14 de maio de 2011

Bin Laden não era um velhinho indefeso


(Delacroix, A barca de Dante. O poeta italiano representa a consciência humana tentando atravessar o inferno existencial, equilibrando-se instavelmente - ajudado apenas pelas tradições da cultura, aqui simbolizadas pelo guia do personagem, o também poeta Virgílio - em meio aos atormentados e demônios que nos cercam, e que nada mais são que facetas de nós mesmos).

Ele era o terrorista mais perigoso e letal da história da humanidade. A Al Qaeda domina tecnologias de explosivo à distância, uso de armas biológicas e demais brinquedos que São João esqueceu de mencionar quando escreveu o Apocalipse. Não se tratou da execução de um velhinho indefeso e frágil. A expressão terrorista aposentado, muito usada por aí, é ridícula. Nunca vi alguém dizer que fulano é um "assassino aposentado". Ou é assassino ou não é. Ou é terrorista ou não é. Nem Bin Laden era um desses mancebos árabes semi-analfabetos, miseráveis e desesperados que aceitam auto-explodir-se em nome da causa. Bin Laden era um milionário saudita, um fanático religioso, que espalhava não apenas morte e destruição, mas valores medievais e intolerância política.

Claro que seria melhor que Bin Laden sofresse um processo legal, que se o julgassem conforme as leis internacionais. Mas estamos falando da Al Qaeda! Quem teria culhão para levar Bin Laden à barra do tribunal, digo, teria coragem de enfiar a chave em seu carro sem medo de que o mesmo não explodisse?

Mas é olhando a operação em si, e analisando-a do ponto-de-vista estritamente militar, que encontramos razões para a execução do terrorista. Se você fosse o comandante da operação, não passaria pela sua cabeça que ele poderia ter instalado algum dispositivo para explodir a casa onde se encontrava, no caso de uma invasão americana? Até agora não encontraram esse dispositivo, ao que sabemos, mas isso não seria uma suposição lógica? E você não estaria sendo incompetente se não cogitasse isso?

Eu lembro perfeitamente do 11 de setembro. Estava à porta de uma lanchonete, na faculdade, quando recebi o telefonema de uma moça que trabalhava comigo no escritório. Corri para o interior da lanchonete e vi pela tv os aviões se chocando contra as torres gêmeas. Lembro de um grupo de garotas que, diante do maior atentado terrorista da história, continuaram papeando sobre seus namoricos, sem dar bola, ou sem processar racionalmente o impacto e o significado daquilo.

Vim correndo para a casa, uma comichão terrorista fermentando-me involuntariamente no espírito, e encontrei minha mãe angustiada, balbuciando: "que coisa horrível... que coisa horrível". E meu irmão caçula silencioso, com os olhos soltando faíscas de loucura e euforia. Depois que minha mãe saiu, ele festejou o ato como se fosse um palestino do Hamas. Eu entendi sua alegria e por pouco também não fui à janela gritar Fuck USA.

Naquele mesmo dia, a gente levou à gráfica uma edição do jornal Arte & Política, que saiu à noite com um poema árabe na capa, uma imagem dos aviões se chocando contra a torre e a manchete:

SEM JUSTIÇA NÃO HAVERÁ PAZ!




Era praticamente um jornal terrorista.

Alguns dias depois, um colega meu, já um marmanjo de vinte e poucos anos, que nunca tinha feito isso, pichava pela cidade uma frase infame:

- Viva Bin Laden! Fuck USA!

Ele não apoiava o terrorismo. Nem tinha tanto ódio assim dos EUA. Mas entendia que ali havia um divisor de águas na história.

Na mesma noite, eu bebia uma cerveja num bar da Lapa quando passou um colega de faculdade na rua, e gritou para mim:

- Ressuscitaram a história, Miguel! - Erguendo os braços, em sinal de vitória.

Havia sim uma corrente assassina e entusiástica atravessando os corações de todo o mundo subdesenvolvido ou em desenvolvimento, de todos que haviam sofrido, de uma forma ou outra, as arbitrariedades e violências do imperialismo americano. Um sentimento de vingança, diabólico e libertador.

Depois passou, naturalmente. As pessoas voltaram a seu normal pacífico. Até que veio a guerra no Iraque, um dos maiores crimes de guerra da história recente, conduzida integralmente por um processo odioso de manipulação midiática, produzindo uma onda de pessimismo e desânimo em todo mundo.

Quando mataram aquele brasileiro que vivia em Londres, o Jean Charles de Menezes, aí sim tivemos um assassinato sumário. No entanto, mesmo não aceitando, nem perdoando, o mundo entendeu que os policiais não o executaram por maldade. Houve preconceito, ignorância e incompetência. Não maldade. Eles acreditaram que se tratasse de um terrorista e o executaram com vários tiros na cabeça com receio de que ele escondesse bombas na mochila. E Jean era um inocente.

Não era o caso de Bin Laden. Os agentes que invadiram sua casa sabiam que estariam diante do homem mais perigoso do mundo. Quem poderia imaginar a sua reação? Desarmado? Ah, isso é piada! Num post anterior, eu já havia antecipado minha opinião, e disse ironicamente que eu devia estar me tornando "reacionário". Foi ironia, repito. Não estou me tornando reacionário. Mas um leitor engoliu a isca e disse que, de fato, era difícil uma "esquerda progressista" defender o assassinato sumário de alguém.

Eu gostaria de saber desde quando a esquerda assumiu essa filosofia zen, comedora de arroz integral, alienada quanto aos perigos oferecidos por um terrorista. Claro, Bin Laden era um ser humano, e como tal merecia respeito como qualquer um de nós. Neste sentido, até aquele monstro que matou as crianças em Realengo era também um ser humano. Mas daí a você achar que Bin Laden era inofensivo, vai um abismo!

Tanto a direita quanto a esquerda, progressistas ou não, nunca se notabilizaram pela compassividade. Eu gostaria de saber em que período da história da humanidade a "esquerda progressista" não trataria Bin Laden da mesma forma: executando-o sumariamente, sobretudo se considerarmos que se tratou de uma questão de segurança dos agentes envolvidos. Bin Laden não era um nazista cabisbaixo, pertencente a um país derrotado militarmente, que pudesse ser levado ao tribunal de Nuremberg. Era o cabeça da organização terrorista mais traiçoeira e mais rica da história da civilização.

Os EUA já mataram muitos inocentes ao longo de sua história. Bin Laden não foi um deles.

Quanto à violação da soberania do Paquistão, é outra história. Havia um acordo militar entre Paquistão e EUA que permitia aos americanos, no caso específico de descobrir o paradeiro de Bin Laden em território paquistanês, invadirem o país para fazer o serviço.

Mas antes mesmo de saber que havia esse acordo, o próprio bom senso nos alertava que seria ridículo o Paquistão, depois de ajudar os EUA a destruirem covardemente o vizinho Afeganistão, justamente para matar o terrorista número 1 da Al Qaeda, depois de receber sabe-se lá quantos bilhões de dólares para fazer esse serviço sujo, vir reclamar porque os ianques mataram Bin Laden em seu país.

Depois fiquei sabendo que o próprio Obama ligou para o presidente paquistanês avisando que haveria a operação, embora hoje as informações já estejam muito desencontradas e contraditórias a respeito disso tudo.

Em resumo, até que me provem o contrário, que isso não foi justo, defendo a execução de Bin Laden, e não me sinto menos "esquerda", ou "progressista" por causa disso.

26 comentarios

jozahfa disse...

Robespierre mandava cinquenta ao cadafalso numa fornada.

wilson cunha junior disse...

Não se trata de engolir isca. Você escreve, abre espaço para comentários e naturalmente surge um ou outro que não assina embaixo de tudo que leu.

Não se trata também de defender terrorista. Em se tratando de tamanho e periculosidade o governo dos EUA é o maior e mais letal terrorista do planeta porque é oficial e não há nenhuma organização institucional com culhões para sequer advertí-lo.

Trata-se de valores humanos. De saber que violência combatida com violência só gera mais violência. Se somos o tal dito cidadão civilizado temos que defender o estado de direito mesmo diante do mais impiedoso assassino. Se julgamos nazistas em Nuremberg como não julgaríamos e condenaríamos Osama? A maior força armada do mundo que entra aonde ela quiser e mata quem ela quiser também é capaz de dar segurança a um tribunal. Não houve justiça. Houve, como definiu Leonardo Boff, uma vingança que trará mais e mais mortes de inocentes ao redor do mundo.

Sobre esse poder descomunal atribuído a Osama deixo para os leitores o que diz o maior correspondente de guerra de todos os tempos, Roberto Fisk, que entrevistou Osama por três vezes:

http://www.advivo.com.br/blog/antonio-ateu/robert-fisk-e-agora-quem-precisa-de-osama-bin-laden

O cineasta Michael Moore, que apoiou Obama, disse: "“Enquanto não estivesse liderando o terror, Bin Laden vivo servia a um propósito. A gente tem que entender: A indústria da guerra precisa do medo para fazer dinheiro. Quando não foi mais necessário [ao governo dos EUA], teve se ser eliminado. Que diabos, vamos falar claro."

Se Moore é polêmico ou ridículo então fiquemos com Noam Chomski: "Poderiamos perguntar como reagiriamos se uns comandos iraquianos aterrizassem na mansão de George W. Bush, o assassinassem e lançassem seu corpo no Atlântico. Sem deixar dúvidas, seus crimes excederam em muito os que Bin Laden cometeu, e não é um "suspeito", mas sim, indiscutivelmente, o sujeito que "tomou as decisões", quem deu as ordens de cometer o "supremo crime internacional, que difere só de outros crimes de guerra porque contém em si o mal acumulado do conjunto" (citando o Tribunal de Nuremberg), pelo qual foram enforcados os criminosos nazistas: os centenas de milhares de mortos, milhões de refugiados, destruição de grande parte do país, o encarniçado conflito sectário que agora se propagou pelo resto da região."

A esquerda e a direita costumam se juntar no que se refere as atrocidades sem dúvida. E isso é o que atormenta o militante ou simplesmente o camarada que sonha em deixar um mundo melhor para seus filhos e netos.

Enfim, a despeito de toda a contribuição para as artes e a cultura em geral que os EUA deram ao mundo é bem provável que por causa de seus governos psicopatas seu legado para a humanidade será o da violência, do arbítrio e da estupidez. Como descreverão os futuros livros de história.

Celso disse...

Miguel, a execução de Osama foi também uma "queima de arquivo". Se vivo, iria a julgamento, e haveria tempo o bastante para revelar detalhes indesejáveis de suas relações pré-atentados entre ele e os EUA e os Bush.

Miguel do Rosário disse...

Oi Wilson, tudo bem. Seu comentário foi bem consistente. O lance de engolir a isca foi no sentido de acreditar na minha afirmação irônica. Eu li o texto de Chomsky, mas acho a comparação descabida. Não se pode comparar Bin Laden ao presidente da república dos EUA. Isso é bobagem. Em nenhum sentido a comparação procede, nem nos crimes de guerra. Sei que parecerá heresia dizer isso, mas até o Chomsky fala bobagem às vezes. Em 2007, afirmou que Lula foi uma "decepção". http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,AA1510900-5601,00.html

Quanto à capacidade do "maior exército" de dar segurança a um tribunal, não tenho certeza. Não estamos diante de uma guerra convencional. Entretanto mais que isso, eu tento justificar a ação de matar Bin Laden pela logística da própria operação, e pelo perigo que o terrorista oferecia em termos de explosivos. Não importa o que Fisk diga, Bin Laden era obviamente um homem terrivelmente perigoso. Não foi perigoso para Fisk, mas era para agentes militares americanos, com certeza!

Sobre o Boff, é um santo, não comentou a fala de santos. Mas os santos nem sempre tem razão.


Celso, essa teoria de queima de arquivo é muito válida. Acho também que pode ter acontecido. Aliás, por um tempo fiquei até achando que Bin Laden não fora morto, mas teria sido levado para local ignorado e estaria sendo "entrevistado" pelos EUA. Mas isso são teorias. A gente talvez demore um pouco para saber a verdade. O que eu quis dizer nesse post é que, independente do que tenha acontecido na verdade, Bin Laden não era um velhinho indefeso, e se eu fosse um comandante de guerra, sugeriria a meus soldados que tomassem muito cuidado para que o terrorista não apertasse nenhum botãozinho maroto em sua proximidade. A sugestão de que ele seria um homem indefeso é uma falácia. Ele era o terrorista mais perigoso do mundo, e como tal poderia, em tese, ter montado infinitas armadilhas para matar seus perseguidores.

Anônimo disse...

É... O Miguel encontrou a forma para chamar a atenção: captar as correntes de interpretação geral entre as "esquerdas"/progresssitas e ir contra. Simples assim. Chama a atenção. Agora temos o L. F. Ponde da "esquerda". Quem precisa de direita?

Miguel do Rosário disse...

anonimo, você é um gênio... Eu sou um blogueiro sem caráter que escreve apenas para chamar a atenção... Se eu seguisse as "correntes de interpretação geral", estaria tudo bem, não? Sugiro apenas que confira as minhas 2.557 postagens (desde 2004) para ver se eu agia assim antes, ou resolvi começar só agora. É mais fácil atacar o caráter do que argumentar.

wilson cunha junior disse...

Acabei de ver o doc "A guerra que você não vê". Tô até passando mal, sério. Meu estômago embrulhou e minha cabeça dói. Mas é preciso ver e saber como essa coisa funciona mesmo que seja pra você entrar em depressão e nunca mais sair. Não foi feito pelo M. Moore ou algum chavista. É protagonizado por jornalistas americanos e ingleses além de ex-funcionários da ONU envergonhados por terem colaborado e acobertado tanta matança de inocentes.

O que é mostrado nos últimos 10 minutos desse documentário é tão monstruoso que a gente torçe pra estar vendo uma ficção.

Completo e legendado:

http://youtu.be/jzSmGf0vJgw

Miguel do Rosário disse...

Valeu, wilson. Vou assistir. Ou tentar, ao menos. Espero que não tenha dado a entender que apóio as atrocidades norte-americanas. No post, mostro que desde 1999, (na verdade, desde 1998, pois a edição mostrada é a número 10), que produzo textos políticos críticos ao imperialismo. Refiro-me aqui especificamente ao ataque a Bin Laden.

spin disse...

Parabéns pela coragem ao manifestar este ponto de vista que, é claro, vai de encontro ao que muitos pensam e você sabe disso.

A monstruosidade do líder terrorista era de fundo religioso, eliminar o mundo ocidental era uma questão de fé. Por outro lado, o terrorista não era tão louco a ponto de, diante da aproximação de um comando americano, ter algum dispositivo para implodir a casa e, junto com ela, toda a família, nem tanto né Miguel, de forma que vejo seu texto mais como literatura, como ficção mesmo, do que como coisa factível.

Há dias venho me perguntando se havia algum túnel escavado no casarão para permitir a fuga do terrorista, isto seria mais factível do que um botão para detonar tudo. No entanto nem o tal túnel existiria pois se existisse as tropas americanas teriam detectado, até mesmo porque os EUA monitoraram-no durante quase 1 ano.
Dois links: filho de Bin Laden critica a opção do pai pela violência e promete levar Obama à Justiça
http://www.asemana.publ.cv/spip.php?article64099&ak=1

O que temos pela frente é o endeusamento do líder, claro que vai virar um mito, segue link

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2011/05/10/filho-de-bin-laden-esta-desaparecido-desde-a-morte-do-terrorista-diz-paquistao.jhtm

O poderio militar da "Al Caída"(termo usado por "Macaco Simão") não chega(va) a tanto, claro que não haveria explosão de juizes e promotores em protesto à prisão de Osama. Claro que não foi intencional, talvez não, mas vejo seu texto como ficção das boas, parabéns.

Anônimo disse...

Miguel, muita calma. Não coloquei em dúvida o seu caráter, longe disso. Fiz um comentário acerca da metodologia de seus textos mais polêmicos. Nã há fundamentalismo religioso no ato americano? Não existem interesses do complexo industrial-militar agindo na guerra permanente? Obama não fez do ato uma estartégia política simplória para atrair o apoio de setores conservadores? Seu texto emite a idéia de que o bem contra o mal é a forma de entender o fato. Em última instância, o texto defende que, em alguns casos, a eliminação sumária é legítima e necessária.

douglas da mata disse...

Miguel,

Independente de sua posição, o importante é a polêmica a qual o debate se presta...

Vamos a eles, no meu raso entender:

a) diante de guerras assimétricas (esse é o conceito que você apresenta para diagnosticar/justificar ações desproporcionais de ataque e contra-ataque), seria justificável a eliminação de um inimigo, mesmo que desarmado e em situação de nítida desvantagem...eu posso concordar com esse argumento, se cada um de nós aceitar a proposta conceitual de "war on terrorism", criada pela direita estadunidense e alimentada pela cumplicidade democrata...se for nessa base, há coerência...essa medida, do jeito que foi justificada, não serve como defesa da democracia e dos valores de estado de direito...são medidas de exceção, mas que, estranhamente, merecem um tratamento de normalidade inaceitável...

A diferença entre sociedade democráticas e barbárie e tênue, sabemos, mas há diferença...sociedade democráticas usam a força, matam em nome desses valores, mas há um esforço em limitar esse uso pelo controle e consenso político, e não como ferramente para construí-lo...a subida de popularidade de obama diz tudo sobre esse momento...

um pequeno parêntese: a nós, não será permitida uma análise correta das condições, porque os executores não relataram as condições exatas do ocorrido, logo, o que houve ou não será um problema exclusivo de consciência (pesada ou aliviada) do "xerife do mundo"...ou seja, diante da dificuldade que eles têm em definir o que aconteceu, só nos resta presumir que há um problema, entre eles, de legitimar eticamente o que fizeram...esse, inclusive, é um problema grave de situações como essa...o julgamento é sempre turvo, e quase sempre se baseia em versões sobre fatos, e não em fatos em si...

b) bom, todas as sociedades enfrentam, de tempos em tempos, ou cotidianamente, situações nas quais devem decidir se legitimam atos extremos contra aqueles que julgam uma ameaça a sua própria coesão...e, de certa forma, governantes dessas sociedades têm que decidir, sem tempo para contraditório ou ampla defesa, o que fazer...a questão é, como disse, de legitimar a ação, e aí começam os problemas: como definir e, ou reconhecer quais são esses momentos? quem são os inimigos?

c) se não fosse só isso, sua análise faz um "julgamento" importante a partir do título: claro, Osama era uma assassino, que escolheu a morte com ferramente política, sabemos disso...mas e bush e o próprio obama também não fazem o mesmo, e com recursos infinitamente maiores? isso quer dizer que para referendar sua visão sobre o saudita bin laden, é necessário oferecer o contraponto a partir do ponto de vista dos que ele representava (ou pelo menos dizia representar), que também usam a morte como ferramenta de coação política...

quando defendo que osama deveria ser levado a um tribunal, ainda que fosse uma farsa à lá Nuremberg, é para que a Humanidade pudesse encarar uma simbolização(falsa que fosse)de resolução de conflitos para além da selvageria proporcionada por osamas, obamas e buhses...

Mais ou menos como se dissessem: Viu, nós somos diferentes desses "animais"...?

Eu concordo que todo povo têm direito a vingança, mas de olho por olho todo mundo pode ficar cego...

Um abraço, a parabéns pelo debate sobre tema tão espinhoso...

Miguel do Rosário disse...

spin, um cara capaz de bolar/ou articular um plano para derrubar as duas torres gêmeas, não seria capaz de elaborar um plano básico de autodefesa, para não ser levado vivo pelos americanos? não acho tão ficção assim, não.

anonimo, eu sempre gostei de polemizar com a esquerda, desde 2003, quando defendia a reforma da previdência. não é de hoje. faço isso, no entanto, não para chamar a atenção, até porque ninguém dá muita bola para isso, mas para expressar meu pensamento. grande blogueiro seria eu se me limitasse a seguir as "correntes de interpretação geral"! E de qualquer forma, essas correntes não passam de uma estatística empírica sobre a opinião dos que comentam os blogs que você frequenta, só isso, não representa a maioria da internet (e não me refiro aos sanguinários que sempre acharão que bandido bom = bandido morto).

Douglas, não sou nenhum defensor de guerra assimétrica. apenas questionei: Bin Laden era indefeso? Como alguém pode ter tanta certeza disso? Ou melhor, como se poderia ter certeza disso? Quando o Bope invade as favelas cariocas e mata todos os traficantes, talvez aí sim esteja lidando, vez ou outra, com algum jovem indefeso. Mas Bin Laden? O cara era um crânio! Um gênio do mal! Os EUA gastaram trilhões de dólares para encontrá-lo e não conseguiram! Só isso demonstra a sua capacidade e talento!

douglas da mata disse...

Miguel,

Eu não disse que você defende a guerra assimétrica, mas falei que só esse conceito justifica a eliminação do osama, dentro da ótica dos estadunidenses.

Como no caso dos EEUU, a eliminação física dos "oponentes" (e aí, pouco importa o perigo real que ofereçam, mas muito mais o dano simbólico a um conjunto de valores caros às sociedades que legitimam tais práticas)é justificada como uma necessidade de impor a idéia de que ninguém ficará impune e que as penas se equivalerão aos bens jurídicos ofendidos, nesse caso vidas. E quando sociedades só acreditam ou privilegiam o extermínio como forma de fazer justiça, é porque houve uma regressão importante nessa sociedade.

Nas invasões do BOPE o corolário ideológico é semelhante, e não é à toa que os termos têm uma mesma matriz ideológica: "war on drugs" e "war on terrorism", vêm da agenda conservadora neocon.

Como você mesmo notou, o problema é que ninguém nunca terá certeza de nada, e logo, o "julgamento" e "sentenciamento" se deu em cima de fatores que nada têm a ver com a realidade, mas sim com a interpretação que determinados grupos de poder tem dela. Contrária, como se vê, a toda noção de direito que construímos a custa de muitas vidas e luta.

O que está em jogo aqui, não é o direito (legítimo)das vítimas e parentes das vítimas(e até do povo novaiorquino e estadunidense, enfim)de vingança.

Mas de evitar que essa possibilidade norteie políticas de Estado.

Não há osama sem EEUU. Infelizmente, a violência dele não é compreensível sem enxergar a postura política violenta de suas vítimas (ainda que elas não saibam disso).

Sobre os trilhões de dólares gastos, recomendo a leitura de Blackwater(sobre como a guerra se tornou um ótimo negócio), e como na maioria das vezes, causa e efeito se misturam para atender interesses.

Em suma, osama foi permaneceu incólume porque era útil e justificava um monte de injunções e ações, e muito menos porque era um gênio(fato inconteste). A História nos ensina como a omissão cúmplice faz o sucesso de outros gênios (até que deixem de ser úteis). Foi assim com Hitler quando representava um "freio" a expansão comunista na Europa, e no expurgo judeu, fato conhecido dos aliados, mas que deixaram o "resgate" por último. Desse sentimento de "culpa" nasceu Israel e nova cumplicidade com a barbárie na Palestina.

No entanto, como já disse, muito mais importante que as condições pessoais de cada um (osama é um gênio, mas bush é sempre considerado um idiota, embora sejam dois assassinos), mas o que representam.

Na verdade, a morte de osama nas condições as quais se deram, foram o seu último e bem sucedido ato contra os valores ocidentais, embora eu tenha certeza que osama não tenha planejado isso.

Um abraço.


PS: Não tenha dúvida, se eu estivess com os SEALs também atiraria para matar. O problema é saber "quem de fato apertou o gatilho", e "porquê".

Adir disse...

"Os EUA já mataram muitos inocentes ao longo de sua história. Bin Laden não foi um deles."

Honorável Miguel, como sempre diz o Mino, qualquer mineral sabe que foi os EUA que engendraram a detonação das tais torres gêmeas, não acredito que essa organização tosca do Bin Laden fez por conta própria isso, qualquer mineral sabe que os organismos de 'inteligência' norte-americana 'envolveram' os trouxas do Al-Qaeda e levaram a culpa pela bela detonação das pilastras que 'chocaram' aqueles que acreditam em papai noel, cegonha, saci, boi tatá etc.
Abracetas

Miguel do Rosário disse...

Essa é uma teoria válida, Adir. Mas não acredito nela. Muito "conspiração" pro meu gosto. Prefiro acreditar que foi a Al Qaeda mesmo.

Galvão disse...

Pois é "blogueiro sem caráter", as suas reclamações quanto à dificuldade de sobrevivência como blogueiro estarão sanadas, algum judeu benemérito lhe ajudará financeiramente. Desinteressadamente, é claro.

Galvão disse...

"blogueiro sem caráter", favor cancelar a remessa do seu blog para o meu email. Tentei fazer o cancelamento e não consegui. Grato

Miguel do Rosário disse...

Galvão, vá te ferrar. Em primeiro lugar, não tenho mais dificuldades financeiras. Estou trabalhando e ganho o suficiente para viver. Segundo, não estamos em Israel ou no oriente médio, onde esse tipo de interpretação pode render alguma coisa. Terceiro, o que eu disse em defesa dos judeus aqui? Quarto, o que eu disse contra os árabes? Nada! Analisei um caso militar específico. E ainda revelei meu histórico de editor de jornal anarquista e anti-imperialista!

Adriano Matos disse...

Miguel, o que houve foi justiçamento. O fato de Bin Laden ser perigoso não o torna excessão do processo legal. Aceitar isso equivale a jogar a doutrina juridica pela janela e abraçar o fascismo: ampla-defesa, contraditório, tribunal do juri, etc, tudo isso é direito da pessoa humana e não devia poder ser relativizado por causa das circunstâncias. Che Guevara foi executado sob pretextos semelhantes, então como a gente pode concordar com isso agora?

Miguel do Rosário disse...

Não, Adriano. Não podemos comparar Che Guevara, um líder revolucionário, com o terrorista Osama Bin Laden, que defendia o extermínio em massa de pessoas, ainda que inocentes, apenas por não pensarem da mesma forma que ele.

Não estou negando o direito jurídico do homem Bin Laden. Analisei uma situação específica, militar. Trabalhei com a hipótese, tão plausível como a oposta (a de que ele era inofensivo, aposentado), de que o terrorista representava um perigo sim, porque poderia haver por exemplo dispositivos na casa que pudessem ser acionados. Isso é tão comum! Terroristas armam bombas em seus próprios bunkers, para que os adversários não confiquem material secreto.

Voltando a Che, o herói argentino-cubano morreu executado friamente, mas era uma situação de guerra, e ele - se não ele, seu pelotão - também executava sem piedade seus adversários (como deveria fazer, naquelas circunstâncias), em algumas ocasiões mesmo que depois de dominados. Foi triste e horrível, mas Che sabia a que estava se expondo quando foi lutar na Bolívia. Che Guevara nunca esperou piedade de seus adversários militares. Nem acho que os condenou moralmente. Lutou, foi pego, foi morto. Ele sabia que era perigoso demais para permanecer vivo se fosse pego.

A injustiça não está aí, numa situação de guerra. A injustiça acontece em situação de paz. Não contra Bin Laden, que era um terrorista assumido. A injustiça acontece diariamente contra milhares de cidadãos comuns, que são executados em São Paulo, no Rio, em Recife, e não são terroristas internacionais, assassinados por nossas policias. Então, mais uma vez, se formos condenar tão peremptoriamente os EUA por matar Bin Laden em vez de o levar a julgamento, devemos fazê-lo com muito mais ênfase em relação a nosso próprio sistema, que permite matança indiscriminada de pessoas nas periferias de nossas metrópoles.

Em suma, as circunstâncias que envolvem Bin Laden são específicas de uma situação de guerra. Ele era o maior inimigo dos EUA. Havia atacado militarmente os EUA, e ameaçava constantemente repetir o golpe. Atacou a Inglaterra, a Espanha, hotéis no oriente médio. Não era, definitivamente, um velho criminoso de guerra aposentado, que representa os ideais de soberania de algum país. Era um terrorista perigoso, que podia reagir explodindo tudo ao ser pego, porque não? É tão impossível que ele fizesse isso?

Adriano Matos disse...

Miguel, antes de tudo quero dizer que não lamento a morte de Bin Laden, nem a comemoro. Lamento a vitória dele que com sua morte demonstra mais uma vez a hipocrisia da democracia ocidental que subverte o direito conforme as conveniências.

Ele é tratado como terrorista internacional, criminoso reles extremamente perigoso. Por coerência, ele teria que ser julgado e sentenciado. É pensando justamente nos policiais brasileiros e na guerra que enfrentam todos os dias que condeno esse assassinato. O estado não pode ser justiceiro.

Discordo que se aplicaria nesse caso as regras da guerra que justificam a execução de grandes líderes sob a ameaça de risco às tropas e com o objetivo principal de abreviar a guerra desmantelando a organização inimiga. Espero estar enganado, mas não acho que o mundo ficou mais seguro com essa ação ou essa guerra mais próxima do fim.

Abraços.

Werner Piana disse...

o "curioso" das "teorias da conspiração" é que com certa frequencia - tai o wikileaks que não me deixa mentir, o doc "O Dia que Durou 21 anos", o "Loose Change 9/11", os docs do John Pilger...

Miguel, entenda que soa "estranho' para nós que temos o hábito de ler seus artigos não reconhecer os EEUU como os maiores terroristas da atualidade.

Abraço.

Werner Piana disse...

o "curioso" das "teorias da conspiração" é que com certa frequencia - tai o wikileaks que não me deixa mentir, o doc "O Dia que Durou 21 anos", o "Loose Change 9/11", os docs do John Pilger... as coisas SE CONFIRMAM!

Miguel, entenda que soa "estranho' para nós que temos o hábito de ler seus artigos não reconhecer os EEUU como os maiores terroristas da atualidade.

Abraço.

Miguel do Rosário disse...

Adriano, minha interpretação é a de que Bin Laden, como figurão da Al Qaeda, podia ter instalado dispositivos explosivos na casa onde se encontrava. Isso é muito plausível. Se eu fosse comandando dos Seals, teria pensado nisso. E o meu primeiro impulso, se fosse um soldado, seria evitar que isso acontecesse dando-lhe um tiro na cabeça.

Werner, acho meio repetitivo dizer que os EUA são os maiores terroristas da atualidade. Todo mundo sabe dos terríveis crimes cometidos pelos americanos, não só hoje como no passado. Não preciso repetir isso aqui. Já o fiz em muitos outros posts. Não acho que seja necessário, em cada post sobre política externa, jurar ódio à bandeira americana. Aliás, procuro escrever sem ódio. Não odiava nem o Bin Laden. Cada um tem seu papel necessário na história, para o bem e para o mal, incluindo os EUA. São forças que estão além da nossa compreensão, e além da compreensão dos próprios Estados Unidos. Não acho legal analisar a história com maniqueísmo, colocando os EUA como os maus - quem seriam os bons? Os EUA são vítimas de sua própria história. O senhor é escravizado pelas mesmas forças que escraviza o o escravo.

E também há muita liberalidade com o uso do termo "terrorista".

Além disso, a afirmação está meio fora de foco, porque exime a União Européia, Israel e todos os outros países do mundo de seus crimes. É maniqueísta. Fácil demais. Achar um culpado para apontar o dedo.

De certa forma, porém, estamos imbricados e envolvidos com esses erros, pois temos uma profunda e densa relação cultural e política com os EUA.

EUA mataram Bin Laden sem levá-lo a julgamento? Ah, fazemos isso diariamente com nossos jovens traficantes, sendo que nenhum deles jamais matou milhares de pessoas inocentes como fez Bin Laden. No caso de Bin Laden, ao menos pode-se alegar que os Seals agiram em legítima defesa, pois haveria sempre a possibilidade de Bin Laden ter mandado instalar explosivos em sua residência para que não fossem encontradas provas, nem que o levassem vivo.

Enfim, desculpem-me se estou ficando chato com tanto relativismo. Só não me peçam para ser previsível. Se for para xingar os EUA, há dez milhões de blogs por aí se esgoleando contra o Tio Sam, e milhares de artigos comparando EUA ao IV Reich, etc. Não acho que estarei contribuindo se ajudar a gerar mais ódio.

Abraços

Miguel do Rosário disse...

Werner, quanto as teorias que se confirmam, não acho que seja bem sim. Confirmam as que a gente já meio que sabia, mas mesmo assim é sempre fácil a gente analisar os acontecimentos no conforto do futuro. De qualquer forma, não há uma lei lógica para isso.

No presente, temos que nos contentar com os fatos, o bom senso e não pré-julgar ninguem, nem mesmo os famigerados americanos.

Se o 11/09 foi planejado por eles, é óbvio que foi por uma seita diabólica qualquer, talvez instalada no próprio seio do Executivo, mas não pelo Estado de Direito, não pela república. Enfim, os americanos nessa história, foram vítimas, isso é inegável. Perderam vidas humanas e sofreram um impacto psicológico terrível.

De qualquer forma, Bin Laden e a Al Qaeda reinvindicaram o crime, assim como o fizeram com os atentados monstruosos da Espanha e Inglaterra, entre outros.

Werner Piana - @SAGGIO_2 disse...

valeu pelos comentarios, Miguel. E quanto aos EEUU serem a "Geni" da hora, estenda-se à "Comunidade Internacional" (ocidental).
Tudo bandido, mesmo...

Sem santos nesta história.

Abs

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