15 de abril de 2008

Em defesa de Haroldo Lima: a barriga foi da mídia

(Onde estão os infográficos? A mídia fez não sei quantos mil infográficos por causa de uma tapioca de R$ 8. Agora por que não faz infográfico para o que seria a terceira maior reserva de petróleo do mundo?)





As declarações do diretor da ANP, Haroldo Lima, reverberaram notícias (outra aqui) publicadas numa revista americana, World Oil. O novo campo de petróleo na área carioca não é somente da Petrobrás, que aliás nem maioria teria nesse campo. Há outras empresas (Exxon, etc) que têm acesso a esta informação.

Lima prestou um bem à nação. O ódio da imprensa, que está contaminando até membros do governo, deriva do fato de que Lima revelou uma grande barriga da mídia tapuia. Uma informação estratégica sobre nossas reservas energéticas, importantíssima, circulava desde fevereiro na imprensa especializada, e a nossa imprensa não sabia de nada. Não noticiava nada. Um erro colossal. Os editores e colunistas econômicos estão com a consciência pesada por sua ignorância, motivada pela incompreensível falta de interesse pelas descobertas no pré-sal.

Falta de interesse, aliás, que observo desde o primeiro anúncio feito da descoberta das novas reservas, no ano passado. Desde o início, a imprensa tem evitado explorar de forma abrangente o tema, que merecia cadernos especiais e montagem de equipes especializadas para investigar. Mais uma prova da incompetência da imprensa brasileira, e que é consequência natural desse direitismo submundista que domina parcela importante da elite e quase a totalidade dos meios de comunicação. A direita dos países desenvolvidos, ao menos, é nacionalista. Aliás, essa seria a sua principal característica, um nacionalismo exacerbado, exagerado a ponto de virar xenofobia.

Aqui, é o oposto. A nossa direita tem gravíssimos problemas de baixa auto-estima e, decididamente, não gosta do Brasil, do povo brasileiro, da cultura brasileira, nem se alegra ou se entusiasma com as conquistas sociais e econômicas do país. O caso dos mega-campos é emblemático. A direita ficou triste! Ficou triste com o fato do Brasil ter encontrado petróleo! Agora, ficou triste e revoltada com o fato do diretor da ANP ter contado o que a imprensa especializada já sabia, que há possibilidade muito concreta do campo Pão de Açúcar ter mais de 30 bilhões de barris e ser a terceira maior reserva do planeta.

Ora, por que os pequenos e médios investidores nacionais não podiam saber disso? Se os grandes não sabiam, é por estupidez, já que a notícia foi publicada na World Oil. Eles que se informassem melhor. Lima foi muito claro no que disse. Não fez nenhuma afirmação peremptória. Disse que haveria "possibilidade" do campo ser cinco vezes superior ao campo Tupi.

Houve agitação no mercado financeiro. Ora, mercado financeiro é assim mesmo. Vive de tensão, de notícias, de declarações. Lima não pode ser amordaçado. Poderia ficar quieto, sim, mas aí viria um americano e causaria o mesmo estardalhaço. O fato é que a notícia não tinha ainda caído nas mãos da grande mídia, brasileira ou internacional. Foi uma barriga, portanto, de toda a mídia mundial, com culpa particularmente grave da brasileira, já que os campos estão no Brasil e o assunto, portanto, é de interesse nacional.

PS: Assisti a uma entrevista com Haroldo Lima, em que ele faz uma afirmação que eu já tinha pensado: os estrangeiros já sabiam das possibilidades do Pão de Açúcar, por que os brasileiros não podiam saber? A nossa imprensa quer ocultar as informações? Ficam procurando pêlo em ovo, tentando encontrar pequenas contradições na fala de Lima. Por exemplo, durante o evento, ele teria citado "fontes não oficiais, oriundas evidentemente da operadora", e depois, mudado a versão, dizendo que a fonte seria uma revista americana.

Na realidade, a fonte era a revista, mas a revista, por sua vez, diz que a sua fonte são funcionários da Petrobrás, sem citar nomes. Se fosse uma informação sigilosa, ou se fosse um anúncio oficial, Lima teria errado ao divulgar dados sobre o campo Tupi. Mas não. Era uma informação que já corria nos meios especializados. Os americanos já vinham, portanto, comprando ações da Petrobrás, beneficiando-se da má fé da imprensa brasileira, que não deu publicidade à esta informação, prejudicando pequenos e médios investidores nacionais. O fato é que os campos existem. Segundo a reportagem da World Oil, o campo pode ter de 29 a 40 bilhões de barris, com média de 33 bilhões. Ou seja, pode ser ainda bem maior do que o sugerido por Haroldo Lima.

A manchete do Globo de hoje é: MP apura se houve crime com ações da Petrobrás. Ora, ótimo que o MP apure. Mas o MP foi mobilizado a agir por causa da pressão midiática. O Globo praticamente assinou petição pedindo a entrada do MP no caso, porque o Globo, assim como outros órgão de mídia, não aceita que o Brasil possa ser proprietário da terceira maior reserva do mundo.

Aliás, as possibilidades nem se esgotam na reserva Pão de Açúcar. Em toda a área do pré-sal há potencial de megacampos. É muito saudável, portanto, que as ações da Petrobrás se valorizem. Isso injeta capital na empresa, que precisará mesmo de muito dinheiro para explorar esse petróleo, que está depositado em camadas ultra-profundas. O custo de retirada desse petróleo será muito alto, havendo necessidade de enormes investimentos.

5 comentarios

Anônimo disse...

Prezado Miguel,
Sua defesa do bravo Haroldo Lima é perfeita, correta e justa. Só faço um reparo na sua queixa sobre a "incompetência" ou "ignorância" da nossa mídia quanto à barriga que levou no caso de mais essa mega-reserva petrolífera. Você chega a denunciar o "desinteresse" da mídia com essas descobertas. Discordo. Na minha opinião, ocorre justamente o contrário. Nossa mídia, ou PIG, tem muito interesse sim nessa dinheirama que tais campos irão gerar. E interesse em agradar e se aliar aos interesses internacionais de olho nessa riqueza. Sempre foram assim, não é de hoje. Basta lembrar que foi o povo brasileiro, contra a mídia, que teve que ir às ruas para criar a Petrobras, nos anos 50, apoiando proposta de um governo nacionalista. O interesse da nossa mídia é esse mesmo: que essa "informação" ficasse restrita aos pequenos círculos, de preferência estrangeiros. E querem derrubar o Haroldo Lima porque ele defende a revisão, no caso do pré-sal, dessas licitações para a entrega dessas áreas a multinacionais. É um jogo e a mídia não é ingênua, nem come barriga à toa. Ela não ignora nada sobre nossas descobertas petrolíferas. Ela sabe muito bem a qual senhor quer servir – e não é ao povo brasileiro, já deram seguidas mostras disso.

La Pasionaria Selenia disse...

Miguel, me sinto grata pela sua brilhante defesa do nosso irretocável Haroldo Lima. Digo apenas, que sou aluna deste digno e honrado filho deste solo!
Quanto a conduta silenciosa da mídia, o comentário anterior já esclareceu, é, tmb, o meu entendimento político.
Pig, não dá ponto sem nó. Desatamos todos!

Anônimo disse...

Gostei que Haroldo Lima foi a midia se defender, não fugiu da raia, embora os globais armassem armadilhas,não o conhecia mas agora tem todo o meu respeito.

Anônimo disse...

Nada a ver com o assunto mas é que acesso vez ou outra o "biscoito fino" por conta do link aqui. Mas não é que agora ele tá convocando todos os "blogueiros de esquerda" para confrontarem o Nassif? Cara maluco sô.

wilson cunha junior

Miguel do Rosário disse...

wilson, o idelber reviu sua posição e está, como eu e todos, mais cauteloso quanto a julgamentos precipitados.

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