22 de julho de 2011

Com que roupa?

Com Que Roupa a Direita Política Vai?

Por Fabiano Santos, para o Valor.

Não faz muito tempo, o Brasil recebeu a visita do primeiro-ministro da Suécia, Fredrik Reinfeldt, líder do Partido Moderado, direita em seu país, o qual tem no governo se caracterizado, de fato como o nome indica, pela moderação tanto em suas ações, quanto em sua retórica. Em entrevista ao Valor Econômico, Reinfeldt, descreveu os pontos básicos sob os quais se assenta a estratégia política de sua gestão: aceitar a tradição igualitária que moldou a evolução do capitalismo escandinavo, procurando estimular a competitividade de setores selecionados da economia através de políticas de inovação e desoneração fiscal. Os efeitos da adoção de tal estratégia são significativos e tangíveis. Mesmo em tempos de globalização, a carga tributária é relativamente alta, assim como a despesa em itens como educação, saúde, previdência, habitação, além de investimentos na infra-estrutura física necessária para o dinamismo e sustentabilidade das indústrias de bens e serviços.

Bastante diferente é a postura da oposição de direita ao governo de Barack Obama nos Estados Unidos. Antes de Obama, quando no governo, dominando a Casa Branca, assim como as duas Casas legislativas, os republicanos promoveram o mais amplo e radical programa de redução da carga tributária jamais vista na história do capitalismo. O objetivo confesso sempre foi o de desmontar o tímido, para padrões do norte europeu, welfare state norte-americano. Ronald Reagan já anunciava o inconformismo dos conservadores com o que chamavam de excessos de gastos sociais e participação do estado nas decisões econômicas das famílias e indivíduos. Contudo, em sua presidência, os democratas sempre mantiveram a maioria na Casa dos Representantes e durante quase todo o tempo também no Senado, obstaculizando assim o projeto minimalista dos radicais à direita.

O atual impasse entre republicanos e democratas quanto à elevação do teto de endividamento do governo pode ser visto então como resultado de anos de confrontação política e, principalmente, da postura da direita americana de a qualquer custo solapar as bases de sustentação do gasto público na área social. Obama pede hoje mais impostos, sem os quais é impossível manter alguma chance de reequilibrar as finanças do governo. A oposição pede aquilo que vem pedindo desde os anos oitenta – zerar o gasto do estado com os pobres. E agora, Obama? O que fazer? Aumentar impostos? Os republicanos, maioria na Câmara, dificilmente concordarão. Cortar gastos e dramatizar a situação de pobreza e desigualdade cuja tendência tem sido apenas a de se agravar a cada ano? A resposta será politicamente intolerável para os democratas.

O problema da direita política no Brasil é a de saber qual paradigma de oposição pretende-se adotar face ao papel assumido pelo estado no atual estágio de desenvolvimento capitalista em nosso país. Ao contrário do diagnóstico que muitos intelectuais, políticos e jornalistas especializados fizeram no calor da hora dos anos de ouro do neo-liberalismo, mais exatamente nas décadas de 80 e 90 do século passado, a presença do setor público foi ampliada em alguns casos e sua ausência muito sentida nas ocasiões nas quais os riscos da competição tornavam-se maiores. Isto é, a clientela eleitoral do welfare state e em favor de políticas protecionistas nunca deixou de existir. Proteger as pessoas, garantindo amparo aos que sofrem com o dinamismo de economias muito expostas ao mercado externo foi o modelo seguido por vários países na virada do século 20 para o 21. Talvez o voto facultativo combinado ao sistema eleitoral para as eleições legislativas baseadas em maiorias simples em distritos uninominais, instituições altamente excludentes em seus efeitos, seja uma boa explicação, mas o fato é que a fórmula de enfrentamento dos americanos aos desafios da globalização, em especial da direita americana, foi radicalmente diferente: aprofundar ainda mais a flexibilidade das instituições que organizam o mercado de trabalho com o conseqüente aumento na capacidade das firmas de se ajustarem a condições econômicas em constante mutação.

Os últimos governos no Brasil têm se caracterizado, isto é inegável, pelo combate aos seculares problemas da pobreza e da desigualdade. A estratégia, desde sempre, é a mesma e uma só: organizar as instituições do setor público para o atendimento eficiente das populações marginalizadas, tendo em vista inseri-las na vida produtiva com mínimas condições de sucesso. Programas como Bolsa Família, a priorização do ensino técnico, assim como o recente projeto de erradicação da miséria, caminham na mesma direção, a saber, investimento público em capital humano, reduzindo a exposição dos indivíduos às vicissitudes da economia capitalista.

O problema do potencial eleitor da direita no Brasil, por conseguinte, não é saber se os políticos com tal inclinação sairão ou não do armário. O problema é saber qual a estratégia política que um eventual governo controlado pela atual oposição conservadora seguirá: fará como a direita tem feito na Suécia, aprofundando os elementos do novo pacto político no Brasil, que tem na pobreza um inimigo a ser combatido com todas as forças? Ou adotará uma estratégia de confrontação e desmonte das ainda frágeis instituições do welfare state brasileiro?

* Cientista Político, professor e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

9 comentarios

Geopolêmica disse...

Nossa direita é de origens diferentes da de países europeus e em muitos aspectos TAMBÉM da estadunidense. Nós latino americanos fomos colônias de exploração e isto está enraizado em nossos problemas sociais e até intelectuais até hoje. Nossa direita não defende apenas desoneração de impostos, defende o capital seja ele de onde for, nem que isto signifique a total desnacionalização da economia. Não nos esqueçamos também da manutenção de PRIVILÉGIOS. Isto está em nossa cultura colonial.

Anônimo disse...

Esse dilema é de dupla mão. O PT está cada vez mais usando a roupa do PSDB. Até programas como Bolsa Família foram herdados de seus antecessores.

P. P. P. disse...

A Dilma PARECE ADORAR GLOBLO FOLHA ESTADAO VEJA…

DEU UMA EXCLUSVA SOMENTE PRA ELES…. QUE DUREZA.

http://www.tijolaco.com/a-voz-da-presidenta-nao-deve-ter-donos/

Nem FREUD entenderia muito menos explicaria....

Que tristeza....

Miguel do Rosário disse...

PPP, e daí? Lula também deu exclusivas para Globo. Inclusive no dia seguinte à sua eleição em 2006, deu exclusiva para o Fantástico. Mesmo sendo golpistas, são os maiores orgãos de imprensa do país. Veja o ranking de tiragem, veja o ranking de influência. É a realpolitik na comunicação também.

spin disse...

O meu temor é que a população passe a ver o PIG como o partido que manda neste Pais, se isso ocorrer Dilma será vista como uma presidenta fraca, que não enfrenta o PIG, pelo contrário, é pautada por ele que, é claro, não é nada mais nada menos que porta-voz oficial da "incorruptível" UDN.

Daqui até as eleições de 2014 a toada vai ser essa: o PIG batendo na tecla da corrupção. Um texto interessantes para amigos e amigs do blog, é sobre fisiologismo e governabilidade, até parece que FHC não governou tendo sob seu guarda-chuva a parte podre da política, algo muito difícil de ser totalmente purificado. O importante é que o País avance, claro, é exatamente este o temor do pig.

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/dilema-politico-fisiologia-vs-governabilidade

Miguel do Rosário disse...

Spin, isso não rola. Quem manda é a presidenta. O povo também sabe que a imprensa é poderosa, mas também que a decisão final é do presidente. A Dilma não pode agir pensando em agradar ou desagradar a imprensa, mas sim em relação ao que ela acha correto diante das circunstâncias, inclusive políticas.

Claudio disse...

Pois é Miguel, tudo bem? Quando a gente consegue olhar sem ideologia, pelo menos eu, percebo que a Dilma está dando um show de civilidade. Por mais que apanhe, nunca reage com rancor perante a imprensa, como se dissesse: olha eu estou afim de conversar noutro nível, vocês topam?
Eu vejo a direita, não como um outro espectro ideológico, mas como manifestação da incivilidade, que aparece como egoismo, ambição, intolerância e insensiblidade social.
Tem muita gente que é de direita e se abriga num partido de esquerda, assim, tipo para dar um verniz ideológico.
A gente precisa mudar o paradigma, não só econômico e social, mas de civilidade e cidadania. E acho que a Dilma vem representando isso.
Tem um ótimo artigo do Leonardo Boff sobre isso:
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5132
Abraço a todos.

Anônimo disse...

Obrigado pela resposta

Spin

Anônimo disse...

Fiquei feliz com sua resposta, acho que eu estava com ciúme, espero que Dilma siga seu caminho

Grato,

Spin

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