17 de maio de 2011
A esquerda e o preconceito contra o empresário rural
Há muitos anos que denuncio o preconceito das esquerdas contra a agricultura. O termo agrobusiness ou agronegócio tornou-se sinônimo de palavrão. Um rapaz deixou comentário num post recente, com a entrevista de Aldo Rebelo para o Paulo Henrique Amorim, xingando o parlamentar de "amigo do agrobusiness". Ora, estritamente falando, toda agricultura é agrobusiness. A divisão entre agricultura familiar ou pequena agricultura e o agrobusiness é arbitrária e falha. Existe, por um lado, uma agricultura de subsistência, hoje totalmente marginal no país, e que não conta. E temos uma grandiosa agricultura familiar, responsável pela maior parte da produção de alimentos para o consumo interno brasileiro, e uma poderosa agricultura voltada para a exportação. Ambas são negócio. Ambas usam ferramentas de trabalho complexas. E se a agricultura familiar é mais atrasada, usa menos máquinas, menos fertilizantes, isso não é uma qualidade sua, é um defeito. Os agricultores mais diligentes, ou mais sortudos, ou mais organizados, tem conseguido obter financiamentos e estão tentando se modernizar. O governo tem muitas linhas de crédito para eles, o difícil é, como sempre, vencer a burocracia e a ignorância das agências rurais.
Entretanto, é preciso entender que o pequeno agricultor ambiciona se tornar médio, e o médio quer se tornar grande. Não podemos folclorizar a agricultura familiar. Não podemos fetichizá-la. É um trabalho insano, que envolve quase sempre a exploração de mão-de-obra infantil, os filhos do proprietário. Em todo Brasil, a renda média da agricultura familiar oscila de 1 a 2 salários mínimos, em média. No nordeste, a renda média é inferior a um salário. O pequeno agricultor só vive bem na Europa porque se beneficia de pesados subsídios do governo. Aqui, não; nem há planos para tê-los, já que a luta do Brasil é justamente para que a Europa acabe com esses subsídios, para que nossos produtos agrícolas possam competir com os de lá em pé de igualdade.
O esforço da sociedade tem de ser no sentido de fazer com que este pequeno produtor ganhe escala, aumente sua produtividade, compre um pouco mais de terra, e possa melhorar o seu poder aquisitivo, de maneira a ter os mesmos direitos de consumo que tem o homem da cidade. Se hoje um garçom na cidade do Rio de Janeiro pode ter um celular, um laptop e uma boa televisão, é justo que o homem do campo, que não tem fim de semana nem férias, também goze das novas tecnologias que o mundo oferece, e não apenas por prazer, mas para ampliar seus conhecimentos e aprimorar a sua atividade.
Há problemas graves na grande agricultura, como o uso indiscriminado de agrotóxicos, mas esse é um problema de governo e do congresso, que não regulamentaram o tema com a severidade que ele merece.
O que eu vejo é uma demonização política e moralista da figura do produtor rural; explicável historicamente, contudo. A evolução econômica do Brasil foi marcada pelo antagonismo de uma classe urbana progressista versus uma classe agrária conservadora. Essa oposição ainda existe, mas grande parte de seus fundamentos ruíram, em virtude do próprio desenvolvimento histórico. Não existe mais escravidão no campo, por exemplo. Há casos isolados, que são combatidos duramente pelo Ministério Público. Há exploração do trabalhador, o que também é combatido, pelos sindicatos de trabalhadores rurais, presentes e atuantes em todas as cidades brasileiras. Hoje em dia é mais raro um fazendeiro contratar um trabalhador sem carteira assinada, em função dos riscos em que ele incorre. Os financiamentos públicos estão cada vez mais republicanos. Antigamente, bastava ser amigo do gerente do Banco do Brasil para obtê-los, hoje são necessários trâmites burocráticos que excluem essas facilidades.
Pense que a pequeno agricultura é tão "business" quanto a grande. Precisa dos mesmos serviços comerciais, dos mesmos insumos, das mesmas máquinas (apenas menores), da mesma infra-estrutura.
A produção de soja também é vítima de preconceito. É demonizada como se fosse algo maligno, e se os fazendeiros fossem pessoas más. Tolice. Um fazendeiro de soja é um capitalista tão bom ou mau quanto um fabricante de sapatos ou o dono de um mercado médio (ou grande, não importa) na periferia de Recife. É lenda também a história de que a soja não gera empregos. A produção mecanizada gera menos empregos na fazenda, mas os gera nas atividades subsidiárias, como nas fábricas que produzem as máquinas, para mencionar apenas um segmento beneficiado pela mecanização. A maioria das máquinas usadas na agricultura brasileira são produzidas no Brasil.
O mais importante a ressaltar, porém, é que a soja não é uma commodity de função meramente especulativa, um produto abstrato cuja venda beneficia somente nababos de Goiás e corretores de São Paulo ou Nova York. Tanto a soja quanto o milho são as principais matérias usadas na fabricação de rações para alimentar bois, porcos e aves. Ou seja, a soja hoje tem importância capital na segurança alimentar do mundo. É contraditório que as mesmas figuras que demonstram indignação ao ver tanta fome na África não compreendam que a soja brasileira evita que o mesmo se passe na China.
Quanto ao uso de soja e milho para produção de etanol, aí é uma imbecilidade criada pelos americanos. No Brasil, usa-se a cana-de-açúcar, que tem muito mais produtividade e cujo preço não afeta tão diretamente o custo dos cereais no mundo. De qualquer forma, o "combustível verde", que parecia uma ideia genial, tanto que Lula passou a fazer propaganda dela em todo planeta, hoje já não empolga tanto. Pode ser uma alternativa, mas sempre será parcial, e deve ser muito bem regulada e controlada, para que não ocupe terras dedicadas ao cultivo de alimentos.
O fato é que o mundo cresceu muito nos últimos anos, e bilhões de seres humanos subiram um pouquinho na escala social, sobretudo nos países emergentes. Lula não foi o único presidente que logrou melhorar a vida dos pobres. Outros também conseguiram, e todas essas pessoas estão querendo comer mais e melhor. A exportação de carne pelo Brasil vem crescendo exponencialmente por causa disso. Em visita a China, a presidente Dilma conseguiu fechar acordos para que o Brasil possa exportar carne suína ao gigante asiático. O chinês come basicamente carne de porco, bastante frango, mas pouquíssimo carne bovina. As perspectivas são muito promissoras.
Em todo esse imbróglio, o Brasil está magnificamente posicionado. Tem tudo para se tornar, de fato, o grande celeiro do mundo. Para tal, precisa ter preocupações rigorosas com o meio ambiente, com suas reservas subterrâneas de água, com seus rios. Não podemos, contudo, alimentar preconceitos contra os empresários rurais. Desde que haja fiscalização ambiental e social eficazes, ou seja, desde que eles paguem salários dignos a seus trabalhadores e cuidem do meio ambiente, devem ser vistos com respeito e admiração pela sociedade brasileira.
Em relação à reforma agrária, ela é um problema social ainda premente no Brasil, mas não é de responsabilidade dos agricultores; a estes cabe produzir, e o estão fazendo muito bem. A produtividade agrícola no país tem crescido a taxas extraordinárias e já está entre as mais altas do mundo, de maneira que a área plantada nacional tem se mantido estável ou mesmo em declínio, embora a quantidade produzida tenha se multiplicado em várias vezes. Com isso, desmata-se menos. Há representantes políticos dos produtores que são reacionários e contra a reforma agrária, mas a esquerda tem parte da culpa porque, ao destilar sua ignorância e preconceito contra os empresários rurais, ajuda os representantes políticos mais conservadores ligados ao agronegócio a se elegerem. Entretanto, mesmo essa acusação não é muito justa, pois é a cidade e sobretudo seus setores médios que tem elegido os representantes mais retrógrados, como Bolsonaro, Indio e Maluf. E o número de representantes eleitos ligados à agricultura familiar tem crescido muito nos últimos anos. Muitos prefeitos hoje tem políticas agrícolas bastante progressistas e atenciosas em relação à pequena propriedade familiar, e temos atualmente um bom número de parlamentares vinculados ao segmento.
Os interesses da pequena agricultura familiar e da grande agricultura comercial, no entanto, não são antagônicos. Ao contrário, coincidem em muitos aspectos. Ambos precisam de boas estradas, de insumos a preços baixos, de uma política inteligente para os preços, de seguro agrícola. Além do mais, o homem da cidade muitas vezes não sabem sequer diferenciar um agricultor familiar de um empresário agrícola. A diferença é profunda entre um capiau analfabeto e um grande empresário rural que mora em São Paulo, mas há agricultores que são donos de razoável extensão de terra e trabalham com grande diligência e esforço junto a seus familiares; é a agricultura familiar E empresarial. Se você pensar bem, todavia, verá que a agricultura familiar tem um quê de autoritário e antidemocrático, ao impor ao filho que siga os passos do pai... Não podemos impor isso à juventude rural. Vivemos um país (em tese, ao menos) livre. Mais uma razão para não fetichizarmos a agricultura familiar. O importante é termos uma agricultura economica, ambiental e socialmente saudável, ponto, independente se é familiar ou não.
Há diferenças ainda entre os diversos produtos agrícolas. A produção da soja em pequena escala é inviável economicamente. Para alterar isso, ou mudamos o regime político do Brasil, instalando gigantes cooperativas soviéticas no campo, ou proibimos a produção de soja. E qualquer queda na produção brasileira de soja, hoje, provocaria uma catástrofe alimentar no planeta. Seja qual for a ideia que tiverem, tenham senso de responsabilidade.
A reforma agrária deve acontecer em harmonia com o desenvolvimento dos fatores econômicos, estruturais e tecnológicos ligados à agricultura. É a velha história: não adianta dar terra lá no interior da Amazônia, onde não há estradas para o sujeito escoar sua produção. Agricultura hoje é um negócio que requer alta especialização e uso de tecnologia específico, mesmo no âmbito da agricultura familiar.
Nos últimos anos, a agricultura familiar no Brasil fortificou-se de maneira impressionante, em virtude de seu esforço para se modernizar e, claro, graças também a programas de financiamento como o Pronaf, que eram pífios antes do governo Lula. Com os preços de produtos agrícolas em alta, não só no Brasil, como no mundo inteiro, a economia rural brasileira vai experimentar um novo ciclo de crescimento e geração de emprego. Pequenos poderão se tornar médios e médios poderão se tornar grandes. Não há nada de mal nisso. É a lei da vida. O agricultor também é filho de Deus e tem tanto direito de querer melhorar de vida como tem o dono de um restaurante no ABC paulista. A esquerda deve usar a luta política para trazer o agricultor para o seu campo, porque ele também é um trabalhador, e precisa de políticas públicas especiais, mais do que qualquer outro empresário, pois pertence a uma atividade primária, que é ao mesmo tempo de importância estratégica e de alto risco, com baixa remuneração; e não afastá-lo, satanizando políticos como Aldo Rebelo, como sendo "amigo do agronegócio". Aldo viajou o Brasil todo, conversando com pequenos produtores em toda parte. É amigo do agronegócio sim, porque o agronegócio não é nenhuma atividade do mal, da qual devemos ser inimigos. A comida na sua mesa vem do agrobusiness, porque mesmo que tenha sido um pequeno que a tenha produzido, e nem sempre o é, isso também foi um "business". Toda carne que você ingere vem de frangos, bois ou porcos alimentados pelo milho e soja do agronegócio...
Então vamos tentar olhar para a classe rural com mais compreensão, e nos esforçamos para tirá-la das garras da direita partidária. A segurança alimentar do mundo está em risco e o Brasil é um dos raros países que pode ampliar substancialmente a oferta agrícola no médio prazo. O governo e a sociedade, portanto, devem ampliar o apoio que dão à agricultura, e tentar trazer ainda mais gente para o campo, através de reforma agrária que aumente o acesso à terra. Nosso inimigo é o capital especulativo, não o fazendeiro diligente, seja pequeno ou grande, que alimenta o Brasil e o mundo.
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Pra que ser assinante de Globos e Folhas se nós temos o Miguel?
Quer dizer então que nós da esquerda temos é de assistir a tudo sem querer "meter o bedelho" na "livre iniciativa"..........apenas denunciar o que como você afirma é "um caso aqui outro ali" de exploração do trabalhador no campo. Primeiro foi o PHA (conversaafiada) e agora o "óleo do diabo". A blogosfera está mudando, pra pior!!!
Claro que pode meter o bedelho, Geo! Mas sem preconceito e sabendo do que está falando. E mete o bedelho no agronegócio da mesma forma que mete na indústria de sabonete ou na loja que vende computadores na Avenida Rio Branco. Aliás, o que significa "meter o bedelho" neste caso?
E sem essa de que a "blogosfera" está mudando! Clique na Tag agricultura e verá que tenho essa opinião há muito tempo. Trabalhei quase 20 anos com o agronegócio café, e vi a labuta dos pequenos, médios e grandes produtores. Todo mundo tem que botar a mão na massa, senão roda bonito. Só o fato do cara investir em agricultura, podendo investir em títulos públicos, que é muito mais seguro e rende mais, já mostra que é um empresário diferente.
Meu Deus! Este seu texto é um assombro. Que esforço em querer equiparar a agricultura familiar e os latifúndios dos desertos verde. Aliás, os familiares, segundo vc, são piores já que forçam seus filhos a trabalhar no campo. "Deixemos os grandes em paz, pois é o ciclo da vida, o pequeno quer ser médio e o médio quer ser grande". Isto vai no mesmo sentido da justificativa capitalista primária, de que ele está na natureza humana.
Hudson de Souza
Latifúndio do deserto verde? Você se refere às plantações de grãos que alimentam o mundo? Se houver queda na produção destas, será uma catástrofe para a segurança alimentar mundial. A agricultura é uma atividade primária básica, de baixa remuneração. Um grande agricultor nunca será tão rico quanto um grande industrial, um grande empreiteiro, um grande banqueiro. É contraditório o governo dar financiamentos para o pequeno, dar máquinas, dar assistência técnica, aí ele cresce, se torna grande, e a sociedade passa a vê-lo com maus olhos. Qual o sentido disso?
Quanto a justificativa capitalista primária e natureza humana, sugiro que você releia O Capital de Marx, que é o que eu fiz para escrever esse post.
O desenvolvimento do capitalismo, segundo Marx, é natural sim. Ocorre que, segundo ele, na própria evolução do capitalismo, chegaremos um dia ao socialismo, através do acirramento das contradições inerentes.
No caso da grande agricultura, diríamos que haverá um momento em que as empresas serão abertas para que seus funcionários possuam participação nos lucros, até o ponto em que sejam maioria dos conselhos diretores. Isso é o socialismo que eu posso enxergar no futuro do agronegócio e do capitalismo de maneira geral.
O que não dá é ficarmos fetichizando os pequenos, cujos filhos querem estudar em faculdades da cidade, e fazendo de tudo para que eles continuem para sempre pequenos, e miseráveis...
PHA abraçou os ruralistas com muita libido. Defender a agricultura familiar é louvavel, desde que seja dentro da lei e da sustentabilidade. Pq se for do contrário, os injustiçados do texto (de agora), vao virar os culpados la na frente.
Adorei!
Pois é, Katia. Se você apoiar o monopólio do sistema bancário pelo Estado, eu voto em você. Os agricultores agradecem.
Caro Miguel,
Parabéns pelo artigo!! como sempre, muito lógico, sensato e prudente. O debate do código florestal está repleto de desinformação (sobre o texto) e suscetível a interferencia de "organismos" que não querem o desenvolvimento nacional.
Eu acho que, para além da sua lógica de entender o papel agriculura, seja a grande,a média ou a pequena, como produção de alimentos e meio de alimentar as pessoas, devemos também entende-lá como ítem da soberania e do projeto nacional de desenvolvimento. Algo em torno de 70% do alimento que o Brasil consome, vem do pequeno e médio agricultor, que como voce disse bem, está estrangulado e precisando de apoio.
recomendo o artigo: http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=154362&id_secao=1
abs
Digão
Oi Digão, bem lembrado. É isso mesmo. Dentro da evolução do capitalismo atual, com a divisão internacional do trabalho, várias indústrias "básicas" hoje tem uma complexidade e valor agregado que supera em muito a de muitos manufaturados. O que é mais complexo, produzir carne congelada, da melhor qualidade, como o Brasil faz, ou vender brinquedihos de plásticos de cinquenta centavos?
Além do mais, eu vejo as pessoas (infelizmente do campo da esquerda, por desinformação) tratando o agronegócio com uma condescendência incrível, quando não é um desprezo puro. Tipo: não, não acho que o agronegócio é a fonte de todos os males... Ora, isso é condenscendência! E se diz isso enquanto se saboreia um bife! Num país com a disponibilidade de terra do Brasil (sem precisar desmatar floresta!), as nossas possibilidades de desenvolvimento econômico estão amarradas ao agronegócio! E nem é uma questão apenas econômica, mas também humanitária, já que o mundo não tem mais onde buscar comida. Então uns tem um discurso pseudo-soberano, contra o agronegócio, como se fosse muito humanista a gente matar 2 bilhões de asiáticos de fome... Outros um discurso anti-soberano, ao não entender que o agronegócio, no mundo de hoje, não é mais uma atividade tão primária quanto antigamente, em função das altas tecnologias necessárias para a produção agrícola. Tecnologias que são usadas inclusive pelos pequenos, não se esqueça! O uso do derriçador mecãnico, espécie de mão-mecânica, tem ajudado milhões de pequenos produtores a fazerem seu trabalho. A pequena agricultura é tão negócio quanto à grande, é só uma questão de escala. E não acho humanista a gente condenar o pequeno a ser pequeno a vida inteira, sabendo quão medíocre é a renda do pequeno (1 a 2 salários mínimos em média no país; menos de 1 mínimo no nordeste). Temos que estimular o surgimento de uma classe média rural, que possa dar educação e lazer a seus filhos com a mesma qualidade que a classe média urbana dá a seus filhos. E em função da realidade econômica concreta da agricultura, para ser classe média no campo, é preciso possuir uma extensão X de terra. E se permitirmos (digo, se aceitarmos e estimularmos) a existência de uma classe média no campo, teremos que aceitar também que alguns desses, mais industriosos, se tornem grandes. Podemos, aí sim, ou melhor devemos, impor limites ao latifúndio. Mas o cidadão da cidade não tem a mínima idéia da diferença entre um grande produtor e um latifundiário. Um latifundiário no Brasil chega a ter 400 mil hectares de terra. Um grande produtor basta possuir de 4 a 20 mil hectares (coisa pra cacete). Claro que os dois podem se confundir, mas não é o caso da maioria. E há diferenças profundas regionais. 2 mil hectares no Rio de Janeiro é coisa pra cacete, já no Pará não é nada. Em suma, a gente tem que dar condições econômicas e políticas para o pequeno produtor se consolidar e ter uma vida melhor, com perspectivas de se tornar médio. E temos que ajudar também o médio (que é na verdade o segmento que enfrenta maior dificuldade, porque é considerado "grande" e deixa de ter apoio na sociedade), e aceitar o grande como necessário para a produção de itens para exportação. Há espaço para todos, em função do gigantismo continental do Brasil. Um abraço!
A agricultura é a unica atividade imprescindível para a perpetuação da espécie humana. Os agricultores tem mais que ser remunerados de forma diferenciada por seu trabalho e prosperar.
Já percebi também a desorganização do trabalho no campo: a subsistência precária, os riscos, a falta de eficiência na produção, a remarcação sucessiva dos preços dos alimentos até chegar às capitais... Em suma, é dever do governo apoiar a agricultura e incentivar os camponeses a se organizarem em cooperativas, sindicatos...
Agora, a terra tem função social e a preservação da natureza faz parte dos deveres do agricultor. Assim como a reforma agrária, que tem a função de assegurar a produção, impedindo a especulação no preço dos alimentos nas bolsas de futuros, pela desconcentração da posse da terra. Os agricultores tem que ter sua atividade regulada por leis que preservam essas duas demandas, principalmente.
Tenho tentado acompanhar a proposta de reforma do código florestal. Acho que a iniciativa é necessária pro Brasil nesse momento, como mais um passo para regulamentação da atividade rural. Ela tem pontos inteligentes, como a possibilidade de formação de condomínios no mesmo bioma para a formação da reserva legal comum. Outros pontos que considero ser uma capitulação necessária para o momento em que vivemos, como a permissão de reflorestar com espécies não nativas. Agora, a flexibilização para usar topo de morro para atividade agrária, e a redução do tamanho da mata ciliar obrigatória na beira dos rios é uma proposta desnecessária, grotesca e que terá custos elevados pras futuras gerações.
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