17 de março de 2006

Campanha sangrenta

O abandono de qualquer escrúpulo quanto à governabilidade agora é evidente. Acusado por um juiz federal de ser ligado ao Comendador Arcando, chefe do crime organizado do Mato Grosso, o senador Antero Paes de Barro (PSDB) foi atrás da vingança. Segundo Teresa Cruvinel, colunista política do Globo, foi Paes de Barro que "encontrou" o caseiro e convenceu-o a dar o depoimento contra Pallocci. Com isso, o senador tucano desvia definitivamente as atenções da mídia de sua pessoa (aliás, a mídia nunca deu muita atenção a essa ligação do PSDB com a máfia, afinal que novidade há nisso?), e concretiza um poderoso ataque ao governo federal.

A mídia, notadamente a favor do tucano, mobilizou todas as suas forças em prol desse novo ataque. As atenções midiáticas se voltaram em peso para o depoimento do caseiro Francelino Santos Costa.

Com o rompimento de qualquer preocupação com a governabilidade, os senadores assinam o atestado de seu desinteresse pelo país. Em vez de estarem estudando leis e formas de acelerar o crescimento econômico e reduzir a desigualdade social, estão promovendo um ridículo espetáculo, atacando o ministro da Fazenda mais respeitado no exterior desde muitas décadas. Pallocci pode ser odiado internamente entre certos setores da esquerda porque atuou como um conservadorismo que flertou com o neoliberalismo, mas queira-se ou não foi essa política que pôde blindar a economia brasileira às histéricas perfomances de CPIs e gerou uma estabilidade bem superior àquela estabilidade artificial da gestão FHC, lastreada no aumento exponencial da dívida pública, acordos com FMI, bolha cambial, desemprego e venda de estatais. A estabilidade econômicia de Pallocci, e portando do governo Lula foi fundamentada em pilares bem mais sólidos: câmbio livre, redução da dívida externa, fortalecimento das estatais e forte geração de emprego.

Agora, a pergunta que a mídia quer enfiar em nossas goelas é: Pallocci foi ou não foi à tal casa maldita. Paes de Andrade deve ter prometido milhões ao caseiro, e matar toda sua família caso ele desminta a história. Esse é o procedimento padrão de políticos ligados ao crime organizado. Por isso eles se mantém tanto tempo no poder. Mandam matar, ameaçam família, torturam, mutilam, quando se está contra eles. E prometem, e dão, rios de dinheiro quando se faz o jogo deles.

Entretanto, nós, cidadãos sem acesso às privilegiadas informações dos bastidores do poder, ficamos novamente de mãos atadas. Cabe ao governo federal e aos partidos aliados lutarem o bom combate. Irritei-me particularmente com a estupidez ingênua do senador Eduardo Suplicy, que votou com a oposição pelo depoimento do caseiro. Justificou-se dizendo que o depoimento seria fechado. Chegou até a ligar para o ministro Pallocci explicando isso. Pois bem, o depoimento foi aberto, porque o objetivo era mesmo realizar mais um daqueles espetáculos que caracterizaram a crise política. A mídia, como sempre, tem sido fiel cachorrinha da oposição. Hoje, o Globo deu destaque à declaração de Alkmin: "Em seu governo, não teria chegado a esse ponto; nem teria entrado". Ah, muito fácil falar, né, Alkmin. Seu governo foi mestre em barrar CPIs na Assembléia Legislativa de São Paulo. O PT precisa também se fortalecer, como pode o Suplicy ter sido tão burro? Aliás, há tempos que observo no Suplicy uma ingenuidade totalmente incompatível com a importância de seu cargo para a governabilidade, visto que o governo federal tem minoria no Senado e ele é um Senador do partido governista.

Mas não quero aqui somente atacar Suplicy. Ingenuidade é sempre irritante, ainda mais num meio hostil e traiçoeiro como é a política nacional, mas é melhor que termos pedófilos, como Arthur Virgílio ou gente ligada à máfia do crime, como Antero Paes de Barro.

Espero que o PT e o governo federal, com a chancela que a população vem lhe dando, demonstrem um pouco mais de combatividade contra essa oposição irresponsável. Nossa parte, como blogueiros e participantes dos debates públicos criados pelo advento da internet, estamos fazendo.

4 comentarios

Anônimo disse...

Embora concorde com você sobre as motivações da mídia e da oposição no caso das denúncias contra Paloci, sinceramente, não acredito na inocência do Suplicy. Nem tampouco na sua burrice. Fica cada vez mais claro que o único objetivo dessas CPMIs é, desestabilizar o governo e aniquilar o PT. Portanto, apoiar a convocação de qualquer pessoa, que já tenha manifestado opiniões contra o Governo ou tenha apresentado denúncias contra seus membros, para depor na CPMI, é fazer o jogo da oposição. Apoiar Lula contra as manobras da direita, como você mesmo reconhece num "post" anterior, deve ser o principal papel da esquerda e de seus simpatizantes nesse momento. Como é que um senador do PT apóia a convocação de uma pessoa para depor sabendo que seu depoimento não tem nenhuma relação com o objeto da investigação e irá servir apenas de palanque à oposição? Não acho que que a corrupção deva ficar impune, mas está claro que ninguém nessas comissões está interessado em apurar envolvimento em corrupção, mas, unicamente, desmoralizar o Governo e fazer campanha anti-PT. Porque será que, apesar do volume de documentos reunidos, as comissões baseiam-se apenas nesses depoimentos, sempre arranjados por adversários do governo, para apresentarem seus resultados? Será que somente Suplicy não vê isso? Será que ele não percebe o clima de campanha que predomina nas CPMIs. Tô inclinado a achar que Suplicy não tem mais compromisso com Lula e nem com o PT e preferia ter deixado o partido como fizeram Heloísa, Babá, Luciana... e só não o fez para não perder o apoio da estrutura partidária.

Miguel do Rosário disse...

será Dilson? Pode ser...

Anônimo disse...

a cada dia me espanto com a profusão de denúncias vazias, sem pé nem cabeça, contra companheiros e aliados. é incrível a voracidade com que a imprensa composta por seres abjetos que se dizem jornalistas, mas que na verdade são simplesmente arautos de uma oposição vagabunda e mau caráter. associa-se a isso, a ingenuidade e vaidade de um eduardo suplicy, que, ouvindo elogios de alguns tucanalhas e cornonéis do pfl, se deixa render pelo canto da sereia e faz o que a turba deseja.
qualquer dia desses vão dizer que o fernandinho beira mar, solidário em caráter com outros dois fernandos, collor e cardoso, vendia cocaína por palocci, quiçá para o próprio lula.
a vida sexual de um ministro de estado virou assunto entre pessoas de uma libido sensível como um arthur pedofílio e de um antonio carlos magalhães da vida;
acho que a preocupação faz sentido, pode ser que um ache que uma de suas rolinhas ou a amante do grampo do outro estejam entre as meninas da jane corner, já que a mãe deles já se aposentou.
o nojo me toma, me transtorna e me dá vontade de vomitar sobre isso tudo;
o preconceito dos coronéis contra um retirante, vítima deles próprios, associado com o dos "intelectuais" servis da grande imprensa uspiana, se torna francamente evidente nesse conchavo
mário covas, o que essa pulha fez do teu partido companheiro?
me lembro de teu discurso na campanha para presidente, em apoio a luis inácio. me recordo, com carinho do apoio incondicional à martha suplicy contra maluf e o dessa a ti contra o próprio paulo salim.
o vendilhão do teu partido, que o prostituiu entregando-se à orgia com o pefele coronelista, fernando henrique, o vendilhão da pátria, o homem dos oitenta anos de retrocesso em oito de desmandato, transformou um sonho social democrata em uma vendeta de terceira.
todos os dias sou obrigada a me indignar, haja estômago; a pútrida oposição me cansa os nervos.
se houvesse um só argumento real, coerente... mas, tirando o caixa dois imbecilmente estabelecido sob inspiração tucana, o resto é só um vazio de provas, calúnia pós calúnia.
infindável tormenta, cansativa, essa gente fede, a alma apodrecida, o espírito insofismavelmente nebuloso.
pouca coisa resta além da mentira, da ira e da insensatez.
mais que tudo, o vazio, a denúncia vazia, um deserto de idéias, uma enorme cratera na moral, o triste é que falam em nome de Deus, da obra de Deus, da opus dei.
sugiro a suspensão imediata da assinatura desses jornalecos e revistas, com e-mails explicativos e por serem realistas, ofensivos.
sugiro um abaixo assinado solicitando a suspensão imediata da cpi do circo, palco melancólico, onde se exibe a carne podre dessa gente sem moral, sem dignidade, assassinos e ladrões, vendilhões e prostitutas.
vamos gritar aos quatro cantos a esperança desse povo, que somos nós, filhos da pobreza e da classe média, contra esses intelectuais de merda associados a essa oligarquia nortista. herdeiros da ditadura e dos desmandos.

Anônimo disse...

O senador Antero Paes de Barros foi aquele presidente da CPI do Banestado. O rumoroso caso de desvio de verba pública para os paraísos fiscais, via EUA. Especula-se que o rombo seja de 250 bilhões de dólares.
Tendo o dito senador como presidente e José mentor como relator, o caso foi arquivado inconcluso no MPF. Alguns dizem que poderia cair a república caso os "nobres" nomes viessem à tona.
Na época, o procurador Luiz Francisco de Souza nomeou mais de 500 nomes de ilustres no escabroso desvio de dinheiro da sociedade. A mídia bi nacional do Brasil sabe quem são eles. Além dele, o delegado da polícia federal, Castilho, em investigaçõs nas terras do Tio, encontrou o fio da meada dos envios do dinheiro público através da contas CC-5. Os dois, curiosamente, desapareceram das telas, dos microfones e das páginas dos jornais.
A mídia, por conivência ou omissão, nunca se interessou por esse caso. É certo que essa mesma mídia poderosa, no início do governo Lula, bateu à porta do BNDES para conseguir empréstimos generosos para não quebrar. Houve o rechaço da opinião pública e não aconteceram as tais generosidades. Mas a mídia se fortaleceu, cabendo a pergunta: se estavam à beira de um colapso econômico, como conseguiram evitá-la se não ocorreu o famoso e generoso empréstimo de verba pública? Por ilação é fácil imaginar.

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