1 de abril de 2008

Notas variadas

Mais de cem mil pessoas reuniram-se hoje na Praça de Mayo em apoio à presidenta Cristina Kirchnner. O número é centenas de vezes superior ao punhado de histéricos de panela na mão que compareceram ao local, semana passada, atiçados por chamadas sistemáticas no rádio e tv. O Jornal Nacional deu a notícia em tempo recorde, um décimo de segundo, mostrando uma imagem da praça lotada de gente, mas tão rapidamente que nem deu tempo para uma compreensão visual completa. No panelaço, mostrou-se diversas imagens, com câmera bem próxima, para dar impressão de mais gente. O Cansei argentino fracassou, claro, porque esse tipo de palhaçada não dá mais certo. Ao contrário, serviu para mobilizar as massas do lado de lá do Rio Prata, e mostrar que é preciso estar vigilante para que as velhas oligarquias não retornem ao poder.

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Não dá para acreditar. O senador Pedro Simon pediu desculpas ao blog do Noblat por não ecoar as denúncias do tal dossiê. Há tempos que Simon se refestela numa embriaguez ética que não passa de servilismo vil aos interesses da oposição. Pior que vil, tem ares de perfeita idiotia. Leia a matéria do Gilson Caroni.

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Por falar em idiotia, semana passada, o Globo sofreu vários surtos. Num palanque falando a empresários, Lula contou que ligou para Bush e disse: Meu filho, resolve tua crise. Falou ainda sobre o Proer, sugerindo que o Brasil tinha "especialistas" e "know-how" no assunto. O Merval Pereira dedicou quase um artigo inteiro para demonstrar sua indignação com a linguagem usada por Lula para falar ao imperador. Não atentou, pois é burro, que Lula simplificou o que disse a Bush, como se faz geralmente quando se resume uma conversa formal a interlocutores informais.

Mas o pior não foi isso. Na chamada de capa, na matéria principal, em entrevista com um ex-presidente do BC, e na coluna da Miriam Leitão, o Globo destila veneninho por Lula ter "elogiado" o Proer. Miriam chega a acusar Lula de "roubar" feitos de governos alheios. Na capa, vem o texto, "Lula elogia programa que atacou durante anos". O curioso é que, num primeiro momento, o Globo tinha acusado a ironia. Depois resolveu abraçar a estupidez. Ou seria estratégia? Neste caso, uma estupidez voluntária?

Ninguém percebeu o que era óbvio para qualquer idiota. Lula foi irônico. Lógico que foi irônico. Afinal, a causa do desastre financeiro nos EUA tem a ver com o neoliberalismo. Tem a ver, portanto, com as políticas implantadas por Fernando Henrique Cardoso. Neoliberalismo é o novo nome para "capitalismo para iludir otários", visto que consiste em transferir dinheiro público para meia dúzia de nababos, destruir pequenas e médias empresas, provocar desemprego e recessão, enquanto se louva as "virtudes" do capitalismo e se acusa qualquer um que defende políticas mais humanistas e responsáveis, de comunista para baixo. No Brasil, a direita vocifera um capitalismo-oligárquico que só engana a classe média trouxa.

A dificuldade em compreender ironias revela que os colunistas do Globo estão realmente maus da cabeça. O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), aquele que teve 2% de votos nas últimas eleições para governador, foi outro imbecil que levou a sério e saiu em defesa da autoria tucana do Proer. Virgílio entendeu que Lula pretendera "petizar" o Proer. Ora, defender um programa que significou a doação de bilhões de dólares de dinheiro público para o bolso de grandes banqueiros, é realmente digno de um pedófilo .

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O Ministério Público Federal aceitou investigar a denúncia da ong MSM (Movimento dos Sem Mídia) de que a mídia causou dano social grave ao promover um alarmismo histérico no caso da febre amarela.

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Não escrevi nada sobre essa palhaçada do dossiê porque minha paciência tem limites. Nos últimos dias, o Globo começa todas as suas matérias políticas com seu veneninho básico: "sem citar o dossiê, o presidente Lula inaugurou hoje o que será a principal refinaria de petróleo da América Latina". Para o Globo, o governo federal teria que interromper essas frescuras de construir refinarias, e dedicar-se exclusivamente a falar sobre o "dossiê". Aliás, que dossiê, héin? O governo queria chantagear a oposição com esse dossiê? Qual a lógica de se chantagear usando um documento que não serve para chantagear? Tenho a impressão de que, mais uma vez, o veneno se voltará contra a própria cobra. Quem melhor escreveu sobre o dossiê foi o Nassif.

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O mais impressionante nas pesquisas do Ibope e do Datafolha não é a manutenção ou crescimento da forte popularidade de Lula entre as classes baixas, mas a explosão da popularidade entre os que ganham mais de dez salários mínimos e com ensino superior. Com isso, desmorona completamente a ladainha, até pouco tempo ainda repetida por gente como Merval Pereira, de que a força de Lula reside no Bolsa Família e na população mal informada.

Segundo o Ibope, o governo Lula é Bom/Ótimo para 43% dos que ganham mais de 10 salários mínimos, contra 16% que acham regular e 37% que acham ruim, números semelhantes aos registrados entre o segmento com ensino superior. No total do Ibope, o governo Lula é bom para 58% dos brasileiros, regular para 11% e ruim para 30%.

Na pesquisa do Datafolha, os dados são ainda mais favoráveis: o governo Lula é bom/ótimo para 43% dos que ganham acima de 10 salários mínimos, regular par 39% e ruim para 18%. Entre os que possuem ensino superior, Lula é bom/ótimo para 47%, regular para 18% e ruim para 16%.

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