20 de março de 2006

Indignação seletiva

A "opinião pública" dos jornais tem, pelo jeito, uma indignação totalmente seletiva. Quando informações sigilosoas vazavam da CPI e paravam nas redações de jornais, não houve uma só voz que se erguesse contra esse tipo de violação jurídica e moral. Não foi um caso não. Foram vários.

Quando a oposição suborna testemunhas para afirmarem que o viram em casas frequentadas por prostitutas, levando-as para o centro do palco midiático das CPIs, nenhum sopro de indignação passa pelas salas ar-condicionadas dos jornais.

Quando Fernando Henrique Cardoso diz a seu colega, em gravação tornada pública, que o BNDES deveria favorecer o grupo de Daniel Dantas na compra da Telebrás, nenhuma voz se levanta.

Quando uma desembargadora - e isso é recente - reabre o processo contra a privatização da Vale do Rio Doce, afirmando que há diferenças superiores a mais de 100 bilhões de reais entre o preço de venda e o valor real da empresa; que jazidas inteiras de ouro, urânio, nióbio, foram subavaliadas ou sequer mencionadas, no relatório da empresa norte-americana, Merril Lynch, que avaliou o preço da mineradora; que a avaliadora Merryl Linch estaria ligada aos grupos compradores; ninguém se revolta, ninguém estranha.

Quando um caseiro empregado numa casa pelo PSDB recebe dinheiro de seu suposto pai, do PFL, para depor contra o ministro da Fazenda, segundo cargo executivo mais importante do país, provocando risco de desestabilização econômica, fazendo o país perder não se sabe quantos milhões ou bilhões por causa de investimentos que não são feitos à espera dos fatos, não há uma voz que se alevante contra esses absurdos.

Agora, quando um par de repórteres tem a sorte de pôr a mão no extrato do caseiro, o mundo vira de cabeça para baixo. A privacidade que negam às mais altas figuras da República querem preservar para um dedo-duro de aluguel? Quem mais merece privacidade?

A participação de Nildo no processo de destabilização do ministro da Fazenda e, portanto, do governo federal, gerando insegurança em todo país, torna-o automaticamente uma figura pública, peça chave na sangrenta luta entre governo e oposição. Não é mais um simples cidadão. A própria mídia o expôs. Qualquer informação relativa à ele passa a ter um valor ultra-dimensionado.

Entendam bem: evidentemente que sou contra a violação do sigilo bancário sem prévia autorização judicial. Mas peraí. Agora a mídia vai usar um dedo duro de aluguel para desmoralizar a Polícia Federal, a Caixa Econômica Federal? É demais! A Caixa Econômica nunca teve uma gestão tão competente, gerando lucros e oferecendo tanto crédito a seus clientes. Nunca foi tão respeitada. A Polícia Federal, idem. Nunca antes a PF prendeu ou autuou tantos figurões, sonegadores, traficantes e contrabandistas de alto gabarito.

Vem cá. Os bancos não são obrigados a informar as autoridades sobre toda a movimentação suspeita? Uma movimentação financeira suspeita por parte de um sujeito que está acusando violentamente o ministro da Fazenda não seria caso de ser informada à Polícia Federal?

Vem cá, essa mídia não vai ao menos pesquisar com mais acuidade a procedência desse dinheiro? Não vai achar, no mínimo, estranho, que um pai aceite dar 40 mil reais para um filho sem exigir o exame de DNA? Não vai achar estranho que, mesmo se for o pai do garoto, ele pertença ao PFL?

É sumamente engraçado agora ver como a declaração do ex-presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Nelson Jobim, defendendo o sigilo bancário, é alçada à paradigma das linhas editoriais. Peraí, é óbvio que Jobim defende o sigilo bancário. Sobretudo diante de perguntas desse calibre, sobretudo em face de sua atuação sempre defendendo o sigilo das pessoas. Mas, na época em que defendeu o sigilo bancário de Paulo Okamoto, por exemplo, todos o atacaram, violentamente. Virou herói agora?

O jogo sujo começou. A oposição joga sujo, joga pesado. Criam situações tensas, que acabam provocando reações apressadas por parte do governo, o que por sua vez é explorado ainda mais pela mídia. A população tem que estar atenta. O governo também erra, ainda mais sob ataque de armas sujas, acusações que mancham a honra pessoal das figuras, perturbando as relações familiares dos envolvidos. Mas há que se separar o joio do trigo. Errar é humano, atentar contra o país, contra a República, contra o bem estar nacional é um crime infinitamente superior a qualquer violação de sigilo, crime aliás comum na mídia e que nunca despertou nenhuma indignação.

A principal razão da indignação é que a oposição midiática tinha no caseiro uma de suas armas mais importantes. A revelação de que ele recebeu 40 paus para denunciar o ministro criou um constrangimento enorme, porque é a prova de que a oposição vem fazendo isso sistematicamente. Lembram daquela tal Karina? Pois é, sumiu da mídia, mas logo após depor contra o governo decidiu se candidatar pelo PSDB, depois pelo PFL. E assim caminha a humanidade, tropeçando em traidores da pátria.

5 comentarios

Anônimo disse...

Surpreende-me também, além da seletividade e da imparcialidade da mídia, a freqüência com que ilustres jornalistas, detratores do governo e do PT, emitem suas opiniões querendo fazer crer aos leitores que aquela é a opinião de todos os brasileiros. Expressões como "a sociedade espera... a sociedade está preocupada... o país inteiro condena... ou o povo está indignado", para citar algumas, tornaram-se comuns nos editoriais dos jornalões quando se trata de avaliar práticas adotadas pelo governo para fazer valer sua vontade política em intervenções como, por exemplo, na eleição de Aldo Rebelo, na liminar contra o depoimento do "caseiro", ou na defesa de deputados do PT ameaçados de cassação. Só queria saber que pesquisa permite a esses gurus fazerem essas afirmações. Que sociedade, que país, que povo é esse a quem eles se referem? Porque será que essa "sociedade" não ficava preocupada, ou indignada quando FHC manobrava para evitar as inúmeras CPIs que se tentou instalar no seu governo? Desconfio que quando eles falam em sociedade referem-se a sociedades como a OPOUS DEI, à TFP, ou a alguma sociedade anônima (certamente a empresa para a qual trabalham).

Anônimo disse...

Ë uma triste ver como reage uma oposição porca, golpista e corrupta que transforma o congresso brasileiro num verdadeiro prostíbulo.

E a grande mídia, provavelmente cúmplice destes safados em outros tempos não tem o menor senso de responsabilidade com a nação.

A cada dia é maior a decepção com jornalistas que aparentemente eram
sérios e com políticos, como o Senador Suplicy, que ao meu ver, é o grande indutor do recrudescimento desta maldita crise que só atrapalha o crescimento do Brasil.

Anônimo disse...

SE FAZ UMA PERGUNTA PRIMÁRIA, O SUPOSTO PAI, NO CASO DE HAVER ENVIADO DINHEIRO PARA O SUPOSTO FILHO, O QUAL ÊLE NÃO DESEJA QUE SUA ATUAL FAMILIA SAIBA, JÁ FICOU SABENDO. E PORQUE ÊLE NÃO APRESENTA OS RECIBOS DOS DEPÓSITOS BANCÁRIO, OU O EXTRATO SE A REMESSA FOI ELETRÔNICA.
PORQUE O DELATOR CONTRATOU UM ADVOGADO QUE IRIA TRABALHAR DE GRAÇA? QUAL SERIA O INTERESSE DESTE ADVOGADO EM TRABALHAR DE GRÇA? APARECER NA MIDIA.
TEM MUITA COISA POR TRÁS DISTO.
O DESESPERO É GRANDE.

Miguel do Rosário disse...

Martins, tem razão. Bobagem isso que eu falei. Particularmente, achei um absurdo essa violação de sigilo. Se foi gente ligada ao governo, deve ser muito burro para imaginar que estaria beneficiando o Palocci. Também não ficaria surpreso se fosse mais uma arapuca da oposição.

Miguel do Rosário disse...

Martins, obrigado pela atenção. Tirei a frase, que não era importante no texto e inexata do ponto-de-vista técnico bancário.

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