29 de janeiro de 2010

Manual para matar urubus

O IBGE divulgou ontem que o desemprego no Brasil caiu para 6,8% ao final de dezembro. É o mesmo índice de dezembro do ano passado. O menor índice da história. Mas aí, claro, a imprensa quis abafar. O assunto não apareceu em manchete nenhuma. Em vez de dar uma notícia que provocaria um efeito positivo na sociedade, e que inclusive atrairia muito mais compradores, o jornal anuncia na capa que "Concessões da área elétrica vão ser renovadas por MP". Ulalá! Essa manchete deve ter comovido profundamente o coração dos paulistas!

Aí vou para o Caderno Dinheiro e observou que a notícia não está na página 1, nem na página 2. Viro, viro, viro e a encontro escondida na página B7. E uma surpresa:


Ué? O desemprego não tinha caído, perguntar-se-á o leitor inocente. Outros nem farão essa pergunta. A maioria lerá a manchete e virará a página com um ar levemente compungido. Provavelmente pense: "ainda bem que eu tenho meu emprego". O triste é que talvez esse indivíduo tenha acordado com a idéia de largar seu emprego e procurar outro melhor. Diante da notícia, desistirá certamente. Talvez o sujeito esteja desempregado e, ao ler a matéria, sentir-se-á menos animado a continuar procurando.

O certo é que a Folha manipulou a informação para transformar um dado positivo em seu oposto. É que o desemprego "médio" do ano ficou em 8,1% no ano passado, contra 7,9% em 2008. Mas esse número, desemprego médio, não é o principal. O principal, claro, é o índice de desemprego no último mês apurado. A notícia principal é que o desemprego caiu de novembro para dezembro e atingiu o menor patamar da história brasileira, 6,8%. O principal é que o Brasil, na contramão da maioria dos países desenvolvidos, e mesmo por aqui, no sul da América, é o único que conseguiu fechar o ano com taxas de desemprego historicamente baixas. O EUA está com maior taxa de desemprego dos últimos 20 anos. Nós estamos com a menor taxa da história. 

Não é questão de ser poliana. De ser ingênuo. É a realidade. Esconder essa realidade é uma atitude desonesta, que prejudica os interesses nacionais. Os empresários estão otimistas. O povo está otimista. Porque, diabos, a imprensa continua urubuzando a economia brasileira?

O Globo faz ainda pior. Além de também esconder a notícia do desemprego na primeira página ele brinda seus leitores com a seguinte manchete de capa:


A notícia é antiga. Há mais de uma semana que o governo divulgou os dados de comércio exterior. O lead da capa diz o seguinte:

"Pela primeira vez em 20 anos, os bens primários são mais de 40% das exportações".

A informação pode ser verídica, mas é ao mesmo tempo profundamente falsa. 

As exportações brasileiras de manufaturados cresceram exponencialmente nos últimos 20 anos. 

Total da Consulta - Exportação de autopeças em 1989
PeríodoUS$ FOBPeso Líquido(Kg)
01/1989 até 12/19892.323.650.713539.505.671


Total da Consulta - Exportação de autopeças em 2009
PeríodoUS$ FOBPeso Líquido(Kg)
01/2009 até 12/20098.463.879.3211.033.978.721



Então. As exportações de autopeças, que constituem o principal produto acabado exportado pelo Brasil, cresceram 364% em 20 anos. O jornal não informa isso. Os leitores ficam pensando que a nossa indústria de exportação está andando para trás. Não está. 

A queda na participação dos manufaturados tem uma razão de ser bem simples. As vendas externas de minério de ferro bruto para a China explodiram. As plantações de soja explodiram. A exportação de petróleo explodiu. 

Não foram as exportações de manufaturados que caíram. As exportações de produtos básicos é que cresceram a um ritmo alucinante. 

O Globo também não informa uma outra coisa fundamental. O destino mais importante de nossos manufaturados é a América Latina. 

A matéria do Globo diz o seguinte:

Isso ocorre porque a crise mundial afetou mais fortemente os compradores de produtos acabados brasileiros - como Estados Unidos, Europa e América Latina - e favoreceu a exportação para a China, grande compradora de bens primários e hoje o maior parceiro comercial do Brasil.

Mentira! A Europa não compra "produto acabado" do Brasil (retificação: compra sim, mas pouco). A Europa é igual à China. Só compra matéria-prima. Os EUA compram um pouco de produtos acabados do Brasil. Mas o grosso dos manufaturados brasileiros vai para a América Latina. Isso devia estar explícito. Ao posicionar a Am.Latina em terceiro lugar na frase, dá a entender que ela é o terceiro mercado de "produtos acabados" do Brasil. Não é. Está em primeiríssimo lugar. 

A matéria do Globo é medíocre. Não diz que "produtos acabados" o Brasil exporta. Eu digo aqui. Os principais "produtos acabados" exportados pelo Brasil são: autopeças em primeiríssimo lugar, reatores nucleares, aviões, eletrônicos. Quem os compra? A América Latina compra 67% de nossas autopeças, 45% de nossos reatores nucleares, e igualmente é a maior compradora de nossos eletrônicos. O mercado de aviões da Embraer, tudo bem, esse está mesmo bastante concentrado nos EUA, mas vem se pulverizando nos últimos anos e crescido rapidamente na China. O importante é entender que o preço médio das exportações brasileiras para a América Latina (US$ 1.177 a tonelada) é muito superior ao praticado nas vendas para Europa (US$ 449), EUA (US$ 810) e China (US$122). 

Cliqu na tabela abaixo para checar, com seus próprios olhos. 



*

Abaixo, reproduzo uma matéria que publiquei na Carta Diária Óleo do Diabo, edição de 14 de janeiro de 2010. Aliás, tenho feito uma cobertura bastante intensa da pauta de comércio exterior em minha Carta. 



América Latina continua no topo do ranking dos destinos das exportações brasileiras


Os hermanitos continuam sendo nossos maiores compradores. O bloco América Latina e Caribe respondeu por 23% de nossas exportações, ou 35,65 bilhões de dólares, no ano passado. Essa é a informação mais sonegada da história recente da imprensa econômica brasileira. Esses números posicionam o bloco latino como um mercado muito mais importante que EUA, China e União Européia, até porque ele importa produtos com muito mais valor agregado. O preço médio dos produtos brasileiros exportados para América Latina e Caribe em 2009 ficou em US$ 1.027 a tonelada, enquanto para a União Européia não passou de US$ 499, para os EUA ficou em US$ 810 e para a China, meros US$ 122.

Os dados de dezembro acabam de ser atualizados pela Secretaria de Comércio Exterior, órgão subordinado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, através do sistema online Alice. Os totais já haviam sido divulgados, mas repetimos aqui: o Brasil exportou 152,99 bilhões de dólares em 2009, o que representou uma queda de 22,7% sobre o ano anterior, mas um aumento de 219% sobre os valores registrados em 1999. 

Os números desmentem também aqueles que pretendem ver na política brasileira de comércio exterior qualquer descuido quanto ao comércio com os Estados Unidos. A corrente de comércio entre Brasil e a potência número um caiu em 2009 em função da crise, mas mesmo assim é muito superior ao registrado ao final da década de 90, quando patinava em pouco mais de 20 bilhões de dólares. Nos últimos anos tem ficado sempre acima de 35 bilhões de dólares, atingindo 53 bilhões em 2008 e declinando apenas no ano passado, quando encerrou em 35 bilhões. 

O saldo comercial entre Brasil e EUA tem, igualmente, se mantido favorável ao Brasil nos últimos 6 anos, com exceção de 2009, por causa da crise financeira que derrubou o dólar e a economia americana. Ao final dos anos 90, o déficit da balança cambial entre Brasil e EUA chegou a 4,49 bilhões de dólares, e permaneceu negativo por todo o período fernadista. Durante a gestão Lula, o Brasil acumulou enormes superávits com os EUA, com o pico ocorrendo em 2007, quando chegou a 6,4 bilhões de dólares.

2 comentarios

Anônimo disse...

As Fábrica Nacional de Mentiras, ou Empresas Der Göbbels, vao assim: assustando a crasse mérdia, e afazendo de conta q somos idiotas.

Senso crítico nao é o q determina suas idiotices e sim, nazi fascismo.

E desde muito muito, descaradamente assumido.

Inté,
Murilo

Tio Drakul disse...

É fácil explicar esse samba do criolo doido.

Na questão das notícias, a mídia têm um governo no poder que não é "amigo", e portanto então têm que sabotá-lo diariamente para colocar os amigos no lugar. E o político típico brasileiro é INCAPAZ, eu repito, incapaz de pensar em propostas melhores do que tentar sabotar o adversário e então se apresentar como "salvador da pátria". Esse método tipicamente brasileiro de fazer política funcionou bem até hoje porquê geralmente os governos eram mesmo ruins, mas falhou quando por um acaso do destino apareceu um bom governo. Pois aí como vão se apresentar como solução para todos os problemas se os problemas estão sendo resolvidos, devagar mas estão, já pelo atual governo?

E na questão das importações e exportações, os nossos cegos "economistas" trabalham com as seguintes "verdades incontestáveis":

1) Mercado consumidor é EUA e Europa. O resto não existe. Só agora é que estão enxergando a China porquê ela está se tornando tão grande que até os nossos cegos "economistas" são forçados a engolir que ela existe;

2) O Brasil só exporta matéria-prima bruta. Herança da época da colônia (a mentalidade deles parou no tempo), na qual o Brasil meramente extraía minérios e madeira de qualquer jeito, socava em um navio e mandava à preço de banana para os seus mestres, quero dizer, "clientes". Eles acreditam que ainda têm que ser assim ou ainda pior, são coagidos por estrageiros à forçar o Brasil a continuar como mero exportador de matéria-prima.

Essa turma têm que ser ignorada Miguel... Porquê quando não é simples e ululante estupidez e incompetência, é algo ainda pior. É o servilismo à interesses inconfessáveis externos em troca de algumas moedas de prata e talvez uma casinha em Miami.

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