O blog é como um ser vivo. Humano, acho eu. Ou melhor, o blog é como eu. E nos últimos dias, ele tem sofrido de uma profunda síndrome de sono. Aquele sono gostoso do qual temos dificuldade de sair, envolvidos pelo conforto quieto da imobilidade. O incrível é como o tempo passa rápido nesses momentos. Lembro-me da infância, quando precisava acordar às seis horas da manhã para ir à escola. Cada mísero minuto parecia valer horas de descanso. Por outro lado, fugiam em alta velocidade. Os minutos valiam como horas mas passavam como segundos!
A mesma coisa acontece hoje. Eu queria apenas descansar um pouco. Dois ou três dias, mas eles passaram rápidos demais e daí outros dias se foram, escapulindo malandramente pelo ladrão. Houve um tanto de mau caratismo aí. Eles - os dias em fuga - intoxicaram-me com preguiça, embora fazendo-me achar que se tratava de um merecido repouso.
Enfim, tenho mil desculpas a dar, a mim mesmo. Arrumei um trabalho, por exemplo, e isso é verdade, mas ainda tenho bastante tempo para escrever. De qualquer forma aproveitei o tempo para acelerar algumas leituras.
Chegou a hora, porém, de balançar a cabeça e dar um grito rouco para espantar o sono. Mas recomecemos aos poucos. Para não espantar também os leitores.
Hoje eu vim aqui apenas para denunciar duas mentiras:
1) Que o governo teria recuado na questão do aborto, em relação ao Plano de Direitos Humanos.
O Globo deu manchetes sobre "recuo" do governo. Eu procurei melhor a informação, e fiquei sabendo que o ministro Paulo Vanucchi concordou apenas em mudar o texto, que usava linguagem incendiária feminista, mantendo inalterada a defesa pela descriminalização do aborto. Não houve recuo.
2) Jornal Nacional de ontem afirmou, assim sem mais, que Zelaya foi deposto porque desejava fazer plebiscito sobre reeleição, o que seria contra a Constituição.
Mentira. Zelaya queria fazer um plebiscito sobre a possibilidade de se convocar uma assembléia constituinte. A cédula já estava impressa e não constava nada sobre reeleição. Era apenas uma pergunta sobre a assembléia. E o nome de Zelaya não estava inscrito para a reeleição ao fim do ano passado. Lembro que discuti feio com uma conhecida porque ela afirmava que Zelaya queria a reeleição para si mesmo. Ela se baseava em Merval Pereira. O irônico é que Merval Pereira nunca afirmou isso. Merval admitiu inclusive que Zelaya não iria participar das eleições. Mas usava uma linguagem tão cheia de sugestões maliciosas, que conseguiu dar a entender o contrário do que ele mesmo informava.
Aliás, sobre o caso em Honduras. Vários colunistas ficam se perguntando: o que ganhamos com isso? Como se a diplomacia fosse uma vendinha de português que dependesse de lucro. O Brasil deu combate pela democracia e contra o golpe. Os golpistas venceram, infelizmente. Mas sofreram um prejuízo financeiro e político monstruoso. Não foi fácil. Ficou registrado que o Brasil não apoiará golpes. Quem se arriscar a dá-los, portanto, deverá incluir mais esse custo. Ganhamos isso: respeito. O mundo agora sabe que golpes ainda existem na América Latina, mas tem adversários poderosos e insistentes, e o Brasil é um deles.
28 de janeiro de 2010
Balançando a cabeça
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Miguel,
Vou balançar a cabeça contigo, ahahaha... Ultimamente, tenho andado sonolento, sabe-como-é-que-é... samba e amor até mais tarde...
Quando puderes visita a gente e divulga:
www.militanciaviva.blogspot.com
abraços,
Jota
O golpe funcionou porquê nenhum país teve "peito" de entrar lá e recolocar o presidente legítimo à força no poder, sem contar os que secretamente apoiaram tal golpe, e tampouco a população de Honduras. Isso abre um precedente perigoso, mostrando para os golpistas daqui que é possível dar um golpe de estado mesmo com a "desaprovação e repúdio" do resto do mundo.
Engana-se quem afirma que os golpistas sairam vitoriosos
Palavras de Lorena Zelaya:
Por outro lado, Lorena destacou o protagonismo dos movimentos sociais hondurenhos que continuam atuando firmemente em todos esses 190 dias que transcorreram após o Golpe. Neste mês de janeiro, uma grande atividade conseguiu reunir mais de 50 mil pessoas só em Tegucigalpa. Isso, segundo a representante da Frente, demonstra que as organizações seguem mobilizadas.
Ainda sobre a força que mostrou a sociedade civil, ela falou que tem sido impressionante esse empoderamento popular. O Golpe terminou por promover uma intensa articulação que antes não aconteceria no país.
"O que aconteceu em Honduras nos colocou uma nova experiência. Porque mesmo tendo ocorrido vários Golpes de Estado no país, nunca aconteceu nada. Todavia, agora é diferente. Estamos todos os dias nas ruas. Não somente em Tegucigalpa como em todo o país. Houve momentos em que, aproximadamente, mais de 1 milhão de pessoas estavam mobilizadas, coisa que nunca havia acontecido. O que existe é uma articulação dos movimentos, de grupos que antes não estavam impulsionando os processo político, digamos", contextualizou.
Lorena fez referência a grupos como o "Feministas em Resistência", que "são muito fortes, muito comprometidas". Citou ainda os e as "Artistas em" Resistência, os jovens, além dos trabalhadores e trabalhadoras. "São grupos que antes não haviam conseguido essa articulação. E toda a população está mobilizada", disse.
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