19 de janeiro de 2010

Imprensa tenta resgatar espírito da guerra fria


(Outra pintura chilena)

Se qualquer cidadão dos anos 50, habituado a ler jornais, entrasse numa máquina do tempo e visitasse o Brasil de hoje, encontraria um debate muito parecido ao de sua época. Estadão, Folha e Globo procuram colar no governo o adesivo do comunismo totalitário. E dá-lhe Cuba por toda parte. Muitos lembram, a todo momento, que militantes anti-ditadura não queriam a volta da democracia, e sim a implantação de um regime soviético no país. Esta é a tática mais capciosa, mais hipócrita, mais revoltante - desenterrar ideologias há muito sepultas por esses militantes, descontextualizando épocas e situações. Como se o florescimento dessas ideologias não fosse ligado umbilicalmente à derrota inflingida à democracia por militares e mídia. Se é para lembrar o passado e a bandeira de cada um, seria honesto informar que esta mesma imprensa defendeu o golpe de Estado, através da tática mais vil de todas. Mentindo. Afirmando que o golpe era democrático. Que era uma vitória das forças da democracia! Assim eram as manchetes!

A imprensa não apenas ajudou os militares a violarem a democracia brasileira. Ela também contribuiu para solapar o próprio conceito de democracia. Deliberadamente inoculou enorme confusão ideológica no espírito nacional, afirmando que o preto era branco e o branco, preto.

Os jovens de dezessete anos que decidiram lutar contra a ditadura, como era o caso da ministra Dilma Rousseff (que é o alvo principal desses ataques), haviam perdido a esperança na democracia. Aí está outra consequência nefasta do golpe: aniquilar nos espíritos jovens e idealistas a esperança, o sonho, a poderosa ingenuidade juvenil de achar que pode mudar o mundo - tão ingênua e tão poderosa que às vezes muda mesmo.

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Ontem assisti trechos do debate na Câmara sobre o III Programa Nacional de Direitos Humanos. Todo mundo se manifestou fortemente favorável ao decreto presidencial e identificou, nos ataques que este sofreu da mídia, uma grande ofensiva conservadora. Os representantes dos diversos segmentos que participaram das conferências regionais e nacional mostraram-se bastante conscientes de que os meios de comunicação assumiram o protagonismo da oposição política ao programa, e que eles poderiam tirar alguma vantagem disso, trazendo o debate para um público maior. Demonstraram segurança de que a exposição os beneficia, porque têm os argumentos mais sólidos. Rechaçaram as críticas mais vulgares, que pretendem atribuir intenções ideológicas obscuras a projetos de lei que nada mais são que desdobramentos democráticos da própria Constituição Brasileira. Um surdo "oralizado", presidente de uma entidade ligada aos direitos humanos dos deficientes físicos, fez um discurso comovente afirmando, no entanto, que o sonho de seus representados não é esticar esse debate indefinidamente, e sim levá-lo a uma etapa mais avançada, ou seja, transformá-lo em leis e, sobretudo, em realidade prática.

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Está claro, todavia, que a maioria das críticas ao programa de direitos humanos ganhou um ar caricatural, tendencioso, partidário. Os tucanos se retraíram nas críticas, mas assistem alegremente o incêndio no circo, o que é uma atitude ainda pior, uma covardia obsequiosa, malandra. A imprensa, de qualquer forma, conseguiu o que desejava. A histeria criada, com direito até a José Neumanne afirmando que por muito menos Goulart fora deposto e conclamando: e os militares, onde estão os militares?, criou núcleos extremistas de opinião, e a imprensa não procurou debelá-los. Ao contrário, atiçou-os, publicando cartinhas desinformadas, caluniosas, que associavam um programa elaborado cuidadosamente por elementos democráticos a ideologias soviéticas.

Em relação à mídia, os participantes do debate na Câmara disseram que a versão anterior do programa era ainda mais enfática em relação à necessidade de exercer um controle social sobre os meios de comunicação.

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É preciso vestir as roupas da mídia para poder dialogar com ela. O programa de direitos humanos assinado por Fernando Henrique não metia medo porque a mídia sabia que a palavra final era sempre dela. Ela confiava no governo. Hoje não confia. FHC podia posar como defensor dos direitos humanos com toda a desenvoltura porque a midia e os segmentos conservadores sabiam que possuía a decisão final sobre quais direitos seriam válidos e quais não.

Além disso, não havia, em 1997 ou 2002, quando foram publicadas as primeiras versões do decreto, nenhuma intenção de desgastar o governo. Muito pelo contrário.

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Há um outro item da agenda política que merece a nossa atenção redobrada. O chavismo foi transformado, pela mídia, e quiçá também por seus próprios erros (mesmo que bem intencionados), numa bola de chumbo presa aos pés da esquerda democrática latino-americana. Na derrota de Frei por alguns milhares de votos podemos ver o peso chavista puxando o balão para baixo. O chavismo já não pertence à Chávez. Tornou-se um símbolo. Já não importa o que seja na realidade. Como símbolo, o chavismo exerce forte influência na América Latina. Uma influência negativa eleitoralmente. E por quê? Por que, dentro da Venezuela, Chávez tem amplos espaços para se defender. Ele se esquece, porém, que é atacado em outros países, onde não pode se defender e, portanto, a mídia pode pintá-lo, livremente, das cores mais escuras e tenebrosas. E depois de fazê-lo leva o boneco gigante à rua, para que todos o vejam, e diz: vejam, esse é monstro que deseja dominar a América Latina! Se vocês votarem em Eduardo Frei, em Cristina Kirchner, em Dilma Rousseff, ele atingirá seus objetivos!

Eu entrei em sites e blogs do Chile e constatei que é assim mesmo. Frei perdeu muitos votos para o antichavismo.

E o que é esse chavismo assustador, chamado inclusive de ditadura, apesar de na Venezuela vigorar o sufrágio universal?

Já lhes falei de uma conhecida com quem discuti muito asperamente essas questões. Ela é leitora e fã de Merval Pereira e, portanto, vocês imaginam que maravilha de opiniões ela tem sobre tudo. Para ela, não houve golpe em Honduras, e Merval foi o único a perceber isso. O único no mundo inteiro, diga-se de passagem. Então ela disse:

- Você acha que a Venezuela é uma democracia?

Mas não foi uma pergunta propriamente dita. Foi quase uma ameaça. Do tipo: "você terá a ousadia de afirmar, contra tudo que venho lendo no Globo há anos, que o Chávez não é um ditador odioso?"

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Não se pode subestimar o poder midiático sobre a opinião pública, principalmente sobre a classe média. O Chile é um país de classe média, um pais culturalmente conservador, e a propaganda antichavista fez grandes estragos no prestígio da esquerda chilena junto aos segmentos sob influência de uma imprensa altamente sofisticada. Sim, porque a imprensa latino-americana é sofisticada - tecnologicamente, eu digo. As ditaduras que assolaram a região produziram enormes conglomerados ultramodernos que hoje se vêem ameaçados pela emergência de novas forças políticas e de uma nova configuração social.

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A configuração política brasileira é muito distinta da chilena. Não somos um país conservador culturalmente, apesar dos esforços de César Maia em provar o contrário. Aliás cabem aqui algumas observações.

Eu li o tal ensaio de André Singer. Interessante, mas um bocado pretensioso. Tem coisas boas, mas baseia-se em premissas duvidosas. Há uma pesquisa, por exemplo, feita há alguns anos, que mostra o povão contrário às greves, enquanto a classe média e alta seria favorável. Isso é usado como prova de que o povão é de "direita". Errado. O povão é contra a greve porque é seu filho que irá ficar sem hospital em caso de greve na saúde pública. Irrita-me pensar que André Singer, ex-porta voz do governo, sempre usando terno e gravata de cinco mil reais, com seus quatro ou cinco planos de saúde, tenha construído um castelo em cima de bases conceituais tão preconceituosas. Também temos o conceito de "subproletariado", que seria a nova massa eleitora de Lula, em oposição ao proletariado convencional. Que coisa mais vaga! Querem botar etiqueta de subproletariado em cem milhões de brasileiros! Valha-me Deus! Mistura-se o camelô que possui uma barraquinha de cachorro-quente ao pé da favela com o sujeito que administra trinta barracas de eletrônicos na Uruguaiana. O catador de latinhas de alumínio com o proprietário de quatro biroscas de sucesso. E assim vai.

Achei ofensivo ao trabalhador brasileiro ser chamado de "subproletariado". Só porque não trabalha na Volskwagen? Não acho científico englobar uma quantidade tão heterogênea de profissões, mesmo que se as considere todas informais, num conceito que, além disso, é preconceituoso, pois as posicionam, ao menos linguisticamente, em patamar inferior ao proletariado comum.

Dito isto, creio que se faz muita confusão quando se tenta procurar pêlos conservadores no ovo popular. O povo pobre é ignorante, isso sim, como qualquer povo pobre do mundo. Não podemos confundir ignorância com conservadorismo político ou cultural. Pelo que eu pude observar com meus próprios olhos, o povo brasileiro não é conservador. Ele encara tranquilamente o homossexualismo - embora ainda exista muita violência contra homossexuais no Brasil. Maconha, aborto, raça, etc, em muitos aspectos temos um povo bastante progressista.

Não vejo como um povo tão apaixonado por festas coloridas, variegadas em seu formato, quase orgiásticas, um povo tão namorador, tão romântico, tão generoso, seja classificado por mauricinhos (mesmo que de esquerda) como "conservador". Dependendo do ponto-de-vista, claro, todo mundo é conservador. Ou liberal.

O ensaio de Singer se aprofunda nessa questão bizantina, forçada, de querer classificar o nível de esquerdismo ou direitismo do povo. Vejam a tabela abaixo (clique para ampliar, como sempre):



Ã? Esses acadêmicos me dão um sono mortal. Escala de esquerda e direita de 1 a 10? Não é forçar a barra demais?

Discordei de quase tudo no artigo. Para fazer essa tabelinha de esquerda X direita, ele usa o conceito "ordem" para associá-lo à direita. Desde quando almejar a "ordem" é algo da direita? Pode-se tranquilamente dizer o contrário. Pega-se um conceito subjetivo, vivo, dialético, historicamente instável, como é o conceito de "esquerda", e tenta-se congelá-lo? Pior: tenta-se obrigar o povo a engoli-lo assim mesmo: duro, congelado, sem tempero?  E aí o povo se recusa e então se diz que o povo é de "direita"?

*

Outros argumentos do ensaio também são débeis, como o que pretende provar que o eleitorado de Lula migrou da classe média para o povo. Tudo bem, concordo que Lula perdeu, de 2005 para cá, depois do mensalão, uma parte dos votos de classe média. Mas ganhou outros votos, também de classe média! O estudo tenta mostrar que Collor teve votos do povo e Lula da classe média, mas a tabela que traz não condiz com a tese. Singer quer forçar uma tese à revelia dos próprios dados que oferece.



A tabela acima não diz que Lula teve apenas votos da classe média. Informa que ele perdeu para Collor no segmento que ganha menos de 2 salários, mas teve 41%. Da mesma forma, quem ganha mais de 10 salários votou majoritariamente em Lula, mas Collor teve 40%. O problema de Singer é que ele usa números frios sem imaginação. Ele os esfria ainda mais. E tenta dissecar um corpo vivo, sensível, delicado, complexo, usando uma peixeira baiana.

De fato, em 2006 Lula ganhou de lavada no povão, e perdeu entre a turma do andar de cima. Mas as estatísticas enganam. Os números abaixo não trazem detalhes, como o fator regional: foi a classe média sulista, com ênfase em São Paulo, que deu votos ao PSDB.





Se o povão tinha "hostilidade" às greves, e por isso não votava em Lula, não é porque ele (o povão) era de "direita", e sim porque, repito aqui, eram suas crianças quem amargavam a falta de cuidados médicos. É claro que o povo era contra as greves. Um punhado de operários do ABC paulista, cujos salários correspondiam ao triplo do de um professor do ensino básico ou de um enfermeiro do serviço público, sabia o valor de uma greve para sua classe; o funcionário público com estabilidade no emprego mas um salário de fome, corroído cada vez mais pela inflação, também sabia o valor de uma greve; mas as crianças que morriam na porta dos hospitais fechados - em greve - não tinham nada a ver com isso! Para André Singer, todavia, o povo é de direita porque não gosta de greve... E daí ele usa esses dados como base para uma série de outras conclusões, as quais, por se originarem em premissas falsas, são igualmente artificiais.

Meus leitores sabem que prezo muito o uso de estatísticas. Mas eu gosto de números confiáveis, como os de comércio exterior, onde os volumes e valores são registrados minuciosamente na alfândega. Ou pesquisas eleitorais objetivas, onde se pergunta ao entrevistado: vota em x ou y? E o sujeito responde: voto em x. Esse tipo de estatística capenga, contudo, sem imaginação, não contribui em nada, a meu ver, para se compreender o processo político e eleitoral no país. Ao contrário, serve apenas para, mais tarde, alegar-se que o povo "contrariou as expectativas" e desmerecer o trabalho dos cientistas sociais. A ciência política deve buscar sempre amparar-se em dados objetivos, mas não deve nunca, sob o risco de se tornar uma matemática burra e inútil, esquecer que o mais importante, para entender a sociedade e seus anseios, continua sendo a intuição e o bom senso.

12 comentarios

Anônimo disse...

PARCERIA ENTRE GOVERNO DO ESTADO E MUNICIPIOS ESTIMULA CIDADES CONCEITO E ESPORTES EM SÃO PAULO.
Começou com a capital, Sâo Paulo, e os seus Jardins submersos. "A idéia é fazer uma região similar à Veneza, na Itália" afirmou o prefeito. Além disso, destaca a evolução na qualidade de vida:
"As crianças que antes jogavam futebol, passaram a jogar polo aquático. A terceira idade e os obesos agora praticam hidroginástica."
O Governador, por sua vez, fez questão de lembrar que também no interior esforços estão sendo feitos nesse sentido. "O sistema de hidrovias sempre foi mais ecológico e barato que o de rodovias, por isso o governo estimula as pessoas a usarem os seus botes, barcos e caiaques nas vias de seus bairros e suas cidades. Além disso, quem gosta de praticar esportes tem se deliciado, uma vez que graças ao nosso governo é cada vez mais comum a prática de rafting e canoagem urbanos."
A indústria náutica comemora os lucros crescentes pelo quarto mês consecutivo. Em todo o Estado, há venda cada vez maior de barcos, motores e Jet Skis. A busca por habilitação marítima também aumentou. "Temos mais de cem novas inscrições por dia em busca do arrais amador." Diz o dono de uma rede de escolas náuticas, com sede na represa de Guarapiranga e unidades no interior do Estado.
Todos alertam, contudo, a necessidade da utilização de colete salva-vidas para a prática segura dessas atividades.

O Anão Corcunda disse...

O Chile é um país ultra-católico e muito conservador. Um dado comprova isso, e não deixa de ser surpreendente: foi o último (ou penúltimo, não sei ao certo) país ocidental a adotar a lei do divórcio, e isso já em pleno século XXI.

Um outro dado: seu eleitorado é composto por 11 milhões de pessoas, somente 10% em relação ao eleitorado brasileiro. Quanto menor o eleitorado, maior a possibilidade de propagandas midiáticas fazerem a diferença numa eleição apertada. 100 mil votos decidiram, ou quem sabe até menos que isso.

Quanto ao povo brasileiro ser conservador ou progressista, acho que esse debate pode cair num viés maniqueísta: "conservador/ruim" x "progressista/gente boa". Precisamos, antes de tudo, dialetizar essas noções. A vitória de Collor em 89 foi, definitivamente, uma escolha conservadora do povo brasileiro. Naquele tempo, tínhamos um Lula muito inflamado, e o povo o recusou; o processo histórico, todavia, conduziu um Lula muito mais amadurecido para a presidência e para um governo que foi e é um sucesso social, econômico, democrático. O conservadorismo popular de 89 talvez tenha sido sábio ao conduzir o Lula a uma preparação maior, mais exigente, para a altura do cargo que recebeu. Esse "conservadorismo", muitas vezes, é uma saudável desconfiança em relação a movimentos subversivos que muitas vezes ainda estão demasiadamente carregados de problemas. Não dá pra ter certeza absoluta, mas Lula tinha altas chances de queimar seu filme, junto ao povo, ao ser presidente em 89. Melhor: quem se deu mal foram Collor e alguns de seus apoiadores, infelzimente às custas de um preço social alto para o país.

Não dá para colocarmos forças conservadoras sempre no saco do atraso histórico. Muitas vezes, elas se colocam a serviço de um necessário amadurecimento. Da mesma forma, a noção de progressismo precisa passar pela mesma análise: quando a gente vê uma pessoa muito progressista por aí, é bom desconfiar... sem contar, é claro, o grande teor positivista embutido na noção. O partido do Maluf é o histórico Partido Progressista, não esqueçamos...

O Anão Corcunda disse...

No mais, sou muito menos otimista que você em relação aos ditos progressismos do povo brasileiro. Em relação a discriminação contra homossexuais, por exemplo, acho que em poucas grandes cidades a coisa melhorou um bocado, mas ainda falta muito para avançar. O preconceito ainda é muito forte, e muito dissimulado. Acho que ainda estamos muito longe de conviver bem com isso. Em relação a usuários de "drogas" também. As políticas públicas, por exemplo, também disfarçadamente, são produtoras e disfarçadoras de estigmas, ainda mais se considerarmos as teorias médicas hegemônicas, amplamante preconceituosas. Quanto a uma possível descriminalização do aborto, acho que estamos muito longe de aprová-la, infelizmente.

Muitos avanços? Sim, mas ainda tímidos. E o interior do Brasil ainda conserva coisas do arco-da-velha...

Quanto à questão do "subproletariado", acho que você acertou na mosca. A tese do André Singer é de um classemédismo asqueroso, totalmente equivocado e reducionista. Ainda mais quando consideramos o aumento da renda nas classes mais pobres, e a saída de milhões das condições de miséria e indigência, ou seja, a redução absoluta do lumpenproletariado. O Brasil, enfim, começa a construir um proletariado poderoso, heterogêneo, e não só eleitoralmente, mas também com comida na pança, mais disposto a procurar emprego, a pensar, a ganhar dinheiro, a decidir os nossos rumos. E isso deixa os almofadinhas classe média sem ter pra onde ir, a não ser pras universidades, quase todas redutos de mauricinhos semi-broxas.

Na questão das greves, também concordo plenamente contigo. E acrescento outro exemoplo: o trabalhador comum que leva 3 horas por dias para ir e voltar ao trabalho, passa a levar 4 horas e meia quando há greve de trens. Porra, se 3 horas por dia num trajeto de menos de 100 km no total já é tempo pra caralho, um tempo que tende a ser improdutivo e cansativo, imagina o dobro disso? Mas o mauricinho do Singer nem chega perto de pensar isso...

Longe de não defendermos mais nenhuma greve, mas é preciso ver que, muitas vezes, a população as reprova por questões práticas, e os próprios grevistas, quase sempre com motivos muito legítimos, acabam se colocando contra a população, e caem em descrédito.

Abraço!

Miguel do Rosário disse...

Oi Anão, muito bom seu comentário. Obrigado e um abraço.

Anônimo disse...

Vejo o Chile como um pais diferente,extraordinario. Considerei o resultado da eleiçao de piñera uma alternancia normal e,
dentro das circunstancias, esperada.
O chile, assim que se separou do "Vi reinado del Peru", continuou a construir sua identidade. Foram la as primeiras universidades no sub continente.
Foi o unico lugar onde a nacionalidade foi construida numa luta de seculos contra os mapuches, povo valente e indomavel
da terra. Eles precisavam defender suas vilas e cidades contra os ataques mapuches. Por vezes perdiam feio na luta. E recomeçavam. Isso formou o carater e a unidade psiquica e o apego a patria chilena.Depois lutaram, por razoes em geral economicas e de grupos,é verdade, contra os vizinhos peru,bolivia e os venceram. As elites locais tinham que contar com o povão para nao morrer.Entram na mineraçao e depois na ditadura mais brutalda AL. Agora,desde os 90 com o ´boom´economico da Asia e agora com a china, na pratica ganharam na loteria geo-economica pela sua localizaçao privilegiada.
Por isso tem um significativo corte social conservador. Se exageram com Pínera, veremos logo adiante.

Thiago disse...

Das asneiras que a gente lê: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100125/not_imp500851,0.php .

Fernando K disse...

Achei a discussão excelente mas prejudicada pela tentativa de juntar a questão latino americana com a analise do André Singer.
Por partes: na questão AL, o anti-chavismo é mesmo um fenomemo assustador e o comentário desse autor é extremamente pertinente. Soma-se a ele a análise que o Boaventura está fazendo da AL com nova onda conservadora em plena formação. No contexto brasileiro, o anti-dilmismo tenta utilizar a derrota do Frei no Chile sem a menor preocupação (obvia) em fazer as devidas ponderações: esquerda racahada, vinda de 20 anos no poder, com fragilidade em seu trabalho de base e num país cuja presidente era bem avaliada mas o seu governo nem tanto (falta de crescimento economico, desemprego, etc) - obersavação: o eleitorado chileno é menor que 8 milhões (menor ainda que os 11 citados por outro comentador). No Brasil temos elementos de conjuntura bastante diferentes e esse debate precisa ser bem feito por todos nós.
Aí que entra o equivoco do autor desse post, no meu entender, a respeito do texto do André Singer. Com sinceridade, confesso meu apreço pelo trabalho desse intelectual e não o li com as lentes dos que aqui escreveram antes. Acredito que se esforço foi tentar sair dos conceitos rígidos da nossa intelectualidade autoreferenciada (que bate no peito ao reproduzir conceitos históricos, sejam marxistas ou outros) e não conseguem buscar novos caminhos. A referencia ao subproletariado, por exemplo, diga-se de passagem, é do pai do André, o Paul Singer, que o desenvolveu na década de 80 para entender a dinamica do mercado de trabalho brasileiro. Não buscar esses novos referenciais é até mais fácil para nossos analistas preguiçosos... o problema é que os conceitos tradicionais de lumpem, trabalhadores stricto-sensu, ou mesmo classe média, já não explicam muito da nossa dinâmica social complexa brasileira. Gostei da tentativa do André Singer de buscar esse aprofundamento e acho que ele ajuda em muito a entender como é possível um governo como o de Lula unir interesses dos mais ricos, com os mais pobres, sem dizer que sua base de apoio se deve apenas a juros e bolsa-família. Acho que está na hora de abrirmos mais a cabeça pras dificuldades analíticas/práticas que se apresentam na atual conjuntura, até pra não tomarmos o Chile como exemplo também...

O Anão Corcunda disse...

Olá Fernando,

acho apenas que a idéia de "sub"proletariado é um tanto preconceituosa, pois conota um lugar inferior. Veja bem que escrevi que um dos grandes saldos desse governo é impulsionar a sedimentação de um proletariado heterogêneo no Brasil, com muito mais força política e mais dinheiro no bolso.

Não sei por que, mas isso tá me lembrando a história do subperonismo...

Fernando K disse...

Cara,
gostei do seu blog mesmo! E dessa discussão também!
Que eu saiba a noção do subproletariado formulada pelo Paul tem como base uma divisão dentro da categoria "classe trabalhadora" mas que conta com elementos distintos daqueles originais do Marx: trabalhadores que não conseguem atingir no mercado uma remuneração que lhes dê condições mínimas de participação na luta de classes... daí a importancia da categoria e, acredito, é bastante distante do subperonismo.
PS: acho que vou tentar elaborar um post melhor

O Anão Corcunda disse...

Opa!

É o seguinte: acho que não existe esse negócio de remuneração que dê condições mínimas para participar da luta de classes. Participando da luta de classes, todos estamos. É claro que um cara sem nenhuma proteína nas idéias vai entrar debilitado em qualquer luta, seja pra que lado for. Mas o fato do cara trabalhar na Volkswagen não lhe confere, automaticamente, mais força de combate que um camelô que vive tomando porrada da Guarda Municipal e não tem carteira assinada e suas benesses.

Por isso, continuo achando que esse negócio de "sub" é depreciativo...

Fernando K disse...

Moçada,
reforçando os argumentos, segue link com entrevista do André Singer na qual ele dá mais uns esclarecimentos. É uma opção não utilizar o conceito, preconceituoso ou não. Só acho que não usar torna mais dificil ler a realidade... afinal, usamos os conceitos para quê?
http://uol.com/bdGD

Abraço

O Anão Corcunda disse...

Caro Fernando,

li a entrevista, e com ela fica ainda mais clara uma série de preconceitos que o André Singer usa nas suas teses. Preconceitos esses que, sim, atrapalham uma análise mais precisa dos fenômenos sociais que estamos acompanhando. Vou me dispor a destrinchá-los um pouco por aqui.

Para ele, subproletariado = trabalhador sem carteira assinada. Essa equação inclui, de partida, um juízo de valor: quem não tem carteira assinada está abaixo, pior que aquele que tem. Obviamente, carteira assinada é um dos direitos trabalhistas mais importantes no Brasil, e muitos brasileiros melhorariam de vida se a conseguissem. É uma questão prática, que diz respeito à vida do trabalhador.

Mas é o seguinte: uma coisa é elencar a carteira assinada como um dos critérios de avaliação das condições dos trabalhadores (ou seja, do proletariado) do nosso país. Outra coisa é dizer que quem não tem esse direito faz parte de uma subclasse! Tem vendedor de cerveja, que trabalha pra caralho, que tira 3 mil reais por mês, apesar de não ter nenhum outro benefício, enquanto a empregada doméstica de Ipanema, com carteira assinada, trabalha ainda mais que o cara e ganha um salário mínimo. Aí o André Singer vem me dizer que ela é proletária e o cara é subproletário? Não faz o menor sentido. E se a mulher larga o emprego de doméstica pra fazer churrasquinho na rua, ser menos explorada e ganhar mais, mesmo sob o risco de tomar porrada da guarda municipal? Ela tá se tornando subtrabalhadora? Tá saindo fora da luta de classes?

Essa parte em que ele diz que o trabalhador sem carteira assinada está aquém da luta de classes é a mais absurda de todas. Absurda mesmo: pegou todo o Marx que leu e jogou no lixo. Para ele, só as pessoas com carteira assinada estão dentro da luta de classes!!! O que ele quer dizer? Que pobre desempregado não luta? Não só isso: ele diz que esse subproletariado não compreende que o conflito de classes é positivo!!! Além de subproletário, o camelô é burro e insensível!!! E um dos motivos é que eles não tem um sindicato!!! Como se sindicato fosse garantia de conflito de classes!!! Como se sindicato estivesse sempre do lado do trabalhador!!! Pra ele, pra virar trabalhador, todo mundo tem que ser metalúrgico do ABC???

Uma coisa é falar em subemprego, como uma atividade informal, com suas desvantagens e vantagens, outra coisa é falar em subtrabalhador. Queria que o André Singer fosse lá na feira de Acari, pegasse um megafone e falasse pros camelôs: vocês são subtrabalhadores!

Outra coisa: minha intuição tava certa... esse negócio de subproletariado tem a ver com a história do subperonismo... o André Singer não rechaça a tese do FHC do subperonismo, que é absurda e depreciativa do povo brasileiro. Essa é uma postura típica desse sociólogo de merda que é o Fernando Henrique, elitista, preconceituoso pra caralho, e ainda escreve muito mal. E o que o André Singer faz? Tergiversa. Subperonismo é desonestidade intelectual, pilantragem subteórica (aqui sim o sub faz sentido), diante da qual não dá pra ficar hesitando, discutindo possibilidade. Mas eu lanço uma suspeita: será que ele deixa de falar mal dessa porra de subperonismo por conta de algum rabo preso uspiano??? Até porque todo o pensamento dele é extremamente academicista, de um sociologismo torpe que serve pra que? Pra fazer e orientar teses de mestrado na universidade, pra dar entrevista pra imprensa, enfim... a única serventia dessa parada de subproletariado é o André Singer garantir seu emprego numa universidade, fomentando a produção de uma ciência positivista, preconceituosa, alienada, elitista, radicalmente conservadora, cujo principal enunciado é: tudo que vem dos pobres é de pior qualidade.

Quer saber? Subproletário é quem tá preso à universidade.

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