Arnaldo Jabor é um hábil manipulador das palavras. Para ser um bom escritor, no entanto, é preciso caráter. Seja um escritor de ficção, seja um escritor de política. Jabor inventou uma ideologia, o lulo-sindicalismo, termo que usa e abusa como um selo criminal colado em todo problema brasileiro. Tem um bueiro vazando na Visconde de Pirajá? A culpa é do "lulo-sindicalismo". Com isso, Jabor criminaliza Lula, eleito duas vezes com mais de 60 milhões de votos, e os sindicatos, que representam a única força política capaz de se contrapor aos interesses anti-trabalhistas. Antes de Lula, dizia-se que não se podia aumentar o salário mínimo sem causar uma grande onda de desemprego. Por conta desse mito, os governos anteriores, especialmente o de Fernando Henrique Cardoso, permitiram a corrosão da renda do salário mínimo sem que Arnaldo Jabor visse nisso algum problema. Fome, salários baixos, miséria? E daí? O importante é evitar a malaise...
Para Jabor, fatores como aumento do salário mínimo, aumento do emprego formal, melhora da distribuição de renda, não significam muita coisa. Existe um grande mal no ar, uma terrível depressão, um desalento. Estamos anestesiados, diz Jabor. Impotentes. Que importa se só agora a Polícia Federal trabalha de verdade? Que importa se Lula reformou profundamente a PF, contratando milhares de novos policiais, por concurso, injetando verba e entusiasmo na instituição, que por conta disso está conseguindo realmente fazer a diferença na guerra contra a corrupção? Não importa. Não importa. Não importa. A corrupção continua aí e estamos de mãos atadas. "O governo Lula tem o álibi de ser um governo do povo", explica Jabor. "O discurso oficial ideológico é um sarapatel de idéias". Que frase feia, meu Deus. Tudo bem, continuemos. Jabor diz que o tal discurso é "cepa herdada (resistente a antibióticos) de um autoritarismo leninista, que cruzou com os germes do sindicalismo oportunista", etc, etc. Peraí, onde tem autoritarismo no discurso do governo? E o novo sindicalismo brasileiro, se tem seus defeitos, como qualquer instituição tem, ele tem o mérito de ser um dos mais modernos no mundo, com financiamentos oriundos de fundos de pensão e impostos específicos.
Jabor, assim como FHC, é uma cassandra à procura de catástrofes. O colunista do Globo "culpa" o bom estado da economia brasileira por nosso alienamento. Como as coisas estão indo bem, estamos nos deixando levar pelo lulismo, quando o certo é que nos organizássemos para combatê-lo. Que importa se as massas estão satisfeitas? Ora, as massas. As massas que se fodam! O que Jabor omite, no entanto, é que a economia brasileira não apenas vai bem, como reúne circunstâncias e fatores positivos que nunca reuniu antes: um crescimento continuado, com distribuição de renda, aumento da capacidade produtiva, ampliação da base energética, com aumento da renda do trabalhador e da oferta de emprego formal. E tudo isso combinado com sólida estabilidade macro-econômica, superávit primário e inflação baixa.
Gostaria de compreender, portanto, o que deprime tanto Jabor. Será que ele não lê o caderno de economia do próprio jornal onde escreve? A própria Miriam Leitão, sempre tão pessimista, escreveu uma coluna, no domingo passado (se não me engano), citando os reiterados elogios que o diretor do Fundo Monetário Internacional faz ao governo Lula. Não me importo com o que diz o FMI, mas a Miriam Leitão, o Globo e o Jabor deveriam se importar. Hoje o Brasil não deve mais nada ao FMI, portanto as sugestões do FMI podem voltar a ser apreciadas com serenidade, como críticas positivas ou negativas a serem ouvidas e avaliadas de acordo com sua pertinência.
Jabor fala hoje em "bolsa-cabresto", referindo-se obviamente à bolsa família, omitindo estudos de renomadas instituições nacionais e internacionais sobre a validade e eficácia da política assistencial do atual governo, que está sendo inclusive copiada para aplicação em outros países, mesmo aqueles governados por forças conservadoras.
No exterior, Lula é respeitado pelas forças conservadoras e pela esquerda. Aqui, parte de nossa imprensa insiste em sucumbir a este obscuro malaise metafísico, obsessivamente produzido e reproduzido por colunistas como Arnaldo Jabor, e que definitivamente não corresponde à realidade da maioria da população, pobres ou ricos. Talvez haja realmente algum grupo de ricaços enfarados, empoadas madames que enviam emails de amor e ódio ao ex-cineasta, o mesmo grupo que tentou se articular no Movimento Cansei, aquele cujo organizador, Jorge Doria, liderava passeatas de cãozinhos de luxo em Campos de Jordão. São os extremistas da desilusão. O Brasil pode estar com sua economia bombando, ter encontrado petróleo suficiente para mais um século, ser escolhido para Copa do Mundo 2014, comércio exterior recorde, etc, etc, mas eles estarão sempre lamentando a miséria brasileira. O Brasil descobriu o mega-campo Tupi e nenhum jornal fez caderno especial analisando as perspectivas políticas, econômicas, sociais, geopolíticas que se abrem para o Brasil. Quando morreu a Princesa Diana, aí sim, fizeram cadernos especiais e longos documentários na televisão. Nossa mídia parece ter ficado muito mais empolgada com o "Por que no te callas" do rei espanhol do que com a descoberta das novas reservas de petróleo.
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Sobre Chávez, também tenho minhas críticas. Acho que ele é um fanfarrão e um boquirroto, e poderia perfeitamente fazer suas políticas sociais e reformas jurídicas de maneira mais discreta, sem criar escândalos internacionais que só fazem isolar mais e mais a Venezuela. O ingresso da Venezuela no Mercosul, por exemplo, só será barrado no Senado por conta das declarações intempestivas e desrespeitosas do presidente bolivariano ao nosso parlamento. Ora, nossos parlamentares têm seus problemas, mas são os nossos parlamentares e o mínimo que pedimos de Chávez é que tenha o bom senso de respeitá-los. O governo brasileiro tem procurado se manifestar de maneira absolutamente não invasiva nos conflitos internos da Venezuela, sem ofender nenhum dos participantes democráticos, e esperamos que o governo venezuelano faça o mesmo.
Descontadas essas críticas, porém, deixemos claro que Chávez não é um ditador. Muitos colunistas agora procuram confundir a opinião pública. Surgem teorias políticas mirabolantes de que democracia não é só voto. Ora, claro que não. Mas o sufrágio universal é o pilar do poder do povo. Um presidente tão forte como Chávez, com apoio da maioria esmagadora da população e apoio maciço no Congresso, é um fato raro, mas perfeitamente legal e coerente com a democracia. Há momentos em que as pessoas pedem governantes fortes. Há razões históricas que levaram o eleitorado venezuelano a querer um governante forte. O dia em que eles não mais quiserem, elegem outro.
E Lula lembrou muito bem quando citou Margareth Tatcher, entre muitos outros presidentes europeus, que permaneceram muitos anos em seus cargos. Não importa se lá era parlamentarismo. Importa o exercício do poder. Sim, eles podiam perder o cargo sempre que seu partido perdesse a liderança do parlamento. Mas os regimes presidencialistas supõem eleições periódicas onde o povo pode também "demitir" o presidente. Sem contar o famoso referendo revogatório, uma lei criada pelo próprio chavismo, que permite ao povo julgar um presidente no meio de seu mandato e marcar novas eleições. Que é mais democrático? A dança de interesses partidários, quase nunca transparentes, ou a decisão popular via referendos nacionais?
Chávez pode ter todos os defeitos do mundo. Mas não é um ditador. O irônico é ver a nossa imprensa chamando o presidente do Paquistão, que ordena prisões em massa de advogados, juízes, que tomou o poder num golpe, que não se decide a marcar eleições, que persegue adversários, chamando-o, como dizia, de presidente, e não de ditador, enquanto Chávez, exposto diversas vezes ao sufrágio direto, é chamado de ditador. Repete-se tantas vezes esse bordão, e nossos colunistas (os mesmos de sempre, claro) escrevem tantas laudas pseudo-científicas que explicam porque Chávez é um ditador, que as pessoas acabam acreditando e repetindo essa ladainha por aí como papagaios.
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Escrevi um post abaixo, dizendo que pretendia faturar algum com este blog, e por isso estava inserindo anúncios das empresas que oferecem esse tipo de parceria. Um anônimo imbecil escreveu essa pérola:
Uia!Se vendeu ao neoliberalismo capitalista, que visa lucro a todo e qualquer custo?Vocês são muito engraçados...
Em primeiro lugar, me irrita profundamente quando alguém fala comigo usando o plural. Vocês é o cacete! Sou um indivíduo com plena responsabilidade por minhas idéias e atos e somente eu pago por eles. Segundo, não me vendi seu bosta. Isto se chama trabalho. Você trabalha e recebe um dinheiro. Terceiro, por acaso você já leu meus textos mais ideológicos? Claro que não, para falar tanta merda. Não sou comunista. Também não sou anti-comunista. Acho que o comunismo não é o melhor dos regimes, mas existiram monarquias muito piores. As pessoas esquecem que nas monarquias também havia censura e a única propriedade que realmente era protegida era a do rei e seus apaniguados.
Sou um keynesiano. Acredito que o capitalismo não é um regime de governo, e sim um sistema econômico, muito bem sucedido em alguns países e catastrófico em outros, mas sobretudo um sistema profundamente ligado à história de nossas civilizações. O que me leva a crer, portanto, que o sistema capitalismo não deve ser subvertido, mas regulado por governos fortes, através de instrumentos específicos para cada país. Gosto de pensar que sou um republicano, no sentido de acreditar na República, em suas instituições, não porque pense que o mundo foi, é ou será perfeito através delas, mas porque elas me parecem as mais avançadas dentre as opções disponíveis e que permitem o maior grau de liberdade para o indivíduo.
Creio que o governo Lula já deixou bem claro que não é comunista e nem caminha para tal. Ele tem raízes na esquerda e apoio na esquerda, sim, mas há muito tempo que a parte mais importante da esquerda brasileira renovou suas bandeiras ideológicas, aposentando qualquer tipo de "autoritarismo leninista". O tal "pragmatismo" ideológico da esquerda brasileira, sempre interpretado, com sarcasmo, num sentido negativo, nada mais é que a percepção e a humildade de que são as idéias é que devem se adaptar aos fatos e não o contrário, pela simples razão de que os fatos, ou seja, a realidade, não costuma ser ou agir de acordo com a nossa vontade ou humor. Claro que a realidade pode ser transformada. Deve ser transformada. Mas, como dizia Celso Furtado, a liberdade do homem reside na possibilidade de agir conforme as circunstâncias do momento.
Há um segmento no Brasil que decidiu, simplesmente, criminalizar a transformação, como se a transformação fosse uma bandeira comunista. Não, meus senhores. A transformação é uma bandeira da humanidade. Está no DNA da civilização. O homem está continuamente se transformando. Alguns chegam a virar transformistas.
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Está havendo uma confusão lamentável em relação a descoberta do mega-campo Tupi. Muitos estão dizendo, influenciados pelo toque de corneta da mídia, claro, que o governo agiu temerariamente, com excesso de otimismo, falando sobre um campo do qual não se tem provas, ou que requentou uma descoberta já divulgada. Vamos por partes:
1 - O governo foi bastante conservador, anunciando a descoberta apenas de 1 mega-campo, o Tupi, com capacidade de 5 a 8 bilhões de barris. Há a possibilidade de haver dezenas de outros mega-campos, de Santa Catarina ao Espírito Santo, todos no pré-sal. Não foi por outra razão que o governo cancelou a nova rodada de leilões.
2 - Havia rumores sobre a descoberta. Mas os testes mais consistentes foram feitos recentemente. De qualquer forma, a Petrobrás não havia feito o anúncio oficial do campo. Um anúncio oficial tem reflexos imediatos nos mercados internacionais. Tem que ser feito no tempo certo, não antes da hora, mas também não muito depois. No caso do anúncio, o momento foi perfeito, pouco antes da reunião de chefes de estado da América do Sul, o que permitiu a Lula discutir a problemática energética com Morales e Chávez com um cacife maior. Ao Brasil, maior potência industrial do continente, não interessa nenhum tipo de problema energético ou econômico em países vizinhos. Ao Brasil interessa uma Bolívia próspera, que possa comprar nossos produtos. E à Bolívia interessa que o Brasil seja um bom comprador de gás, pagando preços justos e investindo no país. O momento foi apropriado também porque antecedeu em poucos dias uma reunião da OPEP, Organização dos Países Produtores de Petróleo, obrigando as potências petrolíferas a discutirem questões de interesse do Brasil, como a introdução do biodiesel. De fato, os governantes árabes aceitaram o biodiesel como um combustível complementar ao petróleo, a ser usado principalmente para veículos, visto que é muito menos poluente. O petróleo deverá ser cada vez mais usado para a fabricação de produtos plásticos, fertilizantes, alguns tipos de combustíveis especiais, além da gasolina.
3 - Alguns falam que a descoberta só valerá a pena se o preço do petróleo for superior a US$ 100 daqui a cinco ou dez anos. Ora, alguém acredita em queda no preço do petróleo? Com a demanda ainda em crescimento, agora impulsionada pela China, Índia, Leste Europeu e países em desenvolvimento de forma geral, além do consumo delirante nos EUA, e as reservas em queda, é evidente que os preços continuarão em alta, tornando perfeitamente viáveis os campos ultra-profundos do Brasil, que aliás têm petróleo fino, de altíssima qualidade. Os preços só cairiam se o mundo achasse muitos outros poços de petróleo ou, de uma hora para outra, descobrisse outro combustível revolucionário. Se tal ocorrer, ótimo. Baixos preços do petróleo facilitam o crescimento econômico mundial, e logo beneficiam também o Brasil.