12 de junho de 2009

Pancadaria "legal" e troco político

(trecho da rua do Rezende, próximo à esquina com a Mem de Sá)


A pancadaria na USP gerou uma controvérsia muito interessante. Uma minoria barulhenta e sabichona se levantou em favor da atuação da polícia militar de São Paulo. Sempre com argumentos "técnicos" ou "jurídicos", pretendem impor sua opinião acima de todo o bom senso. Não importam as dezenas de relatos de professores, estudantes e funcionários agredidos brutalmente. Os "defensores" da pancadaria têm dois objetivos bem claros:

1) Conferir um ar de legitimidade "democrática" ou "legal" à agressão policial contra estudantes, trabalhadores e professores que realizavam manifestação pacífica, num ambiente pacífico que, nunca, antes da ditadura militar, fora invadido pela PM.

2) Eximir de responsabilidade o Executivo paulista, responsável direto pelas ações da Polícia Militar.

Vale tudo para cumprir esses objetivos. Quando lhes faltam argumentos, lembram fatos totalmente externos ao caso em questão, na tentativa de embaralhar a polêmica. Usam sofismas de baixíssima qualidade, embora eficazes, que comparo a defensivos agrícolas altamente tóxicos, que efetivamente matam as pragas que atrapalham o desenvolvimento das plantas, mas que também as impregnam com substâncias que irão contaminar o solo, os lençóis d'água e os consumidores.

Esses que justificam a pancadaria se acham muito espertos, mas, com sua tática, apenas colaboram para a destruição das forças políticas que defendem; as quais, sentindo-se "defendidas", não corrigem seus erros e continuam tropeçando politicamente, e cavando as suas próprias covas eleitorais.

Observo, nestes momentos, a tentativa de apequenar o próprio fato de existir uma luta política e partidária, quando ela é a própria razão de ser da democracia. O que não se admite, todavia, é o uso arbitrário da violência! Os europeus fazem greves monumentais, param trens, aeroportos, fábricas, escolas, mas os governantes nem cogitam em usar força policial contra os manifestantes. Sarkosy, presidente linha-dura da direita francesa, vem enfrentando greves terríveis na França, mas consegue contornar dialogando, ou não-dialogando, mas não é louco de permitir que suas forças de segurança brutalizem trabalhadores.

Aqueles que tentam eximir o governador José Serra das responsabilidades usam todo tipo de subterfúgio. Dizem: se o Lula não tem culpa da corrupção nos Correios, então Serra não tem culpa da pancadaria na USP. Palavras são realmente promíscuas, aceitam ser manuseadas por qualquer um. Esse é o preço de uma democracia. Temos liberdade, mas a liberdade pode ser tão ou mais manipulada numa democracia quanto numa ditadura.

Não falamos aqui, enfim, de corrupção, seja nos Correios ou no Metrô de São Paulo. Exemplos de corrupção, nós sabemos, abundam em todas as esferas do poder. Estamos falando de uma política de segurança deliberadamente brutal, arbitrária e antidemocrática.

Por acaso, é a primeira vez que a polícia de São Paulo comete arbitrariedades? Nos últimos anos, temos assistido, estarrecidos, as forças paulistas de segurança adotarem procedimentos verdadeiramente hediondos no tratamento de situações de conflito social e trabalhista. E sempre contra o povo. Sempre contra o lado mais fraco.

Parece-me que o governador de São Paulo optou seguir as tendências ideológicas mais odiosamente reacionárias, e a única explicação que encontro para atitude tão suicida do ponto-de-vista eleitoral é o fato d'ele acreditar no acerto de suas decisões por conta do apoio que recebe de setores da elite econômica e da mídia corporativa. Quando, além disso, blogueiros simpáticos colaboram nesta operação de "blindagem" política, eles ajudam a produzir um monstro político, descolado da opinião pública verdadeira. O que será preciso acontecer mais? Será necessário morrer um estudante? Morrer um professor? A morte de trabalhadores simples, por outro lado, parece não comover o grande público paulista...

Não consigo acreditar que trabalhadores e estudantes da universidade mais concorrida do Brasil sejam figuras tão perigosas cujas manifestações precisem ser reprimidas pelas forças de segurança com bombas de gás pimenta e balas de borracha.

O sacerdote ético-midiático, o Dr.Roberto Romano, não tem nada a dizer sobre o caso?

Impressiona-me, no entanto, como a mídia pode aceitar, submissamente, que o governador não manifeste, de forma bastante clara, a sua opinião sobre o tema. Nem ele, nem o secretário de Segurança, nem o secretário de Educação. Os colunistas da grande imprensa também parecem querer deixar o tema passar em branco...

Como assim? Aceitaremos agora que governantes mandem a polícia entrar nos campus universitários e espancar estudantes e professores? Até onde vai o sabujismo?

Não estou entendendo. Leio as colocações de quem defende a atuação da polícia e não consigo ver outra coisa se não um cinismo desvairado. Como alguém pode defender que professores idosos sejam mal tratados por quem lhes deveria tratar com infinito respeito? Como se pode tratar um caso desses como quem discute "firulas" jurídicas?

Sobre as responsabilidades de Serra no caso, o que importa aqui é notar que nem o governador nem nenhum secretário seu CONDENOU a atitude da polícia, tampouco indicou que haverá qualquer punição aos responsáveis pelo incidente; com isso, Serra chama a si a autoridade pela invasão, prisão de grevistas e espancamento das pessoas.

Voltando à questão partidária, admito que não sou simpático ao governador Serra. Mas tenho mil outras preocupações, e não perderia algumas horas do meu dia dos namorados escrevendo sobre o caso se não o achasse realmente preocupante para o futuro da democracia brasileira. Esses blogueiros que procuram minimizar a gravidade ou as responsabilidades nessa pancadaria realmente acreditam que é assim que devemos tratar greves e conflitos sociais? Com brutalidade policial? Acham que isso resolve?

Daí que ficamos sabendo que os professores de São Paulo recebem 4 reais de vale-refeição, por eles chamado de vale-coxinha; e a mídia ainda divulga a versão oficial que a decadência do ensino público em São Paulo advém apenas da falta de preparo e cultura dos professores?

O desprezo contra o funcionalismo público é uma característica ideológica predominante no tucanato. Tudo bem, podem desprezar à vontade. O que não podemos, definitivamente, aceitar, é que esse desprezo se converta em agressão covarde. Afinal, não são os tucanos que vão lá dar cacetada. Eles apenas dão ordens para que policiais mau pagos e sofredores façam o seu trabalho sujo.

Arrisco-me, no entanto, a prever profeticamente: para toda ação, uma reação; cada pancada, cada gás inalado, cada bala de borracha, terá o seu troco. Em dobro.


*

O mau-caratismo não tem limites. A mídia paulista e seus satélites na blogosfera descobriram que o jurista Dalmo Dallari apóia a repressão na USP. Imediatamente, todos se agarraram às palavras de Dallari como salvação final. Alegam: "viram, se um simpatizante do PT concorda com a gente, então a discussão está acabada". Ora, é impressionante a cara-de-pau. Em vez de entrevistarem professores, funcionários e estudantes que testemunharam o incidente, pegam a opinião de um senhor distante de tudo, que não lê blogs, que acompanha tudo, provavelmente, pela mídia. E daí que ele é simpatizante do PT? Que hipocrisia! O que isso prova? Não quero saber a opinião do Dallari. Eu tenho a minha opinião. Eu queria saber a opinião do governador José Serra e não do Dallari! Queria saber a opinião do jornal a Folha de São Paulo e de seus colunistas e não do Dallari!

O pior, no entanto, vem aí. O blogueiro, no afã de embaralhar a polêmica, lembrou do Haiti, citando casos de haitianos mortos pelo exército brasileiro. Se culparem o Serra, chantageiam eles, então culpem Lula pelas mortes no Haiti. Ora, que mau-caratismo. Que comparação! O exército brasileiro foi convocado a ajudar a evitar uma guerra civil no Haiti pela Organização das Nações Unidas. A atuação brasileira foi elogiada em todo o mundo. Houve incidentes porque era um país vivendo uma guerra civil, mas, felizmente, conseguiram superar a terrível crise política que viviam, e realizaram eleições democráticas em clima de paz, com ajuda do exército brasileiro.

Como comparar um país em guerra civil, com 80% de desemprego, e uma manifestaçãozinha de estudantes universitários na cidade mais rica da América Latina? E mesmo que eles, do alto de seu filisteísmo e cinismo, considerem Lula responsável por mortes no Haiti, como isso isentaria o governador José Serra das violências ocorridas na USP? Eles estendem essa "isenção" também às atrocidades, documentadas inclusive pela grande imprensa paulista, em Paraisópolis, cometidas pela mesma PM?

E que história é essa de que Serra não tem NADA A HAVER com o incidente na USP? Se não tem, porque ele não vem a público e condena, veementemente, a violência perpetrada, e afirma que haverá investigações e pune os culpados?

10 comentarios

Luiz disse...

Sr. blogueiro os sr. é muito ruím sabia?

Esse seu festival de fotos do centro do Rio é muita maldade sua!!!

Estou morando há 3 anos em Joinvile SC, esse carioca aqui que vos escreve morou 15 anos (90/05) na ladeira de Santa Teresa quando o Selaron ainda não tinha nem colocado os azulejos na escadaria!!! As outras fotos lembram o meu cotidiano périplo por essas ruas meu filho estudava no Cruzeirinho a entrada era pela rua do Senado. Lavradio, Men de Sá, Gomes Freire,Riachuelo, Rezende, da Lapa e outras eram passagens obrigatórias para mim no meu cotidiano!!! A Joaquim Silva era passagem obrigatória quando eu vinha de carro da Ladeira.

Outra coisa, antes de morar em Santa (Morava em S. Fco Xavier início da 24 de maio) eu fui testemunha do Circo Voador quando ele tocava para Paralamas ou o Barão para 100 pessoas!!!! Isto é, eu conhecia uma Lapa que fora do Circo a noite só tinha putas e travestis!!! Mais nada!!!! Isso era em 1982 depois nos 90 a Fundição e depois no início do atual Seculo a Lapa da J. Silva, essa hoje em dia, dos empresários paulistas e dos mauricinhos da ZS quase nada, eu já estava indo embora, que viveu viu, eu acho que sai na hora certa, mas isso ai é outra história.

Abçs

Anônimo disse...

Miguel, as fotos são lindas! provavelmente, suas - mas sem os devidos créditos... fait attention!

Miguel do Rosário disse...

é, bem lembrado. vou inserir os créditos nas fotos. são minhas. abraço.

Anônimo disse...

Assino embaixo, Miguel. Abs, Eduardo Guimarães

Anônimo disse...

Em cima disso surge também só agora uma discussão sobre universidades públicas e tal. Pura cortina de fumaça para esse episódio.

Wilson Cunha Junior

Márcia Brasileira disse...

Concordo contigo em partes, muitas acusações foram forjadas e manipuladas, tb.
Criam-se as provas, inventam histórias, gravam com pessoas que se passam por atores.
Veja os jornalistas da tv e de jornal, apresentadores de programas, muito farsa.
Existem provas mentirosas.
Muito tem sido descoberto, muito coisa virá a tona.
Veja isto:

http://blogdovelhocomunista.blogspot.com/2009_06_01_archive.html#1902963129552059198

Abç

Obs.: As fotos são lindas.

Anônimo disse...

Em algum blog vi a mensagem do twitter do Serra na quarta-feira da pancadaria: "Hoje trabalho ouvindo Esses Moços na voz de Gal Costa. Boa noite."
Caramba, esse sujeito virou um monstro mesmo. Tá ficando descolado da realidade. Deus nos livre desse cara no Planalto.

José Carlos Lima disse...

a imprensa brasileira não escreveu sequer uma linha sobre o aplauso que Lula e o Brasil recebemos de todas as nações deste planeta na reunião da OIT em Genebra. Estou indignado.

Assaz Atroz disse...

Miguel, o Serra disse que "não tem nada a estar vendo".
Confira no Assaz Atroz:"Serrassuga e Alan Brado põem Frankenstein no chinelo".
Abraços
Fernando

Luis Henrique disse...

Apenas discordo em relação ao Haiti: considero o episódio vergonhoso como um todo. Mas você tem absoluta razão quando diz que os dois casos não são comparáveis - quem traz isso à tona só está fugindo do assunto.

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