(clique na tabela para ver a coluna de variação sobre o ano anterior).
Taí uma tabela que muitos leitores gostam de ver. Esse tipo de informação é difícil de achar. É a relação dos principais produtos brasileiros exportados nos últimos 12 meses, até abril, e a comparação com o mesmo período do ano anterior. Observe que, de fato, o Brasil exporta apenas matéria-prima. A única exceção é o setor de autopeças, embora na verdade o país também seja deficitário nesse segmento. Quer dizer, o Brasil exporta muito autopeças, mas importa ainda mais. (PS: exportamos aviões também, 3 bilhões de dólares em 12 meses).
Se alguém quiser um consolo, pode ler Adam Smith. O velho economista do século XVIII afirmava que a riqueza de uma nação sempre começa por sua agricultura, apesar dele ressaltar que algumas das economias européias não tenham passado por esse processo em virtude do surgimento meio brusco do mercantilismo.
Pelo curso natural das coisas, portanto, a maior parte do capital de toda sociedade em crescimento é primeiramente canalizada para a agricultura, em segundo lugar para as manufaturas, e só em último lugar para o comércio exterior. Essa ordem de prioridade é tão natural que, segundo creio, sempre foi observada, até certo ponto, em todo país que disponha de algum território. Adam Smith, A Riqueza das Nações, Livro III, capítulo 1.
Eu poderia acrescentar, ainda à guisa de consolo moral, que o Brasil tem uma boa base industrial voltada para o consumo doméstico. O que tem lhe faltado é uma base industrial de exportação. Mas é assim mesmo que tem de ser: em primeiro lugar, abastecemos nossas necessidades, consolidamos uma boa infra-estrutura industrial voltada para dentro; depois investe-se para produzir excedente e exportá-lo.
No caso da agricultura, também não podemos nos deixar enganar pela simplificação dos termos. Trata-se de matéria-prima, mas não como era há cinquenta anos. Os preparos para deixar os produtos básicos prontos para exportação têm hoje uma complexidade tal que, em vários casos, é injusto chamá-los simplesmente de "básicos". A exportação de carnes é um bom exemplo. A carne é cortada, tratada, congelada, ensacada, passando portanto por um processo de semi-industrialização. Resultado: O Brasil vende sua carne a preços altos. Não custa tão caro quanto um relógio de ouro suíço, mas o suficiente para bancar uma indústria sofisticada e ainda em crescimento.
E isso sem contar o trabalho anterior da carne: cuidados com a reprodução, tratamento veterinário, alimentação especial, instalações modernas. Uma indústria agropecuária certamente é bem mais sofisticada do que uma fábrica de chinelos havaiana ou de guarda-chuvas. No entanto, a exportação é contada como "produto básico", enquanto as havaianas são classificadas como "produto industrializado".
O caso do minério de ferro, que era o mais triste, pois o Brasil durante décadas vendeu o produto a quinze dólares a tonelada, hoje tem uma situação melhor: o ferro é vendido por 100 dólares a tonelada. Ainda é pouco, mas muito melhor que antes.
Na verdade, todos os produtos básicos vendidos pelo Brasil estão, no momento, com preços históricos nas alturas, e como a causa desta vez não é apenas especulação nas bolsas mas uma demanda mundial muito elevada e em crescimento, não há perspectiva deles caírem substancialmente no curto e médio prazo. Com isso, delineia-se, para o Brasil, um longo período de prosperidade econômica, que devemos aproveitar justamente para ampliar nossa base industrial, investir em educação, e consolidar o nosso tão sonhado Estado de bem estar social.
É certo que os produtos oriundos da mineração, agricultura e pecuária agregaram valor em relação a (como diz o autor) cinquenta anos atrás. Mas isso tem um limite. Já em relação às exportações de industrializados temos não só de consolidar uma base exportadora e inovar em tecnologia constantemente, o que sinceramente será uma longa e árdua batalha. É necessário, todavia prosseguir. Nunca concordei com a evidente "puxa-sardinha pra minha brasa" afirmação de que "O Brasil tem vocação agrícola" como se isso excluísse outros potenciais. Não é à tôa que tal afirmação é conhecida desde a época imperial, quando estávamos à mercê dos fazendeiros de café.
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