(Ilustração - dentre muitas outras - de Gustave Doré para a obra de John Milton, Paradise Lost, o Paraíso Perdido. Doré é também autor da ilustração do post anterior)
Continuando o assunto do post anterior, o diabo tem sido uma importante fonte de inspiração. Em Grande Sertão Veredas, obra-prima de Guimarães Rosa, a grande dúvida que inquieta o protagonista, Riobaldo, é a existência ou não do diabo. Riobaldo sugere a seu interlocutor que todos os homens sábios do mundo deveriam organizar um congresso para decidir, de uma vez por todas, se o diabo existe ou não. A dúvida perpassa toda a obra. A angústia de Riobaldo deriva-se de sua consciência atormentada por um suposto pacto que ele teria feito com Satanás. Ele não tem certeza. Lembra-se apenas que, numa noite sem lua, no tempo em que era jagunço e vivia momentos difíceis, decidiu ir a uma encruzilhada e chamar o diabo para ajudá-lo a enfrentar seus problemas. Sentiu um vento frio, alguns ruídos, mas nada conclusivo. Voltou ao acampamento. No dia seguinte, porém, Riobaldo acorda sentindo-se diferente. Sente uma força e uma coragem estranhas. Sempre fora uma sujeito calado, taciturno, submisso, lento. Agora, punha-se a falar, a contestar as ordens do chefe, a pensar rápido. Acaba desbancando o chefe antigo e assumindo a liderança do bando, dirigindo a batalha final contra os Hermógenes, os inimigos, e vencendo. O Riobaldo velho, que conta a história, é agora um homem bem sucedido. Antes um homem sem posses, filho bastardo e jagunço anônimo, termina sua vida como próspero fazendeiro e um nome famoso na história das mitológicas guerras sertanejas.
Lendo notícias sobre esse monstro da Áustria, que manteve sua filha presa no porão por 24 anos, não pude deixar de pensar em forças malignas. Principalmente por causa de uma coincidência curiosa. Estou lendo um romance de Norman Mailer, Castelo na Floresta. É o primeiro romance que leio do Mailer, que morreu há poucos meses. É seu último trabalho. Apesar de estar gostando, a leitura estava esfriando um pouco. Este caso do psicopata austríaco fez-me voltar à ele com mais interesse. Trata-se de uma ficção sobre a infância de Hitler e de seu pai. A história gira em torno do incesto. O narrador inicia o livro como funcionário das SS nazista, pesquisando, a pedido de Himmler, chefe da organização, a suposta origem incestuosa de Hitler.
Mais adiante, o narrador revela a sua identidade. É um diabo. Não Lúcifer, mas um de seus vassalos, encarregado a monitorar a família de Hitler desde meados do século XIX, com ênfase crescente a partir do nascimento de Adolph. O pai de Hitler teria sido um incestuoso contumaz, tendo por fim se casado com a própria filha, que geraria o futuro todo-poderoso do III Reich.
O personagem principal até a primeira metade do livro, o pai de Hitler, austríaco também, lembra muito esse monstro atual. O interessante é que o patamar de malignidade da vida real é muito superior à da ficção.
Não sou nenhum obcecado pelo diabo ou simpático a nenhuma seita satânica, que fique bem claro. Ao contrário, depois de ser um anarquista ateu dos mais radicais, me tornei até meio carola. Após os trinta anos, batizei-me (não o era, porque meu pai era ateu), casei-me no religioso e, sempre que visito uma igreja, faço o sinal da cruz ou alguma oração. Sou, no entanto, cada vez mais anti-papal. Acho o Papa um criminoso por proibir o uso do preservativo, mesmo sabendo que a Aids vem devastando países inteiros, como ocorre na África. Também acho que os padres deviam poder se casar, etc. Mas não me perguntem sobre Teoria da Libertação, que não entendo nada disso. Posso afirmar que sou um cristão, um admirador da lenda e das palavras de Jesus, e um leitor atento e apaixonado do Velho e do Novo Testamento, que vejo como obras de grande valor artístico e histórico.
Dito isto, volto ao diabo, com a consciência mais tranquila. Por coincidência, também estou lendo Fausto, a história do cientista que, cansado de sua pobreza material, sua solidão, sua rotina insossa de intelectual, aceita a proposta do diabo, que lhe surge sob o nome de Mefistófeles, de vender sua alma em troca de uma vida de prazeres e amores. Trata-se de outra lenda muito interessante, que novamente nos coloca em face do arquétipo junguiano do diabo como guia para a vida prática. Fausto estava totalmente desgostoso com o resultado obtido após décadas de estudo e pesquisa. Trata-se de um sentimento universal, clássico e contemporâneo. O conhecimento teórico, acadêmico, espiritual, nunca será satisfatório. O homem precisa conhecer a vida, tocar a vida, viver a vida, transar com a vida. Mas a religião tradicional, muitas vezes, surge como um obstáculo a esse desejo. E aí se materializa a figura de Mefistófeles, suprindo essa carência humana. Que homem, por mais santo que seja, não tem o seu demônio interior?
O entendimento mais aguçado dessa questão ajuda a evitar, inclusive, que façamos julgamentos morais precipitados sobre os outros. Aliás, nesses tempos de pré-julgamentos constantes, vale lembrar as palavras de São Paulo, no segundo capítulo de sua carta aos Romanos: "Assim, és inexcusável, ó homem, quem quer que sejas, que te arvoras em juiz. Naquilo que julgas a outrem, a ti mesmo condenas; pois tu, que julgas, fazes as mesmas coisas que eles."
*
E olha que nem falei sobre o Inferno, de Dante Alighieri, cuja primeira parte, O Inferno, tive o privilégio de ler no original. Mais adiante, conversamos sobre a obra-prima da literatura pré-renascentista.
*
A parte do pré-julgamento dedico para o Artur Xexeo, que deu uma de moralista em cima do Ronaldinho, em sua coluna de hoje, dia 30 de abril, no Segundo Caderno do Jornal O Globo.
30 de abril de 2008
Reflexões bíblicas
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Miguel do Rosário
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quarta-feira, abril 30, 2008
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23 de abril de 2008
Por que Oleo do Diabo?
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Já recebi questionamentos de muitos leitores sobre o porquê do nome deste blog. A curiosidade é natural, intrínseca ao ser humano. Tentarei, portanto, explicar. Anos atrás, escrevi um romance intitulado Parabellum. Era uma ficção em torno da figura de Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião. O livro era dividido em duas partes. A primeira delas chamava-se justamente Óleo do Diabo. Eu terminei o romance, mandei-o para um concurso, mas depois reneguei-o, por não ter alcançado a qualidade que eu pretendia. Mas o "Óleo do Diabo" ficou na minha cabeça e, meses depois, quando criei este blog, decidi dar-lhe esse título.
De onde tirei o "Óleo", não sei. No fundo, trata-se apenas de uma expressão estética, assim como "Cão sem Plumas", título do magnífico poema de João Cabral de Melo Neto. Posso fazer elocubrações, contudo, sobre os estudos que me levaram a esse nome. Caiu-me em mãos, ainda muito jovem, um livro intitulado Jung e o Tarô, de Salli Nichols, que usa as teorias junguianas para compreender as origens e o poder das cartas do tarô. Jung foi um dos maiores pesquisadores da importância dos arquétipos para o inconsciente coletivo da humanidade. Para Jung, por trás de todas as religiões, mitos, lendas, sonhos, há arquétipos profundos que remetem às experiências acumuladas pelo homem em dezenas de milhares de anos.
Por aí chegamos Nele. A figura do diabo, como se sabe, é um dos arquétipos mais poderosos, antigos e polêmicos. Está presente em quase todas as culturas e religiões. Foi na religião católica, no entanto, que ele adquiriu as conotações mais tenebrosas. Muitos estudiosos de mitologia e psicologia social, entre eles Jung, atacaram esse maniqueísmo católico como um medíocre reducionismo moral. Jung explicava que o diabo, inclusive dentro da própria cultura católica, tem funções importantes e positivas para a construção da personalidade. O diabo, afinal, é quem nos ensina a lidar com as pequenas maldades e egoísmos inerentes às relações humanas. Não esqueçamos que foi o diabo quem ofereceu a maçã à Eva, possibilitando que os dois primeiros humanos adquirissem consciência de si mesmos e saíssem da humilhante (embora idílica) condição semi-animalesca em que viviam. Como dizia Raulzito, grande estudioso de psicologia: "o diabo é o pai do rock / enquanto Freud explica / o diabo dá os toques".
A própria Bíblia traz uma mensagem dúbia neste sentido. Era melhor ficar na ignorância? A curiosidade, a ambição de conhecer tudo, esses pecados que teriam levado Eva a morder a maçã não seriam antes qualidades? Essas contradições levaram o grande poeta inglês Milton a escrever sua obra-prima, O Paraíso Perdido, cuja sinopse é a revolta de Lúcifer contra Deus, sua derrota, que o condenou a habitar os infernos, e, por fim, sua vingança, tentando o homem a provar do fruto da árvore do conhecimento.
No livro de Milton, que tem como base estudos bíblicos, mas os usa com grande liberdade poética e narrativa, Lúcifer integra o seleto grupo dos anjos de primeira classe, destacando-se por sua inteligência, beleza e... arrogância. Revela-se ainda um talentoso líder político. É o primeiro a constestar o poder absoluto de Deus. Aquele texto, na Inglaterra vitoriana, também podia ser lido como um libelo republicano contra o poder divino do rei. Milton, como se sabe, era republicano, tendo sido secretário de Oliver Crowell, o único governo republicano da história da Inglaterra. Após a queda de Crowell, Milton é alijado da vida política britânica, mas, obviamente, nunca esqueceu suas convicções políticas.
Lúcifer, debatendo com seus exércitos a melhor forma de se vingar de Deus, conclui que o ponto fraco do Todo Poderoso era o homem, sua criação mais querida. E percebe que Deus havia cometido um terrível erro, proibindo Adão e Eva de provarem do fruto do conhecimento. Que raios de felicidade é essa, pergunta-se Lúcifer, na qual não se pode ter acesso ao que existe de mais nobre e digno no universo, o conhecimento?
Voltando aos estudos de Jung, o psicólogo mostra como a figura do diabo existe em quase todas as religiões, mas sem a conotação pesada que tem na igreja católica. No candomblé, por exemplo, seria identificado como Exu, que, ironicamente, é o orixá da comunicação (!), além de "guardião das aldeias, cidades, casas e do axé, das coisas que são feitas e do comportamento humano", conforme descrição copiada da Wikipédia.
Por fim, acho que a internet é um espaço onde há muita gente ruim. Muito covarde que, na rua, não teria petulância de incomodar um filhotinho de vira-lata, na rede torna-se uma besta do apocalipse. Por isso, um nome pomposo e terrível como Óleo do Diabo, ajuda a afastar esses espíritos maus. Como aquelas carrancas que colocamos na porta de casa, para espantar o mau olhado.
(Ilustração: Lúcifer num dia ruim. Não consegui descobrir o autor.)
De onde tirei o "Óleo", não sei. No fundo, trata-se apenas de uma expressão estética, assim como "Cão sem Plumas", título do magnífico poema de João Cabral de Melo Neto. Posso fazer elocubrações, contudo, sobre os estudos que me levaram a esse nome. Caiu-me em mãos, ainda muito jovem, um livro intitulado Jung e o Tarô, de Salli Nichols, que usa as teorias junguianas para compreender as origens e o poder das cartas do tarô. Jung foi um dos maiores pesquisadores da importância dos arquétipos para o inconsciente coletivo da humanidade. Para Jung, por trás de todas as religiões, mitos, lendas, sonhos, há arquétipos profundos que remetem às experiências acumuladas pelo homem em dezenas de milhares de anos.
Por aí chegamos Nele. A figura do diabo, como se sabe, é um dos arquétipos mais poderosos, antigos e polêmicos. Está presente em quase todas as culturas e religiões. Foi na religião católica, no entanto, que ele adquiriu as conotações mais tenebrosas. Muitos estudiosos de mitologia e psicologia social, entre eles Jung, atacaram esse maniqueísmo católico como um medíocre reducionismo moral. Jung explicava que o diabo, inclusive dentro da própria cultura católica, tem funções importantes e positivas para a construção da personalidade. O diabo, afinal, é quem nos ensina a lidar com as pequenas maldades e egoísmos inerentes às relações humanas. Não esqueçamos que foi o diabo quem ofereceu a maçã à Eva, possibilitando que os dois primeiros humanos adquirissem consciência de si mesmos e saíssem da humilhante (embora idílica) condição semi-animalesca em que viviam. Como dizia Raulzito, grande estudioso de psicologia: "o diabo é o pai do rock / enquanto Freud explica / o diabo dá os toques".
A própria Bíblia traz uma mensagem dúbia neste sentido. Era melhor ficar na ignorância? A curiosidade, a ambição de conhecer tudo, esses pecados que teriam levado Eva a morder a maçã não seriam antes qualidades? Essas contradições levaram o grande poeta inglês Milton a escrever sua obra-prima, O Paraíso Perdido, cuja sinopse é a revolta de Lúcifer contra Deus, sua derrota, que o condenou a habitar os infernos, e, por fim, sua vingança, tentando o homem a provar do fruto da árvore do conhecimento.
No livro de Milton, que tem como base estudos bíblicos, mas os usa com grande liberdade poética e narrativa, Lúcifer integra o seleto grupo dos anjos de primeira classe, destacando-se por sua inteligência, beleza e... arrogância. Revela-se ainda um talentoso líder político. É o primeiro a constestar o poder absoluto de Deus. Aquele texto, na Inglaterra vitoriana, também podia ser lido como um libelo republicano contra o poder divino do rei. Milton, como se sabe, era republicano, tendo sido secretário de Oliver Crowell, o único governo republicano da história da Inglaterra. Após a queda de Crowell, Milton é alijado da vida política britânica, mas, obviamente, nunca esqueceu suas convicções políticas.
Lúcifer, debatendo com seus exércitos a melhor forma de se vingar de Deus, conclui que o ponto fraco do Todo Poderoso era o homem, sua criação mais querida. E percebe que Deus havia cometido um terrível erro, proibindo Adão e Eva de provarem do fruto do conhecimento. Que raios de felicidade é essa, pergunta-se Lúcifer, na qual não se pode ter acesso ao que existe de mais nobre e digno no universo, o conhecimento?
Voltando aos estudos de Jung, o psicólogo mostra como a figura do diabo existe em quase todas as religiões, mas sem a conotação pesada que tem na igreja católica. No candomblé, por exemplo, seria identificado como Exu, que, ironicamente, é o orixá da comunicação (!), além de "guardião das aldeias, cidades, casas e do axé, das coisas que são feitas e do comportamento humano", conforme descrição copiada da Wikipédia.
Por fim, acho que a internet é um espaço onde há muita gente ruim. Muito covarde que, na rua, não teria petulância de incomodar um filhotinho de vira-lata, na rede torna-se uma besta do apocalipse. Por isso, um nome pomposo e terrível como Óleo do Diabo, ajuda a afastar esses espíritos maus. Como aquelas carrancas que colocamos na porta de casa, para espantar o mau olhado.
(Ilustração: Lúcifer num dia ruim. Não consegui descobrir o autor.)
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Miguel do Rosário
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quarta-feira, abril 23, 2008
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Ninguém merece Arthur Virgílio
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Em artigo publicado no Valor, Wanderley Guilherme dos Santos faz uma análise interessante sobre o problema criado pela oposição. Santos observa que o país está "está ingressando em jogo internacional de maior complexidade e não pode se entregar ao luxo de ter uma política interna doidivanas ou caprichosa."
A tese do cientista é de que a oposição não tem se mostrado um ator responsável no debate político nacional, porque se recusa a participar construtivamente do processo de desenvolvimento. Nem mesmo apresenta planos alternativos que possam produzir questionamentos de melhor qualidade ao governo. O samba de uma nota do denuncismo barato, embora tenha boa repercussão junto a setores midiáticos, não tem produzido nenhum lucro político para a oposição. Ao contrário, a meu ver, a oposição apenas amplia sua dependência (perdendo autonomia e isenção, portanto) em relação a uma instância - a mídia - cujo poder eleitoral se revela cada vez menor.
Segundo Santos, "há seis anos a oposição insiste na tese de que o governo só promove ilegalidades e corrupção e as surras eleitorais que vem sofrendo têm sido insuficientes para convencê-la de que seu diagnóstico é falho. Sucedem-se as denúncias que desaparecem por irrelevantes ou, na maioria, são dadas por improcedentes. As poucas que prosperam não alcançam a envergadura pretendida pelos denunciantes. Como desagravo, os oposicionistas substituem a denúncia por outra, se possível maior. Estratégia midiática para aumentar circulação ou audiência, não convém a parlamentares converterem-se em oposição sensacionalista. Nem sempre dá, e não está dando, retorno. Escândalos não podem ser a única mercadoria fabricada diariamente pelo Parlamento."
Entretanto, o objetivo de Santos nesse artigo não é exatamente "ensinar" a oposição e sim alertar o governo sobre o perigo de se deixar pautar por um agente que não mostra compromisso com o desenvolvimento nacional. O Brasil é hoje um ator relevante no cenário internacional e os debates políticos domésticos estão sendo monitorados de perto pelo mundo. É triste constatar, portanto, que os referidos debates, em vez de apontarem caminhos, ainda sejam dominados por esse falso moralismo de salão.
Abaixo a íntegra do artigo de Wanderley Guilherme dos Santos, originalmente publicado no Valor Econômico, edição de 18/04/2008.
A tese do cientista é de que a oposição não tem se mostrado um ator responsável no debate político nacional, porque se recusa a participar construtivamente do processo de desenvolvimento. Nem mesmo apresenta planos alternativos que possam produzir questionamentos de melhor qualidade ao governo. O samba de uma nota do denuncismo barato, embora tenha boa repercussão junto a setores midiáticos, não tem produzido nenhum lucro político para a oposição. Ao contrário, a meu ver, a oposição apenas amplia sua dependência (perdendo autonomia e isenção, portanto) em relação a uma instância - a mídia - cujo poder eleitoral se revela cada vez menor.
Segundo Santos, "há seis anos a oposição insiste na tese de que o governo só promove ilegalidades e corrupção e as surras eleitorais que vem sofrendo têm sido insuficientes para convencê-la de que seu diagnóstico é falho. Sucedem-se as denúncias que desaparecem por irrelevantes ou, na maioria, são dadas por improcedentes. As poucas que prosperam não alcançam a envergadura pretendida pelos denunciantes. Como desagravo, os oposicionistas substituem a denúncia por outra, se possível maior. Estratégia midiática para aumentar circulação ou audiência, não convém a parlamentares converterem-se em oposição sensacionalista. Nem sempre dá, e não está dando, retorno. Escândalos não podem ser a única mercadoria fabricada diariamente pelo Parlamento."
Entretanto, o objetivo de Santos nesse artigo não é exatamente "ensinar" a oposição e sim alertar o governo sobre o perigo de se deixar pautar por um agente que não mostra compromisso com o desenvolvimento nacional. O Brasil é hoje um ator relevante no cenário internacional e os debates políticos domésticos estão sendo monitorados de perto pelo mundo. É triste constatar, portanto, que os referidos debates, em vez de apontarem caminhos, ainda sejam dominados por esse falso moralismo de salão.
Abaixo a íntegra do artigo de Wanderley Guilherme dos Santos, originalmente publicado no Valor Econômico, edição de 18/04/2008.
No meio do caminho há uma divergência
Wanderley Guilherme dos Santos, cientista político, membro da Academia Brasileira de Ciências, é um dos mais renomados e respeitados acadêmicos do País.
Está em tempo de a oposição retificar procedimentos. É crescente a divergência entre a percepção da maioria da opinião pública sobre o governo e as manifestações da oposição institucionalizada. O que o governo ganha em prestígio talvez não compense as perdas em participação democrática. A insistência oposicionista em se conduzir ao modo de grupo anarquista, contrário a tudo que seja governamental e, se possível, impedir que o governo governe, transforma o parlamento em obstáculo antes que coadjuvante do desempenho do país.
Bastam para atrapalhar o governo os custos de transação que está obrigado a incorrer para conseguir o apoio de sua própria base. Cada projeto requer, preliminarmente, atender às necessidades paroquiais de ponderável número de parlamentares. O que deixa de ser anotado, porém, é que essa dificuldade resulta da amputação sofrida pelo Legislativo. Cobrar a inserção de favores nas propostas do governo é a fórmula que resta aos parlamentares para mostrar serviço às suas fontes eleitorais. Fosse o processo legislativo brasileiro menos controlado pelo Executivo e um sem-número dos itens dos custos de transação passariam a investimento do Legislativo. O governo, qualquer governo, não consegue o melhor de todos os mundos: substituir-se, de graça, ao parlamento.
Mas este é um dos problemas que os governos criam para si mesmos. Outra coisa são os entraves construídos pela oposição. Há uma estratégia para quando o governo em exercício não está fazendo nada, obrigatoriamente distinta de quando se deseja que o governo faça mais. Há seis anos a oposição insiste na tese de que o governo só promove ilegalidades e corrupção e as surras eleitorais que vem sofrendo têm sido insuficientes para convencê-la de que seu diagnóstico é falho. Sucedem-se as denúncias que desaparecem por irrelevantes ou, na maioria, são dadas por improcedentes. As poucas que prosperam não alcançam a envergadura pretendida pelos denunciantes. Como desagravo, os oposicionistas substituem a denúncia por outra, se possível maior. Estratégia midiática para aumentar circulação ou audiência, não convém a parlamentares converterem-se em oposição sensacionalista. Nem sempre dá, e não está dando, retorno. Escândalos não podem ser a única mercadoria fabricada diariamente pelo Parlamento.
O progresso do país seria mais corretamente avaliado, e possivelmente estimulado, se o noticiário sobre o que vai pelo Brasil e pelo mundo fosse menos adversativo. É praticamente impossível ler uma notícia alvissareira sem os inevitáveis "mas", com os quais se desqualifica o sucesso. O noticiário adversativo é o alimento cotidiano do complexo de vira-lata do povo brasileiro. No extremo oposto do fascistóide "ame-o ou deixe-o" agora fica bem na foto a prática do niilismo ideológico: o paraíso está no desterro. É difícil exercer uma oposição construtiva quando a oposição oficial se esforça por comprometer políticas positivas.
O Brasil está ingressando em jogo internacional de maior complexidade e não pode se entregar ao luxo de ter uma política interna doidivanas ou caprichosa. Países de relevância reduzida costumam ser, às vezes, pouco responsáveis nas suas definições internas e externas. Não provocam, com isso, nenhum problema internacional, nem mesmo pagam pelas saliências. A comunidade internacional cedo ou tarde termina por ajudá-los a sair do atoleiro em que se meteram, exceto quando se envolvem em guerras genocidas. Nestes casos, a comunidade internacional é cruel e deixa que se matem aos milhares. O Brasil já foi um país de escassa relevância. Não é mais. Listado como um dos BRICs, isto é, aqueles previstos como grandes nações do século XXI, o país começa a pagar o preço de relativa notoriedade. Seus movimentos internos e externos têm repercussão e respostas cuidadosamente calculadas. Ao contrário do noticiário adversativo e do diagnóstico oposicionista, o país já é levado a sério.
Os leitores terão sido informados de que, na escala dos BRICs, por exemplo, marcharíamos na rabeira. O quadro oferece dados para melhor apreciação do problema. Desde logo se perceberá que o recente e extraordinário crescimento das economias chinesa e indiana partiu de baixíssimo patamar de acumulação material e que, em vários aspectos, ainda se encontram atrasadas. Nem por isso, é claro, o desempenho indiano ou chinês é negligenciável, mas convêm ter presente os parâmetros do jogo em que o Brasil está entrando. O cacife nacional é bom e, politicamente, não há o que invejar nos demais BRICs. Exceto por alguns setores de ponta particularmente bem desenvolvidos naqueles países, nada há a invejar economicamente também. O mercado interno chinês é descomunal, do mesmo modo que o indiano, mas esse é um valor comparativo chinês e indiano que vale para qualquer outro país, não apenas para o Brasil. Exclusivo desses países, em relação ao Brasil, é o arsenal atômico que possuem. E aí entra a desmedida relevância da Coréia do Norte, por exemplo, ou do Paquistão, países inconspícuos por qualquer outro critério que se adote.
No médio e longo prazo, interessam ao país políticas que acompanhem o desempenho da Federação Russa, da Índia e da China, e não vale comparar as contas nacionais brasileiras com as do Uruguai, por exemplo. E se trata apenas, neste juízo, de comparação de escala. Pela mesma razão, a resposta do governo não deve ficar restrita a desafiar a oposição sensacionalista, pois ela não oferece crítica estratégica. A oposição sensacionalista e o noticiário adversativo perderam o bonde e não é previsível quando voltarão aos trilhos. Mas cumpre ao governo diminuir o agressivo tom do sucesso e passar a expor como pretende aprimorar sua posição no confronto com os demais "BRICs". A parada aqui dentro tem sido fácil, dada a desorientação dos adversários. Não vale. Vá o governo desafiar alguém do seu tamanho.
20 de abril de 2008
Olivetti N.1
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domingo, abril 20, 2008
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17 de abril de 2008
A ultra jovem democracia brasileira
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Uma das coisas que mais me chamou a atenção no livro "Décadas de Espanto e uma Apologia Democrática", de Wanderley Guilherme dos Santos, são os dados que ele compilou relativos à participação do eleitorado sobre a população total brasileira.
Segundo Santos, com base em números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o eleitorado corrrespondia, em 1945, a 12,7% da população da região Norte, 11,6% do Nordeste, 19,6% do Sul e 11,0% do Centro-Oeste. Esses números irão crescer bastante até 1962, último ano de eleições depois do período de trevas democráticas que irão se abater sobre o país, mas ainda continuarão baixos: 22,3% para o Norte, 20% para o Nordeste, 28,2% para o Sudeste, 26,3% para o Sul e 25% para o Centro Oeste. Só em 1994, esses números irão atingir patamares mais abrangentes, em torno de 60 a 65% da população, afetando severamente o sistema oligárquico, que havia sobrevivido e se adaptado à democracia dos anos 40 a 60, e depois se fortalecido mais ainda durante a era militar, regime que apoiou e ao qual aderiu entusiasticamente.
Santos observa que apenas durante a última década (anos 90), a democracia eleitoral adquiriu "efetiva substância social". Pergunta-se o cientista: "que democracia seria aquela cujos postos de mando dependiam de 11,6% da população do Nordeste (sem mencionar voto de cabresto, fraude e coação), comparada com a desse mesmo Nordeste, em 1994, com 59,8% de sua população apta para votar?"
Enfim, o que se depreende do texto de Santos é que a própria democracia brasileira se "democratizou" recentemente, de maneira que a mudança no perfil de parlamentares, governantes, do próprio presidente, reflete essa extraordinária inclusão eleitoral da maioria do povo.
Outro conceito interessante que aprendi no livro de Santos foi sobre a hipocrisia dos grupos políticos, que aceitam participar do jogo democrático sem incorporar verdadeiramente os valores implicados. Essa falsidade patenteia-se na desconfiança em relação a seus adversários, a quem acusam permanentemente de possuírem "uma agenda oculta".
Lembre-se que o livro foi publicado em 1998. As análises de Santos, contudo, extravasam o circunstancial e tocam no cerne dos dilemas e deficiências políticas ainda muito atuais. Esse conceito da "agenda oculta", por exemplo, está presente na atual desconfiança, que hoje já atingiu nível de patologia, constante, obsessiva, de grupos políticos, aí incluídos setores midiáticos, contra as forças democráticas de esquerda, as quais estariam sempre, na visão paranóica desses grupos, em vias de promover algum golpe institucional contra o sistema. A quantidade de editoriais e artigos sombrios, Brasil à fora, acusando o governo de planejar um "golpe institucional", através de mudanças legislativas que permitiriam um "terceiro mandato", mesmo após o presidente e seu partido terem, em todas as oportunidades que foram questionados, negado peremptoriamente qualquer intenção nesse sentido, é prova do que estamos falando. O interessante é que a desconfiança parte justamente daqueles grupos que apoiaram uma mudança eleitoral que beneficiou as forças no poder, à época, permitindo que elas usassem a máquina pública para se reelegerem - caso de Fernando Henrique Cardoso. As críticas contra mudanças eleitorais e terceiro mandato, aliás, estão todas respingando nesse caso. O futuro presidente do Tribunal Superior Eleitoral, questionado sob eventuais mudança eleitoral com vistas permitir um terceiro mandato para presidente, posicinou-se frontalmente contra, insinuando que poderia acarretar em ação de inconstitucionalidade. Ayres Britto lembrou que o próprio presidente, "inteligente e democrata que é e sempre foi", tem dito que o "terceiro mandato é inconcebível". E alfineta a mudança realizada por FHC para aprovar a sua própria reeleição: "À luz da Constituição, já foi difícil de assimilar a tese da reeleição". Ou seja, a imprensa quis mirar no pé de Lula e acabou acertando no braço de FHC.
Hoje, no Globo, por exemplo, o colunista Demétrio Magnoli, falseia argumentos do livro de Eugenio Bucci, para insinuar que a TV Pública seria uma intervenção stalinista do governo federal sobre a realidade midiática. Falseia porque o livro de Bucci, "Em Brasília, 19 horas", segundo relatos de quem o leu, traz um elogio a Lula pelo apoio dado à linha independente defendida pelo ex-presidente da Rádiobrás. A mídia apenas destacou trechos em que Bucci cita pressões do Planalto contra a estatal, omitindo que, após as pressões, a sua visão independentista e crítica prevaleceu.
Magnoli, por fim, mente descaradamente nesse trecho: "A hostilidade à imprensa se manifesta como um programa de multiplicação dos meios de comunicação sob gestão governamental. Em 2003, Bucci ousou propor o fim da obrigatoriedade da transmissão da Voz do Brasil. No lugar disso, mais tarde, o governo decidiu implantar a TV Brasil." Ora, Bucci foi justamente o idealizador da TV Brasil! E sua intenção de acabar com a Voz do Brasil não originava-se de uma visão privatista da comunicação, e sim da idéia, muito lógica e simples, de que o modelo da Voz do Brasil, com seu formato convencional, conservador, autoritário, seria anacrônico. Concordo com Bucci. Quando chega a Hora do Brasil, a maioria das pessoas simplesmente desliga o rádio. Gosto de ouvir notícias pelo rádio, mas acho o formato da Voz do Brasil atrasado. Sente-se voltar no tempo, a décadas passadas - um efeito, aliás, que tem até seu lado positivo e explica, seguramente, o apego que setores da sociedade e do governo ainda mantém ao programa. Aposto que milhões de aposentados gostam de ouvir a Voz do Brasil. Mas que é atrasado e anacrônico, é quase um consenso.
Magnoli vai mais longe e traça um cenário ameaçador, citando o Projeto de Lei 29, o qual seria, segundo ele, um "acordo dos políticos contra os cidadãos"! Ora, Magnoli expressa uma visão oligárquica, anti-democrática, porque não aceita que os políticos é que são, eles sim, os representantes do povo e da democracia. Se a lei foi aprovada no Congresso Nacional, então ela representa os anseios do povo. Essa visão oligárquica ainda não assimilou essa realidade. E aí cotejamos com a análise de Santos, sobre o fato de que, apenas recentemente, a maioria da população brasileira está realmente participando das eleições. É um fato. O Congresso Nacional, goste-se ou não, errando ou acertando, reflete com cada vez mais fidelidade e justiça, os anseios do povo brasileiro, aí incluindo empresários, centrais sindicais, latifundiários, índios, classe média, etc. Pode-se e deve-se criticar o Congresso Nacional. Mas a crítica de Magnoli, que repete um padrão de toda a mídia corporativa, é à própria legitimidade democrática do Congresso.
Santos, em outro trecho do livro, observa que a imprensa faz uma campanha sistemática contra os parlamentares e depois patrocina uma pesquisa de opinião. O resultado, naturalmente, é desastroso, e serve para fortalecer a campanha, num ciclo vicioso que visa desmerecer, moral e eticamente, a força do Legislativo. Quando há um Executivo dominado por forças políticas em linha com a mídia, o mesmo ficaria excessivamente fortalecido. Quando o Executivo, como é o caso agora, não é de agrado dos editorialistas, então temos um cenário de crise política eterna, com Executivo e Legislativo no mesmo saco, compondo a mesma "corja", transmitindo ao público uma enorme sensação de insegurança, traduzida mais tarde, pelos mesmos colunistas, como um "grande desencanto com a política".
Apesar de constatações tão negativas, a leitura do livro de Santos sinaliza perspectivas boas para a democracia brasileira. O otimismo de Santos é saudável, porque não é ingênuo ou ufanista. É um otimismo discreto, de cientista cético, que não se ilude com nenhum futuro "feliz". Não é isso. A felicidade é subjetiva e relativa. Eventualmente, pode-se ser mais feliz sob uma tirania "do bem", estável e segura, do que sob uma democracia, que aceita e pressupõe constante conflito entre as forças políticas divergentes. O que se depreende da análise de Santos é que a luta continua, mas que, agora, pela primeira vez, o povo está armado. Isso não é nenhuma festa. Para uma elite míope, isso é negativo, porque ela não compreende que, em face desse novo poder a ele concedido, o povo tem condições de patrocinar um crescimento econômico inédito no país, beneficiando todos os agentes econômicos, elite inclusa. Não é uma festa porque o povo, ou a maioria, não é uma instituição infalível. O povo erra. O povo vota em Lula, por exemplo. Duas vezes, e confere-lhe popularidade jamais alcançada por outro governante. Mas o poder, numa democracia, não emana dos anseios éticos de colunistas de jornal. Segundo o Artigo Primeiro, Parágrafo Único, do Título I da Constituição Brasileira, que trata Dos Princípios Fundamentais, "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição". O povo está armado e, lembrando a canção, "a arma apontada para a cara do sossego". Do sossego bovino, autoritário, estúpido, dos estranhos homens que dirigem a reacionária mídia latino-americana.
Segundo Santos, com base em números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o eleitorado corrrespondia, em 1945, a 12,7% da população da região Norte, 11,6% do Nordeste, 19,6% do Sul e 11,0% do Centro-Oeste. Esses números irão crescer bastante até 1962, último ano de eleições depois do período de trevas democráticas que irão se abater sobre o país, mas ainda continuarão baixos: 22,3% para o Norte, 20% para o Nordeste, 28,2% para o Sudeste, 26,3% para o Sul e 25% para o Centro Oeste. Só em 1994, esses números irão atingir patamares mais abrangentes, em torno de 60 a 65% da população, afetando severamente o sistema oligárquico, que havia sobrevivido e se adaptado à democracia dos anos 40 a 60, e depois se fortalecido mais ainda durante a era militar, regime que apoiou e ao qual aderiu entusiasticamente.
Santos observa que apenas durante a última década (anos 90), a democracia eleitoral adquiriu "efetiva substância social". Pergunta-se o cientista: "que democracia seria aquela cujos postos de mando dependiam de 11,6% da população do Nordeste (sem mencionar voto de cabresto, fraude e coação), comparada com a desse mesmo Nordeste, em 1994, com 59,8% de sua população apta para votar?"
Enfim, o que se depreende do texto de Santos é que a própria democracia brasileira se "democratizou" recentemente, de maneira que a mudança no perfil de parlamentares, governantes, do próprio presidente, reflete essa extraordinária inclusão eleitoral da maioria do povo.
Outro conceito interessante que aprendi no livro de Santos foi sobre a hipocrisia dos grupos políticos, que aceitam participar do jogo democrático sem incorporar verdadeiramente os valores implicados. Essa falsidade patenteia-se na desconfiança em relação a seus adversários, a quem acusam permanentemente de possuírem "uma agenda oculta".
Lembre-se que o livro foi publicado em 1998. As análises de Santos, contudo, extravasam o circunstancial e tocam no cerne dos dilemas e deficiências políticas ainda muito atuais. Esse conceito da "agenda oculta", por exemplo, está presente na atual desconfiança, que hoje já atingiu nível de patologia, constante, obsessiva, de grupos políticos, aí incluídos setores midiáticos, contra as forças democráticas de esquerda, as quais estariam sempre, na visão paranóica desses grupos, em vias de promover algum golpe institucional contra o sistema. A quantidade de editoriais e artigos sombrios, Brasil à fora, acusando o governo de planejar um "golpe institucional", através de mudanças legislativas que permitiriam um "terceiro mandato", mesmo após o presidente e seu partido terem, em todas as oportunidades que foram questionados, negado peremptoriamente qualquer intenção nesse sentido, é prova do que estamos falando. O interessante é que a desconfiança parte justamente daqueles grupos que apoiaram uma mudança eleitoral que beneficiou as forças no poder, à época, permitindo que elas usassem a máquina pública para se reelegerem - caso de Fernando Henrique Cardoso. As críticas contra mudanças eleitorais e terceiro mandato, aliás, estão todas respingando nesse caso. O futuro presidente do Tribunal Superior Eleitoral, questionado sob eventuais mudança eleitoral com vistas permitir um terceiro mandato para presidente, posicinou-se frontalmente contra, insinuando que poderia acarretar em ação de inconstitucionalidade. Ayres Britto lembrou que o próprio presidente, "inteligente e democrata que é e sempre foi", tem dito que o "terceiro mandato é inconcebível". E alfineta a mudança realizada por FHC para aprovar a sua própria reeleição: "À luz da Constituição, já foi difícil de assimilar a tese da reeleição". Ou seja, a imprensa quis mirar no pé de Lula e acabou acertando no braço de FHC.
Hoje, no Globo, por exemplo, o colunista Demétrio Magnoli, falseia argumentos do livro de Eugenio Bucci, para insinuar que a TV Pública seria uma intervenção stalinista do governo federal sobre a realidade midiática. Falseia porque o livro de Bucci, "Em Brasília, 19 horas", segundo relatos de quem o leu, traz um elogio a Lula pelo apoio dado à linha independente defendida pelo ex-presidente da Rádiobrás. A mídia apenas destacou trechos em que Bucci cita pressões do Planalto contra a estatal, omitindo que, após as pressões, a sua visão independentista e crítica prevaleceu.
Magnoli, por fim, mente descaradamente nesse trecho: "A hostilidade à imprensa se manifesta como um programa de multiplicação dos meios de comunicação sob gestão governamental. Em 2003, Bucci ousou propor o fim da obrigatoriedade da transmissão da Voz do Brasil. No lugar disso, mais tarde, o governo decidiu implantar a TV Brasil." Ora, Bucci foi justamente o idealizador da TV Brasil! E sua intenção de acabar com a Voz do Brasil não originava-se de uma visão privatista da comunicação, e sim da idéia, muito lógica e simples, de que o modelo da Voz do Brasil, com seu formato convencional, conservador, autoritário, seria anacrônico. Concordo com Bucci. Quando chega a Hora do Brasil, a maioria das pessoas simplesmente desliga o rádio. Gosto de ouvir notícias pelo rádio, mas acho o formato da Voz do Brasil atrasado. Sente-se voltar no tempo, a décadas passadas - um efeito, aliás, que tem até seu lado positivo e explica, seguramente, o apego que setores da sociedade e do governo ainda mantém ao programa. Aposto que milhões de aposentados gostam de ouvir a Voz do Brasil. Mas que é atrasado e anacrônico, é quase um consenso.
Magnoli vai mais longe e traça um cenário ameaçador, citando o Projeto de Lei 29, o qual seria, segundo ele, um "acordo dos políticos contra os cidadãos"! Ora, Magnoli expressa uma visão oligárquica, anti-democrática, porque não aceita que os políticos é que são, eles sim, os representantes do povo e da democracia. Se a lei foi aprovada no Congresso Nacional, então ela representa os anseios do povo. Essa visão oligárquica ainda não assimilou essa realidade. E aí cotejamos com a análise de Santos, sobre o fato de que, apenas recentemente, a maioria da população brasileira está realmente participando das eleições. É um fato. O Congresso Nacional, goste-se ou não, errando ou acertando, reflete com cada vez mais fidelidade e justiça, os anseios do povo brasileiro, aí incluindo empresários, centrais sindicais, latifundiários, índios, classe média, etc. Pode-se e deve-se criticar o Congresso Nacional. Mas a crítica de Magnoli, que repete um padrão de toda a mídia corporativa, é à própria legitimidade democrática do Congresso.
Santos, em outro trecho do livro, observa que a imprensa faz uma campanha sistemática contra os parlamentares e depois patrocina uma pesquisa de opinião. O resultado, naturalmente, é desastroso, e serve para fortalecer a campanha, num ciclo vicioso que visa desmerecer, moral e eticamente, a força do Legislativo. Quando há um Executivo dominado por forças políticas em linha com a mídia, o mesmo ficaria excessivamente fortalecido. Quando o Executivo, como é o caso agora, não é de agrado dos editorialistas, então temos um cenário de crise política eterna, com Executivo e Legislativo no mesmo saco, compondo a mesma "corja", transmitindo ao público uma enorme sensação de insegurança, traduzida mais tarde, pelos mesmos colunistas, como um "grande desencanto com a política".
Apesar de constatações tão negativas, a leitura do livro de Santos sinaliza perspectivas boas para a democracia brasileira. O otimismo de Santos é saudável, porque não é ingênuo ou ufanista. É um otimismo discreto, de cientista cético, que não se ilude com nenhum futuro "feliz". Não é isso. A felicidade é subjetiva e relativa. Eventualmente, pode-se ser mais feliz sob uma tirania "do bem", estável e segura, do que sob uma democracia, que aceita e pressupõe constante conflito entre as forças políticas divergentes. O que se depreende da análise de Santos é que a luta continua, mas que, agora, pela primeira vez, o povo está armado. Isso não é nenhuma festa. Para uma elite míope, isso é negativo, porque ela não compreende que, em face desse novo poder a ele concedido, o povo tem condições de patrocinar um crescimento econômico inédito no país, beneficiando todos os agentes econômicos, elite inclusa. Não é uma festa porque o povo, ou a maioria, não é uma instituição infalível. O povo erra. O povo vota em Lula, por exemplo. Duas vezes, e confere-lhe popularidade jamais alcançada por outro governante. Mas o poder, numa democracia, não emana dos anseios éticos de colunistas de jornal. Segundo o Artigo Primeiro, Parágrafo Único, do Título I da Constituição Brasileira, que trata Dos Princípios Fundamentais, "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição". O povo está armado e, lembrando a canção, "a arma apontada para a cara do sossego". Do sossego bovino, autoritário, estúpido, dos estranhos homens que dirigem a reacionária mídia latino-americana.
15 de abril de 2008
Em defesa de Haroldo Lima: a barriga foi da mídia
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(Onde estão os infográficos? A mídia fez não sei quantos mil infográficos por causa de uma tapioca de R$ 8. Agora por que não faz infográfico para o que seria a terceira maior reserva de petróleo do mundo?)
As declarações do diretor da ANP, Haroldo Lima, reverberaram notícias (outra aqui) publicadas numa revista americana, World Oil. O novo campo de petróleo na área carioca não é somente da Petrobrás, que aliás nem maioria teria nesse campo. Há outras empresas (Exxon, etc) que têm acesso a esta informação.
Lima prestou um bem à nação. O ódio da imprensa, que está contaminando até membros do governo, deriva do fato de que Lima revelou uma grande barriga da mídia tapuia. Uma informação estratégica sobre nossas reservas energéticas, importantíssima, circulava desde fevereiro na imprensa especializada, e a nossa imprensa não sabia de nada. Não noticiava nada. Um erro colossal. Os editores e colunistas econômicos estão com a consciência pesada por sua ignorância, motivada pela incompreensível falta de interesse pelas descobertas no pré-sal.
Falta de interesse, aliás, que observo desde o primeiro anúncio feito da descoberta das novas reservas, no ano passado. Desde o início, a imprensa tem evitado explorar de forma abrangente o tema, que merecia cadernos especiais e montagem de equipes especializadas para investigar. Mais uma prova da incompetência da imprensa brasileira, e que é consequência natural desse direitismo submundista que domina parcela importante da elite e quase a totalidade dos meios de comunicação. A direita dos países desenvolvidos, ao menos, é nacionalista. Aliás, essa seria a sua principal característica, um nacionalismo exacerbado, exagerado a ponto de virar xenofobia.
Aqui, é o oposto. A nossa direita tem gravíssimos problemas de baixa auto-estima e, decididamente, não gosta do Brasil, do povo brasileiro, da cultura brasileira, nem se alegra ou se entusiasma com as conquistas sociais e econômicas do país. O caso dos mega-campos é emblemático. A direita ficou triste! Ficou triste com o fato do Brasil ter encontrado petróleo! Agora, ficou triste e revoltada com o fato do diretor da ANP ter contado o que a imprensa especializada já sabia, que há possibilidade muito concreta do campo Pão de Açúcar ter mais de 30 bilhões de barris e ser a terceira maior reserva do planeta.
Ora, por que os pequenos e médios investidores nacionais não podiam saber disso? Se os grandes não sabiam, é por estupidez, já que a notícia foi publicada na World Oil. Eles que se informassem melhor. Lima foi muito claro no que disse. Não fez nenhuma afirmação peremptória. Disse que haveria "possibilidade" do campo ser cinco vezes superior ao campo Tupi.
Houve agitação no mercado financeiro. Ora, mercado financeiro é assim mesmo. Vive de tensão, de notícias, de declarações. Lima não pode ser amordaçado. Poderia ficar quieto, sim, mas aí viria um americano e causaria o mesmo estardalhaço. O fato é que a notícia não tinha ainda caído nas mãos da grande mídia, brasileira ou internacional. Foi uma barriga, portanto, de toda a mídia mundial, com culpa particularmente grave da brasileira, já que os campos estão no Brasil e o assunto, portanto, é de interesse nacional.
PS: Assisti a uma entrevista com Haroldo Lima, em que ele faz uma afirmação que eu já tinha pensado: os estrangeiros já sabiam das possibilidades do Pão de Açúcar, por que os brasileiros não podiam saber? A nossa imprensa quer ocultar as informações? Ficam procurando pêlo em ovo, tentando encontrar pequenas contradições na fala de Lima. Por exemplo, durante o evento, ele teria citado "fontes não oficiais, oriundas evidentemente da operadora", e depois, mudado a versão, dizendo que a fonte seria uma revista americana.
Na realidade, a fonte era a revista, mas a revista, por sua vez, diz que a sua fonte são funcionários da Petrobrás, sem citar nomes. Se fosse uma informação sigilosa, ou se fosse um anúncio oficial, Lima teria errado ao divulgar dados sobre o campo Tupi. Mas não. Era uma informação que já corria nos meios especializados. Os americanos já vinham, portanto, comprando ações da Petrobrás, beneficiando-se da má fé da imprensa brasileira, que não deu publicidade à esta informação, prejudicando pequenos e médios investidores nacionais. O fato é que os campos existem. Segundo a reportagem da World Oil, o campo pode ter de 29 a 40 bilhões de barris, com média de 33 bilhões. Ou seja, pode ser ainda bem maior do que o sugerido por Haroldo Lima.
A manchete do Globo de hoje é: MP apura se houve crime com ações da Petrobrás. Ora, ótimo que o MP apure. Mas o MP foi mobilizado a agir por causa da pressão midiática. O Globo praticamente assinou petição pedindo a entrada do MP no caso, porque o Globo, assim como outros órgão de mídia, não aceita que o Brasil possa ser proprietário da terceira maior reserva do mundo.
Aliás, as possibilidades nem se esgotam na reserva Pão de Açúcar. Em toda a área do pré-sal há potencial de megacampos. É muito saudável, portanto, que as ações da Petrobrás se valorizem. Isso injeta capital na empresa, que precisará mesmo de muito dinheiro para explorar esse petróleo, que está depositado em camadas ultra-profundas. O custo de retirada desse petróleo será muito alto, havendo necessidade de enormes investimentos.
Lima prestou um bem à nação. O ódio da imprensa, que está contaminando até membros do governo, deriva do fato de que Lima revelou uma grande barriga da mídia tapuia. Uma informação estratégica sobre nossas reservas energéticas, importantíssima, circulava desde fevereiro na imprensa especializada, e a nossa imprensa não sabia de nada. Não noticiava nada. Um erro colossal. Os editores e colunistas econômicos estão com a consciência pesada por sua ignorância, motivada pela incompreensível falta de interesse pelas descobertas no pré-sal.
Falta de interesse, aliás, que observo desde o primeiro anúncio feito da descoberta das novas reservas, no ano passado. Desde o início, a imprensa tem evitado explorar de forma abrangente o tema, que merecia cadernos especiais e montagem de equipes especializadas para investigar. Mais uma prova da incompetência da imprensa brasileira, e que é consequência natural desse direitismo submundista que domina parcela importante da elite e quase a totalidade dos meios de comunicação. A direita dos países desenvolvidos, ao menos, é nacionalista. Aliás, essa seria a sua principal característica, um nacionalismo exacerbado, exagerado a ponto de virar xenofobia.
Aqui, é o oposto. A nossa direita tem gravíssimos problemas de baixa auto-estima e, decididamente, não gosta do Brasil, do povo brasileiro, da cultura brasileira, nem se alegra ou se entusiasma com as conquistas sociais e econômicas do país. O caso dos mega-campos é emblemático. A direita ficou triste! Ficou triste com o fato do Brasil ter encontrado petróleo! Agora, ficou triste e revoltada com o fato do diretor da ANP ter contado o que a imprensa especializada já sabia, que há possibilidade muito concreta do campo Pão de Açúcar ter mais de 30 bilhões de barris e ser a terceira maior reserva do planeta.
Ora, por que os pequenos e médios investidores nacionais não podiam saber disso? Se os grandes não sabiam, é por estupidez, já que a notícia foi publicada na World Oil. Eles que se informassem melhor. Lima foi muito claro no que disse. Não fez nenhuma afirmação peremptória. Disse que haveria "possibilidade" do campo ser cinco vezes superior ao campo Tupi.
Houve agitação no mercado financeiro. Ora, mercado financeiro é assim mesmo. Vive de tensão, de notícias, de declarações. Lima não pode ser amordaçado. Poderia ficar quieto, sim, mas aí viria um americano e causaria o mesmo estardalhaço. O fato é que a notícia não tinha ainda caído nas mãos da grande mídia, brasileira ou internacional. Foi uma barriga, portanto, de toda a mídia mundial, com culpa particularmente grave da brasileira, já que os campos estão no Brasil e o assunto, portanto, é de interesse nacional.
PS: Assisti a uma entrevista com Haroldo Lima, em que ele faz uma afirmação que eu já tinha pensado: os estrangeiros já sabiam das possibilidades do Pão de Açúcar, por que os brasileiros não podiam saber? A nossa imprensa quer ocultar as informações? Ficam procurando pêlo em ovo, tentando encontrar pequenas contradições na fala de Lima. Por exemplo, durante o evento, ele teria citado "fontes não oficiais, oriundas evidentemente da operadora", e depois, mudado a versão, dizendo que a fonte seria uma revista americana.
Na realidade, a fonte era a revista, mas a revista, por sua vez, diz que a sua fonte são funcionários da Petrobrás, sem citar nomes. Se fosse uma informação sigilosa, ou se fosse um anúncio oficial, Lima teria errado ao divulgar dados sobre o campo Tupi. Mas não. Era uma informação que já corria nos meios especializados. Os americanos já vinham, portanto, comprando ações da Petrobrás, beneficiando-se da má fé da imprensa brasileira, que não deu publicidade à esta informação, prejudicando pequenos e médios investidores nacionais. O fato é que os campos existem. Segundo a reportagem da World Oil, o campo pode ter de 29 a 40 bilhões de barris, com média de 33 bilhões. Ou seja, pode ser ainda bem maior do que o sugerido por Haroldo Lima.
A manchete do Globo de hoje é: MP apura se houve crime com ações da Petrobrás. Ora, ótimo que o MP apure. Mas o MP foi mobilizado a agir por causa da pressão midiática. O Globo praticamente assinou petição pedindo a entrada do MP no caso, porque o Globo, assim como outros órgão de mídia, não aceita que o Brasil possa ser proprietário da terceira maior reserva do mundo.
Aliás, as possibilidades nem se esgotam na reserva Pão de Açúcar. Em toda a área do pré-sal há potencial de megacampos. É muito saudável, portanto, que as ações da Petrobrás se valorizem. Isso injeta capital na empresa, que precisará mesmo de muito dinheiro para explorar esse petróleo, que está depositado em camadas ultra-profundas. O custo de retirada desse petróleo será muito alto, havendo necessidade de enormes investimentos.
14 de abril de 2008
Uma longa crônica self-service
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A leitura de "Décadas de Espanto e Uma Apologia Democrática", de Wanderley Guilherme dos Santos, tem sido uma magnífica aula de história e política. Santos fala sobre as origens das democracias modernas no mundo, compara-as entre si e com o Brasil, analisa os prós e os contras de cada uma, sempre deixando bem claro a sua opinião. Acrescente-se que o texto é redigido com prosa agradável, literária, uma abordagem elástica dos temas, e uma rebeldia alegre, com escapadelas do tema central para viajar em contextualizações que ajudam a compreender o todo.
É saudável observar como Santos desnuda a evolução problemática das nações mais tradicionais e "civilizadas", mostrando que, em termos de legislação eleitoral, muitas são mais atrasados que o Brasil, embora convivam harmoniosamente com seus problemas. Afinal, diz Santos, é preciso que as sociedades compreendam "o espírito" das leis, o que significa agir com justiça em linha com determinadas convicções, sem que seja necessário ao Estado usar de violência institucional.
Só quero deixar claro uma coisa. Os comentários que teço neste post são uma interpretação livre da minha leitura da obra citada.
Santos defende, com um entusiasmo discreto mas inegável, a democracia brasileira e o voto proporcional, e critica ferozmente os que procuram introduzir o voto distrital, e outras mudanças esdrúxulas na legislação eleitoral. Ele apresenta suas razões, mostrando que o voto proporcional é mais democrático, porque protege as minorias contra a tirania da maioria. Também aborda a questão dos partidos, observando que a legislação deve permitir a candidatura avulsa, sem partido, ou evitar que os partidos se oligarquizem, ou seja, se tornem propriedade de suas lideranças. O que me fez lembrar de certas lideranças partidárias escolhendo o candidato à República num restaurante cinco estrelas de São Paulo.
O livro foi escrito em 1998, e Santos já acusava a mídia de patrocinar campanhas que difamavam as instituições políticas. Difama e depois faz pesquisa junto a opinião pública para saber a avaliação que fazem dos políticos, os quais se tornam "vilões" apenas por serem políticos. A jovem e ainda insegura democracia brasileira enfrentou, durante todos os anos 80 e 90, e enfrenta até hoje, uma incessante campanha da imprensa contra todos os seus principais pilares, Legislativo, Judiciário e Executivo. Santos analisa e vê aí uma revolta oligárquica contra os avanços democráticos no país.
O último livro político de Santos chama-se Paradoxo de Rousseau, e aborda questões mais recentes. Está esgotado em quase todas as livrarias e sites de compra. Aí vai um pito à editora. Tentei encontrá-lo em diversas partes e não o encontrei.
Ainda não terminei de ler o livro de que falo neste post (Décadas de Espanto). Volto a ele mais tarde. Acho que Santos é um autor que merece ser estudado com muita atenção por todo cidadão interessado em entender os complicados processos políticos brasileiros, desde seus primórdios. Assim os debates políticos poderiam ganhar qualidade e os segmentos avançados da opinião pública se tornariam mais exigentes em relação à mídia.
Santos denuncia ainda uma série de críticas econômicas e políticas da mídia à democracia brasileira. Por exemplo, há muito tempo (o livro é de 1998) que a mídia insiste em comparar o crescimento do PIB brasileiro à de seus vizinhos pequenos. Santos lembra que, em 1946, para pegar um ano aleatoriamente, Honduras cresceu 6,9% enquanto o Brasil cresceu somente 1%. O PIB per capita no Brasil era de US$ 195, contra US$ 205 em Honduras. Pois bem, em 1993, o PIB per capita no Brasil chegou a US$ 2.930, seis vezes acima do PIB hondurenho. Santos usa outros exemplos similares para mostrar como a mídia manipula dados econômicos para pressionar por reformas nem sempre prioritárias, nem sempre necessárias e que, em muitos casos, implicariam em retrocesso democrático.
O Brasil precisa reler sua história, precisa abordar sob outros ângulos a sua experiência democrática. Por exemplo, na República Velha, a média dos eleitores oscilou em torno de 2,5% da população brasileira. Em 1945, já correspondia a 16%. Em 1994 chegou a 65,4% da população.
Ou seja, a nossa democracia é jovem. Muito jovem. Isso não significa que caminhe seguramente na direção do Paraíso. Nada é tão fácil. É preciso que a população fique atenta para que o sistema eleitoral e as instâncias de poder realmente correspondam a seus anseios.
Em 1998, Santos denunciava o financiamento espúrio das campanhas eleitorais, que seria o equivalente à compra de votos do século passado. Esse fato traria distorções profundas ao processo eleitoral, porque implica em vantagens para candidatos e partidos que usufruem de recursos de origem duvidosa. Entretanto, a constatação do problema não diminui a confiança de Santos na democracia, que possui instrumentos para coibi-lo ou reduzi-lo a níveis mínimos.
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Eu já havia lido um livro de Santos, há alguns meses, intitulado Cálculo do Conflito, Estabilidade e Crise na Política Brasileira, que é uma excelente aula de história sobre a realidade política nos anos 50 e 60. Entendi um pouco mais o Brasil e o mundo. Entendi, por exemplo, que a razão da histeria das elites brasileiras nessa época advinha do fato de que os partidos da direita vinham perdendo espaço no sistema eleitoral. Os partidos de centro-esquerda e esquerda vinham ampliando sua participação nos colégios eleitorais, o que levou as elites, através dos órgãos midiáticos sob seu controle, a iniciarem uma campanha sistemática contra a política e a democracia, culminando na patética exaltação da virtude cívica e ética pública dos militares. Santos observa, com base no que diziam e depois no que fizeram, que os partidos de direita, na época, eram perigosamente subversivos, muito mais até do que qualquer representante da esquerda. À medida que eles - os partidos conservadores - se enfraqueciam, no entanto, mais apoio ganhavam da mídia. Coincidência com a época atual?
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O fato é que vivemos um momento curioso. A mídia vem promovendo uma verdadeira limpeza étnica em suas redações e mesmo fora delas, incentivando campanhas de difamação contra qualquer jornalista ou intelectual que não compactue com sua visão de mundo. Nos últimos anos, não houve um jornalista, intelectual ou artista, não digo nem de esquerda, mas que simplesmente não manifestasse, de forma muito explícita, afinidade com a ideologia e opiniões emanadas da grande mídia, que não fosse odiosamente caluniado ou difamado ou insultado. O próprio Wanderley Guilherme dos Santos foi vítima de uma dessas dentadas banguelas, no caso do senhor Demétrio Magnoli, historiador meia-boca contratado pelo Globo para falar mal do PT. Na época, eu já admirava Santos, por seus artigos e entrevistas. Agora, depois de ler alguns de seus livros, vejo como a dentadinha de Magnoli foi patética, apenas denegrindo a si mesmo e ao órgão para o qual trabalha.
Ao mesmo tempo em que essa limpeza étnica acontece, a esquerda continua crescendo. Pesquisas recentes mostram popularidade recorde de Lula e de seu governo. Em São Paulo, a candidata do PT, Marta Suplicy, ultrapassa Alckmin e Kassab. Enfim, a mídia, mesmo diante dos resultados contra-producentes de sua campanha histérica oposicionista, continua apostando na mesma estratégia. Não dá uma linha sobre as matérias de Nassif sobre a Veja. Pior, repercute a Veja. Onde isso vai dar?
*
A mídia internacional especializada sabia, há meses, da existência do Campo Pão de Açúcar, na Bacia de Santos. Aí o Haroldo Lima, diretor da Agência Nacional de Petróleo vem à público declarar o que já era público e qual é a reação de nossos colunistas e âncoras tupiniquins? Condenar Lima por dar a informação! Miriam Leitão chegou a pedir que Lima seja investigado e condenado pela Comissão de Valores Imobiliários.
Um leitor do blog da Miriam mostrou o seguinte link, provando que a notícia circula desde fevereiro nos meios especializados. Quem não sabia era a grande mídia nativa, que despreza as conquistas brasileiras. Para ela, é irritante o Brasil descobrir petróleo. Engraçado, pela primeira vez, vejo a imprensa pregar a não-informação. O curioso é que ninguém no Globo, ao menos até agora, foi atrás de notícias mais consistentes sobre o novo mega-ultra campo. É isso que a sociedade quer saber. O mundo quer saber. Aliás, desde a descoberta do campo Tupi a imprensa vem sonegando informação sobre o potencial das reservas da região. Não foram pesquisar e agora ficam histéricos porque Lima lhes desnudou a ignorância. Reparem que, consultada, a Petrobrás não negou a notícia. Limitou-se, prudentemente, a observar que o potencial ainda está em estudo.
*
A campanha da mídia contra o MST recrudesceu sensivelmente por conta dos ataques da entidade à Vale do Rio Doce, sobretudo no Pará. O fato é que a Vale vem lucrando bilhões com a exploração de minério de ferro na Ilha de Marajó, onde fica a maior jazida do mundo, enquanto o Pará ainda padece de problemas sociais terríveis, grande parte deles decorrente de déficit fundiário. O Pará é o segundo maior estado do país, com 1,2 milhão de km quadrados, o que corresponde a uma área quase quatro vezes maior que a Alemanha (357 mil km2) e quase 10 vezes maior que a Inglaterra (357 mil km2). Não é lógico, portanto, que haja problema de falta de terras no estado. A Vale é uma das maiores empresas do mundo e precisa entender que tem responsabilidades sociais bem maiores àquelas que propaga na tv. Tem condições financeiras e políticas para lidar com sem-terra ou garimpeiros sem apelar para lobbies pró-repressivos, conforme tem feito.
É saudável observar como Santos desnuda a evolução problemática das nações mais tradicionais e "civilizadas", mostrando que, em termos de legislação eleitoral, muitas são mais atrasados que o Brasil, embora convivam harmoniosamente com seus problemas. Afinal, diz Santos, é preciso que as sociedades compreendam "o espírito" das leis, o que significa agir com justiça em linha com determinadas convicções, sem que seja necessário ao Estado usar de violência institucional.
Só quero deixar claro uma coisa. Os comentários que teço neste post são uma interpretação livre da minha leitura da obra citada.
Santos defende, com um entusiasmo discreto mas inegável, a democracia brasileira e o voto proporcional, e critica ferozmente os que procuram introduzir o voto distrital, e outras mudanças esdrúxulas na legislação eleitoral. Ele apresenta suas razões, mostrando que o voto proporcional é mais democrático, porque protege as minorias contra a tirania da maioria. Também aborda a questão dos partidos, observando que a legislação deve permitir a candidatura avulsa, sem partido, ou evitar que os partidos se oligarquizem, ou seja, se tornem propriedade de suas lideranças. O que me fez lembrar de certas lideranças partidárias escolhendo o candidato à República num restaurante cinco estrelas de São Paulo.
O livro foi escrito em 1998, e Santos já acusava a mídia de patrocinar campanhas que difamavam as instituições políticas. Difama e depois faz pesquisa junto a opinião pública para saber a avaliação que fazem dos políticos, os quais se tornam "vilões" apenas por serem políticos. A jovem e ainda insegura democracia brasileira enfrentou, durante todos os anos 80 e 90, e enfrenta até hoje, uma incessante campanha da imprensa contra todos os seus principais pilares, Legislativo, Judiciário e Executivo. Santos analisa e vê aí uma revolta oligárquica contra os avanços democráticos no país.
O último livro político de Santos chama-se Paradoxo de Rousseau, e aborda questões mais recentes. Está esgotado em quase todas as livrarias e sites de compra. Aí vai um pito à editora. Tentei encontrá-lo em diversas partes e não o encontrei.
Ainda não terminei de ler o livro de que falo neste post (Décadas de Espanto). Volto a ele mais tarde. Acho que Santos é um autor que merece ser estudado com muita atenção por todo cidadão interessado em entender os complicados processos políticos brasileiros, desde seus primórdios. Assim os debates políticos poderiam ganhar qualidade e os segmentos avançados da opinião pública se tornariam mais exigentes em relação à mídia.
Santos denuncia ainda uma série de críticas econômicas e políticas da mídia à democracia brasileira. Por exemplo, há muito tempo (o livro é de 1998) que a mídia insiste em comparar o crescimento do PIB brasileiro à de seus vizinhos pequenos. Santos lembra que, em 1946, para pegar um ano aleatoriamente, Honduras cresceu 6,9% enquanto o Brasil cresceu somente 1%. O PIB per capita no Brasil era de US$ 195, contra US$ 205 em Honduras. Pois bem, em 1993, o PIB per capita no Brasil chegou a US$ 2.930, seis vezes acima do PIB hondurenho. Santos usa outros exemplos similares para mostrar como a mídia manipula dados econômicos para pressionar por reformas nem sempre prioritárias, nem sempre necessárias e que, em muitos casos, implicariam em retrocesso democrático.
O Brasil precisa reler sua história, precisa abordar sob outros ângulos a sua experiência democrática. Por exemplo, na República Velha, a média dos eleitores oscilou em torno de 2,5% da população brasileira. Em 1945, já correspondia a 16%. Em 1994 chegou a 65,4% da população.
Ou seja, a nossa democracia é jovem. Muito jovem. Isso não significa que caminhe seguramente na direção do Paraíso. Nada é tão fácil. É preciso que a população fique atenta para que o sistema eleitoral e as instâncias de poder realmente correspondam a seus anseios.
Em 1998, Santos denunciava o financiamento espúrio das campanhas eleitorais, que seria o equivalente à compra de votos do século passado. Esse fato traria distorções profundas ao processo eleitoral, porque implica em vantagens para candidatos e partidos que usufruem de recursos de origem duvidosa. Entretanto, a constatação do problema não diminui a confiança de Santos na democracia, que possui instrumentos para coibi-lo ou reduzi-lo a níveis mínimos.
*
Eu já havia lido um livro de Santos, há alguns meses, intitulado Cálculo do Conflito, Estabilidade e Crise na Política Brasileira, que é uma excelente aula de história sobre a realidade política nos anos 50 e 60. Entendi um pouco mais o Brasil e o mundo. Entendi, por exemplo, que a razão da histeria das elites brasileiras nessa época advinha do fato de que os partidos da direita vinham perdendo espaço no sistema eleitoral. Os partidos de centro-esquerda e esquerda vinham ampliando sua participação nos colégios eleitorais, o que levou as elites, através dos órgãos midiáticos sob seu controle, a iniciarem uma campanha sistemática contra a política e a democracia, culminando na patética exaltação da virtude cívica e ética pública dos militares. Santos observa, com base no que diziam e depois no que fizeram, que os partidos de direita, na época, eram perigosamente subversivos, muito mais até do que qualquer representante da esquerda. À medida que eles - os partidos conservadores - se enfraqueciam, no entanto, mais apoio ganhavam da mídia. Coincidência com a época atual?
*
O fato é que vivemos um momento curioso. A mídia vem promovendo uma verdadeira limpeza étnica em suas redações e mesmo fora delas, incentivando campanhas de difamação contra qualquer jornalista ou intelectual que não compactue com sua visão de mundo. Nos últimos anos, não houve um jornalista, intelectual ou artista, não digo nem de esquerda, mas que simplesmente não manifestasse, de forma muito explícita, afinidade com a ideologia e opiniões emanadas da grande mídia, que não fosse odiosamente caluniado ou difamado ou insultado. O próprio Wanderley Guilherme dos Santos foi vítima de uma dessas dentadas banguelas, no caso do senhor Demétrio Magnoli, historiador meia-boca contratado pelo Globo para falar mal do PT. Na época, eu já admirava Santos, por seus artigos e entrevistas. Agora, depois de ler alguns de seus livros, vejo como a dentadinha de Magnoli foi patética, apenas denegrindo a si mesmo e ao órgão para o qual trabalha.
Ao mesmo tempo em que essa limpeza étnica acontece, a esquerda continua crescendo. Pesquisas recentes mostram popularidade recorde de Lula e de seu governo. Em São Paulo, a candidata do PT, Marta Suplicy, ultrapassa Alckmin e Kassab. Enfim, a mídia, mesmo diante dos resultados contra-producentes de sua campanha histérica oposicionista, continua apostando na mesma estratégia. Não dá uma linha sobre as matérias de Nassif sobre a Veja. Pior, repercute a Veja. Onde isso vai dar?
*
A mídia internacional especializada sabia, há meses, da existência do Campo Pão de Açúcar, na Bacia de Santos. Aí o Haroldo Lima, diretor da Agência Nacional de Petróleo vem à público declarar o que já era público e qual é a reação de nossos colunistas e âncoras tupiniquins? Condenar Lima por dar a informação! Miriam Leitão chegou a pedir que Lima seja investigado e condenado pela Comissão de Valores Imobiliários.
Um leitor do blog da Miriam mostrou o seguinte link, provando que a notícia circula desde fevereiro nos meios especializados. Quem não sabia era a grande mídia nativa, que despreza as conquistas brasileiras. Para ela, é irritante o Brasil descobrir petróleo. Engraçado, pela primeira vez, vejo a imprensa pregar a não-informação. O curioso é que ninguém no Globo, ao menos até agora, foi atrás de notícias mais consistentes sobre o novo mega-ultra campo. É isso que a sociedade quer saber. O mundo quer saber. Aliás, desde a descoberta do campo Tupi a imprensa vem sonegando informação sobre o potencial das reservas da região. Não foram pesquisar e agora ficam histéricos porque Lima lhes desnudou a ignorância. Reparem que, consultada, a Petrobrás não negou a notícia. Limitou-se, prudentemente, a observar que o potencial ainda está em estudo.
*
A campanha da mídia contra o MST recrudesceu sensivelmente por conta dos ataques da entidade à Vale do Rio Doce, sobretudo no Pará. O fato é que a Vale vem lucrando bilhões com a exploração de minério de ferro na Ilha de Marajó, onde fica a maior jazida do mundo, enquanto o Pará ainda padece de problemas sociais terríveis, grande parte deles decorrente de déficit fundiário. O Pará é o segundo maior estado do país, com 1,2 milhão de km quadrados, o que corresponde a uma área quase quatro vezes maior que a Alemanha (357 mil km2) e quase 10 vezes maior que a Inglaterra (357 mil km2). Não é lógico, portanto, que haja problema de falta de terras no estado. A Vale é uma das maiores empresas do mundo e precisa entender que tem responsabilidades sociais bem maiores àquelas que propaga na tv. Tem condições financeiras e políticas para lidar com sem-terra ou garimpeiros sem apelar para lobbies pró-repressivos, conforme tem feito.
Campo Pão de Açúcar pode ser a terceira maior reserva do mundo!
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E o FHC ainda queria privatizar a Petrobrás! Se tivesse acontecido, que seriam dessas reservas? Seriam escamoteadas da população brasileira? Seriam propriedade de firmas estrangeiras? Provavelmente, com a queda nos investimentos, nem seriam descobertas. Ou só daqui a 30 anos, quando o petróleo nem serviria mais pra nada. O impressionante é que a direita brasileira é tão, mas tão mesquinha, que não fica satisfeita com esse tipo de notícia. Só pensa em como isso atrapalhará seus projetos de poder. Na seção de comentários da notícia do Estadão, um leitor chega a afirmar que a notícia seria para "abafar" o escândalo dos cartões. Lembro que a Cora Ronai afirmou a mesma coisa, por ocasião dos supostos roubos de malas de Petrobrás. Leiam a notícia abaixo. Depois a gente conversa.
Área na Bacia de Santos pode ter até 5 vezes o volume de Tupi
Segundo diretor-geral da ANP, campo conhecido como 'Pão de Açúcar' pode tornar-se o 3º maior do mundo
Kelly Lima, da Agência Estado
RIO - O diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Haroldo Lima, afirmou nesta segunda-feira, 14, que a área chamada "Pão de Açúcar" localizada na Bacia de Santos, pode acumular até cinco vezes o volume de petróleo encontrado pela Petrobras em Tupi. Segundo ele, informações preliminares das empresas concessionárias que estão operando na área indicam que este volume poderia chegar até 33 bilhões de barris de óleo recuperáveis.
"Se isso for confirmado, será a maior descoberta já feita no mundo", disse o diretor em apresentação no IV Seminário de Petróleo e Gás no Brasil, promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O campo "poderá se transformar no terceiro maior de produção de petróleo no mundo."
Em sua apresentação, Lima identificou a área de "Pão de Açúcar" como sendo localizada apenas no bloco BM-S-9. A operadora desse bloco é a Petrobras com 45% de participação, em parceria com a BG (30%); e a Repsol (25%).
Porém, segundo analistas de mercado, a área, também conhecida como "Carioca" se estenderia também pelos blocos BM-S-8, BM-S-21, e BM-S-22. Destes, apenas o último não é operado pela Petrobras, e sim pela Exxon.
O volume estimado no novo campo (33 bilhões de barris de óleo recuperáveis), supera em muito a reserva no campo de Tupi - entre cinco bilhões e oito bilhões de barris. Atualmente, as reservas de petróleo e gás da Petrobras somam 11,704 bilhões de barris.
Esse é o nono poço bem-sucedido na Bacia de Santos, que vem sendo encarada como a principal província petrolífera mundial encontrada nos últimos anos. Em apenas quatro poços foram feitos testes de produção.
Os primeiros indícios de hidrocarbonetos localizados nessa área foram informados à ANP em agosto do ano passado, mas sem a revelação do volume identificado no local. As assessorias de comunicação da Petrobras, da BG e da Repsol - parceiras da estatal na exploração do campo - informaram que as empresas não comentarão as informações do diretor da ANP.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, também não quis comentar o assunto.
http://www.estadao.com.br/economia/not_eco156466,0.htm
Área na Bacia de Santos pode ter até 5 vezes o volume de Tupi
Segundo diretor-geral da ANP, campo conhecido como 'Pão de Açúcar' pode tornar-se o 3º maior do mundo
Kelly Lima, da Agência Estado
RIO - O diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Haroldo Lima, afirmou nesta segunda-feira, 14, que a área chamada "Pão de Açúcar" localizada na Bacia de Santos, pode acumular até cinco vezes o volume de petróleo encontrado pela Petrobras em Tupi. Segundo ele, informações preliminares das empresas concessionárias que estão operando na área indicam que este volume poderia chegar até 33 bilhões de barris de óleo recuperáveis.
"Se isso for confirmado, será a maior descoberta já feita no mundo", disse o diretor em apresentação no IV Seminário de Petróleo e Gás no Brasil, promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O campo "poderá se transformar no terceiro maior de produção de petróleo no mundo."
Em sua apresentação, Lima identificou a área de "Pão de Açúcar" como sendo localizada apenas no bloco BM-S-9. A operadora desse bloco é a Petrobras com 45% de participação, em parceria com a BG (30%); e a Repsol (25%).
Porém, segundo analistas de mercado, a área, também conhecida como "Carioca" se estenderia também pelos blocos BM-S-8, BM-S-21, e BM-S-22. Destes, apenas o último não é operado pela Petrobras, e sim pela Exxon.
O volume estimado no novo campo (33 bilhões de barris de óleo recuperáveis), supera em muito a reserva no campo de Tupi - entre cinco bilhões e oito bilhões de barris. Atualmente, as reservas de petróleo e gás da Petrobras somam 11,704 bilhões de barris.
Esse é o nono poço bem-sucedido na Bacia de Santos, que vem sendo encarada como a principal província petrolífera mundial encontrada nos últimos anos. Em apenas quatro poços foram feitos testes de produção.
Os primeiros indícios de hidrocarbonetos localizados nessa área foram informados à ANP em agosto do ano passado, mas sem a revelação do volume identificado no local. As assessorias de comunicação da Petrobras, da BG e da Repsol - parceiras da estatal na exploração do campo - informaram que as empresas não comentarão as informações do diretor da ANP.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, também não quis comentar o assunto.
http://www.estadao.com.br/economia/not_eco156466,0.htm
10 de abril de 2008
A náusea
7 comentarios
Confesso. Quando li a notícia da demissão de Mario Magalhães, ombudsman da Folha de São Paulo, senti uma náusea muito forte. A mesma que senti diante da arbitrariedade feita à Paulo Henrique Amorim. A degradação da imprensa nacional já não me provoca raiva. Apenas nojo. E pena.
*
E o Judas volta a atacar. Depois de escarnecer e tripudiar em cima da violência sofrida por Amorim, o Judas faz escarcéu com a demissão do jornalista Luiz Lobo da TV Brasil. Eu sei muito bem o que o Judas quer. Ganhar Ibope. Ele critica a Veja e ganha acessos da esquerda. Aí mete o cacete na esquerda, e ganha Ibope da direita.
Nos primórdios da blogosfera no Brasil, muita gente ganhou notoriedade brincando de ser reacionário. Escrevia-se posts horríveis sobre aborto, religião, homossexualismo, apenas para chocar e receber dezenas de comentários irados. A estratégia hoje não tem tanta eficácia como antes. O público está vacinado contra esse charlatanismo. Natural, portanto, que se encontre novas formas de produzir polêmicas artificiais.
Pois o Judas decidiu ganhar Ibope atacando a blogosfera. Cita vários blogs independentes e diz que nenhum denunciou o caso da demissão de Luiz Lobo. Ora, ora. O cara é tão arrogante que se pretende Observador da Blogosfera. Vá depilar a capivara, ô infeliz!
*
O caso do tal Luiz Lobo é, provavelmente, outro factóide da mídia. Qualquer um que critique o governo logo é colocado num pedestal, sob as palmas furiosas da direita. Um jornalista da TV Brasil, então... O fato de ser uma tv estatal não significa que não haja hierarquia e disciplina internas. O jornal tem linha editorial. A TV Brasil nasceu para ser diferente da mídia tradicional. Se for para ser igual, qual o sentido? Se, numa reunião de pauta, decide-se que a palavra "dossiê" não é adequada, por não ser jornalisticamente verídica, isso não é "pressão" do Planalto, mas legítima decisão editorial. Para a mídia, qualquer veículo que não compactue com seu vocabulário político e seu oposicionismo hidrofóbico, é chapa branca?
O tal jornalista tinha muitos canais para denunciar pressão. O Conselho Editorial tem gente de todos os matizes ideológicos e o tal jornalista poderia apelar para ele. Se resolveu usar o microfone que a mídia lhe pôs nas mãos, é sinal de que pretendeu converter a sua demissão num espetáculo midiático. Não tem comparação com Paulo Henrique Amorim, que teve seu site cortado, sem aviso prévio, impedindo-o de, gradualmente, transferir arquivos, leitores e milhões de links na web, para outro endereço.
*
Sobre a história do terceiro mandato, virou uma paranóia. O Lula repetiu milhões de vezes que não quer, que rompe com o PT se esse insistir, e os jornais prosseguem lançando no ar o terceiro mandato. A oposição midiática ao governo Lula começa a apresentar visíveis sinais de desequilíbrio mental.
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E o Judas volta a atacar. Depois de escarnecer e tripudiar em cima da violência sofrida por Amorim, o Judas faz escarcéu com a demissão do jornalista Luiz Lobo da TV Brasil. Eu sei muito bem o que o Judas quer. Ganhar Ibope. Ele critica a Veja e ganha acessos da esquerda. Aí mete o cacete na esquerda, e ganha Ibope da direita.
Nos primórdios da blogosfera no Brasil, muita gente ganhou notoriedade brincando de ser reacionário. Escrevia-se posts horríveis sobre aborto, religião, homossexualismo, apenas para chocar e receber dezenas de comentários irados. A estratégia hoje não tem tanta eficácia como antes. O público está vacinado contra esse charlatanismo. Natural, portanto, que se encontre novas formas de produzir polêmicas artificiais.
Pois o Judas decidiu ganhar Ibope atacando a blogosfera. Cita vários blogs independentes e diz que nenhum denunciou o caso da demissão de Luiz Lobo. Ora, ora. O cara é tão arrogante que se pretende Observador da Blogosfera. Vá depilar a capivara, ô infeliz!
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O caso do tal Luiz Lobo é, provavelmente, outro factóide da mídia. Qualquer um que critique o governo logo é colocado num pedestal, sob as palmas furiosas da direita. Um jornalista da TV Brasil, então... O fato de ser uma tv estatal não significa que não haja hierarquia e disciplina internas. O jornal tem linha editorial. A TV Brasil nasceu para ser diferente da mídia tradicional. Se for para ser igual, qual o sentido? Se, numa reunião de pauta, decide-se que a palavra "dossiê" não é adequada, por não ser jornalisticamente verídica, isso não é "pressão" do Planalto, mas legítima decisão editorial. Para a mídia, qualquer veículo que não compactue com seu vocabulário político e seu oposicionismo hidrofóbico, é chapa branca?
O tal jornalista tinha muitos canais para denunciar pressão. O Conselho Editorial tem gente de todos os matizes ideológicos e o tal jornalista poderia apelar para ele. Se resolveu usar o microfone que a mídia lhe pôs nas mãos, é sinal de que pretendeu converter a sua demissão num espetáculo midiático. Não tem comparação com Paulo Henrique Amorim, que teve seu site cortado, sem aviso prévio, impedindo-o de, gradualmente, transferir arquivos, leitores e milhões de links na web, para outro endereço.
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Sobre a história do terceiro mandato, virou uma paranóia. O Lula repetiu milhões de vezes que não quer, que rompe com o PT se esse insistir, e os jornais prosseguem lançando no ar o terceiro mandato. A oposição midiática ao governo Lula começa a apresentar visíveis sinais de desequilíbrio mental.
9 de abril de 2008
Notícias da Argentina
3 comentarios
Como eu andei escrevendo sobre a política argentina, segue o link para um artigo bem interessante que traz informações sobre o que aconteceu por lá.
5 de abril de 2008
Inflexão?
13 comentarios
Estava certo o leitor que disse que a declaração do presidente da OAB, César Britto, seria escamoteada da opinião pública brasileira. Ao menos no Globo de hoje, não há nenhuma palavra. O nome do senador Alvaro Dias também foi blindado.
Por outro lado, o Globo exercita hoje o mais puro golpismo mensaleiro, enchendo as páginas políticas de indagações, ilações, denúncias enviesadas. O manchetão não deixa dúvidas quanto à intenção do jornal: "Informações contraditórias complicam versão de Dilma".
Em que Dilma se contradiz? Para afirmar que Dilma se contradisse, o Globo distorce até mesmo o conceito de contradição. É impressionante. Um caso para linguistas. Por exemplo, uma das "contradições" da ministra apontada pelo Globo é essa:
- A ministra trabalha com a possiblidade de os computadores terem sido violados, mas admite que o histórico de casos de vazamento de informações mostra que em 90% dos casos foi alguém que tinha acessso aos documentos.
Qual a contradição? A ministra afirmou que 90% dos casos de vazamento advém de pessoas infiltradas. E os outros 10%? É evidente que, se existe a possibilidade de invasão, ela tem que ser investigada.
O jornal, além disso, trata cada argumentação da ministra sobre o caso como se fosse "uma nova versão", repetindo sempre a expressão "agora". "Agora" a ministra apresenta uma nova versão. Ora, a ministra não sabe o que aconteceu. Não sabe quem vazou. Ela admite e repete isso a todo instante. Então, mais que natural, é honesto que ela, diante das perguntas da imprensa, apresente hipóteses do que aconteceu.
O Globo, e a imprensa em geral, produz um clima de suspeição que não faz bem à democracia. A ministra é uma figura central da administração pública do governo federal. Ao tentar desestabilizá-la e a todo o seu ministério, a mídia causa enorme dano ao país, porque obstrui trabalhos fundamentais e urgentes para minimizar a miséria brasileira e fomentar o crescimento econômico. Isso não é brincadeira.
*
Outro absurdo do Globo de hoje é o tratamento dado à concessão de indenização aos jornalistas vítimas da ditadura militar. Desde a manchete na primeira página, passando pela notícia, até o box de opinião, demonstram desrespeito por uma medida aprovada pelo Congresso Nacional, em linha com a Constituição Brasileira, que tenta indenizar profissionais prejudicados pelo regime ditatorial. O Globo expõe os jornalistas indenizados de maneira a prejudicar a sua imagem. O incrível é que o mínimo que se esperava do GLobo é que ficasse quieto, já que foi a empresa que mais ganhou dinheiro durante o regime militar, através de verba pública, empréstimos subsidiados, leis favoráveis. E não foi R$ 1 milhão. Foram bilhões de reais e, mais que isso, o quase monopólio da televisão no país.
*
Tenho notado que César Britto, nos últimos dias, tem feito algumas declarações que contrariam frontalmente os anseios midiáticos. Sabendo que Britto é, antes de um tudo, um conservador renhido, representante da direita da OAB, embora não extrema-direita como a seção de São Paulo, intrigou-me essa tomada de posição firme.
Considerando que as pesquisas de Datafolha e Ibope mostraram que Lula agora também recebe forte apoio das classes médias e altas, o que me pus a imaginar é que está começando a haver uma inflexão nas elites brasileiras em relação a esse clima de guerra oposicionista que predomina na imprensa. Perdendo apoio da maioria nas elites, a mídia fica isolada, recebendo apoio apenas de um segmento restrito de extremistas de direita.
Por outro lado, o Globo exercita hoje o mais puro golpismo mensaleiro, enchendo as páginas políticas de indagações, ilações, denúncias enviesadas. O manchetão não deixa dúvidas quanto à intenção do jornal: "Informações contraditórias complicam versão de Dilma".
Em que Dilma se contradiz? Para afirmar que Dilma se contradisse, o Globo distorce até mesmo o conceito de contradição. É impressionante. Um caso para linguistas. Por exemplo, uma das "contradições" da ministra apontada pelo Globo é essa:
- A ministra trabalha com a possiblidade de os computadores terem sido violados, mas admite que o histórico de casos de vazamento de informações mostra que em 90% dos casos foi alguém que tinha acessso aos documentos.
Qual a contradição? A ministra afirmou que 90% dos casos de vazamento advém de pessoas infiltradas. E os outros 10%? É evidente que, se existe a possibilidade de invasão, ela tem que ser investigada.
O jornal, além disso, trata cada argumentação da ministra sobre o caso como se fosse "uma nova versão", repetindo sempre a expressão "agora". "Agora" a ministra apresenta uma nova versão. Ora, a ministra não sabe o que aconteceu. Não sabe quem vazou. Ela admite e repete isso a todo instante. Então, mais que natural, é honesto que ela, diante das perguntas da imprensa, apresente hipóteses do que aconteceu.
O Globo, e a imprensa em geral, produz um clima de suspeição que não faz bem à democracia. A ministra é uma figura central da administração pública do governo federal. Ao tentar desestabilizá-la e a todo o seu ministério, a mídia causa enorme dano ao país, porque obstrui trabalhos fundamentais e urgentes para minimizar a miséria brasileira e fomentar o crescimento econômico. Isso não é brincadeira.
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Outro absurdo do Globo de hoje é o tratamento dado à concessão de indenização aos jornalistas vítimas da ditadura militar. Desde a manchete na primeira página, passando pela notícia, até o box de opinião, demonstram desrespeito por uma medida aprovada pelo Congresso Nacional, em linha com a Constituição Brasileira, que tenta indenizar profissionais prejudicados pelo regime ditatorial. O Globo expõe os jornalistas indenizados de maneira a prejudicar a sua imagem. O incrível é que o mínimo que se esperava do GLobo é que ficasse quieto, já que foi a empresa que mais ganhou dinheiro durante o regime militar, através de verba pública, empréstimos subsidiados, leis favoráveis. E não foi R$ 1 milhão. Foram bilhões de reais e, mais que isso, o quase monopólio da televisão no país.
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Tenho notado que César Britto, nos últimos dias, tem feito algumas declarações que contrariam frontalmente os anseios midiáticos. Sabendo que Britto é, antes de um tudo, um conservador renhido, representante da direita da OAB, embora não extrema-direita como a seção de São Paulo, intrigou-me essa tomada de posição firme.
Considerando que as pesquisas de Datafolha e Ibope mostraram que Lula agora também recebe forte apoio das classes médias e altas, o que me pus a imaginar é que está começando a haver uma inflexão nas elites brasileiras em relação a esse clima de guerra oposicionista que predomina na imprensa. Perdendo apoio da maioria nas elites, a mídia fica isolada, recebendo apoio apenas de um segmento restrito de extremistas de direita.
4 de abril de 2008
OAB vê crime em ação de tucano
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Notícia pescada na Agência Senado:
OAB vê falta de decoro na ação do senador Álvaro Dias (PSDB-PR)
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, disse que é crime e falta de decoro parlamentar a quebra de sigilo e manipulação de dados sob proteção legal e constitucional. Por isso, acrescentou, se for comprovado que o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) foi o responsável pelo vazamento dos dados secretos sobre os gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com os cartões corporativos, o caso merece investigação do Senado. Na avaliação de Britto, a quebra de sigilo fragiliza a Comissão Parlamentar de Inquérito.
"Se não há confiança no sigilo dos dados encaminhados a uma CPI, isso apenas fortalece os argumentos daqueles que querem restringir o trabalho das comissões", afirmou Cezar Britto, em entrevista na Câmara, divulgada por sua assessoria. Britto lembrou que autoridades dos Estados Unidos já se recusaram a enviar dados sigilosos para uma das várias CPIs brasileiras, por não confiarem no comportamento ético do parlamentar brasileiro. "Exatamente para restabelecer a confiabilidade do Senado e da própria CPI é que se faz necessário a urgente investigação da denúncia da quebra do sigilo dos dados referente aos cartões corporativos usados no passado", afirmou.
"O que não pode é que em um caso de extrema gravidade como este não tenha uma solução, não tenha uma decisão, não tenha um esclarecimento para a opinião pública", acrescentou. Cesar Britto ressaltou que confia no Parlamento, mas ressaltou que a instituição "tem que sobreviver com a credibilidade e não podem pairar dúvidas sobre o comportamento de um de seus membros".
Fonte: Agência Senado
OAB vê falta de decoro na ação do senador Álvaro Dias (PSDB-PR)
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, disse que é crime e falta de decoro parlamentar a quebra de sigilo e manipulação de dados sob proteção legal e constitucional. Por isso, acrescentou, se for comprovado que o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) foi o responsável pelo vazamento dos dados secretos sobre os gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com os cartões corporativos, o caso merece investigação do Senado. Na avaliação de Britto, a quebra de sigilo fragiliza a Comissão Parlamentar de Inquérito.
"Se não há confiança no sigilo dos dados encaminhados a uma CPI, isso apenas fortalece os argumentos daqueles que querem restringir o trabalho das comissões", afirmou Cezar Britto, em entrevista na Câmara, divulgada por sua assessoria. Britto lembrou que autoridades dos Estados Unidos já se recusaram a enviar dados sigilosos para uma das várias CPIs brasileiras, por não confiarem no comportamento ético do parlamentar brasileiro. "Exatamente para restabelecer a confiabilidade do Senado e da própria CPI é que se faz necessário a urgente investigação da denúncia da quebra do sigilo dos dados referente aos cartões corporativos usados no passado", afirmou.
"O que não pode é que em um caso de extrema gravidade como este não tenha uma solução, não tenha uma decisão, não tenha um esclarecimento para a opinião pública", acrescentou. Cesar Britto ressaltou que confia no Parlamento, mas ressaltou que a instituição "tem que sobreviver com a credibilidade e não podem pairar dúvidas sobre o comportamento de um de seus membros".
Fonte: Agência Senado
3 de abril de 2008
Eletrodoméstico também mata a fome
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O título parece sem sentido, mas não é. A nova do Globo é criticar que as famílias que recebem o Bolsa Família possam comprar eletrodomésticos com o dinheiro recebido. Dizem que o programa é para matar a fome, então não pode comprar nada além disso. É muita estupidez. Em pleno século XXI, não é possível que jornalistas não compreendam que alguns eletrodomésticos são fundamentais para a dona-de-casa. A geladeira, por exemplo, permite economia nos custos de alimentação, por razões óbvias. Uma máquina de lavar roupa libera tempo para que a dona-de-casa possa cuidar dos filhos ou fazer algum trabalho para levantar uma renda extra, e assim se alimentar melhor. Enfim, é tão óbvio. Por que o Globo continua com essa cruzada contra os pobres, contra os programas sociais citados como modelo em todo planelta. Outro dia, até a Hillary Clinton citou o Bolsa Família como referência de programa social moderno. O Globo fala que os recursos seriam melhor aplicados em educação. Ora, uma coisa não exclui a outra. O Bolsa Família é um dos programas sociais mais baratos do mundo, quando observamos a sua eficácia. Nem vale mais falar em gastos, visto que a ativação econômica das massas antes excluídas do mercado de consumo tem ajudado a produzir um crescimento vigoroso, o que resulta em mais contribuições, que é o que está acontecendo.
Globo ressuscita o anti-trabalhismo da década de 50
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A cobertura do O Globo para a questão das centrais sindicais remete diretamente à postura do jornal nas décadas de 50 e 60, quando se posicionava sempre contra qualquer demanda dos trabalhadores.
O veto de Lula para o dispositivo de lei que possibilitava a fiscalização das contas dos sindicatos pelo Tribunal de Contas está sendo tratado pela imprensa como incentivo à roubalheira. O Globo está furioso e acusa os sindicatos de roubarem antes mesmo de receberem o dinheiro. Para cúmulo da hipocrisia, o Globo ainda sugere que ele defende o direito dos trabalhadores, que levariam "uma facada" dos sindicatos. Não diz o Globo que a contribuição sindical representa uma fração insignificante nos salários, com resultados fantásticos para o fortalecimento da classe trabalhadora nas negociações salariais, além dos amplos serviços prestados pelos sindicatos, como de assistência jurídica, por exemplo.
O sindicato forte é a única maneira do trabalhador se fazer respeitar.
O que me impressiona é que o presidente da Organização dos Advogados do Brasil, César Britto, declarou também ser contra a fiscalização das contas sindicais pelo Tribunal de Contas. Britto explicou que a OAB também recebe recursos oficiais, e que, volta e meia, pedem que estes sejam fiscalizados. Isso representaria, no entanto, segundo Brito, uma ingerência política sobre a OAB.
Para ser coerente com o princípio que alega, o Globo teria que ser também a favor de fiscalizar a OAB. O Globo também precisa expor os sindicatos patronais, cuja imagem ele nunca expõe como faz com os sindicatos dos trabalhadores.
É importante entender a questão da seguinte maneira. O dinheiro das centrais e dos sindicatos não é exatamente "verba pública", porque são descontados da folha salarial. É dinheiro, portanto, dos trabalhadores. A fiscalização do dinheiro acontecerá pelos próprios trabalhadores, pelo Judiciário, e pelas polícias.
Agindo desta maneira, o Globo explicita a sua postura anti-trabalhista, recaindo no velho preconceito das elites brasileiras de achar que o trabalhador não faz parte do capitalismo. As elites ainda não entenderam que um crescimento econômico estável, duradouro e justo, só irá acontecer se houver fortalecimento da massa trabalhadora, que constituirá, como já vem acontecendo, o motor da economia, através do consumo.
A manchete "Festa oficial para a gastança" é fortemente ofensiva e, na minha opinião, merecia ser alvo de processo por parte das centrais.
Outra notícia transbordante de veneno, hipocrisia e más intenções está na página 4. Sob o título "Vida de rico", o Globo fala sobre alguns dirigentes sindicais que possuem carros e imóveis. Nada mais preconceituoso, como se o trabalhador também não pudesse ser rico. Fala que Almir Macedo Pereira também tem "alto padrão de vida" e que estaria construindo uma casa na Serra da Cantareira, "reduto de endinheirados". Chega a ser engraçado um panfleto neoliberal, que sempre se declara a favor de milionários, usar esse vocabulário. "Reduto de endinheirados" é uma expressão que não se encontra mais nem no site do PSTU, de tão vulgar e clichê.
Além do mais, se existem líderes sindicais corruptos, e daí? Se formos criminalizar as centrais sindicais por conta de alguns líderes corruptos em meio a dezenas de milhares de lideranças, então teremos que criminalizar todos os advogados, empresários, funcionários públicos e jornalistas, por conta de alguns elementos de comportamento pouco ilibado. É evidente que existe e existirá sempre corrupção no meio sindical, mas o Globo não quer acabar com a corrupção, quer acabar com o sindicato.
Também é interessante ler os editoriais anti-getulistas do Globo, 54 anos após a morte de Vargas. Mostra que, 54 anos depois, sua força, sua história, e sua luta, continuam incomodando as oligarquias brasileiras. Aliás, vale lembrar que a imprensa deixou passar em branco o aniversário do golpe militar. É, mas a blogosfera não deixa, clique aqui para ler o editorial do Globo do dia seguinte ao golpe.
O veto de Lula para o dispositivo de lei que possibilitava a fiscalização das contas dos sindicatos pelo Tribunal de Contas está sendo tratado pela imprensa como incentivo à roubalheira. O Globo está furioso e acusa os sindicatos de roubarem antes mesmo de receberem o dinheiro. Para cúmulo da hipocrisia, o Globo ainda sugere que ele defende o direito dos trabalhadores, que levariam "uma facada" dos sindicatos. Não diz o Globo que a contribuição sindical representa uma fração insignificante nos salários, com resultados fantásticos para o fortalecimento da classe trabalhadora nas negociações salariais, além dos amplos serviços prestados pelos sindicatos, como de assistência jurídica, por exemplo.
O sindicato forte é a única maneira do trabalhador se fazer respeitar.
O que me impressiona é que o presidente da Organização dos Advogados do Brasil, César Britto, declarou também ser contra a fiscalização das contas sindicais pelo Tribunal de Contas. Britto explicou que a OAB também recebe recursos oficiais, e que, volta e meia, pedem que estes sejam fiscalizados. Isso representaria, no entanto, segundo Brito, uma ingerência política sobre a OAB.
Para ser coerente com o princípio que alega, o Globo teria que ser também a favor de fiscalizar a OAB. O Globo também precisa expor os sindicatos patronais, cuja imagem ele nunca expõe como faz com os sindicatos dos trabalhadores.
É importante entender a questão da seguinte maneira. O dinheiro das centrais e dos sindicatos não é exatamente "verba pública", porque são descontados da folha salarial. É dinheiro, portanto, dos trabalhadores. A fiscalização do dinheiro acontecerá pelos próprios trabalhadores, pelo Judiciário, e pelas polícias.
Agindo desta maneira, o Globo explicita a sua postura anti-trabalhista, recaindo no velho preconceito das elites brasileiras de achar que o trabalhador não faz parte do capitalismo. As elites ainda não entenderam que um crescimento econômico estável, duradouro e justo, só irá acontecer se houver fortalecimento da massa trabalhadora, que constituirá, como já vem acontecendo, o motor da economia, através do consumo.
A manchete "Festa oficial para a gastança" é fortemente ofensiva e, na minha opinião, merecia ser alvo de processo por parte das centrais.
Outra notícia transbordante de veneno, hipocrisia e más intenções está na página 4. Sob o título "Vida de rico", o Globo fala sobre alguns dirigentes sindicais que possuem carros e imóveis. Nada mais preconceituoso, como se o trabalhador também não pudesse ser rico. Fala que Almir Macedo Pereira também tem "alto padrão de vida" e que estaria construindo uma casa na Serra da Cantareira, "reduto de endinheirados". Chega a ser engraçado um panfleto neoliberal, que sempre se declara a favor de milionários, usar esse vocabulário. "Reduto de endinheirados" é uma expressão que não se encontra mais nem no site do PSTU, de tão vulgar e clichê.
Além do mais, se existem líderes sindicais corruptos, e daí? Se formos criminalizar as centrais sindicais por conta de alguns líderes corruptos em meio a dezenas de milhares de lideranças, então teremos que criminalizar todos os advogados, empresários, funcionários públicos e jornalistas, por conta de alguns elementos de comportamento pouco ilibado. É evidente que existe e existirá sempre corrupção no meio sindical, mas o Globo não quer acabar com a corrupção, quer acabar com o sindicato.
Também é interessante ler os editoriais anti-getulistas do Globo, 54 anos após a morte de Vargas. Mostra que, 54 anos depois, sua força, sua história, e sua luta, continuam incomodando as oligarquias brasileiras. Aliás, vale lembrar que a imprensa deixou passar em branco o aniversário do golpe militar. É, mas a blogosfera não deixa, clique aqui para ler o editorial do Globo do dia seguinte ao golpe.
2 de abril de 2008
Noblat com medinho?
5 comentarios
O Noblat, inadvertidamente, publicou que foi o senador Alvaro Dias quem vazou a informação para a Veja. Produziu um estrago na oposição e, logo depois, procurou Dias para um bate papo rápido. E não é que o implacável blogueiro quase pediu desculpas?
"- O senhor ficou em algum momento chateado com a matéria publicada no blog?"
É, por incrível que pareça, Noblat teve a cara-de-pau de fazer essa pergunta servil. Muito elucidativo. Outro dia, o senador Pedro Simon pediu desculpas ao Noblat por demorar em falar sobre o dossiê. Essa turma está dando muita bandeira.
"- O senhor ficou em algum momento chateado com a matéria publicada no blog?"
É, por incrível que pareça, Noblat teve a cara-de-pau de fazer essa pergunta servil. Muito elucidativo. Outro dia, o senador Pedro Simon pediu desculpas ao Noblat por demorar em falar sobre o dossiê. Essa turma está dando muita bandeira.
Usa a lei, Nassif!
3 comentarios
Essa vai para o Nassif, que reclamou sobre o ataque que a Veja vem fazendo à sua família. A lei da imprensa caiu. Agora, é à constituição que se deve apelar para se defender contra ataques à dignidade, à honra e ao direito à privacidade.
Transcrevo aqui o parágrafo X do artigo 5 da Constituição Brasileira:
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente da sua violação.
Sei que Nassif não usa a lei no momento porque está assoberbado de trabalho, mas aconselho que faça cópias de todos os comentários ofensivos à sua pessoa e à sua família que forem publicados pelo blog da Veja, incluindo, claro, a caixa de comentários. Também apelo à blogosfera que faça o mesmo. Vou tentar fazê-lo também. Para que possamos acionar a Justiça no momento certo.
Aliás, outro dia. A Folha publicou um extenso editorial em que demonstrava preocupação com esse capítulo, que pode trazer complicações tremendas a uma imprensa caracterizada pela falta de cuidado com a privacidade, a dignidade e a honra das pessoas.
Transcrevo aqui o parágrafo X do artigo 5 da Constituição Brasileira:
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente da sua violação.
Sei que Nassif não usa a lei no momento porque está assoberbado de trabalho, mas aconselho que faça cópias de todos os comentários ofensivos à sua pessoa e à sua família que forem publicados pelo blog da Veja, incluindo, claro, a caixa de comentários. Também apelo à blogosfera que faça o mesmo. Vou tentar fazê-lo também. Para que possamos acionar a Justiça no momento certo.
Aliás, outro dia. A Folha publicou um extenso editorial em que demonstrava preocupação com esse capítulo, que pode trazer complicações tremendas a uma imprensa caracterizada pela falta de cuidado com a privacidade, a dignidade e a honra das pessoas.
1 de abril de 2008
Quem é Arthur Virgílio?
6 comentarios
Clique na imagem para ampliar. É o resultado do TSE para as eleições para governador do Amazonas em 2006. Mostra a "força" eleitoral de Arthur Virgílio, o mais queridinho da mídia. Virgílio teve exatamente 74,9 mil votos, ficando num longínquo terceiro lugar, com 5,5% dos votos válidos. Para se ter uma idéia, o primeiro colocado, Carlos Eduardo de Souza Braga, do PMDB, teve 687.912 votos e o segundo, Amazonino Mendes, 543.412 votos.
No mesmo ano, Lula teve, somente no Amazonas, 1,15 milhão de votos no segundo turno, 87% dos votos válidos, enquanto o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, teve 176 mil votos, ou 13% do total. Com isso, pode-se concluir que Virgílio é uma figura que corre grande risco de morte eleitoral nas próximas eleições. Esse é o cara que quer derrubar o presidente de 58,29 milhões de votos, cujo governo é aprovado, segundo o Ibope, por 73% dos brasileiros.
Para melhorar a comparação, registre-se ainda que, em 2006, o Amazonas elegeu para senador Alfredo Pereira do Nascimento, do PL, em coligação com PT e PC doB. Da base governista, portanto. Em toda região Norte, a esquerda está dominando de uma forma avassaladora. O PT ganhou o governo do Pará, segundo maior estado da região. Este ano, 2008, o PSDB de Virgílio não tem nem candidato próprio para Manaus. Amazonino Mendes, do PTB, está disparado na frente das pesquisas, seguido de Vanessa Graziotin, do PC do B, e pelo vice-governador Omar Aziz, do PMDB, ambos de partidos que compõem a base aliada de Lula. Virgílio está cada vez mais acuado eleitoralmente.
*
PS: Catei mais informações sobre o perfil eleitoral de Arthur Virgílio. Ele foi o senador mais votado em 2002 com 608 mil votos, 29% dos votos válidos. Mas seu eleitorado concentrou-se nos chamados grotões amazônicos, onde os habitantes vivem na obscuridade. Em Manaus, Virgílio teve 322.303 votos, 24% dos votos válidos do município, atrás de Jefferson Peres, do PDT. Importante: em Manaus, Lula teve uma votação esmagadora em 2006. Ganhou com 721 mil votos, ou 87% dos votos válidos.
Pode-se concluir, portanto, que o auge político-eleitoral de Virgílio se deu nos anos 90, sob o manto ilusório de FHC e quando o PSDB ainda possuía uma aura social-democrata e de centro-esquerda que atraía a classe média. Essa ilusão acabou quando o PSDB não apenas se aliou ao PFL como deu início a políticas fortemente recessivas e anti-trabalhistas, com obsessão particularmente acentuada para privatizar as melhores estatais brasileiras. A vitória de Lula em 2002 nocauteou completamente o futuro político de Arthur Virgílio, o que explica a sua oposição birrenta, irracional, raivosa. A prova foi no fiasco humilhante que sofreu em 2006. O outrora político promissor do Amazonas foi escurraçado pelas urnas, com 5% dos votos válidos, um número absolutamente ridículo para alguém que já foi prefeito, deputado federal, senador, que frequenta, junto com seus familiares, quase diariamente as colunas sociais dos principais jornais e revistas do estado. Enfim, o fiasco de Virgílio é especial, porque não se trata de um candidato desconhecido para o povo amazonense, especialmente o cidadão manauara. Em Manaus, cidade onde já foi prefeito, Virgílio teve somente 56.387 votos em 2006, num universo de 996 mil eleitores. O primeiro e o segundo colocados obtiveram 372 e 347 mil votos em Manaus, em 2006. O que aconteceu com Virgílio?
Não esqueçamos que o senador havia se tornado ainda mais conhecido nacional e localmente, em 2005 e 2006, em virtude de sua aparição constante em tv, jornal e revista. Sempre com a aura de paladino dos bons costumes na política. Qual a explicação, portanto, para um fiasco tão absoluto nas eleições para governador em 2006, no auge de sua "glória ética"?
Terá sido pouco investimento em campanha? Bem, os dados não mostram isso. Segundo o TSE, Arthur Virgílio gastou R$ 1,83 milhão em sua campanha para governador, mais que os R$ 1,49 milhões usados por Amazonino Mendes, que obteve 40% dos votos válidos (contra 5% de Virgílio). Tudo bem, o governador eleito, Carlos Eduardo, do PMDB, gastou R$ 8,94 milhões, arrecadados legalmente. Entretanto, até isso depõe contra Virgílio. Mostra que os empresários de seu estado não acreditam tanto nele a ponto de investirem em sua campanha.
O que houve, Virgílio? O que aconteceu com você?
No mesmo ano, Lula teve, somente no Amazonas, 1,15 milhão de votos no segundo turno, 87% dos votos válidos, enquanto o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, teve 176 mil votos, ou 13% do total. Com isso, pode-se concluir que Virgílio é uma figura que corre grande risco de morte eleitoral nas próximas eleições. Esse é o cara que quer derrubar o presidente de 58,29 milhões de votos, cujo governo é aprovado, segundo o Ibope, por 73% dos brasileiros.
Para melhorar a comparação, registre-se ainda que, em 2006, o Amazonas elegeu para senador Alfredo Pereira do Nascimento, do PL, em coligação com PT e PC doB. Da base governista, portanto. Em toda região Norte, a esquerda está dominando de uma forma avassaladora. O PT ganhou o governo do Pará, segundo maior estado da região. Este ano, 2008, o PSDB de Virgílio não tem nem candidato próprio para Manaus. Amazonino Mendes, do PTB, está disparado na frente das pesquisas, seguido de Vanessa Graziotin, do PC do B, e pelo vice-governador Omar Aziz, do PMDB, ambos de partidos que compõem a base aliada de Lula. Virgílio está cada vez mais acuado eleitoralmente.
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PS: Catei mais informações sobre o perfil eleitoral de Arthur Virgílio. Ele foi o senador mais votado em 2002 com 608 mil votos, 29% dos votos válidos. Mas seu eleitorado concentrou-se nos chamados grotões amazônicos, onde os habitantes vivem na obscuridade. Em Manaus, Virgílio teve 322.303 votos, 24% dos votos válidos do município, atrás de Jefferson Peres, do PDT. Importante: em Manaus, Lula teve uma votação esmagadora em 2006. Ganhou com 721 mil votos, ou 87% dos votos válidos.
Pode-se concluir, portanto, que o auge político-eleitoral de Virgílio se deu nos anos 90, sob o manto ilusório de FHC e quando o PSDB ainda possuía uma aura social-democrata e de centro-esquerda que atraía a classe média. Essa ilusão acabou quando o PSDB não apenas se aliou ao PFL como deu início a políticas fortemente recessivas e anti-trabalhistas, com obsessão particularmente acentuada para privatizar as melhores estatais brasileiras. A vitória de Lula em 2002 nocauteou completamente o futuro político de Arthur Virgílio, o que explica a sua oposição birrenta, irracional, raivosa. A prova foi no fiasco humilhante que sofreu em 2006. O outrora político promissor do Amazonas foi escurraçado pelas urnas, com 5% dos votos válidos, um número absolutamente ridículo para alguém que já foi prefeito, deputado federal, senador, que frequenta, junto com seus familiares, quase diariamente as colunas sociais dos principais jornais e revistas do estado. Enfim, o fiasco de Virgílio é especial, porque não se trata de um candidato desconhecido para o povo amazonense, especialmente o cidadão manauara. Em Manaus, cidade onde já foi prefeito, Virgílio teve somente 56.387 votos em 2006, num universo de 996 mil eleitores. O primeiro e o segundo colocados obtiveram 372 e 347 mil votos em Manaus, em 2006. O que aconteceu com Virgílio?
Não esqueçamos que o senador havia se tornado ainda mais conhecido nacional e localmente, em 2005 e 2006, em virtude de sua aparição constante em tv, jornal e revista. Sempre com a aura de paladino dos bons costumes na política. Qual a explicação, portanto, para um fiasco tão absoluto nas eleições para governador em 2006, no auge de sua "glória ética"?
Terá sido pouco investimento em campanha? Bem, os dados não mostram isso. Segundo o TSE, Arthur Virgílio gastou R$ 1,83 milhão em sua campanha para governador, mais que os R$ 1,49 milhões usados por Amazonino Mendes, que obteve 40% dos votos válidos (contra 5% de Virgílio). Tudo bem, o governador eleito, Carlos Eduardo, do PMDB, gastou R$ 8,94 milhões, arrecadados legalmente. Entretanto, até isso depõe contra Virgílio. Mostra que os empresários de seu estado não acreditam tanto nele a ponto de investirem em sua campanha.
O que houve, Virgílio? O que aconteceu com você?
Notas variadas
Seja o primeiro a comentar!
Mais de cem mil pessoas reuniram-se hoje na Praça de Mayo em apoio à presidenta Cristina Kirchnner. O número é centenas de vezes superior ao punhado de histéricos de panela na mão que compareceram ao local, semana passada, atiçados por chamadas sistemáticas no rádio e tv. O Jornal Nacional deu a notícia em tempo recorde, um décimo de segundo, mostrando uma imagem da praça lotada de gente, mas tão rapidamente que nem deu tempo para uma compreensão visual completa. No panelaço, mostrou-se diversas imagens, com câmera bem próxima, para dar impressão de mais gente. O Cansei argentino fracassou, claro, porque esse tipo de palhaçada não dá mais certo. Ao contrário, serviu para mobilizar as massas do lado de lá do Rio Prata, e mostrar que é preciso estar vigilante para que as velhas oligarquias não retornem ao poder.
*
Não dá para acreditar. O senador Pedro Simon pediu desculpas ao blog do Noblat por não ecoar as denúncias do tal dossiê. Há tempos que Simon se refestela numa embriaguez ética que não passa de servilismo vil aos interesses da oposição. Pior que vil, tem ares de perfeita idiotia. Leia a matéria do Gilson Caroni.
*
Por falar em idiotia, semana passada, o Globo sofreu vários surtos. Num palanque falando a empresários, Lula contou que ligou para Bush e disse: Meu filho, resolve tua crise. Falou ainda sobre o Proer, sugerindo que o Brasil tinha "especialistas" e "know-how" no assunto. O Merval Pereira dedicou quase um artigo inteiro para demonstrar sua indignação com a linguagem usada por Lula para falar ao imperador. Não atentou, pois é burro, que Lula simplificou o que disse a Bush, como se faz geralmente quando se resume uma conversa formal a interlocutores informais.
Mas o pior não foi isso. Na chamada de capa, na matéria principal, em entrevista com um ex-presidente do BC, e na coluna da Miriam Leitão, o Globo destila veneninho por Lula ter "elogiado" o Proer. Miriam chega a acusar Lula de "roubar" feitos de governos alheios. Na capa, vem o texto, "Lula elogia programa que atacou durante anos". O curioso é que, num primeiro momento, o Globo tinha acusado a ironia. Depois resolveu abraçar a estupidez. Ou seria estratégia? Neste caso, uma estupidez voluntária?
Ninguém percebeu o que era óbvio para qualquer idiota. Lula foi irônico. Lógico que foi irônico. Afinal, a causa do desastre financeiro nos EUA tem a ver com o neoliberalismo. Tem a ver, portanto, com as políticas implantadas por Fernando Henrique Cardoso. Neoliberalismo é o novo nome para "capitalismo para iludir otários", visto que consiste em transferir dinheiro público para meia dúzia de nababos, destruir pequenas e médias empresas, provocar desemprego e recessão, enquanto se louva as "virtudes" do capitalismo e se acusa qualquer um que defende políticas mais humanistas e responsáveis, de comunista para baixo. No Brasil, a direita vocifera um capitalismo-oligárquico que só engana a classe média trouxa.
A dificuldade em compreender ironias revela que os colunistas do Globo estão realmente maus da cabeça. O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), aquele que teve 2% de votos nas últimas eleições para governador, foi outro imbecil que levou a sério e saiu em defesa da autoria tucana do Proer. Virgílio entendeu que Lula pretendera "petizar" o Proer. Ora, defender um programa que significou a doação de bilhões de dólares de dinheiro público para o bolso de grandes banqueiros, é realmente digno de um pedófilo .
*
O Ministério Público Federal aceitou investigar a denúncia da ong MSM (Movimento dos Sem Mídia) de que a mídia causou dano social grave ao promover um alarmismo histérico no caso da febre amarela.
*
Não escrevi nada sobre essa palhaçada do dossiê porque minha paciência tem limites. Nos últimos dias, o Globo começa todas as suas matérias políticas com seu veneninho básico: "sem citar o dossiê, o presidente Lula inaugurou hoje o que será a principal refinaria de petróleo da América Latina". Para o Globo, o governo federal teria que interromper essas frescuras de construir refinarias, e dedicar-se exclusivamente a falar sobre o "dossiê". Aliás, que dossiê, héin? O governo queria chantagear a oposição com esse dossiê? Qual a lógica de se chantagear usando um documento que não serve para chantagear? Tenho a impressão de que, mais uma vez, o veneno se voltará contra a própria cobra. Quem melhor escreveu sobre o dossiê foi o Nassif.
*
O mais impressionante nas pesquisas do Ibope e do Datafolha não é a manutenção ou crescimento da forte popularidade de Lula entre as classes baixas, mas a explosão da popularidade entre os que ganham mais de dez salários mínimos e com ensino superior. Com isso, desmorona completamente a ladainha, até pouco tempo ainda repetida por gente como Merval Pereira, de que a força de Lula reside no Bolsa Família e na população mal informada.
Segundo o Ibope, o governo Lula é Bom/Ótimo para 43% dos que ganham mais de 10 salários mínimos, contra 16% que acham regular e 37% que acham ruim, números semelhantes aos registrados entre o segmento com ensino superior. No total do Ibope, o governo Lula é bom para 58% dos brasileiros, regular para 11% e ruim para 30%.
Na pesquisa do Datafolha, os dados são ainda mais favoráveis: o governo Lula é bom/ótimo para 43% dos que ganham acima de 10 salários mínimos, regular par 39% e ruim para 18%. Entre os que possuem ensino superior, Lula é bom/ótimo para 47%, regular para 18% e ruim para 16%.
*
Não dá para acreditar. O senador Pedro Simon pediu desculpas ao blog do Noblat por não ecoar as denúncias do tal dossiê. Há tempos que Simon se refestela numa embriaguez ética que não passa de servilismo vil aos interesses da oposição. Pior que vil, tem ares de perfeita idiotia. Leia a matéria do Gilson Caroni.
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Por falar em idiotia, semana passada, o Globo sofreu vários surtos. Num palanque falando a empresários, Lula contou que ligou para Bush e disse: Meu filho, resolve tua crise. Falou ainda sobre o Proer, sugerindo que o Brasil tinha "especialistas" e "know-how" no assunto. O Merval Pereira dedicou quase um artigo inteiro para demonstrar sua indignação com a linguagem usada por Lula para falar ao imperador. Não atentou, pois é burro, que Lula simplificou o que disse a Bush, como se faz geralmente quando se resume uma conversa formal a interlocutores informais.
Mas o pior não foi isso. Na chamada de capa, na matéria principal, em entrevista com um ex-presidente do BC, e na coluna da Miriam Leitão, o Globo destila veneninho por Lula ter "elogiado" o Proer. Miriam chega a acusar Lula de "roubar" feitos de governos alheios. Na capa, vem o texto, "Lula elogia programa que atacou durante anos". O curioso é que, num primeiro momento, o Globo tinha acusado a ironia. Depois resolveu abraçar a estupidez. Ou seria estratégia? Neste caso, uma estupidez voluntária?
Ninguém percebeu o que era óbvio para qualquer idiota. Lula foi irônico. Lógico que foi irônico. Afinal, a causa do desastre financeiro nos EUA tem a ver com o neoliberalismo. Tem a ver, portanto, com as políticas implantadas por Fernando Henrique Cardoso. Neoliberalismo é o novo nome para "capitalismo para iludir otários", visto que consiste em transferir dinheiro público para meia dúzia de nababos, destruir pequenas e médias empresas, provocar desemprego e recessão, enquanto se louva as "virtudes" do capitalismo e se acusa qualquer um que defende políticas mais humanistas e responsáveis, de comunista para baixo. No Brasil, a direita vocifera um capitalismo-oligárquico que só engana a classe média trouxa.
A dificuldade em compreender ironias revela que os colunistas do Globo estão realmente maus da cabeça. O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), aquele que teve 2% de votos nas últimas eleições para governador, foi outro imbecil que levou a sério e saiu em defesa da autoria tucana do Proer. Virgílio entendeu que Lula pretendera "petizar" o Proer. Ora, defender um programa que significou a doação de bilhões de dólares de dinheiro público para o bolso de grandes banqueiros, é realmente digno de um pedófilo .
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O Ministério Público Federal aceitou investigar a denúncia da ong MSM (Movimento dos Sem Mídia) de que a mídia causou dano social grave ao promover um alarmismo histérico no caso da febre amarela.
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Não escrevi nada sobre essa palhaçada do dossiê porque minha paciência tem limites. Nos últimos dias, o Globo começa todas as suas matérias políticas com seu veneninho básico: "sem citar o dossiê, o presidente Lula inaugurou hoje o que será a principal refinaria de petróleo da América Latina". Para o Globo, o governo federal teria que interromper essas frescuras de construir refinarias, e dedicar-se exclusivamente a falar sobre o "dossiê". Aliás, que dossiê, héin? O governo queria chantagear a oposição com esse dossiê? Qual a lógica de se chantagear usando um documento que não serve para chantagear? Tenho a impressão de que, mais uma vez, o veneno se voltará contra a própria cobra. Quem melhor escreveu sobre o dossiê foi o Nassif.
*
O mais impressionante nas pesquisas do Ibope e do Datafolha não é a manutenção ou crescimento da forte popularidade de Lula entre as classes baixas, mas a explosão da popularidade entre os que ganham mais de dez salários mínimos e com ensino superior. Com isso, desmorona completamente a ladainha, até pouco tempo ainda repetida por gente como Merval Pereira, de que a força de Lula reside no Bolsa Família e na população mal informada.
Segundo o Ibope, o governo Lula é Bom/Ótimo para 43% dos que ganham mais de 10 salários mínimos, contra 16% que acham regular e 37% que acham ruim, números semelhantes aos registrados entre o segmento com ensino superior. No total do Ibope, o governo Lula é bom para 58% dos brasileiros, regular para 11% e ruim para 30%.
Na pesquisa do Datafolha, os dados são ainda mais favoráveis: o governo Lula é bom/ótimo para 43% dos que ganham acima de 10 salários mínimos, regular par 39% e ruim para 18%. Entre os que possuem ensino superior, Lula é bom/ótimo para 47%, regular para 18% e ruim para 16%.