13 de julho de 2005

Ponderação e honestidade

Parece papo de velho. E é. Mas o momento é mesmo de trazer o máximo de ponderação e honestidade em nossos debates sobre os rumos políticos do país. Ponderação na linguagem e no conteúdo dos discursos e artigos; honestidade em admitir erros em todas as instâncias do poder e da sociedade civil.

Erraram o governo, os partidos, a imprensa, a opinião pública, mas desses erros nascerão verdades duradouras que servirão como mais um tijolo, mais uma pedrinha para sustentar nossa ainda insegura democracia.

Errou o governo por razões óbvias, por ter se associado a figuras como Roberto Jefferson, o qual soube se aproximar de Lula para enfiar-lhe uma adaga nas costas, mesmo jurando eterna admiração pelo presidente. Há rumores, que prefiro não acreditar, mas que não consideraria como totalmente absurdos, de que o ex-presidente do PTB seria agente da CIA, e teria recebido dinheiro para desestabilizar o governo Lula, com vistas a derrubá-lo e, com isso, debilitar o "mal vermelho" que vem se alastrando pelo continente sul-americano.

Geralmente, é muito difícil para o cidadão comum ler com clareza o que realmente está em jogo no Brasil. Fala-se sobre os lucros recordes dos bancos para ridicularizar a hipótese de que a direita (leia-se os banqueiros) estaria interessada em desestabilizar Lula. Esquece-se, porém, que justamente o fato de estar ganhando tanto dinheiro, faz com que a elite se sinta segura para arquitetar estratégias sutis, como convém à política moderna, para impedir a reeleição de Lula em 2006 e colocar um agente mais confiável do PSDB.

Sim, porque por mais que o governo Lula seja severo quanto às contas públicas e conservador em sua política macro-econômica, as elites, sobretudo seus elos internacionais, permanecem intranquilas quanto ao futuro político da nação.

Só o fato do Brasil ganhar destaque no cenário internacional, já faz com que a disputa pelo poder no país alcance um novo status. Quem dominar o Brasil, dominará a América Latina, isso parece claro para as elites internacionais. Não estou sendo delirante, paranóico ou conspiratório. Isso é uma coisa óbvia e inclusive normal. Digo mais, é até saudável, na medida em que observamos que a dinâmica da história de todas as nações sempre foi afetada pela conjuntura internacional.

Com a Venezuela, oriente médio e a unificada Europa seguindo caminhos cada vez mais originais e independentes das grandes multinacionais norte-americanas, só resta, aos falcões de Bush, fincarem as garras no doce e pacífico Brasil.

Lula conseguiu empurrar, com a barriga, a Alca para um futuro distante, além de exigir condições justas que fizeram hesitar os representantes do Império.

Se estivéssemos sob a batuta dos tucanos, a situação política estaria tensa na América Latina. FHC não teria tanta disposição de ajudar a Venezuela, por exemplo, a sair da crise. Sempre evitando atritos com os EUA, os tucanos não teriam a iniciativa de criar um grupo de amigos da Venezuela, sob a égide da OEA, para fiscalizar o referendo de 2004, que Chávez ganhou. Estaríamos já dentro da Alca, com empresas americanas ganhando licitações junto ao governo.

Arnaldo Jabor é um execelente redator e ensaísta. O fato de ter declarado, em artigo e depois no debate em que participou na Flip (tendo sido vaiado), apoio ao governo anterior, de FHC, revela franqueza raríssimas vezes vista na mídia. Se Estadão, Folha, Veja e Isto é, divulgassem declarações simlares, de que o governo FHC foi o mais moderno que o Brasil já teve, o público teria melhores condições de defender sua autonomia crítica diante das opiniões extremadas e do noticiário muitas vezes tendencioso.

Um verdadeiro conservador, em sua acepção mais nobre, é um homem culto, vivido e articulado. Suas idéias são defendidas com lógica fria. Em geral, o conservador é um pouco mais pessimista que o não-conservador. O conservador não acredita em grandes mudanças na questão social brasileiro. Muitos articulistas e escritores conservadores revelam-se brilhantes no que fazem.

Mas a política moderna, sobretudo no Brasil, que ainda possui um grande vazio institucional, precisa de mais do que palavras bonitas, recheadas de citações de clássicos, ou metáforas criativas e engraçadas, como sói ser o inconfundível estilo de Jabor.

A política moderna precisa ser incisiva sem ser apressada, pragmática sem perder a ideologia, severa sem ser cruel.

Os articulistas não conservadores, ou intelectuais orgânicos da "revolução", se é que ainda cabe usar esse termo aqui, deveriam continuar sua luta incessante pela divulgação de suas idéias, mas sem a arrogância de se considerarem, aprioristicamente, proprietários da verdade.

A senadora Ideli Salvati, do PT, deu entrevista ao Jô Soares de hoje (terça-feira) e mostrou-se pouco à vontade no programa, sobretudo porque ainda não se recuperou emocionalmente da calúnia desferida pelo deputado Roberto Jefferson em sua última atuação na CPI: de que Ideli também estava envolvida no tal escândalo do Mensalão.

O gordo tem sido mais esperto que se imagina. Volta e meia ataca O PT. Mas também tem dado generoso espaço aos parlamentares congressistas se comunicarem com o povo, inclusive do próprio PT. Equilibrando o fato de ser um dos mais importantes formadores de opinião do país e ser empregado das Organizações Globo, Jô tem conseguido lucrar com a crise, fazendo seu programa obter níveis recordes de audiência, ao mesmo tempo em que contribui para a normalização do clima político através do debate democrático, saudável, entre os diversos segmentos políticos. Ciente, tanto por suas próprias pesquisas internas, como pela prestigiada pesquisa do CNT/Sensus, de que Lula se mantém "blindado" contra as denúncias de corrupção, Jô, assim como todos diversos outros articulistas, percebe que esta crise tem muito de artificial. Crimes e corrupção sempre existiram. A diferença é que, agora, estão sendo apurados e gente rica está indo pro xadres.

Lula tem sido inteligente quando evita, a todo custo, criticar o papel hiper-crítico, quase histérico, golpistas para uns, tucanóide para outros, que a imprensa vem assumindo sobre a crise. Em seu últim discurso público no Brasil, durante evento em que se reuniu com lideranças sindicais que foram à Brasília prestar solidariedade e apoio ao presidente, defendeu a liberdade da imprensa. Ressaltou sua importância mesmo em momentos em que a imprensa parece se voltar contra o governo com virulência excessiva.

Paradoxalmente, e contrariando a tese de muitos analistas políticas, o instituto CNT/Sensus divulgou, segundo a Folha, que a popularidade de Lula aumentou em junho para 40%, depois de ter caído a 39% no mês anterior.

Enquanto isso, a Veja, tendenciosa como sempre, divulga pesquisa patrocinada pelo PSDB de que 52% dos brasileiros acham que Lula sabia do mensalão. A própria revista admite a incongruência da pesquisa, porque em outra pergunta, os mesmos 52% afirmam que Lula "é honesto". A pesquisa da Veja ficou totalmente desmoralizada pelos números, mais abrangentes e mais confiáveis do Sensus. Tendo sido o instituto mais usado pela oposição em 2003 para criticar Lula, em função das estimativas do CNT sobre o aumento do desemprego no primeiro ano do atual governo, pega mal, soa derrotismo, pronunciamentos como o de Garotinho, de que a pesquisa teria sido encomendada pelo governo. Serra, prefeito de São Paulo pelo PSDB, inclusive entra em risível contradição, ao desqualificar os dados positivos sobre o governo Lula e elogiar o fato de que os números mostram que ele é ainda o candidato mais forte contra Lula.

Na verdade, não há provas nem de que realmente haveria mensalão. O dinheiro, movimentado por Marcos Valério, pode ser para lobby de deputados, senadores, empresários, ou ambos. Pode ser lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, mil outras coisas. Portanto, é no mínimo leviando realizar uma pesquisa do tipo que a Veja fez, logo nesse momento tão delicado de nossas instituições.

Aliás, vale lembrar a omissão do jornal Nacional desta quarta-feira (13/07/2005) sobre o resultado da pesquisa.

Os jornais tem que se mostrar vigilantes quanto às investigações, mas sem exageros sensacionalistas que encubram interesses eleitorais de políticos que pretendem disputar com Lula a reeleição de 2006.

Pela verdade e pela justiça! E, por falar em justiça, vale lembrar que temos uma Constituição, onde estão expressas as mais puras, nobres e belas frases da literatura brasileira. Toda vez que um novo percentual da Constituição se torna realdade, nos aproximamos mais do sonho de sermos um país melhor, um país de crianças felizes e trabalhadores satisfeitos.

Por falar em trabalhadores satisfeitos, as vendas recordes registradas nas indústrias de automóveis explicam, em boa parte, o inabalável apoio que os principais sindicatos brasileiros vêm manifestando para com o presidente. Em boa situação financeira, as empresas não pensam mais em demissões em massa, e os operários obtém pequenos percentuais sobre os lucros nas vendas.

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