26 de maio de 2011

Código Florestal e chapeuzinho vermelho



O Brasil é hoje o principal exportador de soja e carne do mundo, e isso numa época em que não há mais abundância de alimentos. Os estoques mundiais de grãos caíram. A demanda global vem subindo a um ritmo crescente, ano a ano, impulsionada pelo rápido processo de industrialização em curso nas economias emergentes. Há pouca terra agricultável disponível na Ásia, onde o problema da segurança alimentar tem se tornado particularmente grave, sobretudo porque se soma ao esgotamento de reservas de água subterrâneas.

As pessoas tem pouca informação acerca da segurança alimentar global. Falta ainda um sentimento humanista verdadeiro. Não basta amar a Palestina, é preciso torcer também para que os chineses não passem fome. A harmonia alimentar do planeta é saudável para todas as nações, e se a soja brasileira tem uma função relevante neste sentido, devemos parabenizá-la. Critica-se a produção de soja no Brasil porque ela seria usada para alimentar porcos na China... como se esses porcos não constituíssem a principal fonte de proteína para bilhões de asiáticos!

Ou então desconhecem que a mesma soja é usada como nutriente fundamental para o fabrico de rações que sustentam as populações de frango, bois e suínos no Brasil, os quais servem ao consumo doméstico e à crescente demanda externa. Por mais que isso machuque a consciência dos adoradores do Green Peace e fanáticos pelo MST, a proteína que dá vida ao povo brasileiro passa pelo cultivo de soja e milho nas grandes propriedades rurais. Não digo que isso é bom, mas é um fato concreto.

E com a receita gerada pela exportação de soja, importamos remédios e produtos manufaturados importantes para nossa sobrevivência e desenvolvimento.

A repercussão do código florestal foi péssima nas redes sociais, por causa de uma visão maniqueísta da questão agrícola brasileira. Os ruralistas não são respeitados enquanto agentes políticos de um setor chave para a economia e para nossa segurança alimentar. Produtores rurais são depreciados, julgados moralmente. Uma conhecida até concordou, nervosa e indignada, quando eu falei, jocosamente, que eles "comiam criancinhas".

A bancada ruralista é formada por parlamentares de centro-direita, mas em nome do pluralismo político e da democracia devemos respeitá-los. Não é coerente falar em favor do pluralismo, e quando se está diante da necesssidade de exercê-lo, virar-lhe a cara. Os ruralistas foram eleitos por brasileiros com tantos direitos políticos quanto nós e você. Eles tem suas razões para serem de centro-direita, e a falta de respeito do militante de esquerda para com a milenar figura do produtor rural é uma delas.

Não se pode confundir ainda os elementos criminosos que existem no seio da classe rural, com a classe inteira. Isso é uma generalização absurda, injusta e antidemocrática. Um clássico preconceito!

E já que não temos planos de transformar a agricultura brasileira em gigantescos kibutz soviéticos, controlados pelo governo federal, precisamos aprender a lidar com os anseios e trejeitos dos produtores rurais, assim como eles tem de suportar o estilo maconheiro-greenpeace dos esquerdistas urbanos. Eles podem ser reacionários, mas a força de trabalho que dispendem em prol do país não vale menos por causa disso.

O agronegócio brasileiro será uma das galinhas de ovos de ouro que, juntamente com o pré-sal e a melhora de nossa infra-estrutura, poderá fazer o Brasil dar um grande salto econômico. É produto básico, mas o processo histórico da divisão internacional do trabalho (como ensinava o bom Adam Smith) tornou a atividade agrícola um setor altamente tecnificado e especializado. E sempre há a possibilidade de elevarmos a exportação de produtos agropecuários já industrializados. Sem esquecer que o aumento da produtividade da agricultura nacional implica em ganho similar ao de agregar valor ao produto.

O governo hoje não perdoa mais dívida de produtor rural. As enormes pendências que existiam originaram-se da terrível confusão cambial que viveu o Brasil nas décadas de 80 e 90. Foram sanadas pelo governo Lula. Hoje o produtor não mais dá calote porque ele perderia o acesso a novos financiamentos do Banco do Brasil.

O código florestal visa trazer o produtor para legalidade. Quase 90% dos produtores (a maioria pequenos) vive como um clandestino em sua própria fazenda, em situação irregular. E o pior, o código não era aplicado na prática. O novo código permitirá ajustar a lei à realidade do campo, liberando as autoridades para focar suas ações no combate ao desmatamento.

Entretanto, o texto não permite que haja desmatamento. Está-se falseando a verdade através de uma grande caricaturização do código. Trata-se de uma das leis florestais mais rigorosas do mundo, que representa um esforço para conciliar os interesses do pequeno agricultor, a grande agricultura comercial e a preservação do meio ambiente. No caso da Amazônia, as restrições ao desmatamento são draconianas. Ninguém poderá derrubar uma árvore sem autorização expressa de várias entidades.


*

Gostaria de linkar ainda um artigo do cientista político Fabiano Santos, que por acaso é filho do mestre Wanderley Guilherme dos Santos. Fabiano publicou nesta terça-feira um artigo no Valor fazendo uma crítica aos petistas pela falta de apoio que deram ao Código Florestal.

Fabiano faz considerações sobre a importância do código florestal para liberar as forças produtivas nacionais:

[O código florestal visa] preservar a soberania nacional sobre o solo pátrio, permitindo aos setores do capital e do trabalho boas condições de utilização de nossos recursos na geração de riqueza. A coalizão com os ruralistas vem daí. A rejeição do PT ao acordo, no entanto, é mais complexa e potencialmente explosiva.

A posição do PT, que, ao cabo, orientou sua bancada a dizer sim ao Código, mas que votou dividido, é explicada, por Fabiano, pela necessidade que o partido tem de se aproximar daquela mesma classe média que optou por Marina Silva no primeiro turno das eleições de 2010. Para capturar, enfim, parte do eleitorado paulista de classe média.

A perda da classe média, entretanto, visível nos mapas eleitorais das eleições de 2006 e 2010, não é absorvida pela cúpula partidária, localizada em São Paulo. Não há chance de vitória neste Estado sem seu apoio. Não há chance, sobretudo, de derrotar seu principal inimigo - o PSDB paulista. A questão nacional para o PT pós-Lula transforma-se unicamente na perspectiva de derrotar os tucanos em solo bandeirante. Aqui entra então o endurecimento na negociação do Código Florestal. O que vemos, na verdade, é a tentativa de resgatar para o seio do partido parcelas da classe média perdida e que dão o voto de minerva em eleitorados como o de São Paulo. Se o namoro com os verdes e com os eleitores de Marina Silva adquire agora inteligibilidade, nada mais longe dos interesses envoltos na expansão do capitalismo brasileiro e das possibilidades de aprofundamento de uma agenda trabalhista. Namoro que na ótica da esquerda nacionalista significa tão somente recepcionar uma agenda ecológica de inspiração exógena.

*

O fato da direita agrária estar apoiando o código florestal não significa que a esquerda também não pode fazê-lo, como aconteceu. Tenha em mente que foi uma vitória esmagadora: 410 a 63! Não se pode avaliar um fato social tendo apenas em vista a opinião do adversário. Tipo assim: se Ronaldo Caiado festejou, então é porque é ruim. Ora, o código florestal foi defendido por todas as organizações de agricultura familiar, como Contag e Fetag, que participaram da construção do texto. Ainda não vi se estão satisfeitas com o resultado, mas sei que elas lutaram para que o código fosse aprovado.

Observo ainda um descompasso entre o sentimento do povo e as redes sociais. Militantes da web repetem o quanto trabalharam na campanha de Dilma Rousseff, como se a presidenta lhes devesse alguma coisa. Quem elegeu Dilma não foi o Twitter, mas 135 milhões de eleitores! Dilma deve sua vitória a 56 milhões de brasileiros, igualmente, e não a nenhum internauta em particular.

Num sufrágio limpo, transparente e universal, os  brasileiros elegeram seus parlamentares preferidos, e estes aprovaram o Código Florestal, depois de muito debate. Todos os partidos da base, incluindo os de esquerda, como PSB, PT, PDT e PCdoB orientaram suas bancadas para que votassem sim pelo Código Florestal. Não venham culpar a Dilma por isso. Permitam-me ser piegas: se os deputados votaram maciçamente em favor do Código, temos uma legítima manifestação da vontade soberana do povo brasileiro. Você pode não gostar, mas é assim que funciona a democracia. E se todos os partidos de esquerda votaram pelo código, não venham chamar de direitoso quem o defende na internet!

O código poderá ser aperfeiçoado (ou piorado) no Senado e a presidente sempre pode vetar um outro ponto que ela considere inapropriado.

*

Eu tenho impressão que se houvesse Twitter em 2005, Lula sofreria um impeachment, com ajuda de tuiteiros e blogueiros do PT. Nunca se viu, a cinco meses do governo, tanta gritaria e agressividade dos próprios "amigos" contra aquela mesmo que, segundo estes, custou tanto sangue, suor e lágrimas. Um blogueiro disse até que gastou muito dinheiro na campanha, e que agora se arrepende de tê-lo feito. Talvez queira a grana de volta?

Aliás, de 2003 a 2005, houve algo parecido, mas graças a Deus não havia rede social. Tem gente que enxerga derrota e vergonha em qualquer pequeno recuo. Passa uma nuvem no céu e parece que viram os sinais do apocalipse! É preciso ver do alto, analisar o conjunto da obra, ter um pouco de calma e paciência! Esperar para ouvir outras versões do fato.

O impressionante é como esse sentimento se espalha. É sempre a mesma classe média, politizada, com seu DNA lacerdista, ainda que avermelhado. O lacerdismo não se caracteriza apenas pelo moralismo, mas também por essa indignação afobada, arrogante, apoplética.

As pesquisas mostram Dilma nadando em popularidade. O povo continua apoiando a presidente que escolheu, sem impaciência ou ansiedade. Sabe que as conquistas são lentas, e que eventuais recuos podem ser compensados com avanços mais adiante. Em 2003, quando Lula era atacado virulentamente por essa mesma esquerda hoje em polvorosa, um instituto fez uma pesquisa para saber a expectativa da população para com o governo. A grande maioria respondeu que daria até dois anos para que Lula promovesse alguma mudança efetiva. Não vamos confundir a opinião volúvel, instável e sempre meio neurastência das redes sociais, com o sonho poderoso, otimista e sereno de 200 milhões de brasileiros!

*

É muita manipulação, inclusive no lado oeste. No dia da votação do Código, alguém falou do púlpito sobre o recente assassinato de dois ambientalistas do Pará. Muitos deputados vaiaram. Ora, não vaiaram os ambientalistas! Vaiaram a tentativa de se fazer chantagem emocional. Um blogueiro ainda falou que os parlamentares do PCdoB deveriam ter se retirado do recinto. Muito bonito! Eles deveriam ter abandonado a votação, em vez de ficarem ali e praticarem a luta política?

O fato de termos acesso, diariamente, a milhares de notícias eleva exponencialmente a possibilidade de recebermos uma notícia desagradável. Creio que devemos nos manter, porém, sempre céticos em relação à qualquer informação veiculada pela grande mídia. Os jornais enganam mesmo falando a verdade, através de intrigas, pequenos exageros, sugestões...


*

Neste debate, é preciso que as pessoas pensem com suas próprias cabeças. Não adianta distribuir link de fulano como se isso fosse um argumento. Acabo de ler um blogueiro afirmando que a aprovação do Código se deu por causa do Palocci, e que os ruralistas só conseguiram aprová-lo por conta de ameaças contra o ministro. Ué, não foram mais de 400 deputados, inclusive de todos os partidos de esquerda, que votaram pelo Código? Não foram só os ruralistas! Foi o Congresso inteiro! Não se pode torcer a realidade para caber na sua teoria.

E a tese de que Dilma cedeu no caso do "kit gay" também por causa do Palocci é outra forçação de barra. A presidenta pode ter cometido um recuo lamentável e covarde. Ou uma atitude sensata, segundo o Brizola Neto. Mas a principal razão desse recuo é que as bancadas religiosas tem poder e pressionaram. O poder deles é um fato. Mesmo que tenhamos um Estado laico, não se pode subestimar o poder eleitoral e político desse pessoal. Esse é o fator determinante, a força eleitoral da bancada religiosa, não o Palocci.  Se não fosse o ministro, usariam qualquer outro artifício. Não é uma questão de afronta ao laicicismo, e sim uma demonstração de poder, nada espiritual, concretíssimo, por parte dos carolas. Eu antipatizo profundamente com a bancada religiosa, mas sei que a luta política contra eles é um jogo de xadrez tão complicado como a política internacional. Tudo é difícil, irmão.  Dilma tem uma relação delicada com o mundo religioso, como bem vimos nas eleições. As igrejas se posicionaram duramente contra a sua candidatura, tanto a católica quanto a evangélica, as duas maiores do país. Ela está ainda está matutando como vai resolver esse problema, que não é só dela, é um problema da esquerda laica, representada pela Dilma, com as igrejas, reacionárias por natureza. Em 2014 teremos outra eleição, e ela tem de pensar nisso desde já, para não abrir espaço para um salvador da pátria, com benção do papa, entregar a tocha olímpica aos carolas da direita. Não esqueçamos que, na véspera do pleito, bispos católicos conseguiram arrancar do papa uma declaração pró-Serra... Os boatos sobre demônio, imposição de ideologia gay nas escolas, etc,   foram muito pesados. Dilma sabe que tem de olhar isso com cuidado para não atrapalhar, no médio e longo prazo, a própria luta do movimento homossexual.

Lula não tinha problema com religião porque sempre viveu rodeado de padres, freis e bispos. O PT do Lula sempre esteve bem amparado pelas igrejas, tanto que o próprio governo Lula avançou bem pouco, em oito anos, nessa questão. Como querem que Dilma, depois de tudo que passou, vença a bancada religiosa em apenas cinco meses!

Tenho confiança, contudo, que venceremos todos esses obscurantistas. Não sou e nunca serei um derrotista. Não vou choramingar pelos cantos ao primeiro revés. A história e a razão estão do nosso lado. Há pouco tempo queimávamos mulheres vivas na fogueira e tentávamos curar homossexuais com torturas escabrosas. Avançamos um pouco desde então.

*

Em relação ao Ministério da Cultura, temos pelo menos uma excelente notícia, que é a presença de Wanderley Guilherme dos Santos na direção da Casa Rui Barbosa!

38 comentarios

Anônimo disse...

Miguel como sempre enxerga bem o panorama, mas no caso do Código Florestal não há como não repudiar a anistia para quem desmatou até 2008. Inexiste justificativa para reduzir de 30 para 15m a distância mínima para cursos d´água. É indefensável que áreas com 4 módulos rurais sejam dispensadas de preservação. Não faltam nesse país áreas para plantar, falta política para uso do solo. Existem milhões de m² improdutivos, outros tantos reservados para especulação e imensas áreas cobertas por monoculturas. É sim preciso regularizar a situação de alguns produtores, porém que isso se faça sem prejuízos maiores que os que já existem ao meio ambiente. Vide o que ocorre no Mato Grosso, Tocantins, Goiás, Pará etc. O desmatamento na Amazonia não é propaganda para manter ONG´s em atividade, é real e absurdo. Para quem conhece o interior do Pará é fácil entender o assassinato recente do casal de extrativistas: bateram de frente com madeireiros da região.

Miguel do Rosário disse...

Não há anistia, há um acordo para que os produtores possam se inscrever num programa de regularização ambiental e fazerem o reflorestamento. Não adianta nada cobrar multa de 3 milhões de proprietários rurais, que desmataram muitas vezes por ignorância da lei ou necessidade, eles não vão pagar e não vão reflorestar. Não é solução.

Não há diminuição da margem de rios. Continua a mesma. A redução para 15 metros é só para quem já está instalado, e mesmo assim há várias restrições e cuidados.

Existem milhões de hectares improdutivos, mas os produtores estão instalados em suas cidades e em suas áreas. Não dá para tirar o cara do sul de Minas e levá-lo para o Tocantins.

Fernando Trindade disse...

Parabéns ao Miguel do Rosário pelo seu artigo. Talvez a melhor analise de conjuntura das que tenho lido.

Dilma não é Lula. Dilma não tem condições de encarar os donos do poder e a classe média tradicional com o grau de 'stress' com que Lula enfrentou.
Por isso não é possível um Governo Dilma viável mantendo a política externa exatamente como a de Lula, nem enfrentando o PIG como Lula enfrentou.
Dilma precisa de interlocutores com os donos do poder. Palloci cumpre esta função.
A esquerda precisa entender isso. Não se iludam quanto à força política e ideológica das elites deste País.
Repito: Dilma não é Lula, nem que ela queira pode repetir Lula.
Um possível rompimento da 'esquerda independente' com o governo Dilma só aproveitará a direita. Ninguém se iluda.

PASSEANDO disse...

Sem esquecer que a classe média é extremamemte careta e hipócrita, e age guiada por essa "moral de jegue". Também, como vc citou tinham que rever os acordos feitos pelos milicos com os desmatadores que ficaram hoje na ilegalidade.

Anônimo disse...

Miguel, voce vem sendo uma voz sensata na chamada blogosfera progressista. Também tenho achado incrível a afobação e a histeria de alguns blogueiros. Com o devido respeito, eles não fazem idéia do que seja dirigir um Governo no dia-a-dia, com todas as múltiplas realidades, limitações, e necessidades de redefinir táticas de relacionamento político com os demais poderes da democracia, a ele associadas. Ser governo coloca contradições sim, inclusive as decorrentes de indefinições das atribuições constitucionais do Governo e do Partido majoritário da coalisão governista. É fundamental saber reconhecer os limites de atuação de cada um.
Parabéns de novo pelo texto.
Cláudio Freire

Anônimo disse...

Parabéns, vc escreve com muita lucidez e talento.

xacal disse...

Miguel,

Seu texto toca em pontos importantes, e que estão além da questão ambiental, embora ela seja o painel de apoio...

A visão tática e estratégica da ação política petista, nossa visão de Democracia e idéia de pluralidade, etc, etc...

Há um pormenor que gostaria de ressaltar...

Veja que em vários debates que participo, a esquerda (principalmente a classe média "de raiz"), patrocina teses anti-criminalizadoras em várias instâncias, o que em regra, a meu ver, é um bom princípio...

Quando falamos em descriminalização do aborto, do uso e da venda de drogas, não pensamos em "premiar" quem já delinqüiu, muito ao contrário: Desejamos reconhecer que o modelo repressivo foi ineficaz, e que outras formas de controle devem ser encaradas...

Ou seja, a formalização de procedimentos já instalados, e cuja a ação persecutória do Estado não impediu (e em alguns casos, como no campo, até tolerou/incentivou) traz práticas ilegais para o controle do Estado, ou seja, como está, a ação não tem qualquer controle...

O problema, como você notou, é que a disputa está impregnada de outros cortes ideológicos, que movimentam interesses escondidos na guerra de posições...

Por mais que eu odeie a violência no campo, a exclusão marginalizadora promovida pela concentração de terras, e outras seqüelas de nosso processo de formação da atividade econômica rural, pelos séculos e séculos, desde as capitanias hereditárias, não podemos deixar de reconhecer que os ruralistas existem, têm demandas, são uma classe heterogênea, e que elegem seus representantes, da mesma forma como fazemos com os nossos...

Por outro lado, é bom lembrar que a simples normatização em si, não garante que direitos sejam tutelados (basta ler o ECA e ver a distância entre previsão legal e realidade, por exemplo)...

Não adianta se iludir em aprovar leis cujo consenso é imposto ou que represente apenas uma parte dos interesses, por mais justos que pareçam...A sua correta e fiel aplicação e cumprimento é um amplo debate e mudança de hábitos...É claro que a lei é um sinal importante, mas não é o único...

Eu nem vou mencionar a ingenuidade em se aliar a grupos externos de defesa do ambiente...engraçado que em seus países seu capital de mobilização é nulo...será por que...?

Um abraço...

André de Oliveira disse...

Parabéns pela lucidez do texto.

Um abraço

wilson cunha junior disse...

. "Não adianta distribuir link de fulano como se isso fosse uma prova de que tem razão. "

Vou contrariá-lo e passar seu texto adiante. Embora chateado em ver conservadores pautando o governo Dilma não há como deixar de reconhecer sentido em muitas de suas palavras.

Anônimo disse...

Miguel
Instigado por este post, fui ver o que a Contag acha. Ela é crítica ao novo código florestal. Pincei um trecho:

"... o conceito da Agricultura Familiar como parâmetros para estabelecer diferenciação entre agricultura familiar e patronal foi desconsiderado. O relator cedeu às pressões da Bancada Ruralista e estendeu os possíveis benefícios para os grandes produtores, ferindo frontalmente, o princípio da diferenciação proposto pela CONTAG. Rejeita a utilização da nossa proposta e da agricultura familiar para beneficiar a agricultura patronal e o latifúndio."

http://www.contag.org.br/

Wagner disse...

Texto muito lúcido, o melhor que li até agora! O que falta nessa moçada é sangue frio! Parabéns!

Elton disse...

Uma coisa que eu não entendo é por que a pequena propriedade dita de Agricultura Familiar deveria ser beneficiada e a pequena propriedade em geral não? Qual a lógica de quem diz isso?

Marcelo Cougo disse...

Depois do adoradores do Green Peace e FANÁTICOS pelos MST,ler que a plantação extensiva de soja transgênica é um fato concreto, como se fosse um divino decreto me deixou com a impressão de que o titular do blog faz muitos malabarismos pra defender seu ponto de vista. Isso tudo depois de defender Palloci e Ana de Holanda, chamando àqueles que fazem críticas pesadas ao que vem acontecendo de lacerdistas vermelhos. Sempre gostei muito do seu blog, de suas opiniões. Agora vou me esforçar pra te ver como um opiniante contraditório ao que penso, não mais alguém que dava voz a muitas de minhas opiniões. Sem problemas. As pessoas mudam,algumas bastante em pouco tempo, ou não estava entendendo antes?
Um abraço

Miguel do Rosário disse...

anonimo, é o que eu disse, a contag é crítica porque nem todas as suas reinvindicações sobre agricultura familiar foram incluídas no texto final, mas ela lutou para que o código fosse votado e aprovado. ela continuará crítica, evidentemente, porque tem que pressionar por mais mudanças no Código, mas apoiando o código de maneira geral.

Miguel do Rosário disse...

Marcelo, eu não defendi soja transgênica. Eu falei em plantação de soja, ponto. É um fato concreto. A segurança alimentar do Brasil e do mundo hoje depende da soja produzida no Brasil. Não tenho culpa disso.

Quanto aos fanáticos pelo MST, repare que eu disse fanáticos, e não os simpatizantes. Tem gente que nem sabe o que é um pedaço de terra, não sabe nada de agricultura, mas apóia qualquer coisa que o MST faz, sem crítica. Eu me identifico muito mais com as posições da Contag, que defende os pequenos agricultores e trabalhadores rurais. Mas sei da importância do MST na história da luta pela reforma agrária no Brasil e já escrevi muita coisa em defesa deles. Não concordo com essa visão anti-agronegócio, o que eu acho uma violência contra a economia rural. Os produtores rurais, mesmo os pequenos, tornaram inimigos do MST, o que não é saudável. Tinhamos que ter um movimento de reforma agrária que soubesse aliar-se à agricultura familiar e comercial.

Miguel do Rosário disse...

Outra coisa, Marcelo. Onde eu defendi a Ana de Hollanda? Apenas mencionei o fato positivo sobre a nomeação do Wanderley Guilherme dos Santos! Que coisa!

jose marcos disse...

Acho que estou no blog errado, pois nem a Dilma concorda com os seguintes pontos aprovados na camara:
1-Delegação de poderes ambientais adicionais aos estados (vai ser uma festa, quem libera mais)
2-Anistia para desmatamento ilegal até julho de 2008
3-Permissão para cana-de-açucar em encostas e gado em topo de morro (as chuvas vão fazer festa)
4-Redução de 80% para 50% da reserva legal na amazonia em casos de regularização (a fiscalização vai ser muito eficiente)
5-Fim da proibição de crédito a desmatadores e sanções para embargos (o crime compensa)
6-Fim da distinção entre produtores empresariais e familiares (o crédito barato vai ser usado pelos tubarões pago pelo povo)
7-Fim da obrigação de recomposição integral de areas desmatadas

É Miguel estou achando que a turma da UDR (são uns santos!!! nunca mataram ninguem) esta lhe seguindo neste blog. Mais ja que voce acha que esta bom, então tá!!!!

Miguel do Rosário disse...

josé marcos, as suas informações estão equivocadas. já havia anistia, assinada por lula. houve uma legalização do processo, em troca de inscrição do produtor num programa de regulamentação ambiental, o que é uma solução muito mais viável do que simplesmente multar milhões de produtores, grande maioria dos quais não terão condições de pagar.

claro que continua havendo distinção entre produtores empresariais e familiares! o pronaf acabou? não, aumentou.

sobre recomposição de áreas desmatadas, haverá estímulo e crédito do governo para tal. não adianta decretar lei, porque não dá certo.

sobre minha posição, se estou maluco, então 410 parlamentares, incluindo todos os partidos da esquerda que estudaram o código muito mais que eu, também estão.

jose marcos disse...

Miguel, estou falando da emenda do PMDB que foi aprovada por 278 parlamentares e 178 rejeitaram inclusive todo o PT rejeitou e a Dilma disse que vai vetar é desta parte que estou falando, pois esta emenda modifica toda a essencia do texto.Se voce é a favor desta emenda então voce discorda do Governo.

Miguel do Rosário disse...

josé, estou falando do código florestal. a emenda é outra coisa. não tenho problema nenhum em discordar do governo.

essa emenda será corrigida no senado.

e a dilma sempre pode vetar o que achar necessário.

L-A. Pandini disse...

Miguel, concordo com a maior parte do que você escreveu. Mas entro na caixa para dar uma informação que eu nunca li em lugar nenhum. Fala-se muito do "excesso de importação de produtos chineses". Pois recentemente o sr. Sérgio Habib, presidente da importadora dos automóveis chineses JAC, afirmou que somente três países no mundo possuem superávit comercial com a China. Dois são africanos (ele não lembrou quais) e o outro... é o Brasil.

Como sei que você se interessa por esses temas, achei interessante te passar. Não sei se você já tinha alguma informação a respeito, mas pode ser um bom tema para suas pesquisas futuras.

Abraços! (Luiz Alberto Pandini)

Anônimo disse...

Excelente!
Parabéns.

Mayrpedrao disse...

Crenças a parte, texto muito bom. Fez me lembrar da historia da galinha e do porco.
Em um prato de ovos com bacon a galinha esta envolvida na receita, por fornecer o ovo, já o porco está comprometido. Alguns blogs que visito dividem muito as pessoas em petistas e outros em demo-tucanos. Não acredito nesta formação de mundo, penso que há outros pensamentos que confluem em determinado momento e a divergência é ótima, só com opiniões contrarias poderemos evoluir. Não concordo com alguns apontamentos deste texto, mas no todo compreendo(do meu jeito) que estamos todos no mesmo barco, dependentes uns dos outros. A legitimidade democrática é isso que você apontou, quando fala sobre representação política, se dei meu voto a determinado político estou representado.

Gostei do texto
Abraço

miack disse...

Muito bom, Miguel!
Já visitou o blog da Dilma? Acho que aos poucos ela vai entrar nesta mídia.
http://www.dilma.com.br/site/archives/1826

Comando de Greve - campus Cabo Frio disse...

Prezado Miguel,

Finalmente um texto lúcido!! Tenho me decepcionado um pouco com a blogosfera ultimamente. Estou ficando preocupada de trilharem o mesmo caminho das mídias tradicionais: "atira primeiro e pergunta depois."

Márcia Regina disse...

Miguel,
Por indicação do Rodrigo Vianna, li seu artigo na íntegra e gostei do "conjunto da obra". É uma boa reflexão, e nada mais saudável para um bom debate do que o contraponto lúcido, sereno, menos sentimental, como você fez. Embora tenha algumas resevas com pontos que você tocou, vou refletir e, independente de minha opinião, vou repassar seu artigo.Ontem mesmo, caminhando pela rua aqui no Rio, ouvi a conversa de um vendedor de pipoca com um transeunte e fiquei preocupada, porque o papo começou asim: "rapaz, essa mulher, essa Dilma não está fazendo nada!" Lamentei não ter parado para ouvir a argumentação e até pedir licença para entrar na conversa, mas de qualquer forma, me pareceu que o estrago da grande mídia e de alguns esquerdistas via redes sociais está fazendo significativos efeitos, e nós corremos o risco de pagar muito caro por isso. O caso Palocci é emblemático, e eu concordo plenamente com você, no sentido de que isso não foi decisivo na votação do Código Florestal, nem no recuo da campanha contra a homofobia (recuso-me a usar o termo "kit-gay", simplesmente porque não se trata disso). Por mais que eu discorde e tenha sérias reservas em relação às famigeradas bancadas evangélica e ruralista, elas estão lá, foram eleitas (manipuladamente, ou não) pelo povo brasileiro, e aí entra, a meu ver, questões decisivas que envolvem uma verdadeira reforma política (financiamento público e exercício da democracia direta - plebiscitos e referendos) e a necessária democratização das comunicações (não é aceitável num estado laico, concessões públicas de rádio e TV fazerem o que bem entendem em prol de seus intereses, com canais televisivos e de rádio veiculando dogmas religiosos incisivamente, e só de algumas religiões, diga-se de passagem, interferindo em matérias de saúde, de direitos humanos e atropelando o papel do Estado, em questões de competência exclusiva do governo eleito pelo povo. Essas, sim, são as grandes discussões necessárias e que podem politizar a sociedade para uma verdadeira democracia. Parabéns pelo artigo!

MA_Jorge disse...

A melhor leitura em duas semanas de posts e artigos; espero que até a presidenta Dilma tenha a oportunidade de fazê-la.

E não se enganem os amigos do espaço, este país é e será cada vez mais, reflexo dos resultados de nossa agricultura, não desta agricultura dos berros dos verdinhos vendidos que insistem em dizer e alardear ser ela prejudicial ao meio ambiente.

Os problemas ambientais do agronegócio não são maiores do que os esgotos lançados em nossos rios e águas e a poluição e lixo lançados em nossas cidades, estas sim que podem comprometer um de nossos maiores ativos, a água que se transformará em alimentos para nós e para a exportação. A tão propalada guerra futura pela água não se dará pela disputa do recurso na forma de uso básica para a civilização, mas como aquela que permitirá a produção de alimentos; para beber, basta processar a água do mar, processos não faltam.

walter araujo disse...

Miguel, Parabéns pelo artigo.
Lúcido e confiável.

Anônimo disse...

Com o "escândalo' Palocci dá pra perceber que quando Dilma foi a Folha o que estava em jogo era nada mais nada menos do que uma transferência de poder, de liderança, Dilma não percebeu a cilada.
Agora se ela(Dilma) demitir Palocci a liderança estará sendo entregue de vez, ai não tem mais volta, como disse Lula, a governança estará comprometida, o governo vai se arrastar por 4 anos, a não ser que Dilma ceda a cadeira para o Otavinho Frias, leia-se Cerra

spin

www.josecarloslima.blogspot.com

Moyses Nunes disse...

Caro, gostaria de agradece-lo profundamente pelos ensinamentos e reflexões que seus textos e análises nos trazem. Apolítico, bom censo, perspicaz...

Parabéns!

Adrianna disse...

Desculpa você está equivocado, não fala abertamente em desmatamento, mais há brechas para isso. O que você me diz da Medida Provisória 517, que prevê incentivos fiscais para a construção de usinas nucleares. Por que não faz um texto falando sobre isso!! E foi um desrespeito vaiaram o casal de extrativistas que morreu, no dia da votação, não há justificativa para isso. Eles eram defensores das florestas e não dos madeireiros (que derrubavam ilegalmente a mata), eles tinham que ser lembrados sim, pela luta, e pela sua exposição de anos (só por que eram pobres, não podiam ser citados).

Miguel do Rosário disse...

Adrianna, sobre essa medida provisória 517, sobre usinas nuclares, não sei nada ainda, é outro assunto. mas não sou contra usinas nucleares.

quanto à vaia, não foi uma vaia ao casal de assassinados. os deputados não são loucos tarados psicopatas para vaiar vítima de homicídio.

a vaia foi para o chico alencar, ao tentar fazer chantagem emocional, e usar partidariamente uma tragédia.

Miguel do Rosário disse...

spin, não entendi essa teoria da "transferência e poder", tampouco de que "cilada" você se refere.

Abs

Flávio Loureiro, disse...

O problema Miguel é que o governo tem uma base de apoio muito ampla do ponto de vista numérico e partidário, mas uma base que não necessariamente se identifica com o núcleo de formulação programática do governo,e nem com valores democráticos, socialistas e libertários, que constituiram a formação do principal partido daquela base, o PT. Logo, qualquer movimento e avanço e ruptura com nichos de conservadorismo, encontra resitência nesta mesma base. Como avançar e fugir da mesmice? Seja lá as razões, a decisão de Dilma repercutiu muito mal entre não só os militantes GLBTT, mas os setores democráticos e libertários que se identificam com a esquerda e o governo.

Outra coisa Miguel, se nem todo ruralista é envolvido com a violência no campo, o discurso das principais lideranças do setor, suas ações e suas principais entidades, desde a UDR, estimulam a violência do campo, pois é um discurso segregacionista em relação aos trabalhadores do campo e do pequeno agricultor. Não é por acaso que as piores condições de trabalho, o que inclui, inclusive, trabalho escravo, são verificadas no campo. É uma questão histórica, de herança colonial e patrimonialista, que coloca o país em dissonãncia com os chamados países emergentes,e as economias modernas, um lado atrasado do Brasil. Eles só se modernizaram do ponto de vista produtivo e logístico.

jose marcos disse...

Caro Miguel, voce deve lembrar que tenho discordado de suas opiniões no caso do Palocci, mais não sou fechado na questão, tenho lido de tudo a respeito, principalmente no debate que se trava na esfera progressista. Confesso que nunca gostei do Palocci, não o considero insubstituivel e, independente dos aspectos legais, não considero ético, para quem quer que seja,a utilização para fins pessoais de informações obtidas no exercicio de funções públicas. Feita esta necessária ressalva, considero e, neste ponto passo a concordar com voce, que independente de qualquer julgamento pessoal que cada um de nós possa ter a respeito do caso, algo muito maior esta em jogo que é a caminhada que começou com o Governo Lula e que as forças da direita querem impedir que continue com a Dilma.Mesmo com passos pequenos temos que seguir em frente e dar todo o apoio ao Governo.Reconheço que esta briga fratricida em que estava me envolvendo só interessa as elites que comandam este pais, portanto é hora de nos unirmos, pois um novo projeto de nação é que esta em jogo e isto é muito maior do que o que cada um de nós pensa sobre este caso. O que me ajudou a abrir um pouco mais os olhos foi o excelente artigo no blog do Brizola Neto, que peço que leia com atençao antes de me responder. Abraços fraternos
http://www.tijolaco.com/

mineiro disse...

concordo em quase tudo , concordo que eles movimentam a agricultura , mas tem que movimentar mesmo , eles tem terra é para plantar. e tambem eles nao estao fazendo isso de graça nao , eles ganham milhoes. so que a ganancia deles é maior do que os milhoes de hectares que eles tem , eles odeiam a reforma agraria e tudo que nao é do agrado deles. que eles tem que ser valorizado concordo plenamente. existem terras para o plantio e terras para preservaçao , se eles nao destruir a natureza tudo bem , mas o que pega é que eles querem passar o trator em tudo.

Adilson disse...

Caro Miguel,

parabéns pelo texto, ele é muito bom, traz boas informações e suscita o bom debate.

Concordo quando vc diz que devemos nos manter, céticos em relação à qualquer informação veiculada pela grande mídia. Não podemos ser açodados, devemos mesmo ter paciência enxergando a floresta e não a árvore.

Apenas uma ponderação, quando vc diz ressentir- se de um movimento de Reforma agrária mais abrangente, eu acrescento e nesse ponto creio que devemos cobrar do governo uma Reforma Agrária séria e digna para o país. A revisão dos indices de produtividade, ao meu ver urge!

Gostaria de deixar uma sugestão: Seria interessante se hora dessas você pudesse fazer uma reflexão sobre a atuação do PT aqui no Rio de Janeiro. Não sei o que vc acha, mas me incomoda muito ver o partido participando ativamente das remoções lacerdistas promovidas pela cria do César Maia, que atende pelo nome de Eduardo Paes e do ataque frontal a Educação, com esse plano de metas do governo estadual que transformou sala de aulas em linha de montagem.

Eu pelo menos tenho vontade de entender melhor esse momento que, honestamente, me funde a cuca.

grande abraço,

Adilson

Miguel disse...

Parabéns . Falou e disse !

Postar um comentário