4 de março de 2006
Pirraça do Globo continua
Com um dia de atraso, o jornal impresso O Globo finalmente publicou hoje a denúncia do ex-superintendente administrativo da Toshiba, Antônio Csapo Talavera, sobre a corrupção na empresa Furnas. A nota, contudo, não explica que a denúncia reforça a tese de que Furnas foi usada como fonte de recursos para o Caixa 2 tucano e pefelista em 2002, conforme acusa o lobista Nilton Monteiro e o ex-deputado Roberto Jefferson.
A nota confunde ainda mais o leitor quando inclui, no parágrafo final, uma notícia totalmetne discrepante, que é o processo de Marcos Valério contra BB e da Visanet, por uma dívida de 12,5 milhões de reais. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
É interessante observar que, se a denúncia do diretor da Toshiba atingisse o PT, por exemplo, seria capa de jornal e viria com gráficos explicativos, trazendo as fotos de cada político envolvido. A notícia sera repercutida ad infinitum. Entrevistariam dezenas de personalidades, colunistas escreveriam textos ferozes e seguramente teríamos um editorial bombástico sobre o caso.
Mas como é um caso de Caixa 2 envolvendo o PSDB e o PFL, partidos ligados aos donos da mídia, a história é abafada, como sempre ocorreu nos últimos anos.
Dito isto, façamos nós mesmo o trabalho que a imprensa não faz.
A denúncia de Talavera reforça a tese da Lista de Furnas, documento em que aparecem dezenas de nomes do PSDB e PFL ao lado dos valores recebidos. Entre esses nomes consta, nos primeiríssimos lugares, Geraldo Alkmin e Serra.
Entretanto, concordo também com a teoria do amigo Fernando Soares de Campo, que a tal Lista pode ser uma grande armação da própria direita para acusar o PT. Quebraram a cara, porém, porque o PT, ou pelo menos a cúpula, não tem usado a Lista levianamente. As investigações estão sendo feitas com seriedade pela Polícia Federal.
O fato concreto é que as falcatruas do PSDB e PFL são tantas que estão escapando pelo ladrão. Por exemplo, a ligação do PSDB com Arcanjo, líder do crime organizado no Mato Grosso, conforme denunciado por um juiz federal. O deputado Paes de Barro tentou desqualificar o depoimento do juiz e a imprensa não deu a repercussão que o caso deveria ter. O caixa 2 confesso na campanha de Azeredo ao governo de Minas Gerais também merece ser explorado, porque envolveu, este sim, doações de empresas públicas, como a Usiminas. Sempre que se acusava o PT, tentava-se encontrar, à força, elos do Caixa 2 petista com dinheiro público. Agora está-se vendo que uso de dinheiro público aconteceu mesmo em campanhas tucanas.
Um dos grandes erros do governo Lula, e o próprio já admitiu isso, explicado pela insegurança política com que inicia a gestão (insegurança derivada do fato de ser a primeira vez que o PT entrava no Planalto), foi não ter procurado explodir, logo de cara, o castelo de corrupção montado por FHC e apaniguados com recursos da venda das estatais.
Sempre é bom recordar que FHC vendeu a Vale por irrisórios 3 bilhões de reais. A maior mineradora do mundo, a jóia da coroa do Estado brasileiro, por míseros 3 bilhões de reais. Mauro Santayanna, colunista da Agência Carta Maior, escreveu um artigo brilhante sobre o fato. A venda da Vale foi um crime de lesa-pátria em todos os sentidos. Quando Vargas cria a Vale e depois Juscelino a torna realidade, eles realizam um sonho de séculos do Brasil, que era ter uma siderurgia nacional. O Brasil tinha as maiores jazidas do mundo e importava aço.
A Vale foi vendida com estranha pressa. Quer dizer, estranha nada. Os analistas de mercado já sabiam que o preço do ferro estava prestes a explodir, em função da demanda da China, Índia e demais países emergentes. Na época da privatização, o ferro valia medíocres 15 dólares a tonelada, e mesmo assim o ferro era nosso principal produto de exportação. Hoje o preço do ferro está num patamar muito acima.
O fato é que grandes grupos internacionais estão de olho no ferro brasileiro desde a década de 50. O golpe militar de 64 mesmo foi financiado por interesses estrangeiros no ferro brasileiro. Um dos primeiros atos do governo Castelo Branco foi liberar a exploração do ferro pela gigante norte-americana Hanna.
Enfim, voltando à nossa conjuntura política, creio que está havendo um movimento de grande conscientização no país sobre o perigo que representa a volta do PSDB ao poder. A mídia corporativa perdeu muito prestígio durante a crise política e prossegue perdendo. Veja e Estadão perderam assinantes. Apostaram tudo na derrota de Lula, e na vitória tucana, o que lhe valeria gordos empréstimos do BNDES.
Lula tem pele grossa, continua forte e crescendo. Está ganhando, quem diria, na capital paulista! Aliás, essa pesquisa do Ibope sobre as intenções de voto no estado de São Paulo foi uma tremenda ducha gelada sobre o ânimo tucano. Primeiro veio a pesquisa do Census, ridiculamente criticada por Arthur Virgílio e César Maia, que chegaram inclusive a pedir auditoria. O resultado da pesquisa do Datafolha, que pertence ao grupo Folha, calou a boca dos dois. Doeu especialmente na direita e na mídia a constatação de que Lula cresceu muito nos segmentos mais escolarizados e nas classes médias, porque mostra que mesmo entre assinantes ou assinantes em potencial está crescendo o apoio à Lula. O departamento de vendas e publicidade dos jornais também deve ter levado um susto.
Aí veio o César Maia, numa tentativa desesperada de manter algum otimismo entre tucanos e pefelitas e afirmou que só ganha eleição no Brasil quem ganha em São Paulo. Os números mostravam Serra e Alkmin na frente em São Paulo, curral eleitoral do PSDB.
A pesquisa do Ibope para São Paulo, divulgada esta semana, deixou muito tucano sem penas. A pesquisa mostra Lula empatado e mesmo ligeiramente na dianteira de Serra e Alkmin. Na capital, Lula ganha disparado! Mas o que deve ter causado o maior choque foi a posição de Marta Suplicy, com 26% da preferência do eleitor paulistano, à frente de Quércia, com 20%. O candidato mais forte do PSDB em São Paulo é José Aníbal, com 4%.
Peraí, vou repetir: 4%.
As pesquisas apontaram ainda o PT como partido preferido da grande maioria dos eleitores. Ué, o PT não estava morto? Lula não era cachorro morto?
Nananinanão. PT e Lula estão vivos, fortes e vão muito bem obrigado.
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Que a mídia tradicional, bi nacional e poderosa está em franca na campanha tucano/pefelê não há dúvidas. Mas o povo está mais politizado porque "quem não gosta de política se submete à política que lhe é imposta", alguém já disse isso. O Antero Paes de Barros é aquele presidente da CPIzza do Banestado, que está morto e sepultado no MPF, e os estragos estão sendo pago pela sociedade mais pobre.Isso não dá para esquecer. Assim como, o relator petista, José Mentor, que o ajudou na "morte" do maior crime cometido contra o dinheiro público, mas teve, justamente, o nome enlameado no caso recente de recebimento de dinheiro escuso de Marcos Valério.
O que mais incomoda a oposição, ao meu ver, é o não submetimento do presidente Lula às vontades do governo americano. Um exemplo disso é a ampla campanha dos medíocres midiáticos contra Chavez e Evo Morales. Calejados que são, não aceitam mais as imposições dos norte-americanos, cujas conseqüências, históricas, têm feito muito mal aos mais pobres daqueles países. A ascensão de Lula nas pesquisas tem levado os vendilhões de empresas pública do dual oposicionista à loucura.
A ampliação de novos mercados para as exportações brasileiras é tudo que não interessa para as ditas elites. Ganhadoras que são de dinheiro fácil através dos títulos da dívida pública, não aceitam que um metalúrgico coloque o ferro em brasa em seus negócios frios e calculistas.
É a hora de dar mais uma oportunidade ao presidente Lula, pois não se vê nomes de confiabilidade no cenário nacional. Claro que alguns membros do PT abusaram do poder, meteram os pés pelas mãos, mas em menores proporções e de fácil restauração, e que já começou.
Só sou avesso no plano estadual. Marta não é o melhor nome para governadora, assim como Mercadante também não é. Aliás, não há nomes confiáveis em São Paulo.
prezado marcos simões, obrigado pela participação. quanto à questão estadual, não tenho opinião formada nem me meto porque sou carioca e meu negócio é o Rio de Janeiro nesse sentido. Citei as pesquisas em SP porque mostram a debilidade do PSDB em seu curral eleitoral, o que muito me agrada.
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