3 de abril de 2008

Globo ressuscita o anti-trabalhismo da década de 50

A cobertura do O Globo para a questão das centrais sindicais remete diretamente à postura do jornal nas décadas de 50 e 60, quando se posicionava sempre contra qualquer demanda dos trabalhadores.

O veto de Lula para o dispositivo de lei que possibilitava a fiscalização das contas dos sindicatos pelo Tribunal de Contas está sendo tratado pela imprensa como incentivo à roubalheira. O Globo está furioso e acusa os sindicatos de roubarem antes mesmo de receberem o dinheiro. Para cúmulo da hipocrisia, o Globo ainda sugere que ele defende o direito dos trabalhadores, que levariam "uma facada" dos sindicatos. Não diz o Globo que a contribuição sindical representa uma fração insignificante nos salários, com resultados fantásticos para o fortalecimento da classe trabalhadora nas negociações salariais, além dos amplos serviços prestados pelos sindicatos, como de assistência jurídica, por exemplo.

O sindicato forte é a única maneira do trabalhador se fazer respeitar.

O que me impressiona é que o presidente da Organização dos Advogados do Brasil, César Britto, declarou também ser contra a fiscalização das contas sindicais pelo Tribunal de Contas. Britto explicou que a OAB também recebe recursos oficiais, e que, volta e meia, pedem que estes sejam fiscalizados. Isso representaria, no entanto, segundo Brito, uma ingerência política sobre a OAB.

Para ser coerente com o princípio que alega, o Globo teria que ser também a favor de fiscalizar a OAB. O Globo também precisa expor os sindicatos patronais, cuja imagem ele nunca expõe como faz com os sindicatos dos trabalhadores.

É importante entender a questão da seguinte maneira. O dinheiro das centrais e dos sindicatos não é exatamente "verba pública", porque são descontados da folha salarial. É dinheiro, portanto, dos trabalhadores. A fiscalização do dinheiro acontecerá pelos próprios trabalhadores, pelo Judiciário, e pelas polícias.

Agindo desta maneira, o Globo explicita a sua postura anti-trabalhista, recaindo no velho preconceito das elites brasileiras de achar que o trabalhador não faz parte do capitalismo. As elites ainda não entenderam que um crescimento econômico estável, duradouro e justo, só irá acontecer se houver fortalecimento da massa trabalhadora, que constituirá, como já vem acontecendo, o motor da economia, através do consumo.

A manchete "Festa oficial para a gastança" é fortemente ofensiva e, na minha opinião, merecia ser alvo de processo por parte das centrais.

Outra notícia transbordante de veneno, hipocrisia e más intenções está na página 4. Sob o título "Vida de rico", o Globo fala sobre alguns dirigentes sindicais que possuem carros e imóveis. Nada mais preconceituoso, como se o trabalhador também não pudesse ser rico. Fala que Almir Macedo Pereira também tem "alto padrão de vida" e que estaria construindo uma casa na Serra da Cantareira, "reduto de endinheirados". Chega a ser engraçado um panfleto neoliberal, que sempre se declara a favor de milionários, usar esse vocabulário. "Reduto de endinheirados" é uma expressão que não se encontra mais nem no site do PSTU, de tão vulgar e clichê.

Além do mais, se existem líderes sindicais corruptos, e daí? Se formos criminalizar as centrais sindicais por conta de alguns líderes corruptos em meio a dezenas de milhares de lideranças, então teremos que criminalizar todos os advogados, empresários, funcionários públicos e jornalistas, por conta de alguns elementos de comportamento pouco ilibado. É evidente que existe e existirá sempre corrupção no meio sindical, mas o Globo não quer acabar com a corrupção, quer acabar com o sindicato.

Também é interessante ler os editoriais anti-getulistas do Globo, 54 anos após a morte de Vargas. Mostra que, 54 anos depois, sua força, sua história, e sua luta, continuam incomodando as oligarquias brasileiras. Aliás, vale lembrar que a imprensa deixou passar em branco o aniversário do golpe militar. É, mas a blogosfera não deixa, clique aqui para ler o editorial do Globo do dia seguinte ao golpe.

6 comentarios

Anônimo disse...

Miguel, ser contra sindicato não é ser contra o trabalhador. Acho que como toda entidade que agrega um grande números de contribuintes que dependem dele, deve sim ser fiscalizado por algum órgão externo. E com a OAB não é diferente.

Vc opina como se não acreditasse que existam sindicalistas corruptos ou que desviem fundos. Eu já os conheci (razão pela qual entreguei carta de oposição à contribuição uma vez na minha vida; no outro era compulsório), e no mínimo esses mereciam uma apuração a fundo nas contas de seus sindicatos.

Acho que essa de "o trabalhador que deve fiscalizar" é bonito na teoria, mas quantos você conhece que fazem isso? Que tem tempo sobrando para poder fazer isso? Que têm conhecimento suficiente para fazer isso?

Acho que o veto do Lula foi protecionista sim, e desnecessário. Ao contrário, a atitude dele deveria ser de incluir mais organizações osb o escrutínio do TCU, como a OAB, e não liberá-las de fiscalização.

Essas organizações são uma caixa preta, que dificilmente representam seus associados (vide que tanto OAB quanto sindicatos tomam posições políticas sem ao menos consultar associados) e precisam de mais - não menos - controle.

Patrick disse...

Ser contra sindicato é ser contra o trabalhador. Onde está a fiscalização do TCU nas concessioniárias de serviços públicos privatizados, cujo total das receitas advém do público, pela prestação de serviços regulamentados? Alguém já viu alguma reportagem na imprensa defendendo essa fiscalização?

Anônimo disse...

O fabricante de dossiê montou 13 páginas...
13...
Não poderia ter sido 12? ou 14.
Porque exatamente 13?
Já que o banco é bem robusto poderiam ter sido 1.000 páginas.
No entanto o fabricante parou nas 13 páginas.
como 13 é o número do PT, a fábrica de dossiês imaginou que, assim, com a ajuda da falsimídia, o povão iria acreditar.
Muita criatividade por parte da fabrica tucana de dossiês para tirar do páreo opositores de Serra. Roseana Sarney que o diga.
Este termo "falsimídia' não é meu, achei aqui, neste excelente texto publicado na Carta Maior, por sinal um termo bastatne apropriado para a mídia brasileira.

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14904

rgregori disse...

Olá Miguel,

Descobri este blog há pouco tempo, logo após ao "ataque nazista" do IG ao Paulo Henrique Amorim. Deste então tenho acompanhado quase diaramente seus posts.
Tenho que discordar (em partes) com a sua idéia de sindicato. Os sindicatos que me representaram até hoje eram todos corrompidos. Fiquei muito frustrado inclusive, com a minha primeira experiência negativa, enquanto trabalhava para a iniciativa privada.

Hoje sou funcionário público municipal e o sindicato chega a ser pior do que o que me representava anteriormente. À parte do que diz o "Grobo" (não leio o PIG) acho que alguma forma de controle deveria haver sim!

Unknown disse...

Prezado Miguel,
Muito bom o seu artigo. Eu estava procurando, justamente, uma visão sobre o assunto diferente da divulgada pela grande mídia. Postei esse artigo no meu blog "democraciapolitica.blogspot.com.
Obrigado
Maria Tereza

Anônimo disse...

Não acredito em sindicato, o trabalhador é feito de bobo, enquanto esses sindicalistas enchem seus bolsos com dinheiro roubado literalmente.
O Ministério Público tinha que investigar a fundo esses ´"líderes" sindicais, seus bens que misteriosamente vão aumentando,para quem há uns anos atrás nem carro tinha, hoje desfila com carro zero km. Isso é um absurdo roubar tão descaradamente e ainda se achar um bom exemplo de pessoa.RIDÍCULO.

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