Mìdia tendenciosa

(Nilton Pinho)

Ontem o Jornal Nacional simplesmente ignorou a pesquisa do Ibope para São Paulo. Hoje o jornal impresso O Globo também nada disse, de forma que a coluna da Teresa Kruvinel, que aborda o assunto chega a ficar incoerente, visto que ela comenta a notícia sem que a notícia tivesse sido publicada.

Em compensação a discrepância de 6% entre o valor admitido por Duda e o auferido por parlamentares foi manchete de todos os jornais, escritos e televisivos. Enquanto isso, o depoimento de um ex-diretor da Toshiba, confirmando um grandioso esquema de corrupção em Furnas, no tempo de FHC, foi totalmente ignorado.

O efeito bumerangue parece mesmo ter chegado para os tucanos. Na ânsia por descobrir irregularidades nos fundos de pensão, os parlamentares não só não encontraram nada de conclusivo na gestão atual (além de irrisório em termos de valores), como bateram de frente com um rombo não explicado de bilhões de reais na gestão anterior.

Enquanto isso, Lula é recebido com pompa, respeito e admiração pela sociedade britânica. A entrevista concedida à revista The Economist, maior revista de economia do mundo, revela profundo bom senso e inteligência do mandatário brasileiro. Enquanto a maior revista do mundo festeja a "mágica de Lula" na economia, virtualmente convertendo um país falido numa potência promissora, os segmentos reacionários da sociedade tupi continuam agindo com preconceito e má-fé.

Não é a tôa que Lula está crescendo nas pesquisas. Acredito que é fruto do trabalho sério que o governo vem fazendo. Claro que há erros, claro que há dificuldades, tropeços, recuos, falhas humanas e operacionais. Mas há muita coisa boa que precisa ser mostrada. Mais que isso, a sociedade brasileira precisa ser alertada para o jogo sujo que a oposição faz, alimentado pela mídia vendida, sequiosa por uma vitória tucana cujo prêmio será gordos empréstimos do BNDES.

Felizmente, a internet surgiu para acabar com o monopólio da opinião pública pela mídia corporativa. Quanto mais a mídia agir de maneira desonrosa, mais apaixondamente lutaremos para servir de contra-peso. Quanto mais a mídia for agressiva contra Lula, mais agressivamente o defenderemos. Afinal, temos consciência do que ele representa para o Brasil e para a América Latina. Os vendilhões da pátria precisam saber que não é moleza derrubar um presidente eleito com 54 milhões de votos. Alckmin e Serra, em vez de só pensarem em eleições (eles sim são obcecados por eleição) podiam estar governando seus respectivos estado e município. O candidato do PSDB tem 4% de intenção de voto para o governo de São Paulo, contra 26% de Marta Suplicy, do PT. Na ânsia de abraçar o mundo, os tucanos podem perder tudo: município, estado e país. Quero ter uma champanha gelada à mão quando isso acontecer.

Terminando, eis a carta que enviei para os emails abaixo, protestando contra o carnaval policial que estão fazendo em torno do caso de Celso Daniel. Sobre o tema, aconselho ler o blog do Eduardo Guimarães, linkado ao lado.

Para:
ombudsma@uol.com.br, leitor@uol.com.br, editoriais@uol.com.br,crossi@uol.com.br, vinit@uol.com.br, luisnassif@uol.com.br, vinicius.mota@folha.com.br, palavradoleitor@uol.com.br, gdimen@uol.com.br, cony@uol.com.br, josias@uol.com.br, frodriguesbsb@uol.com.br, kalencar@folhasp.com.br

Envio essa carta para me indignar contra a coluna de hoje de Clovis Rossi e da maneira geral como a Folha tem se colocado em relação ao caso Celso Daniel. Não há provas contra o PT, e os órgãos competentes não descobriram nada que ligasse o suposto esquema de corrupção do PT ao assassinato do prefeito. Pode até haver ligação, mas não é através de editoriais raivosos que se conseguirá, à fórceps, criar este elo. O atual presidente Lula, quando da morte de Celso Daniel, que era seu grande amigo e inclusive um dos principais coordenadores da campanha, pediu pessoalmente ao então presidente Fernando Henrique Cardoso que investigasse o caso. O caso foi mais tarde repassado à polícia estadual de São Paulo, sob o controle do PSDB. É absolutamente, portanto, incoerente e anti-ético que se tente faturar politicamente um crime que atingiu uma das mais proeminentes figuras do PT, prejudicando desta forma o patrimônio humano do Partido dos Trabalhadores. É um insulto à inteligência de nós, leitores.

Ademais, quero também protestar contra a atitude preconceituosa de Clovis Rossi contra o PT, como se estivesse falando de uma facção criminosa apoiada somente por imbecis. Segundo pesquisa do Datafolha, o PT continua sendo o partido preferido da maioria dos brasileiros, além de ser o maior partido do Congresso Nacional e o partido do Presidente da República. Merece o respeito. É anti-democrático e infantil o que a Folha vem fazendo, o que só tem causado perda de prestígio para um jornal tão tradicional. Sempre me orgulhei de ser um comprador eventual da Folha, mas desde que o jornal ingressou nesse partidarismo fanático, tenho reduzido cada vez mais as compras do jornal. Espero que a Folha volte a ser isenta e respeitosa com as instituições políticas brasileiras, entre as quais se inclui o Partido dos Trabalhadores.

A saber, não sou petista. Sou um brasileiro que preza os princípios republicanos. Quero ser respeitado, por isso respeito os outros. Acredito que a Folha e seus jornalistas deveriam fazer o mesmo.

Atenciosamente,

Miguel do Rosário, 30 anos, escritor, Rio de Janeiro