Eu ia publicar uma foto do Flavio Shiró ou uma de suas pinturas. Mas andei recolhendo fotografias de atrizes belas e charmosas e... é mais forte que eu. Angeline Jolie é pura arte. Quem quiser conhecer o rosto do Shiró e suas obras, clica no link acima. Hoje quero falar de arte. Estão ocorrendo duas grandes exposições que me chamaram a atenção. Uma é a do citado Shiró, em São Paulo, no Instituto Tomie Otahke. O artista, nascido no Japão, veio para o Brasil aos 4 anos e tornou-se, na minha opinião, num dos principais artistas plásticos do país. A obra de Shiró transita brilhantemente entre o figurativo e o abstrato, criando seres bizarros e constrastes estranhíssimos. Shiró poderia ser classificado entre os chamados expressionistas abstratos, mas sua originalidade perturbadora, seu quase "terrorismo" pictórico, coloca-o num lugar à arte, isolado e livre. O abstratismo de Shiró não é tão abstrato assim, porque o medo, a volúpia e a liberdade que transpiram de seus quadros possuem uma densidade que parece mais concreta que a própria realidade. Por isso, eu queria muito assistir essa exposição dele em São Paulo, que vai até o dia 5 de outubro. Queria sobretudo que ela viesse ao Rio de Janeiro. O Rio merecia essa exposição, até porque é aqui que Shiró pintou grande parte de sua obra. É aqui, no Catete (bairro onde me encontro nesse exato momento, usando o wifi de um café), que fica seu ateliê no Brasil. Ia dizendo: queria muito mesmo ir a essa exposição, queria ir diversas vezes. Queria mergulhar no mundo sombrio e louco de Shiró, queria ficar um tempão olhando seus quadros, até me iludir de que haveria mais realidade ali, naqueles seres bizarros, naqueles contrastes estranhos, do que nas ruas engarrafadas e barulhentas do centro da cidade. A exposição tem curadoria de Paulo Herkenhoff, que por acaso é irmão do artista Augusto Herkenhoff, por acaso nosso amigo. E por acaso os dois são sósias do Mário de Andrade - tanto que não consigo chamar Augusto de Augusto, só consigo chamá-lo de Mário.
Outra reclamação que gostaria de fazer aos donos das verbas culturais é sobre a possibilidade de outra importante exposição, de Jorge Guinle, não vir ao Rio de Janeiro. Se tal não ocorrer, será uma injustiça irreparável, afinal Guinle é o artista mais carioca da história da arte brasileira. Seus quadros tem um tropicalismo cosmopolita totalmente carioca, um expressionismo irreverente e alegre. O Rio merece receber essa exposição do Guinle!
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Hoje - até o momento - li apenas o Estadão, e anotei algumas observações que gostaria de fazer aqui.
Número 1. É infantil o que eles fazem com o Mangabeira Unger. Qualquer matéria envolvendo seu nome traz sempre o seguinte aposto: "Mangabeira Unger, que uma vez afirmou que o governo Lula era o mais corrupto da história". Outro dia li uma matéria que trazia a informação duas vezes, no mesmo parágrafo! Se fossem honestos, podiam agregar a explicação que Unger já deu várias vezes sobre o motivo de ter feito um julgamento tão leviano e apressado: estava no estrangeiro e apenas lia os jornais de São Paulo!
Número 2. O Estadão traz um editorial intitulado: "Está na hora de perder a paciência", no qual tenta pressionar o governo Lula a agir com dureza contra o Equador, por conta dos problemas enfrentados lá pela empresa brasileira Odebrecht. Ora, pintar a Odebrecht como coitadinha é ridículo. É uma das empresas que mais cresceu sob o governo Lula, tanto por conta do aumento dos investimentos privados como das grandes obras públicas que o governo vem realizando. A Odebrecth sabe se virar sozinha e o governo não tem que fazer guerra contra o Equador por conta dos erros da empresa naquele país. O mais absurdo, no entanto, é a miopia do Estadão e de seus missivistas otários. Falam que Lula não estaria contemplando os interesses nacionais com sua atitude "paternalista" para com Equador, Bolívia, Paraguai, entre outros hermanos. Ora, o jornal se dispusesse a estudar as estatísticas de comércio exterior, veria que a postura "gentil" e "generosa" de Lula colaborou para que as exportações brasileiras para os países da América do Sul registrassem um salto impressionante. Eu me pergunto: o que são os interesses brasileiros, segundo o Estadão? É do interesse brasileiro criar atritos diplomáticos com países que oferecem um potencial tão grande como parceiros comerciais? Por que o Estadão e seus missivistas otários estão sempre querendo que o Brasil faça guerra contra nossos instáveis e frágeis hermanos, e ao mesmo tempo instam constantemente para que o país se curve aos interesses norte-americanos, como foi o caso da campanha babaca que fizeram para o Brasil entrar na Alca? Aliás, que lembrança boa a minha: Alca. Lembram da Alca? FHC e mídia fizeram uma campanha maciça para o Brasil entrar na Alca. Diante da atual crise americana, vocês podem imaginar que maravilha seria se o Brasil estivesse umbilical e servilmente ligado aos EUA como eles queriam? Estaríamos, com perdão da palavra, literalmente fodidos.
Para ilustrar e comprovar essas observações, pesquisei e editei duas tabelas com números referentes às exportações brasileiras para a América do Sul. A importância dos países sul-americanos para o Brasil é ressaltada pelo fato de que esses países importam sobretudo produtos manufaturados, com alto valor agregado, à diferença de EUA, China, Europa e Japão, que adquirem sobretudo matérias-primas, que tem baixo valor agregado. O grupo de produtos brasileiros mais exportado para a América do Sul é de auto-peças, seguido de reatores nucleares e máquinas. As exportações brasileiras para o Equador - para pegar o país envolvido no imbróglio atual - cresceram 534% nos últimos oito anos, em valor! Repetindo: 534%! E o Estadão e seu séquito de missivistas parvos ainda dizem que Lula contraria os interesses nacionais quando "trata bem" os países vizinhos. Usei os seguintes períodos: os últimos 12 meses (setembro de 2007 a agosto deste ano) e o mesmo intervalo de 1999 a 2000. A razão foi comparar o segundo ano do segundo governo FHC com o segundo ano do segundo governo de Lula.
Confira as tabelas (clique nelas para ampliar):
3. Uma terceira observação que anotei após minha leitura do Estadão foi sobre a posição pusilânime e imbecil de Fernando Henrique Cardoso (de novo) em debate realizado pelo jornal sobre o que fazer com os recursos do pré-sal. FHC afirmou que não se deve debater sobre aquilo que ainda não existe. Ora, os prognósticos são de que a produção do pré-sal estará fluindo a partir de 2010 a 2012. Se fosse um negócio para daqui a 20 anos... mas é para daqui a 2 anos! Claro que não é cedo discutir o que fazer com esse petróleo! Estamos em cima da hora. Fico perplexo com a estupidez de FHC. O diretor da Associação de Geólogos do Brasil afirmou que as reservas do pré-sal devem ficar próximas de 55 bilhões de barris, os quais, somados aos 20 bilhões de barris do pós-sal, colocarão o Brasil no grupo das sete maiores reservas do mundo. É muito petróleo, é muito dinheiro, então é lógico que é importante discutir, desde já, o que fazer. Outra notícia pertintente: os geólogos estimam que os campos de gás da Bacia de Campos têm mais de 850 bilhões de metros cúbicos de gás, o que seria superior à reserva da Bolívia, o que nos deixará, portanto, livres daquela matriz tão instável... e liberará o gás boliviano para a Argentina, que precisa mais do que a gente, porque não tem encontrado tanto petróleo e tem o problema do frio intenso.
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Eu disse que ia falar de cinema. Esperem um pouco. O Festival do Rio começa hoje. Mas quero falar de um filme que assisti esta semana: Que viva México! do grande Eisenstein. É um filme incompleto. Eisenstein não conseguiu terminá-lo, por falta de verba. O filme foi feito no México com uma equipe de apenas 3 pessoas! O russo contou com a ajuda intelectual de gigantes mexicanos como Diogo Rivera, Orozco e Siqueros, representantes de uma época em que o gênio da arte flertava com o gênio da revolução. Entretanto, mesmo incompleto, trata-se de uma obra-prima magnífica. As cenas são tão bonitas que parecem canções visuais. Esse filme influenciou fortemente a obra de Glauber Rocha. Há cenas que se parecem muito com partes de Deus e Diabo na Terra do Sol. Glauber admitia essa influência.
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Ontem rolou a festa de abertura do Festival do Rio. Eu não fui. Fiquei na Lapa, nos bares de de sempre. Com os amigos de sempre. E foi ótimo. Sinto-me como um Emile Zola: convivo apenas com artistas plásticos, quase não falo com outros escritores. Aliás um dia eu conto pra vocês a história da amizade entre Emile Zola e Cezanne. Meu consultor de artes, o Juliano Guilherme, me dizia ontem que o maneirismo está de volta às artes plásticas. Na história da arte, o maneirismo sempre aparece após épocas de crise profunda. O manerismo seria uma espécie de virtuosismo ou tecnicismo. Os artistas maneiristas dominam determinadas fórmulas e técnicas e permanecem nelas. O Juliano explicava que há maneiristas brilhantes no Brasil. Há, por exemplo (aí sou eu que digo), a Beatriz Milhazes, que acaba de vender um quadro por mais de 1 milhão de dólares em Londres, com seus lindos e enfadonhos arranjos florais. Ela é boa no que faz. Mas é sempre aquilo. As mesmas florzinhas de sempre. O problema do maneirismo é seu cinismo e frieza, que empobrecem sua densidade estética. Arte, para mim, precisa ser autêntica e apaixonada. É uma concepção pessoal, um tanto simplória. Sei que há outras concepções mais sofisticadas. Mas, neste caso, prefiro meu pão com manteiga do que me intoxicar com lagostas fora do prazo de validade. Há sempre algo de melancólico, falso e oportunista no maneirismo.
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Descobri um lance manero. Há um projeto no Rio de shows de blues ao vivo, grátis, no centro da cidade. Amanhã, 27, vai rolar mais uma edição, a partir das 20:00 até tarde da noite, na Avenida Rio Branco 311, Cinelândia, perto do Consulado Americano. Mais informações nesse blog.
26 de setembro de 2008
Rio Mon Amour (pout pourri de assuntos)
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# Escrito por
Miguel do Rosário
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sexta-feira, setembro 26, 2008
# Etichette: artes plásticas, Política
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De fato para FHC as reservas do pré-sal não devem merecer nossa atenção.
no entanto, para os EUA, estas reservas lhe interessam sim.
não é à toa que a IV Frota está estacionada nas imediações da reserva, conforme denunciou Lula.
O que me chamou a atenção é que o imprensalão não está nem ai para a presença da IV Frota.
Talvez os interesses do PIG sejam coincidentes com os interesses dos EUA, pois que restando algumas migalhas para estes vendilhões da pátria tá bom demais.
Bem, prezado MR, tenho percebido que você é Jornalista com J maíúsculo.
Por exemplo, a organização desses dados está portentosa. E reveladora. Permite uma comparação fria e cruel entre o governo do Pavão da USP e o de Lula.
Realmente, o Brasil deu um belo salto de qualidade.
Por que os jornalistas dos grandes veículos não fazem essas comparações?
Será que todos os profissionais da Veja, Globo, Estadão e Folhão só pensam em agradar o chefe? E este por sua vez, só pensa em agradar o patrão?
Como é que essa gente pousa a cabecinha servil no travesseiro e consegue dormir?
Santa Internet que nos permite dispensar a mídia velhusca e caduca!
Belo texto, Miguel. Que diferença gigantesca entre o governo Lula e o governo FHC. Os números que você fornece, entre tantos outros que já conhecemos, são muito esclarecedores. Só a falta de conhecimento, o fanatismo partidário, a lavagem cerebral midiática ou a má-fé para explicar como alguém ainda consegue dizer, repetindo o que diz o PIG/PIC, que o governo Lula é uma mera continuação do governo FHC!
O Juliano Guilherme anda fazendo falta nos comentários dos leitores de blogs.
Bem lembrado, é interessante como o Estadão está sempre pregando a guerra contra os nossos vizinhos e a submissão aos EUA. Não seria porquê eles trabalham para os EUA? (pensando se isso é uma acusação ou um fato). Quanto ao FHC, com o perdão do palavrão mas ele é um filho da puta, esse sim trabalhando contra os interesses nacionais e procurando sabotar o país.
Legal, Wilson, você se lembrar de mim. É que eu tive um problema de coluna por conta de ter ficado viciado na blogsfera. Enquanto não chegar de São Paulo, a cadeira ergonômica que comprei, não posso ficar mais de 5 minutos no computador. Assim que chegar volto com força total. Um abraço para você
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