Quando Bono Vox veio ao Brasil e foi encontrar-se com Lula, o editor da Ilustrada da Folha deu umas mordidas banguelas no irlandês pelo fato dele "emprestar seu prestígio à Lula". Quero ver se ele vai falar a mesma coisa da Rainha da Inglaterra. Afinal, ao convidar Lula e Marisa para hospedarem-se no Palácio Real, ela está "emprestando" prestígio a Lula. Ou não?
Entretanto, o que me tirou da cama nesta madrugada de domingo para atualizar este blog foi um pensamento algo filosófico. É sobre a questão ética do PT. Sabemos que a oposição vai usar a questão ética o máximo possível no processo eleitoral. Quem defende Lula precisa estar preparado filosoficamente para essa luta.
Pois bem, levantou-se o discurso que o PT não podia errar. O PT não! Qualquer outro partido podia manchar-se com corrupção e Caixa 2. O PT dizia possuir o monopólio da ética, acusaram. Não só a direita, como segmentos importantes da esquerda. Um monte de perna bamba como Chico Alencar; o cara de cachorro triste, o Cristóvão Buarque; e as histéricas Heloísa Helena e Luciana Genro repetiram o mesmo discurso da direita: O PT era dono da ética, não podia se manchar eticamente.
Bem, entendo que esse é um discurso hipócrita, tendencioso, idiota e ardiloso. O PT pode errar sim! Qualquer partido pode errar. Acredito inclusive que seria ingênuo achar que o PT nunca mais vai errar no futuro. O PT é uma instituição humana e precisa aperfeiçoar-se, criar instrumentos mais rigorosos de controle ético, mas achar que um partido de massa, com mais de 1 milhão de filiados, vai extirpar completamente qualquer elemento nocivo de suas entranhas é ser perigosamente tolo. O mal só pode ser combatido quando temos consciência de que ele sempre vai continuar existindo e, portanto, precisa constamente ser combatido. Para isso, existe a Polícia Federal, o Congresso, a imprensa. No caso da imprensa, o uso de denúncias vazias, ilações tendenciosas e colunismo partidário, só a desprestigia e lhe reduz a capacidade de influenciar. De qualquer forma, a chegada dos blogs e sites veio para quebrar a crista da mídia corporativa. A mídia alternativa deixou de ser jornalzinho universitário, zines mal feitos e tablóides sindicais: a internet trouxe o acesso universal e estimulou o surgimento de centenas de sites com prestígio suficiente para enfrentar o poderio dos grandes. Os Davids, mais uma vez, tem a chance de vencer os Golias.
Entretanto, o PT teve um comportamento absolutamente digno em face do escândalo do Caixa 2. Pediu desculpas publicamente à nação. Delúbio Soares assumiu a responsabilidade. O presidente do partido, José Genoíno, renunciou ao cargo e recolheu-se. O próprio Lula, num gesto de humildade, pediu desculpas pela TV.
Quando ele falou na tal facada nas costas, houve aquele burburinho: quem traiu? Ora, pra mim não é difícil saber: Delúbio Soares, Silvio Pereira, José Genoíno. Mas quem deu o golpe mais traiçoeiro no presidente Lula foi mesmo Roberto Jefferson. Tá certo, o erro de Lula e Dirceu foi acreditar numa víbora. Jefferson, contudo, foi o Mefistófeles de Lula, "o mal que emprenhou o bem". Ao dedurar o Caixa 2 petista, ele ajudou o PT a se olhar no espelho e não gostar do que via. O Caixa 2 do PT contraria a história do partido, é uma contradição dilacerante, que quase o destruiu. O PT correu o risco de ser eliminado da história política brasileira, sobretudo porque muitos de seus altos parlamentares participaram do escândalo; e outros, quando deviam dar exemplo de força e lealdade, mostraram-se fracos, pusilânimes, covardes.
O PT errou feio. Mas soube admitir o erro. Ainda hoje, o discurso de Berzoini, atual presidente, Lula e outros, é de que o PT tem que assumir o erro e procurar, humildemente, ganhar novamente a confiança da sociedade.
Agora, diz aí: você viu o PSDB pedir desculpas pelo envolvimento com o crime organizado em Mato Grosso. Você viu o PSDB assumir uma atitude humilde diante do Caixa 2, já provado, da campanha de Eduardo Azeredo (presidente do PSDB até pouco tempo!) para o governo de Minas?
Nem falo na Lista de Furnas porque tenho receio de que seja uma armadilha, conforme alertou nosso vigilante Fernando Soares. Isso não importa tanto. A Polícia Federal tem outras provas e testemunhas de que a estatal Furnas foi usada pelo PSDB e PFL para arrecadar recursos não contabilizados para as eleições de 2002.
Lula tem tudo para ser reeleito. Fez e está fazendo um excelente governo. Não o de nossos sonhos, mas bem acima da média anterior, e é isso que importa. Não acredito que governos operem milagres num país como Brasil, tão grande, tão diverso, e com tantos problemas acumulados. A sociedade, como um todo, precisa participar do esforço pelo desenvolvimento. Creio que um país federativo, dotado de Estados e municípios com relativo grau de autonomia, precisa ter bons governantes em todas as esferas para se desenvolver. Tivéssemos prefeitos e governadores mais competentes, éticos e preocupados com o social, a pressão sobre Lula seria reduzida e ele poderia concentrar recursos financeiros do governo federal nos grandes projetos, sobretudo de infra-estrutura e tecnologia. Infelizmente não é o caso, e continuamos ainda esperando que Lula resolva todos os problemas nacionais.
Lula merece um segundo mandato porque recebeu um país quebrado e o pôs de pé. O primeiro ano de governo, 2003, foi levado com um Orçamento aprovado em 2002, pela gestão anterior. O nível de endividamento externo, seja em dívida externa, seja em dívida interna atrelada ao dólar, era escabroso. O Brasil tinha um contrato draconiano, humilhante com o FMI.
Lula rasgou o contrato com o FMI de forma digna para a política externa do país: pagou tudo e disse tchau. Em uma nova gestão, Lula terá margem de manobra muito mais ampla para investir no social e em infra-estrutura. Não haverá restrições contratuais com o FMI e o prestígio do Brasil subiu exponencialmente, permitindo ao governo obter recursos no exterior em condições vantajosas.
Haverá dificuldades, naturalmente, para a reeleição de Lula. A oposição, desta vez, conta com forte apoioo do grande empresariado, sobretudo paulista, cujos preconceitos de classe e ranço ideológico conseguiram ser exacerbados pelo talento linguístico dos pit-jornalistas corporativos. É incrível isso. Mesmo faturando alto, em função de um ambiente macro-econômico mais estável, e de uma massa de consumidores ampliada pela queda no desemprego e pela melhora na renda das famílias, os empresários, descendentes que são (ao menos psicologicamente, ou culturalmente) dos antigos donos de capitanias hereditárias, querem os tucanos de volta. Lula está promovendo mudanças. Isso assusta aos donos do capital, conservadores por questão genética.
Os bancos estão lucrando mais que nunca. É claro. Com a inclusão social de milhões de pobres no sistema bancário, os bancos tem mais clientes, e lucram mais. As empresas estão vendendo mais. Pra onde vai o dinheiro? Pros bancos. A bolsa de São Paulo vem batendo recordes de movimentação financeira. Para onde vai o dinheiro? Adivinhou? As pessoas estão comprando mais apartamentos, carros, computadores. Quem faz os empréstimos? Entretanto, os bancos estatais Banco do Brasil, Caixa Econômica e BNDES, estão sólidos financeiramente, e estão investindo bilhões na agricultura familiar, na compra e reforma da casa própria. Antes davam prejuízo, porque só serviam para emprestar a fundo perdido para latifundiários, multinacionais e grandes empresas com amigos no governo.
Vocês queriam os bancos quebrando, como na Argentina? Queriam uma nova crise bancária no Brasil, obrigando o governo, como fez FHC, a fazer um novo Proer, aquele plano que deu mais de 20 bilhões de reais do Tesouro Nacional, a fundo perdido, às instituições financeiras?
Sinceramente, não dá pra entender. Bancos lucrando é sinal de solidez econômica. É bom pro país. Considerando que as nossas contas, mesmo as mais humildes, estão guardadas nos bancos, acho muito saudável que eles estejam tendo lucros. O que é importante é que, pela primeira vez na história recente, o setor produtivo está tendo lucros e receitas maiores que os bancos. As grandes indústrias nacionais estão girando mais dinheiro que os bancos. Isso é o mais importante. Mais importante ainda: a renda das famílias está aumentando, o percentual de miseráveis (gente que vive com menos de 1 dólar por dia) caiu substancialmente, o salário mínimo vai ter o maior aumento real em décadas, o turismo está crescendo exponenciamente, exportações crescendo, etc. Enfim, os indicadores econômicos estão positivos.
Há muita gente preocupada com a queda do dólar. Há um lado irônico nessa história, pois no começo do governo Lula a grande gritaria era por intervenção contra a "alta" do dólar. Agora é o contrário. Mas o forte aumento das importações, registrado em janeiro e fevereiro, já vai resolver naturalmente a queda exagerada do dólar, que, de fato está prejudicando as nossas exportações. O legal é verificar que o crescimento das importações tem sido mais intenso no setor de maquinários industriais, o que indica que as indústrias estão aproveitando o dólar baixo para modernizarem suas fábricas, o que levará ao aumento da eficiência das empresas nacionais, ao barateamento dos produtos e ao subsequente aumento da competitividade dos produtos manufaturados brasileiros no mercado internacional.
O dólar baixo vem prejudicando principalmente importantes segmentos agrícolas, como os produtores de soja e algodão. Caso o presidente fosse Serra, mandão e arrogante como é, baixaria logo uma medida provisória para segurar artificialmente o dólar, dando margem, mais uma vez, para um desastre financeiro e cambial no futuro próximo, como ocorreu em 1999. O governo Lula está estudando uma medida provisória para zerar alíquotas de importação de insumos agrícolas e zerar o INSS e outros tributos que incidem sobre a agropecuária. Ou seja, estamos aproveitando o dólar baixo em nosso favor, sem nos deixar levar por um desespero e por soluções de curto prazo, como costumavam fazer gestões anteriores. Baixando o custo dos insumos agrícolas, os produtores terão seus custos reduzidos, recuperando parte da lucratividade perdida com a valorização do Real.
Todos esses argumentos são o que se pode chamar de "contra-informação", na medida em que eles constituem o oposto do discurso midiático. Os indivíduos e segmentos sociais que defendem a reeleição de Lula precisam aprender o valor da contra-informação e usá-la com inteligência. A internet está aí para isso. A participação em blogs, sites, fóruns, o envio de emails para entidades, jornais, revistas e políticos, será fundamental nestas eleições. O movimento já começou.
Dito isto, respeitemos algumas regras óbvias, mas nem por isso fáceis de serem seguidas. Sejamos auto-críticos. Procuremos desenvolver argumentos que possam convencer não somente aqueles que já partilham de nossas idéias, mas sobretudo os que não partilham e os indecisos. Sejamos cuidadosos, usando números confiáveis e não espalhando calúnias fantasiosas. Sem fanatismo lulista ou petista, sem messianismo, o que só provoca, mais adiante, o velho discurso do desencanto.
Evitemos qualquer tipo de baixaria. Se usarem de baixaria contra nós, sejamos altivos e responderemos à altura, agressivos se for o caso, mas com elegância. Vivemos numa democracia e apoiamos quem a gente quiser. É muito importante ainda respeitar a decisão de outros de criticar Lula e apoiar outros candidatos. Voto se ganha com educação e respeito à opinião alheia.
Mesmo não sendo filiados (eu não o sou), não tenham vergonha de ser chamados de Petistas, Petralhas, Pentelhos. Somos, antes de tudo, cidadãos dignos, e esses ataques visam atingir a nossa auto-estima. Inventem apelidos também para os Tucanos. Faz parte do jogo. Estudem esse documento
aqui, com informações sobre as ações do governo. Entrem no site do adversário,
Primeira Leitura, editado por Reinaldo Azevedo e procurem ler seus artigos. Para contra-argumentar com eficácia é preciso conhecer a fundo o pensamento oposto. Não se deixem impressionar com a arrogância dos colunistas desse site: é seu ponto-fraco. Os arrogantes sempre se acham inteligentes demais. Ao cabo, ficam histéricos, não aceitam a realidade que lhes desaba, implacável, sobre suas cabeças.
Cuidado com o salto alto. Ele é o prefácio de toda derrota. Nos preparemos para vencer ou perder. Uma derrota não será o fim do mundo. Há um velho ditado chinês que diz que só quem está preparado para perder é abençoado com a vitória. Numa democracia madura, há sempre algo de sábio na decisão popular. Viva a democracia!
Obs: Os interessados nas pinturas e trabalhos de Nilton Pinho e Juliano Guilherme favor entrar em contato através dos tels 21 9206 5848 (Nilton) ou 21 2507 5564 (Juliano). Eles têm ateliês no Rio, aberto à visitação e suas obras estão à venda. Conselho meu: é um bom investimento.