio básico: a luta pela justiça social.
Demorou muito tempo para Lula chegar ao poder. Foram muitos anos de luta, de estudos, de embates ideológicos, de prática política. Muito da dinâmica havia diminuido após a vitória, e muitas pessoas colocaram-se numa expectativa já previamente desencantada, cansada, senil, triste.
Pois é justamente para isso que servem as crises: para despertar os espíritos adormecidos, para liberar energias que descansavam, preguiçosamente, em sofás macios e salas empoeiradas. É hora dos intelectuais progressistas mostrarem o rosto e falarem o que pensam da situação atual.
Eu estou assistindo tudo e acho tudo um grande circo. Tem dinheiro na jogada? Tem. O PT está lidando com grandes somas de dinheiro? Está. Não queriam que o PT se tornasse um partido de massas? Tem quadros políticos corruptos no PT? Tem. Isso é inevitável quando se trata de um partido de massas. O negócio é controlar, botar na cadeia.
Outra coisa ridícula é esse protesto da OAB contra a Polícia Federal. Quer dizer que a PM pode matar, pode arrombar, tudo sem mandado judiciário Agora a PF não pode prender rico. Não pode invadir escritório de advogado riquinho. Por quê? Porque é advogado? Ou por quê é rico? Se invadissem escritóriozinhos furrecas do subúrbio e prendessem dois ou três advogazinhos de porta de cadeia, tudo bem. Agora quando começam a prender gente com dinheiro, aí a alta sociedade começa a tremer.
A PF não invade por decisão pessoal de delegados. Ela cumpre ORDEM JUDICIAL. Ouviram? ORDEM JUDICIAL. Vão reclamar lá com o homem da capa preta, aquele que bate o martelo e, teoricamente, prende bandido rico e bandido pobre.
E vamo que vamos.
5 de julho de 2005
Genoíno no Roda Viva
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O presidente nacional do PT, José Genoíno, participou, nesta segunda-feira à noite, do programa Roda Viva, da TVE. Assisti a metade final e testemunhei um de nossos mais bravos quadros políticos ser alvo da hostilidade de representantes da grande imprensa nacional: Estado de São Paulo, Folha, Globo, entre outros.
Genoíno, contudo, conseguiu se sair muito bem, negando mentiras e distorções veiculadas pela mídia e fazendo inclusive desabafos comoventes sobre a atuação de certos personagens, como Fernando Gabeira e Heloísa Helena.
Pelo discurso de Genoíno - que deve ser escutado com o mesmo respeito com que se ouviu Roberto Jefferson, até porque possui uma biografia impecável na luta pela democracia e pela justiça social - observamos que as duas grandes forças que agem contra o PT são: de um lado, setores reacionários da sociedade brasileira, de outro, um ressentimento enorme oriundo de quadros da própria esquerda.
Os reacionários, compreende-se que tenham uma visão de mundo antagônica aos progressistas. Mas os ressentidos, são, a meu ver, uns fracassados ideológicamente, que não souberam atualizar seu pensamento político à dinâmica contemporânea, preferindo agarrar-se à teorias dos tempos de oposição do que à luta politica por mudanças efetivas da estrutura social do país.
Sobre a crise, mais algumas palavras. Sustento a teoria de que Dirceu, nem Genoíno, nem Delúbio, tiveram qualquer participação no esquema do mensalão. Acredito que o mensalão existia; e que, eventualmente, era operado por Valério. Sei que Valério era amigo ou pelo menos importante aliado nos trabalhos de campanha dos dirigentes do PT; mas não creio que os dirigentes soubessem que Valério fosse corrupto.
Acredito que a chave do mistério está em Valério, pois o flagrante (dinheiro vivo) apareceu na mão dele. Este dinheiro pode estar ligado à operações ilícitas várias, não exatamente o suposto esquema do mensalão.
Entretanto, não existem provas documentais, nem testemunhais dos seguintes fatos:
1 - De que existia o mensalão.
2 - Se existia, de que era operado por Dirceu.
3 - De que o dinheiro encontrado com Valério é o dinheiro do mensalão.
O Estado brasileiro possui bolsões de corrupção que operam na obscuridade. Existem há décadas. É notório que extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC), por exemplo, foi um antro de asquerosa corrupção, que enriqueceu muita gente e influenciou decisivamente nos rumos políticos do país.
Todas as estatais brasileiras tiveram ou têm seus problemas. Esses podres estão vindo à tôna justamente na gestão de Lula, porque todo o sistema está implodindo.
Há que se ressaltar ainda a nova geração da Polícia Federal e do Ministério Público, que vem realizado um trabalho excepcional na repressão aos crimes de colarinho branco. Nunca tantos altos funcionários, executivos e empresários, ligados ao crime organizado, foram presos.
Alguns setores, inclusive, acostumados com tratamento privilegiado por parte do Estado, como os advogados, estão protestando contra a violência da Polícia Federal. Deviam ver o que as Polícias Estaduais, notadamente a Polícia Fluminense, faz em sua jurisdição. A PM não arromba escritórios de advogados ricos, mas somente barracos de pessoas pobres. Não prende altos funcionários públicos e sim participa de tiroteios irresponsáveis e mesmo de execuções frias de inocentes.
Genoíno, contudo, conseguiu se sair muito bem, negando mentiras e distorções veiculadas pela mídia e fazendo inclusive desabafos comoventes sobre a atuação de certos personagens, como Fernando Gabeira e Heloísa Helena.
Pelo discurso de Genoíno - que deve ser escutado com o mesmo respeito com que se ouviu Roberto Jefferson, até porque possui uma biografia impecável na luta pela democracia e pela justiça social - observamos que as duas grandes forças que agem contra o PT são: de um lado, setores reacionários da sociedade brasileira, de outro, um ressentimento enorme oriundo de quadros da própria esquerda.
Os reacionários, compreende-se que tenham uma visão de mundo antagônica aos progressistas. Mas os ressentidos, são, a meu ver, uns fracassados ideológicamente, que não souberam atualizar seu pensamento político à dinâmica contemporânea, preferindo agarrar-se à teorias dos tempos de oposição do que à luta politica por mudanças efetivas da estrutura social do país.
Sobre a crise, mais algumas palavras. Sustento a teoria de que Dirceu, nem Genoíno, nem Delúbio, tiveram qualquer participação no esquema do mensalão. Acredito que o mensalão existia; e que, eventualmente, era operado por Valério. Sei que Valério era amigo ou pelo menos importante aliado nos trabalhos de campanha dos dirigentes do PT; mas não creio que os dirigentes soubessem que Valério fosse corrupto.
Acredito que a chave do mistério está em Valério, pois o flagrante (dinheiro vivo) apareceu na mão dele. Este dinheiro pode estar ligado à operações ilícitas várias, não exatamente o suposto esquema do mensalão.
Entretanto, não existem provas documentais, nem testemunhais dos seguintes fatos:
1 - De que existia o mensalão.
2 - Se existia, de que era operado por Dirceu.
3 - De que o dinheiro encontrado com Valério é o dinheiro do mensalão.
O Estado brasileiro possui bolsões de corrupção que operam na obscuridade. Existem há décadas. É notório que extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC), por exemplo, foi um antro de asquerosa corrupção, que enriqueceu muita gente e influenciou decisivamente nos rumos políticos do país.
Todas as estatais brasileiras tiveram ou têm seus problemas. Esses podres estão vindo à tôna justamente na gestão de Lula, porque todo o sistema está implodindo.
Há que se ressaltar ainda a nova geração da Polícia Federal e do Ministério Público, que vem realizado um trabalho excepcional na repressão aos crimes de colarinho branco. Nunca tantos altos funcionários, executivos e empresários, ligados ao crime organizado, foram presos.
Alguns setores, inclusive, acostumados com tratamento privilegiado por parte do Estado, como os advogados, estão protestando contra a violência da Polícia Federal. Deviam ver o que as Polícias Estaduais, notadamente a Polícia Fluminense, faz em sua jurisdição. A PM não arromba escritórios de advogados ricos, mas somente barracos de pessoas pobres. Não prende altos funcionários públicos e sim participa de tiroteios irresponsáveis e mesmo de execuções frias de inocentes.
Esclarecimentos sobre proposta do Delfim
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Gostaria apenas de esclarecer meus comentários a respeito do superávit nominal, ou melhor, do déficit fiscal zero (nome mais preciso), proposto pelo deputado Delfim Netto. Escutei um jornalista dizer que se trata do projeto que desvinculará a verba e da saúde do orçamento do governo. A meu ver, não se trata disso. O orçamento da saúde e da educação devem continuar sendo obrigações previstas constitucionalmente; nenhum superávit poderia mudar uma das leis mais importantes do país.
De qualquer forma, a história do déficit fiscal zero é apenas uma conversa; e como tal deve ser tratada; será debatida com a sociedade civil e exposta aos debates legislativos. Seus pontos serão esclarecidos mais especificamente pela imprensa e aí teremos um debate mais consequente. Ponto final.
De qualquer forma, a história do déficit fiscal zero é apenas uma conversa; e como tal deve ser tratada; será debatida com a sociedade civil e exposta aos debates legislativos. Seus pontos serão esclarecidos mais especificamente pela imprensa e aí teremos um debate mais consequente. Ponto final.
2 de julho de 2005
Movimentos sociais & Delfim Netto
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Duas notícias importantes e díspares. A primeira foi o grande encontro de movimentos sociais realizado em Goiânia, ontem, dia primeiro de julho, reunindo mais de 20 mil pessoas, segundo o apurou o jornalista do site Vermelho. A segunda, sobre a qual falo no final do texto, é sobre a proposta do Delfim Netto que está sendo apreciada por Pallocci.
Na reportagem, são entrevistadas lideranças do MST, da CUT, da UNE. Todos são unânimes em condenar a tentativa da direita em desestabilizar o governo Lula. E são eles que entendem a crise desta maneira, como desestabilização. Aproveitam, contudo, sobretudo o dirigente do MST, o momento para exigir mudanças na política econômica. E o editor do site Vermelho colocou a exigência de Stédile como manchete.
É isso que a oposição mais teme. Que a sua histeria desestabilizadora deflagre um processo que resulte, não no enfraquecimento do governo, mas na sua radicalização política, rompendo com a política econômica e fazendo o que querem os movimentos sociais.
No entanto, é justamente isso que deseja parte da oposição, sobretudo a direita mais conservadora, como o PFL. Acreditam que, radicalizando, o governo Lula perderia totalmente o apoio da classe média e das mídias. Infelizmente, está certíssimo. Apenas uma minoria da classe média é esquerdista. A grande maioria são donas de casa e pais de família conservadores dispostos a votar no Alckmin para botar ordem na casa e expulsar os baderneiros comunistas.
Mas Lula parece entender esse jogo e tem evitado isso. Sua política tem agradado a gregos e troianos; e, mesmo às custas de um processo de avanço social cruelmente lento, tem levado o país a uma estabilidade econômica que não víamos há décadas.
Acho que os movimentos sociais são a força mais progressista e importante do país, mas não podemos nos iludir pensando que seus líderes são os melhores economistas do mundo. Stédile mostra-se repetitivo da ladainha nacionalista de que, reduzindo o superávit, sobrará mais dinheiro para a reforma agrária.
O superávit tem sido um dos pilares da estabilidade nacional, sobretudo porque gera um padrão a ser seguido pelas esferas federais, estaduais e municipais, para que sejam instituições sólidas e fortes financeiramente, e não órgãos falidos e condenados como são em alguns países da América Central e da África.
Entretanto, o governo tem dinheiro para dar para os movimentos sociais. Tem dinheiro para dar à cultura e à educação. Os grandes agricultores vão à Brasília todo mês e arrancam uns bilhões de Pallocci, isso sem mudar a política econômica. Os pequenos agricultores tem que conseguir também seu espaço junto ao Orçamento da União. Aliás, tem conseguido alguns avanços, mas precisam de muito mais. Podem conseguir mais verbas para projetos sociais estratégicos sem alterar a austeridade fiscal do governo, fator essencial para a moralização financeira das contas públicas nacionais.
Os movimentos sociais, assim como partidos e intelectuais, precisam se articular a nível estadual e municipal, visando a tomada do poder por representantes afins de seus interesses. Em função da grandeza continental do Brasil, as grandes mudanças sociais necesitam das esferas municipais e estaduais para se tornarem efetivas.
Não podemos esquecer que tem sido essa austeridade que vem permitindo ao governo Lula reduzir expressivamente a dívida externa e não renovar o acordo com o FMI. Há os que falam que o Brasil segue a receita do FMI mesmo tendo rompido com ele. OK. Mas convenhamos que é agora temos o volante em nossas mãos. Existe a liberdade de mudar, coisa que não havia antes sob a égide tucana, por causa de um acordo draconiano que nos tolhia o livre arbítrio.
Se as lideranças dos movimentos sociais adotarem uma postura sectária quanto aos itens que desejam verem mudados na política econômica, poderão estar causando um desserviço àqueles que representam, os pobres, que são os principais beneficiados por uma política econômica que está permitindo a deflação, o custo menor de energia elétrica, bujão de gás; que está investindo muito na produção de energia alternativa, o biodiesel será uma revolução mundial no setor de combustível, além de se tornar, em pouco tempo, num grandioso gerador de emprego em áreas carentes como o nordeste e o norte de Minas; enfim, numa política econômica que é "lida" e "interpretada" pela mídia de uma maneira e que os líderes sociais, quase que inconscientemente, "interpretam" da mesma forma, apesar de chegarem a conclusões diferentes.
Delfim Netto, hoje um economista que a esquerda não pode simplesmente subestimar, e sim procurar superar intelectualmente, está apresentando uma proposta bastante interessante, apesar de polêmica, para terminar com o superávit primário e iniciar um superávit nominal, em que o dinheiro pago com juros seria também contabilizado.
À primeira vista, a proposta parece terrivelmente conservadora. Mas poderá, se bem estruturada e introduzida gradualmente, levar ao fim da dívida interna nacional em poucos anos, liberando o país para administrar, sem esqueletos do passado, o seu futuro.
Há um elemento que as liderenças sociais e os intelectuais sempre esquecem quando criticam a política econômica tachando-a de neoliberal. Esquecem que, no sistema financeiro globalizado em que o Brasil está mergulhado de cabeça, não há muitas alternativas econômicas. Não somos a Venezuela, que não tem indústrias, apenas exporta petróleo estatal. Exportamos milhares de produtos para todos os países do mundo, o que nos coloca numa posição comprometida com a estabilidade mundial e nos prende a certos parâmetros jurídicos internacionais. Não dá para fugir disso sem causar grandes prejuízos econômicos ao país; e prejuízos que vão ampliar o sofrimento dos pobres brasileiros.
O Brasil precisa de justiça social. Mas a justiça social não cai do céu. Ela precisa ser conquistada, pela inteligência, pela educação, pela luta ideológica, pela prática revolucionária de cada indivíduo, entidade, partido ou governo. Quem levará o estandarte da justiça social às ruas não será o presidente Lula, e sim o homem do povo, sem poder.
O país está mudando. O ventilador que tanto espalhou titica nas últimas semanas, também servirá para trazer novos ares à vida pública brasileira. Em 2006, o povo brasileiro poderá dar outra lição aos conservadores. Alguns próceres da direita terão que passar pelo crivo eleitoral e tenho comigo que muitos não irão sobreviver... Tenho pra mim que o PSDB poderá encolher, e que essa projeção é que vêm eriçando as penas dos tucanos...
Na reportagem, são entrevistadas lideranças do MST, da CUT, da UNE. Todos são unânimes em condenar a tentativa da direita em desestabilizar o governo Lula. E são eles que entendem a crise desta maneira, como desestabilização. Aproveitam, contudo, sobretudo o dirigente do MST, o momento para exigir mudanças na política econômica. E o editor do site Vermelho colocou a exigência de Stédile como manchete.
É isso que a oposição mais teme. Que a sua histeria desestabilizadora deflagre um processo que resulte, não no enfraquecimento do governo, mas na sua radicalização política, rompendo com a política econômica e fazendo o que querem os movimentos sociais.
No entanto, é justamente isso que deseja parte da oposição, sobretudo a direita mais conservadora, como o PFL. Acreditam que, radicalizando, o governo Lula perderia totalmente o apoio da classe média e das mídias. Infelizmente, está certíssimo. Apenas uma minoria da classe média é esquerdista. A grande maioria são donas de casa e pais de família conservadores dispostos a votar no Alckmin para botar ordem na casa e expulsar os baderneiros comunistas.
Mas Lula parece entender esse jogo e tem evitado isso. Sua política tem agradado a gregos e troianos; e, mesmo às custas de um processo de avanço social cruelmente lento, tem levado o país a uma estabilidade econômica que não víamos há décadas.
Acho que os movimentos sociais são a força mais progressista e importante do país, mas não podemos nos iludir pensando que seus líderes são os melhores economistas do mundo. Stédile mostra-se repetitivo da ladainha nacionalista de que, reduzindo o superávit, sobrará mais dinheiro para a reforma agrária.
O superávit tem sido um dos pilares da estabilidade nacional, sobretudo porque gera um padrão a ser seguido pelas esferas federais, estaduais e municipais, para que sejam instituições sólidas e fortes financeiramente, e não órgãos falidos e condenados como são em alguns países da América Central e da África.
Entretanto, o governo tem dinheiro para dar para os movimentos sociais. Tem dinheiro para dar à cultura e à educação. Os grandes agricultores vão à Brasília todo mês e arrancam uns bilhões de Pallocci, isso sem mudar a política econômica. Os pequenos agricultores tem que conseguir também seu espaço junto ao Orçamento da União. Aliás, tem conseguido alguns avanços, mas precisam de muito mais. Podem conseguir mais verbas para projetos sociais estratégicos sem alterar a austeridade fiscal do governo, fator essencial para a moralização financeira das contas públicas nacionais.
Os movimentos sociais, assim como partidos e intelectuais, precisam se articular a nível estadual e municipal, visando a tomada do poder por representantes afins de seus interesses. Em função da grandeza continental do Brasil, as grandes mudanças sociais necesitam das esferas municipais e estaduais para se tornarem efetivas.
Não podemos esquecer que tem sido essa austeridade que vem permitindo ao governo Lula reduzir expressivamente a dívida externa e não renovar o acordo com o FMI. Há os que falam que o Brasil segue a receita do FMI mesmo tendo rompido com ele. OK. Mas convenhamos que é agora temos o volante em nossas mãos. Existe a liberdade de mudar, coisa que não havia antes sob a égide tucana, por causa de um acordo draconiano que nos tolhia o livre arbítrio.
Se as lideranças dos movimentos sociais adotarem uma postura sectária quanto aos itens que desejam verem mudados na política econômica, poderão estar causando um desserviço àqueles que representam, os pobres, que são os principais beneficiados por uma política econômica que está permitindo a deflação, o custo menor de energia elétrica, bujão de gás; que está investindo muito na produção de energia alternativa, o biodiesel será uma revolução mundial no setor de combustível, além de se tornar, em pouco tempo, num grandioso gerador de emprego em áreas carentes como o nordeste e o norte de Minas; enfim, numa política econômica que é "lida" e "interpretada" pela mídia de uma maneira e que os líderes sociais, quase que inconscientemente, "interpretam" da mesma forma, apesar de chegarem a conclusões diferentes.
Delfim Netto, hoje um economista que a esquerda não pode simplesmente subestimar, e sim procurar superar intelectualmente, está apresentando uma proposta bastante interessante, apesar de polêmica, para terminar com o superávit primário e iniciar um superávit nominal, em que o dinheiro pago com juros seria também contabilizado.
À primeira vista, a proposta parece terrivelmente conservadora. Mas poderá, se bem estruturada e introduzida gradualmente, levar ao fim da dívida interna nacional em poucos anos, liberando o país para administrar, sem esqueletos do passado, o seu futuro.
Há um elemento que as liderenças sociais e os intelectuais sempre esquecem quando criticam a política econômica tachando-a de neoliberal. Esquecem que, no sistema financeiro globalizado em que o Brasil está mergulhado de cabeça, não há muitas alternativas econômicas. Não somos a Venezuela, que não tem indústrias, apenas exporta petróleo estatal. Exportamos milhares de produtos para todos os países do mundo, o que nos coloca numa posição comprometida com a estabilidade mundial e nos prende a certos parâmetros jurídicos internacionais. Não dá para fugir disso sem causar grandes prejuízos econômicos ao país; e prejuízos que vão ampliar o sofrimento dos pobres brasileiros.
O Brasil precisa de justiça social. Mas a justiça social não cai do céu. Ela precisa ser conquistada, pela inteligência, pela educação, pela luta ideológica, pela prática revolucionária de cada indivíduo, entidade, partido ou governo. Quem levará o estandarte da justiça social às ruas não será o presidente Lula, e sim o homem do povo, sem poder.
O país está mudando. O ventilador que tanto espalhou titica nas últimas semanas, também servirá para trazer novos ares à vida pública brasileira. Em 2006, o povo brasileiro poderá dar outra lição aos conservadores. Alguns próceres da direita terão que passar pelo crivo eleitoral e tenho comigo que muitos não irão sobreviver... Tenho pra mim que o PSDB poderá encolher, e que essa projeção é que vêm eriçando as penas dos tucanos...
Delúbio desabafa em evento em Goiás
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O secretário de Finanças do PT, Delúbio Soares, fez um desabafo emocionado em Goiânia, onde participou de um evento organizado pelo Sintego (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás), no Auditório Costa Lima, na Assembléia Legislativa. O discurso de Delúbio pode parecer exagerado, mas é natural de quem está sofrendo na pele um terrível processo de fritura junto à opinião pública. Além do mais, existe uma espécie de lógica no comportamento da oposição: não podendo, nem querendo no momento, atacar diretamente a figura de Lula, começa por minar-lhe as forças, derrubando seus maiores quadros. Um de seus maiores quadros políticos era Dirceu, e a prova disso era que dialogava com Condolezza Rice, Chávez e Fidel com igual respeito de ambos. E a maior figura financeira, no sentido de ser o mais competente arrecadador e gerenciador de recursos para campanhas eleitorais que o PT já teve, Delúbio Soares. E, venhamos e convenhamos, ser o gerente financeiro que levou o PT a derrotar os dinossauros da política nacional, PFL, PSDB e PMDB, com toda sua vasta experiência em abarrotar seus cofres com recursos de grandes empresas e ainda contando com o apoio da mídia e de investidores internacionais, é um mérito que não se pode lhe tirar.
Da mesma forma que todos ouviram, com atenção e respeito, as declarações de Roberto Jefferson, vale a pena escutar, com isenção, a versão de Delúbio para as acusações que vem sofrendo.
É importante destacar que a reação emocional, quase transtornada, de Delúbio, assim como qualquer dos dirigentes petistas acusados. Revelam a indignação quase descontrolada de quem se vê esmagado por uma condenação midiática que beira o linchamento público. A pessoa, se não for terrivelmente fria e cínica como Jefferson, se sente deprimida, amedrontada, confusa, sem saber, num primeiro momento, como se defender.
Entretanto, Delúbio e outros dirigentes, se realmente são inocentes, como eu venho apostando que sim, saberão dar a volta por cima e construir uma defesa sólida que se transformará num ataque poderoso às forças que tentaram lhe destruir.
Caso ele e Dirceu estejam, de fato, envolvidos no tal esquema do mensalão, que creio bem irreal, foi uma traição imperdoável ao governo Lula; pior: uma traição ao movimento progressista latino-americano que vem crescendo nos últimos anos.
Minha versão é que esse Valério sim, é que era uma espécie de richelieu da propaganda oficial, desde o início dos anos 90; e estava conseguindo passar, despercebido durante a primeira metade do governo Lula. Soube conquistar a amizade de Delúbio, Dirceu e outros. Como todo bom corrupto, soube ser amigo de todo mundo.
E aí, Jefferson, com seu papel de um novo Iago querendo destruir a reputação de Desdêmona (PT) junto a Otelo (a opinião pública), decidiu mostrar o lenço da esposa - Desdêmena - em mãos do amante. Foi tudo uma armação de Jefferson.
O ex-presidente do PTB, como decidiu entrar pra história, e disso tem o mérito, como o maior lançador de material fétido ao ventilador que já existiu, aproveitou a onda para denunciar diversos esquemas de corrupção de seu conhecimento, sobretudo os ligados a seu desafeto principal (não se sabe ainda porque): Válério. Provavelmente porque Valério não quis participar de esquema junto com ele, Jefferson, e trabalhava somente com o PP, PL, outros partidos, e talvez mesmo com quadros do PTB em alguns ministérios, mas de forma que o dinheiro não chegava nem ao partido nem nos bolsos de Jefferson.
O estranhamento entre PTB e PT, que tentaram uma aliança esdrúxula, e ingênua da parte do PT, também contribuiu para Jefferson estar germinando planos de vingança e "vira-casaca" desde o início do governo Lula.
A afirmação de Jefferson de que ele e o PTB continuam apoiando o governo Lula é uma piada. Eles apoiariam até o Sérgio Malandro, caso este fosse presidente. PTB revelou-se um partido fisiológico, desfibrado ideologicamente, vazio moralmente, doente filosoficamente, que vem apoiando todos os governos: Sarney, Collor, FHC. O PTB é um partido, agora se vê, que sempre se beneficiou da corrupção nas estatais. Com Lula no poder, tudo ficou mais difícil, e por isso optou explodir tudo ele mesmo, salvando-se politicamente, a ser explodido pela Polícia Federal, que já estava chegando bem perto de suas armações.
Jefferson é um exímio orador, convicente e sangue frio. Mas todo bom mentiroso assim o é. Ele mescla fatos verdadeiros, com detalhes que conhece por tê-los vivenciado, a uma penca de acusações falsas. A opinião pública, como aprendemos nos cursos de comunicação, tem a mentalidade de uma mocinha de treze anos. Acredita em tudo o que dizem os jornais. O valor da palavra escrita num país de analfabetos funcionais é sagrado.
Surge contra Lula o mesmo tipo de oposição golpista (embora disso o médio clero dos jornais, ou seja, colunistas e empregados em geral, não tenha ainda consciência, eles também iludidos) que cresceu contra Chávez.
Jornalistas, colunistas, apresentadores, todos assalariados, não resistem ao atiçamento que vem de cima. Nas redações, nos estúdios de TV, começa a haver uma atmosfera de agressivadade e hostilidade contra o governo Lula e os profissionais, pensando no próprio emprego, passam a usar a mesma linguagem.
E aí o discurso anti-Lula começa a virar, mais que uma posição crítica, uma linguagem. Quando os comediantes e cartunistas da Globo passam a desenvolver um tipo de humor construído sobre as teorias apresentadas por Jefferson, o ciclo está completo e a opinião da classe média já está formada. Quem resistirá a uma boa gargalhada diante de um quadro de Casseta & Planeta, ou uma charge do Chico? Para rir da piada, já se torna implícito acreditar exatamente nas versões apresentadas pelos grandes jornais.
Não, não acho que haja conspiração, nem que Casseta & Planeta ou o Caruso estejam envolvidos. Eles não têm culpa de nada, são artistas; seu material de trabalho é o inconsciente coletivo, real e imaginário. Se as denúncias fazem parte do imaginário, valem como matéria-prima para eles produzirem humor. No entanto, é sempre triste ver artistas à serviço do poder, seja ele estatal ou privado. Quer dizer, não há demais em escrever ou desenhar para O Globo ou para qualquer outro jornal, o problema é quando você passa a fazer campanha política junto com eles.
Não é conspiração, mas por outro lado há sim, e isso é quase lógico. Desde o momento em que existe luta política, existe conspiração. Não existe luta política sem conspiração. Achar que a luta política se resolve apenas em campo aberto é desconher a realidade política, o caráter humano e a história brasileira (e mundial)O Brasil, como bom latino-americano, sempre foi um país de conspirações.
Existem, no país, algumas entidades que reúnem características extremamente perigosas para o governo Lula: Veja, Época, Globo, Estadão, Folha. Todos eles apresentam uma tradição editorial e ideológica muito distante do ideário original e moderno do PT. São de um conservadorismo radical, fanático, apesar de dignamente disfarçado às vezes por um profissionalismo jornalístico inegável. Mas quando entram em cena os fatos mais polêmicos, e expressivos simbólicamente para os debates ideológicos, Veja e Estadão chegam a ser pateticamente reacionários, utilizando estratégias caricatas para satanizar figuras como João Pedro Stédile e o MST de forma geral; e agora o Chávez.
A consolidadação das esquerdas latino-americanas, entre dirigentes nacionais de orientação ideológica progressista, anti-colonialista, como Lula, Chávez, Kirchnner, e outros que já chegaram ou estão por vir na América Latina, vem assustando a direita de todo continente. Cisneros, o magnata das comunicações venezuelano, deve ter alertado seus amigos pessoais das famílias Mesquita (Estadão) e Civita (Veja), sobre o perigo de permitir o crescimento de uma figura popular como Lula. No começo, eles são mansinhos (deve ter dito Cisneros sobre as novas lideranças populares, como Lula), mas depois, quando se sentem mais seguros no poder, revelam sua verdadeira face revolucionária.
O fato é que o Brasil está crescendo e tem gente que não está gostando. A luta de classes, desde a posse de Lula, mudou de padrões. As elites, até agora, mantiveram-se tranquilas, lucrando o que sempre lucraram. Mas parece que começam a se mover, discretamente, com álibis e razões que o poder econômico lhes confere. Afinal, não podemos esperar que Miriam Leitão, Ancélmo Góes, Merval Pereira, Teresa Cruvinel ou mesmo o Arnaldo Jabor, por mais que sejam competentes e íntegros, não esperemos que sejam eles que irão denunciar uma estratégia maquiavélica e desonesta de seus patrões para enfraquecer politicamente o governo Lula.
Por último, sem por isso ser o menos importante, muito pelo contrário, quero lembrar que, enquanto Jefferson monopoliza, com seu teatro, as atenções do Congresso Nacional, os deputados não estão votando o Estatuto do Desarmamento. Vale lembrar que Jefferson é um dos principais lobbistas da indústria de armas, já que foi uma grande indústria de armas a principal doadora de sua campanha e sendo ele um adversário importante do referido Estatuto. Caso o Estatuto não seja realizado este ano, esta será uma vitória de Jefferson.
Da mesma forma que todos ouviram, com atenção e respeito, as declarações de Roberto Jefferson, vale a pena escutar, com isenção, a versão de Delúbio para as acusações que vem sofrendo.
É importante destacar que a reação emocional, quase transtornada, de Delúbio, assim como qualquer dos dirigentes petistas acusados. Revelam a indignação quase descontrolada de quem se vê esmagado por uma condenação midiática que beira o linchamento público. A pessoa, se não for terrivelmente fria e cínica como Jefferson, se sente deprimida, amedrontada, confusa, sem saber, num primeiro momento, como se defender.
Entretanto, Delúbio e outros dirigentes, se realmente são inocentes, como eu venho apostando que sim, saberão dar a volta por cima e construir uma defesa sólida que se transformará num ataque poderoso às forças que tentaram lhe destruir.
Caso ele e Dirceu estejam, de fato, envolvidos no tal esquema do mensalão, que creio bem irreal, foi uma traição imperdoável ao governo Lula; pior: uma traição ao movimento progressista latino-americano que vem crescendo nos últimos anos.
Minha versão é que esse Valério sim, é que era uma espécie de richelieu da propaganda oficial, desde o início dos anos 90; e estava conseguindo passar, despercebido durante a primeira metade do governo Lula. Soube conquistar a amizade de Delúbio, Dirceu e outros. Como todo bom corrupto, soube ser amigo de todo mundo.
E aí, Jefferson, com seu papel de um novo Iago querendo destruir a reputação de Desdêmona (PT) junto a Otelo (a opinião pública), decidiu mostrar o lenço da esposa - Desdêmena - em mãos do amante. Foi tudo uma armação de Jefferson.
O ex-presidente do PTB, como decidiu entrar pra história, e disso tem o mérito, como o maior lançador de material fétido ao ventilador que já existiu, aproveitou a onda para denunciar diversos esquemas de corrupção de seu conhecimento, sobretudo os ligados a seu desafeto principal (não se sabe ainda porque): Válério. Provavelmente porque Valério não quis participar de esquema junto com ele, Jefferson, e trabalhava somente com o PP, PL, outros partidos, e talvez mesmo com quadros do PTB em alguns ministérios, mas de forma que o dinheiro não chegava nem ao partido nem nos bolsos de Jefferson.
O estranhamento entre PTB e PT, que tentaram uma aliança esdrúxula, e ingênua da parte do PT, também contribuiu para Jefferson estar germinando planos de vingança e "vira-casaca" desde o início do governo Lula.
A afirmação de Jefferson de que ele e o PTB continuam apoiando o governo Lula é uma piada. Eles apoiariam até o Sérgio Malandro, caso este fosse presidente. PTB revelou-se um partido fisiológico, desfibrado ideologicamente, vazio moralmente, doente filosoficamente, que vem apoiando todos os governos: Sarney, Collor, FHC. O PTB é um partido, agora se vê, que sempre se beneficiou da corrupção nas estatais. Com Lula no poder, tudo ficou mais difícil, e por isso optou explodir tudo ele mesmo, salvando-se politicamente, a ser explodido pela Polícia Federal, que já estava chegando bem perto de suas armações.
Jefferson é um exímio orador, convicente e sangue frio. Mas todo bom mentiroso assim o é. Ele mescla fatos verdadeiros, com detalhes que conhece por tê-los vivenciado, a uma penca de acusações falsas. A opinião pública, como aprendemos nos cursos de comunicação, tem a mentalidade de uma mocinha de treze anos. Acredita em tudo o que dizem os jornais. O valor da palavra escrita num país de analfabetos funcionais é sagrado.
Surge contra Lula o mesmo tipo de oposição golpista (embora disso o médio clero dos jornais, ou seja, colunistas e empregados em geral, não tenha ainda consciência, eles também iludidos) que cresceu contra Chávez.
Jornalistas, colunistas, apresentadores, todos assalariados, não resistem ao atiçamento que vem de cima. Nas redações, nos estúdios de TV, começa a haver uma atmosfera de agressivadade e hostilidade contra o governo Lula e os profissionais, pensando no próprio emprego, passam a usar a mesma linguagem.
E aí o discurso anti-Lula começa a virar, mais que uma posição crítica, uma linguagem. Quando os comediantes e cartunistas da Globo passam a desenvolver um tipo de humor construído sobre as teorias apresentadas por Jefferson, o ciclo está completo e a opinião da classe média já está formada. Quem resistirá a uma boa gargalhada diante de um quadro de Casseta & Planeta, ou uma charge do Chico? Para rir da piada, já se torna implícito acreditar exatamente nas versões apresentadas pelos grandes jornais.
Não, não acho que haja conspiração, nem que Casseta & Planeta ou o Caruso estejam envolvidos. Eles não têm culpa de nada, são artistas; seu material de trabalho é o inconsciente coletivo, real e imaginário. Se as denúncias fazem parte do imaginário, valem como matéria-prima para eles produzirem humor. No entanto, é sempre triste ver artistas à serviço do poder, seja ele estatal ou privado. Quer dizer, não há demais em escrever ou desenhar para O Globo ou para qualquer outro jornal, o problema é quando você passa a fazer campanha política junto com eles.
Não é conspiração, mas por outro lado há sim, e isso é quase lógico. Desde o momento em que existe luta política, existe conspiração. Não existe luta política sem conspiração. Achar que a luta política se resolve apenas em campo aberto é desconher a realidade política, o caráter humano e a história brasileira (e mundial)O Brasil, como bom latino-americano, sempre foi um país de conspirações.
Existem, no país, algumas entidades que reúnem características extremamente perigosas para o governo Lula: Veja, Época, Globo, Estadão, Folha. Todos eles apresentam uma tradição editorial e ideológica muito distante do ideário original e moderno do PT. São de um conservadorismo radical, fanático, apesar de dignamente disfarçado às vezes por um profissionalismo jornalístico inegável. Mas quando entram em cena os fatos mais polêmicos, e expressivos simbólicamente para os debates ideológicos, Veja e Estadão chegam a ser pateticamente reacionários, utilizando estratégias caricatas para satanizar figuras como João Pedro Stédile e o MST de forma geral; e agora o Chávez.
A consolidadação das esquerdas latino-americanas, entre dirigentes nacionais de orientação ideológica progressista, anti-colonialista, como Lula, Chávez, Kirchnner, e outros que já chegaram ou estão por vir na América Latina, vem assustando a direita de todo continente. Cisneros, o magnata das comunicações venezuelano, deve ter alertado seus amigos pessoais das famílias Mesquita (Estadão) e Civita (Veja), sobre o perigo de permitir o crescimento de uma figura popular como Lula. No começo, eles são mansinhos (deve ter dito Cisneros sobre as novas lideranças populares, como Lula), mas depois, quando se sentem mais seguros no poder, revelam sua verdadeira face revolucionária.
O fato é que o Brasil está crescendo e tem gente que não está gostando. A luta de classes, desde a posse de Lula, mudou de padrões. As elites, até agora, mantiveram-se tranquilas, lucrando o que sempre lucraram. Mas parece que começam a se mover, discretamente, com álibis e razões que o poder econômico lhes confere. Afinal, não podemos esperar que Miriam Leitão, Ancélmo Góes, Merval Pereira, Teresa Cruvinel ou mesmo o Arnaldo Jabor, por mais que sejam competentes e íntegros, não esperemos que sejam eles que irão denunciar uma estratégia maquiavélica e desonesta de seus patrões para enfraquecer politicamente o governo Lula.
Por último, sem por isso ser o menos importante, muito pelo contrário, quero lembrar que, enquanto Jefferson monopoliza, com seu teatro, as atenções do Congresso Nacional, os deputados não estão votando o Estatuto do Desarmamento. Vale lembrar que Jefferson é um dos principais lobbistas da indústria de armas, já que foi uma grande indústria de armas a principal doadora de sua campanha e sendo ele um adversário importante do referido Estatuto. Caso o Estatuto não seja realizado este ano, esta será uma vitória de Jefferson.
1 de julho de 2005
Reflexões sobre o último depoimento de Jefferson na CPI
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Vi ontem e hoje várias horas de Jefferson na CPI e acho que, desta vez, teremos uma leitura mais isenta sobre a crise política. Jefferson conseguiu, com apoio de sua inegável inteligência e sangue frio, junto à uma incrível capacidade de intimidação emocional e política, impor um grande respeito à maioria dos deputados federais. Mesmo o deputado do PT que quis imprecá-lo, recebeu um troco violento e bem articulado de Jefferson. Outro do PT, que quis trazer um pouco de equilíbrio a uma CPI que corre o risco de tornar-se apenas palanque para a oposição, fez uma intervenção mais equilibrada, apesar de igualmente emocionada, porque não quis atacar pessoalmente Jefferson.
Um deputado tucano, muito sensato, lembrou que quase todas as quadrilhas do mundo são desbaratadas por denúncias de algum membro. Está aí o grande ponto fraco dos bandidos: não são confiáveis nem para si próprios. A mesma deslealdade que mostram para com a lei e com a moral humanas, também revelarão, um dia ou outro, para com seus companheiros de "trabalho".
O deputado argumentou, portanto, de maneira elegante e discreta, que Jefferson, mesmo sendo bandido, merece o respeito por estar contribuindo para o fim de práticas políticas desonrosas no Congresso Nacional e que vinham ocorrendo há vinte anos (para não dizer desde a criação do Estado brasileiro). É culpado, não se exime de culpa - repetidamente confessou irregularidades de campanha e suas explicações sobre a relação que mantinha com diretores de estatais também é uma confissão de chantagem.
Aquela frase já enjoada, vinda da China, de que crise tem que ser transformada em oportunidade, continua valendo. Lula e o PT precisam entender que não basta desenvolver economicamente o país. Tem que mudar o país por dentro, pela alma.
Aliás, Lula até já tá começando a perceber isso. Essa crise política não é com Lula. É com o Congresso Nacional. É uma crise da opinião pública e das pessoas de bem deste país contra práticas que não aceitamos. Um deputado disse que não era bem contra o mal, tentando tranquilizar o desespero de alguns parlamentares da base governista aterrorizados que a CPI exploda a popularidade do presidente Lula, ao qual todos se agarram como a uma bóia de salvação. Concordo com ele que não é uma briga neste sentido. Por outro lado, é sim uma briga do bem contra o mal. No sentido de ser uma luta entre a ética e a corrupção, uma luta de fundo moral que é muito mais consequente historicamente do que qualquer número referente à exportação nacional, superávit ou juros.
O Congresso Nacional precisa tomar cuidado. A opinião pública brasileira é, às vezes, exageradamente crítica; outras vezes passiva, conforme aa manchetes. Chacina na Baixada? Ah, tudo bem, quem liga para um bando de pobre morrendo na periferia? Mas não é mais tão burra quanto antigamente. A própria internet quebrou um pouco o monopólio da informação. Aliás, o governo estará patrocinado uma verdadeira revolução se der continuidade, ou mesmo agilizar, seus projetos relacionados à popularização do computador e do uso de internet pelo país, começando pelos colégios públicos.
O brasileiro tem fome de informação. A informação é o conteúdo do qual a educação é a forma. Porque o ser humano educa-se a si próprio se tiver acesso à informação. A auto-educação é o que vem salvando o brasileiro. Não temos boas faculdades no país, mas temos olhos para ler e cabeça para pensar.
Agora, os intelectuais não devem argumentar usando a racionalidade da mídia, que é simplória. Assim faz a extrema-esquerda, que pega informações no Globo, na Folha e no Estadão, para criticar Lula. Aí não vale. Não foi assim que aprendemos com Noam Chomsky. Se eu quero criticar Lula, preciso pegar documentos do governo e do PT, porque aí saberemos que são isentos no sentido de "querer" deliberadamente criticar Lula.
Chomsky consegue destruir retoricamente todos os governos americanos usando reportagens do New York Times favoráveis ao governo e, sobretudo, relatórios governamentais e declarações da própria Casa Branca.
O povo brasileiro tem dado sinais de amadurecimento político expressivos e, inclusive, até surpreendentes para uma população ainda tão marginalizada da informação de qualidade. É hora dos intelectuais darem sua contribuição, fugindo ao sectarismo ideológico e produzindo novos raciocínios, resgatando história e, porque não, criando linguagens originais e revolucionárias que tragam, no seu íntimo filosófico, uma moral mais pura e mais moderna.
Termino meu artigo com um "Fora Papa", devido a seu estúpido e reacionário conservadorismo, que beira o desumano e o cruel, ao condenar o uso de camisinha em continentes com a África; e dando mais salva ao grande Bezerra da Silva, que faleceu, em avançada idade, este ano; e meus cumprimentos à seleção brasileira que soube mostrar que o brasileiro não quer uma revolução dos deprimidos, desencantados e tristes. Quer uma revolução do forte, do alegre, do riso franco e honesto na cara de quem não tem nada de podre a esconder.
Um deputado tucano, muito sensato, lembrou que quase todas as quadrilhas do mundo são desbaratadas por denúncias de algum membro. Está aí o grande ponto fraco dos bandidos: não são confiáveis nem para si próprios. A mesma deslealdade que mostram para com a lei e com a moral humanas, também revelarão, um dia ou outro, para com seus companheiros de "trabalho".
O deputado argumentou, portanto, de maneira elegante e discreta, que Jefferson, mesmo sendo bandido, merece o respeito por estar contribuindo para o fim de práticas políticas desonrosas no Congresso Nacional e que vinham ocorrendo há vinte anos (para não dizer desde a criação do Estado brasileiro). É culpado, não se exime de culpa - repetidamente confessou irregularidades de campanha e suas explicações sobre a relação que mantinha com diretores de estatais também é uma confissão de chantagem.
Aquela frase já enjoada, vinda da China, de que crise tem que ser transformada em oportunidade, continua valendo. Lula e o PT precisam entender que não basta desenvolver economicamente o país. Tem que mudar o país por dentro, pela alma.
Aliás, Lula até já tá começando a perceber isso. Essa crise política não é com Lula. É com o Congresso Nacional. É uma crise da opinião pública e das pessoas de bem deste país contra práticas que não aceitamos. Um deputado disse que não era bem contra o mal, tentando tranquilizar o desespero de alguns parlamentares da base governista aterrorizados que a CPI exploda a popularidade do presidente Lula, ao qual todos se agarram como a uma bóia de salvação. Concordo com ele que não é uma briga neste sentido. Por outro lado, é sim uma briga do bem contra o mal. No sentido de ser uma luta entre a ética e a corrupção, uma luta de fundo moral que é muito mais consequente historicamente do que qualquer número referente à exportação nacional, superávit ou juros.
O Congresso Nacional precisa tomar cuidado. A opinião pública brasileira é, às vezes, exageradamente crítica; outras vezes passiva, conforme aa manchetes. Chacina na Baixada? Ah, tudo bem, quem liga para um bando de pobre morrendo na periferia? Mas não é mais tão burra quanto antigamente. A própria internet quebrou um pouco o monopólio da informação. Aliás, o governo estará patrocinado uma verdadeira revolução se der continuidade, ou mesmo agilizar, seus projetos relacionados à popularização do computador e do uso de internet pelo país, começando pelos colégios públicos.
O brasileiro tem fome de informação. A informação é o conteúdo do qual a educação é a forma. Porque o ser humano educa-se a si próprio se tiver acesso à informação. A auto-educação é o que vem salvando o brasileiro. Não temos boas faculdades no país, mas temos olhos para ler e cabeça para pensar.
Agora, os intelectuais não devem argumentar usando a racionalidade da mídia, que é simplória. Assim faz a extrema-esquerda, que pega informações no Globo, na Folha e no Estadão, para criticar Lula. Aí não vale. Não foi assim que aprendemos com Noam Chomsky. Se eu quero criticar Lula, preciso pegar documentos do governo e do PT, porque aí saberemos que são isentos no sentido de "querer" deliberadamente criticar Lula.
Chomsky consegue destruir retoricamente todos os governos americanos usando reportagens do New York Times favoráveis ao governo e, sobretudo, relatórios governamentais e declarações da própria Casa Branca.
O povo brasileiro tem dado sinais de amadurecimento político expressivos e, inclusive, até surpreendentes para uma população ainda tão marginalizada da informação de qualidade. É hora dos intelectuais darem sua contribuição, fugindo ao sectarismo ideológico e produzindo novos raciocínios, resgatando história e, porque não, criando linguagens originais e revolucionárias que tragam, no seu íntimo filosófico, uma moral mais pura e mais moderna.
Termino meu artigo com um "Fora Papa", devido a seu estúpido e reacionário conservadorismo, que beira o desumano e o cruel, ao condenar o uso de camisinha em continentes com a África; e dando mais salva ao grande Bezerra da Silva, que faleceu, em avançada idade, este ano; e meus cumprimentos à seleção brasileira que soube mostrar que o brasileiro não quer uma revolução dos deprimidos, desencantados e tristes. Quer uma revolução do forte, do alegre, do riso franco e honesto na cara de quem não tem nada de podre a esconder.