28 de maio de 2011

Esclarecimentos sobre minha ideologia

(Van Gogh, o mestre)


Nos últimos tempos, tenho sido bastante polêmico, divergindo bastante de muita gente, amigos, de outros blogueiros progressistas, em diversos temas. Como é de praxe na política, as pessoas acabam levando isso para o lado pessoal. Uma vez um comentarista me acusou de fazer polêmica apenas para chamar a atenção. Agora um outro disse estar surpreso pelo meu blog ainda estar linkado aos blogs "de esquerda". Preciso esclarecer algumas coisas.

Não faço polêmica pela polêmica. O que eu afirmo aqui é porque eu acredito. Contudo eu gosto de polêmica. Não tenho medo de ter uma opinião diferente, que contrarie a maioria, ou pelo menos um grupo que se considere (mesmo que não seja) a maioria. O que eu vejo, sempre, são as pessoas tentando ganhar no grito. Não constituem a maioria, mas são os mais barulhentos, e que usam determinada circunstância política para falarem mais alto. Assim que as circunstâncias mudam, são forçados a baixar o volume da voz, e aí vemos outros comentaristas emergirem.

Acredito na social-democracia, ou pelo menos no que isso significava antes do PSDB difamar a expressão. Ou seja, um regime democrático deve ter saúde e educação públicas gratuitas e universais, ponto.

De resto, minha única posição mais radical à esquerda refere-se ao sistema bancário: acho que os bancos privados são uma reminiscência medieval. Se a moeda é única e estatal, o crédito também deveria sê-lo. Os Estados deveriam ter apenas um banco público e estatal. Com isso, evitaríamos esse absurdo que é termos uma crise bancária a cada dez anos, forçando os governos a se endividarem para salvar o mundo de uma bancarrota.

Gosto muito da ideia de autarquias públicas, independentes do governo. Tipo assim, um Instituto Nacional de Educação, onde os diretores das filiais nos estados seriam eleitos pelos próprios professores, com participação da sociedade como um tudo. Eu vi isso funcionar muito bem na Colômbia, com a Federación Nacional de Cafeicultores.

Tenho, porém, opiniões muito próprias e até, diríamos, originais sobre o que seria o socialismo, o capitalismo, direita ou esquerda. Já escrevi muito sobre isso ao longo dos últimos oito anos.

Por exemplo, não acho que o capitalismo exista. Para mim existe um problema conceitual que vem confundindo há séculos as lutas trabalhistas. Neste sentido, sou crítico da filosofia marxista. O capitalismo não é uma ideologia. Quer dizer, existe uma ideologia capitalista, mas não se pode confundi-la com o processo histórico-econômico. Ao dizer que o mundo de hoje é o que é em virtude do capitalismo, a esquerda confere ao capitalismo uma força muito maior do que ele tem na verdade. O mundo hoje é simplesmente mundo, sem adjetivos ideológicos. ELe é o que é em virtude do desenvolvimento natural das forças produtivas, do desenvolvimento da vida. Dizer que a nossa civilização é capitalista é como dizer que os macacos e as aves também são capitalistas. O homem é um animal, e como tal se organiza em função de suas possibilidades cognitivas e existenciais.

Da mesma forma, o conceito de esquerda também não existe. Não existe um conceito definido sobre o que é ser de esquerda. A coisa mais palpável são frases do Norberto Nobbio sobre "estar ao lado dos oprimidos", o que é vago demais. Qualquer evangélico conservador ou político populista alega ser de esquerda pelos mesmos motivos. O presidente do DEM ao assumir, recentemente, declarou-se de esquerda. Roberto Freire repetia que o Serra estava muito mais à esquerda que Lula e Dilma. E durante muito tempo Lula repetiu que não se considerava "de esquerda", mas apenas um torneiro-mecânico; mais tarde sofisticou a informação dizendo que era um homem "com tendências socialistas".

No entanto, a gente consegue sempre, no ambiente concreto da luta política, identificar as forças de esquerda ou direita. As diferenças acentuam-se durante um embate eleitoral, mas sempre haverá confusão.

Eu me considero de esquerda, mas isso não quer dizer que eu ache maravilhoso todos os lugares comuns esquerdistas. Ao contrário, um dos focos do meu trabalho é a - digamos - elevação espiritual da esquerda, no sentido de aprimorar seus conceitos, estratégias e objetivos. Isso é uma luta, no seio da qual seus representantes costumam agredir-se mutuamente.

Eu não agrido ninguém, quer dizer, também dou minhas bordoadas aqui e ali, mas quase sempre em legítima defesa, e sobretudo procuro não julgar os outros como se eu fosse dono da razão.

O fato é que ser de esquerda não nos faz inteligentes. Muito pelo contrário, as pessoas ditas de esquerda costumam abraçar-se facilmente a clichês, jargões ideológicos.

Em "A estrutura ausente", de Umberto Eco, há um capítulo que fala sobre "as interações entre retórica e ideologia".

"Mas se retórica e ideologia estão tão intimamente ligadas, poderão os dois movimentos proceder independentemente um do outro?", pergunta-se Eco.

Segundo Eco, a ideologia é "a conotação final da totalidade das conotações do signo ou do contexto dos signos". Ou seja, a ideologia tem uma substância, um conteúdo, mas também possui uma forma. Não se trata, precisamente, de uma definição acerca de ideologia política. É uma ideologia de forma geral. Mas a ideologia política, hoje e sempre, confunde-se com a ideologia comum das pessoas. Com um pouco de sensibilidade e sorte, consegue-se adivinhar a ideologia da pessoa apenas por alguns gestos e frases. Até mesmo expressões faciais nos permitem intuir (às vezes) a que facção ideológica ela pertence.

É justamente isso que às vezes confunde os meus leitores. Eu combato a necrose ideológica decorrente do uso de lugares comuns. Por exemplo, ser de esquerda não é ser contra os Estados Unidos. Acho isso uma tolice. A pessoa está lá, digitando no Twitter, no Blogspot, usando a Internet, e querendo expulsar o Obama do território brasileiro! Além disso, ao apegar-se somente à frase feita, ao lugar comum, a pessoa perde o poder de análise. Nestes imbróglios sobre o oriente médio, por exemplo, culpa-se os EUA por tudo. Certo, os americanos têm culpa no cartório, mas a culpa principal é das próprias elites árabes, que venderam-se facilmente à ideologia americana, de um lado, ou abraçaram com volúpia sistemas de governo ditatoriais.

Aqui nas Américas, a mesma coisa. A culpa da ditadura militar que vivemos não é dos EUA, embora eles tenham ajudado. É nossa, de nossas elites. Durante muito tempo canalizamos mal a nossa revolta. Tínhamos que focá-la nos verdadeiros culpados pelo golpe de Estado: os donos da mídia, as elites econômicas e a classe média moralista e manipulável.

Um dos grandes avanços propriamente ideológicos trazidos por Lula foi justamente o de pararmos de culpar os países ricos por nossa pobreza e passarmos a olhar de frente nossos próprios defeitos, para corrigi-los. Toda a novidade trazida por Lula veio de sua ideologia original, quase anti-esquerdista. Lula quase não usava jargões esquerdistas, e apenas por isso conseguiu conquistar o povão e, mais tarde, todas as classes sociais. O jargão, o lugar comum, o clichê, só fazem sucesso entre um grupo reduzido de militantes.

Eu queria saber tambem qual a explicação, dentro da ciência política, para a emergência dessa ideologia impaciente, radical, irritadiça, sempre que um governo de esquerda ganha uma eleição. Aconteceu no Chile, lembrou-me Wanderley Guilherme dos Santos. Allende foi emparedado pelo radicalismo. Aconteceu na República de Weimar, na Alemanha do entreguerras. Aconteceu no governo de João Goulart. O resultado sempre foi desastroso.

A defesa do meio ambiente é algo fundamental no mundo de hoje, e no Brasil em particular. Mas não é propriamente uma bandeira da esquerda, ainda mais num país que precisa desesperadamente se desenvolver para superar mazelas sociais. É uma bandeira da civilização. Não pensem que eu ponha o meio-ambiente em segundo plano. Evidentemente sou contra o desmatamento, qualquer um, seja de grandes ou pequenos. Não acho, porém, que este será resolvido com aplicação de multas para 3 ou 4 milhões de proprietários rurais, que era o estava em vias de acontecer. Acho a ideia do Aldo Rebelo bastante sensata, que é forçar o produtor, em troca da anistia, a ingressar num programa de regulamentação ambiental. Em vez do governo tomar um calote, e a floresta continuar desmatada, ele ensinará o produtor o que fazer e como fazer. Também não podemos expulsar os pequenos produtores de suas terras por causa de uma legislação draconiana. O resultado seria desastroso: os pequenos não sairiam, haveria um problema social, e não resolveríamos igualmente o impasse ambiental. A solução, mais uma vez, é monitorar, regulamentar, ensinar o produtor a respeitar o meio ambiente.

Tenho esperança que o Congresso Nacional, depois que o Código Florestal for revisado pelo Senado, passar pelos últimos ajustes na Presidência e voltar à Câmara dos Deputados para se tornar lei, será um Código bastante sensato, que contemple as necessidades do agronegócio, do produtor familiar e do meio ambiente. E se não for perfeito, será melhor do que o anterior, e sempre poder-se-á aprimorá-lo ao longo do tempo. Talvez seja ingenuidade, sim, ou talvez seja simplesmente esperança!

Outro ponto que gerou atrito entre este blog e alguns leitores foi um post sobre Bin Laden. Mais uma vez, acho que as pessoas se deixaram levar pelo lugar-comum de culpar os americanos. Bin Laden era o cabeça de uma organização militar não-convencional. Um julgamento justo para Bin Laden apenas seria possível se a Al Qaeda depusesse as armas, como fez o Ira, na Irlanda. Como aconteceu, tratava-se de uma situação de guerra, onde os soldados americanos que invadiram a casa do terrorista enfrentaram risco e portanto podiam perfeitamente alegar legítima defesa. O Chomsky escreveu um texto falando que seria como um outro país invadisse a Casa Branca, assassinasse o presidente e lançasse seu corpo ao mar. Ora, foi exatamente isso que a Al Qaeda tentou fazer. Um dos aviões sequestrados no 11 de setembro (se não me engano), seria jogado contra a Casa Branca. Acho um erro, enfim, que a esquerda assuma a defesa de Bin Laden, porque isso a afasta do bom senso comum e a põe na marginalidade política. Escrevi já milhões de artigos detonando os EUA, detonando a guerra no Iraque e no Afeganistão. Mas entendo que Bin Laden era o inimigo número 1 dos EUA, e que sua morte foi justificada por ser o homem mais perigoso do mundo, um verdadeiro homem-bomba. A violência sempre existirá entre os homens, mas a ideologia democrática define que esta deva ser monopólio dos governos. No futuro, o combate ao terrorismo deve ser tocado apenas pelo exército da ONU, e não de nenhum país em particular.

Por fim, quero deixar claro que não tenho certeza absoluta de nada. Meu ídolo na filosofia é Sócrates e seu jeito irônico, sua dialética e simplicidade. ἓν οἶδα ὅτι οὐδὲν οἶδα. Só sei que nada sei. (Escrevi em grego só para tirar onda, não sei grego. Ainda. Daqui a uns sessenta anos, talvez aprenda. A frase pronuncia-se assim: hen oída hoti oudén oída). Sou apenas um blogueiro diletante e presunçoso, que gosta de dar pitaco sobre tudo. Não me odeiem, por favor. Pra ser franco, eu sofro à beça quando me vejo obrigado a discordar de meus colegas "de esquerda", mas não posso agir de outra maneira. Tenho que dizer o que penso. De qualquer forma, todos nós morreríamos de tédio se houvesse sempre o consenso. E há um ponto bastante positivo em nossas divergências. A gente está começando a esquecer a grande mídia. Nossos debates tem, aos poucos, escapado da simples crítica ao "PIG" e ganhado independência. Em alguns casos, nem damos mais bola ao que diz a imprensa, e fazemos o debate entre a gente, com informações que colhemos diretamente na realidade, através desse maravilhoso "portal" que é a internet.

Juro que estou disposto a mudar de opinião, sempre que me forem apresentados argumentos convincentes. Nem tenho ideia fixa. Também não tenho nenhuma obrigação com o governo Dilma. Às vezes dá vontade até de falar um palavrão, tipo: quero que o governo se... que a Dilma se... Mas isso seria ridículo. Pode parecer piegas e demagógico, e talvez seja mesmo, mas meu único interesse é o bem do povo brasileiro. A gente que gosta de política parece que tem um gene a mais (ou a menos) e sente na carne o que acontece a nosso redor, na sociedade.

Frequentemente falo besteira, sobretudo no Twitter, onde estou exposto aos repuxos do meu sarcasmo, irritação, desejo de ser "engraçadinho", etc. Tanto que às vezes prometo a mim mesmo que não usarei mais o Twitter. Peço que sejam tolerantes comigo nessa rede social, onde geralmente boto meu bom comportamento de lado e ajo como um verdadeiro delinquente. Estou tentando me cuidar, porque o número de seguidores está crescendo e a responsabilidade aumentando, mas nunca deixarei de ser irreverente (ou tentar sê-lo).

E já que abri os portões da pieguice, seguem os primeiros versos de Tabacaria, um poema batido, mas lindíssimo de Fernando Pessoa, que uso à guisa de conclusão e para resumir como eu me sinto:

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

31 comentarios

wilson cunha junior disse...

Bueno Miguelito. Hasta la victoria, siempre!

Anônimo disse...

Miguel:

Contraditório, profundo, incoerente, irracional, analítico, crítico, ingênuo, romântico e ótimo.
Eu adoro.

spin disse...

10

Anônimo disse...

Ter poucos ou mesmo nenhum leitor tem esta lado bom da liberdade, não deixe de ser livre

André

jozahfa disse...

Miguel, camarada, talvez seja mesmo apenas a beleza que vai mudar o mundo, como dizia o príncipe Míchkin. A solidão do criador que a ninguém tem por consultar.
E o que nos resta é saber o melhor possível quem nós somos, evitando o quanto mais os filtros das ideologias.
Γνῶθι σεαυτόν
Evoé!

Arestides Fronza disse...

Miguel parabéns. Ao ler senti minha alma no texto.

Anônimo disse...

Com todo respeito Sr, Miguel do Rosário,mas o sr. é apenas mais um pequeno burguês sofrendo de dor de consciência social,vá dar sopa aos pobres é assuma uma ideologia humanista mais conservadora e saia das fileiras da Esquerda,mesmo sendo centro-esquerda,que gente como o Sr. só atrapalha O PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL.
PAULO.

Miguel do Rosário disse...

Paulo, existem "fileiras da esquerda"? O Roberto Freire está lá também?

Anônimo disse...

Esses caras que pensam que são donos e monopolizam todos pensamento da esquerda.

Oh céus...rsss

Geopolêmica disse...

Prezado Miguel, também gosto de polêmica, mas não "pela" polêmica. Fui eu quem lhe escreveu afirmando estar surpreso com o link a outros blogs de esquerda e concordo que temos de ter opiniões doam a quem doerem. A razão pela qual fiz aquele comentário é que notei SIM uma sequência de comentários de pessoas que também apóiam ao agronegócio. O problema é que ao apoiar esquecemos de suas mazelas e enaltecemos suas benesses. Ao apoiar só mencionamos os problemas "de leve" pois nossa proposta é exatamente fazer com que nossos leitores percebam tudo que o tema discutido traz "de bom" quando os "críticos" prendem-se aos lugares-comuns esquerdistas dos quais você fala neste novo artigo. Sou de esquerda, orgulho-me de sê-lo, não apelo a clichês, frases de efeito, etc. Não defendo os ruralistas pelo simples fato de que conheço-os, sou professor dos filhos deles há mais de duas décadas. Conheço o modo de pensar e agir de muitos deles, não só dos que produzem, mas daqueles que adotam (esses sim) um clichê: "Os fins justificam os meios". Eis tudo e sigamos em frente, cada um a seu modo. E sem "viajar".

Marcelo disse...

Bravo!

Só faço um pedido: tens alguma dica para o estudo de grego? Referências bibliográficas, 'sites' etc.

Miguel do Rosário disse...

Tudo bem, Geo, fiquei meio triste com sua postura de querer me "expulsar", mas tá na conta. Precisava mesmo explicar algumas posições, embora seja difícil explicar sua vida inteira num só post. Eu imagino o quanto deve ser difícil lidar com os "agroboys".



Marcelo, dá uma conferia nos links aí do lado. Sugiro especialmente o Perseus. Tem outros bons também. Clica na tag Grego. Abraço.

Anônimo disse...

Ines Ferreira disse:
Miguel,

Adoro ler seus posts, este então, fiquei emocionada. Concordo com vc em gênero, n° e grau. Fico muito orgulhosa de você viver na mesma cidade que eu. Acho que o lugar em que vc vive, nLapa, colabora com que você pensa. Não há nada mais democrático que lá. A Lapa é feita de um caldo de culturas e etnias que só pode produzir gente boa como você.
Não tem nada haver com o post, mas assistindo um DVD lembrei de você, é uma roda de samba com grupos como o Sururu na Roda, Casuarina e outros mestres do samba de raiz, cantando músicas em homenagem ao Paulo Cesar Pinheiro. Tudo numa simplicidade e ao mesmo tempo numa grandeza, que é um pouco como vejo você.

Miguel do Rosário disse...

Olá Josa, essa é fácil. Conhece-te a ti mesmo! Tenho escrito na parede da minha casa. Abraço!


Oi, Inês, obrigado, realmente moro na Lapa, é lugar incrível, embora sujo pra dedéu rs. Mas tem isso mesmo de democrático, com porteiros às vezes em melhor situação social que os moradores, e gente de todas as classes frequentando os mesmos lugares. Abraço.

MA_Jorge disse...

Gosto muito de ler você Miguel, muito embora não seja tão ativo em comentários.

Como você, muitas vezes vejo-me envolto em discussões, a maioria delas relacionadas com o modo de perceber as posições políticas das pessoas; como você disse, é realmente difícil entender o motor político de certas pessoas e, pior ainda, difícil até dar crédito a alguns que estão nesta ou naquela vertente. Diferente de você que tem um blog, eu gosto muito mais de participar / discutir política em âmbito mais pessoal, cara a cara com as pessoas, seja tomando uma cerveja com amigos ou em uma reunião social ou familiar.

Com o tempo, aprendi que é pouco recomendado acreditar nestas "fotos" lógicas que formamos quando discutindo política com pessoas. Elas não tem valor per si, parte pelo fato da maioria das pessoas apresentarem credos políticos de direita, centro e esquerda de acordo com a percepção do objeto em discussão, seus medos e até mesmo, suas metas de vida. Para os que gostam deste tipo de exercício, se for possível, recomento sim tomarem as ditas "fotos políticas da pessoas" com o passar dos anos e correlacionar suas posições e "discursos" nos seus diversos períodos. Aliás, foi tentando observar os outros que verifiquei eu mesmo estar oferecendo minhas próprias mudanças aos outros; mais do que envelhecer, com o passar dos anos, você acaba por passar às pessoas suas posições não mais por rótulos e sim por ações e aí, então tudo muda e a confiança apolítica se estabelece.

Lógico que poucos terão a percepção, os medos ficam por demais marcados nesta chamada personalidade política de cada um; o importante é nunca deixar de discutir, pela simples razão de que é somente pela discussão que se consegue modificar ou ser modificado pelas visões de outros da sociedade.

Hoje, já com 60 e poucos anos, pude verificar que a falta da discussão política, a falta de politização em geral do povo, fez com que boa parte da sociedade, principalmente as que experimentaram uma razoável ascensão social e financeira, estas apresentam um grau de pedantismo, ostentação e presunção tipicamente relacionada à ausência da discussão. De fato, esta lamentável fuga da realidade social, do modo de perceber a sociedade como um todo, faz com que muitos aceitem de modo gratuito o que os meios de comunicação de massa proporcionam; o que mais me choca é esta falta de humanidade na sociedade brasileira atual que, com desprezo, buscam negar um pouquinho de ascensão também aos mais necessitados, somente pelo fato de defenderem uma vertente política e se identificarem com este ou aquele partido e, mais triste ainda, verificar por exemplos(eu os tenho, eu os conheço) que muitos deles, passaram pelos mesmos problemas.

Continue a nos oferecer suas visões, ambiguidades e dúvidas. Abraços.

Anônimo disse...

Concordo com a sua ideologia. Por favor, só não "meta o pau" no Lula. Ele está acima de toda ideologia.

Geopolêmica disse...

Difícil lidar com os "agroboys"??? É só MENCIONAR a expressão "reforma agrária" em sala de aula, sem que ao menos dê tempo de se pronunciar sobre ela e preparar-se para ter extrema dificuldade em prosseguir a aula. Já tentei ser MODERADO sobre o assunto mas já foram alunos queixar-se ao diretor da escola (particular) sobre o fato de que eu "apoiava sem terras" e era "petista", como se isso significasse ser eu um elemento perigoso. Detalhe: Fui demitido ao final do ano. O diretor não me disse que foi por esse motivo, é claro. Mas os alunos mais politizados me contaram isto há uns dois meses atrás. O dono da escola comunga das posições políticas de Kátia Abreu e Ronaldo Caiado. Embora eu more no interior de Santa Catarina. Não fui radical em momento algum, mas eis o que o radicalismo alheio me custou....

Miguel do Rosário disse...

Oi Geo, eu também conheço bem a truculência desses agroboys. Uma vez em Marília, interior de SP, onde eu e um amigo haviamos ido fazer uma reportagem, à noite, numa boate, meu amigo foi violentamente espancado, teve afundamento do crânio, por um boy desses, que chutou sua cabeça com uma botina depois dele já estar no chão desacordado. Não é mole. Os caras são muito reacionários mesmos, é algo congênito já. Mas é algo que não tem a ver com a atividade agrícola em si, é falta de educação mesmo.

Miguel do Rosário disse...

E sua história aí como professor é chocante.

Geopolêmica disse...

E ocorreu do ano passado para este. e sorte que eu consegui outra grande escola porque meu trabalho foi reconhecido por outras pessoas. Mas só te contei a mais recente, há outras que não caberia aqui relatar, afinal, blog não é consultório sentimental.....kkkkkk.....
No ensino de Geografia não há espaço para reacionarismos, é uma disciplina que SEMPRE traz questionamentos, busca o equilíbrio. Em relação À atividade agrícola, sempre defendi que deve haver espaço para TODOS, grandes, médios e pequenos. Mas assim como nas cidades muitas vezes os pequenos sucumbem aos oligopólios, no campo é a mesma coisa. Com o agravante de que nossa segurança alimentar não está apenas a depender dos plantadores de soja, cana-de-açúcar, algodão e laranja. Os grandes não plantam feijão, arroz, hortaliças. Não utilizam-se de técnicas que nos poupem dos agrotóxicos, geram em si, poucos empregos. E no capitalismo, como você sabe até melhor do que eu, os pequenos não têm proteção alguma, precisam ser melhor assistidos caso contrário........Nos últimos 30 anos, quantas vezes o Brasil obrigou-se a importar feijão ou arroz? Foram várias, mas ao certo não deveria ter sido NENHUMA!

Miguel do Rosário disse...

Geo, os pequenos respondem por até 70% do consumo doméstico de alimentos. Na carne, é que sempre entra a soja, através da ração. E os pequenos sofrem muito, com certeza, ainda mais no Brasil, onde quase não há assistência do Estado. Por isso defendi o Código (não a emenda), porque iria prejudicar principalmente os pequenos. Os grandes sempre encontram uma brecha na lei.

Geopolêmica disse...

Em tempo: O que o filhote "agroboy" é hoje, é espelho de seu pai. E ele será pai no amanhã e passará a seus filhos a mesma torpe maneira de pensar e agir. As "peripécias" do filho d eKátia abreu estão nos jornais e ele já é deputado por Tocantins, se não me engano. Daqui a alguns anos deve sair pra governador e por aí vai. Entre nossos atuais congressistas, prefeitos e governadores. Há muitos do mesmo tipo. É por isso que desconfio de quando aplaudem maciçamente algo aprovado em Brasília. Para benefício de outra classe que não a sua própria é que não é.....É nas mãos dessa gente que estamos, sejam eles os impulsionadores de nossa balança comercial ou não. Podem avaliar minha visão como "simplista" e "ingênua". Sem problemas. Já ouviu falar em Abelardo Lupion? É do meu Paraná. Neto de ex-governador do estado (Moysés Lupion) e um dos maiores grileiros de nossa história. Assim é fácil administrar riquezas obtidas através do sangue alheio, posar de "defensor do país". A diferença é que na região Sul não há mais terras a ocupar e ninguém se interessa em pesquisar sobre isto. Já ao Norte e Centro-oeste do país é o que ocorre na atualidade.

Geopolêmica disse...

Tenho conhecimento sobre os dados que você passou acima, do destino da soja e da importância do produtor familiar em nossa alimentação básica. Sou Geógrafo e professor de Geografia há 28 anos. Se eu não me atualizar, MORRO como profissional...rsrsrrs....

Miguel do Rosário disse...

Imaginava que você soubesse, mas aqui na internet, é sempre bom falar, para espalhar a informação. Aliás, depois eu vou catar estatísticas atualizadas sobre esse assunto. Abraço!

Anônimo disse...

Uma boa dica para quem tem blog e fica sem saber se modera ou não os comentários. A orientação sim, que se aprove aquilo que agrega para o seu blog, xingamento a vc jamais, prá que mesmo

http://www.youtube.com/watch?v=AReJDmuyTSM&feature=player_embedded

Rildo Ferreira disse...

Caro Miguel

Quero te fazer um elogio sem ficar puxando o saco porque não faz o meu estilo. Se quero fazer uma leitura de um texto bem escrito, bem estruturado, venho ao seu blog.

Eu fui da Convergência Socialista-CS, acho que já disse isso em outras ocasiões. A CS era a mais radical das correntes no PT e, a partir da expulsão dela do PT, originou-se o hoje e eterno nanico PSTU. Tinha uma coisa que eu gostava naquela corrente: se tivesse uma tarefa partidária para ser cumprida, não tinha militante CS que corresse da missão. O empenho era tal como se remunerado e não tinha esse negócio de feriado, fim de semana, madrugada... O pessoal era tarefeiro mesmo! Mas ali na corrente eu tinha minhas divergências. Quando o partido decidia uma coisa que era contrária as ideias da corrente, ela fazia suas manifestações expondo as divergências para a sociedade (tal como o psdb hoje) de modo que as fissuras internas ficavam sob o olhar e o julgamento de quem nada tinha que ver com isso e eu considerava isso uma tentativa de impor suas ideias ao restante do partido. A CS era na verdade um partido dentro do PT. Quando expulsa, resolvi que ficaria no PT dentro dos princípios democráticos que o partido exigia dos seus filiados.

Sobre Marx, apesar de seus estudos servirem para muitas reflexões hoje, vou citar um outro pensador mais próximo para justificar que há muito penso que Marx, se ainda não foi, precisa ser superado: isso Paulo Freire disse acerca de sua Pedagogia. Disse ele que sua Pedagogia era própria para um tempo e em determinado contexto, mas que precisaria ser superada porque as coisas mudam e novos elementos contextuais se apresentam para uma nova sociedade e uma nova situação. Conhecemos muito pouco acerca do Socialismo e menos ainda acerca do Capitalismo. Fazemos conjecturas, citaos este ou aquele pensador, tentamos encontrar respostas, delimitar este ou aquele conceito, mas ora o limite de um é aqui, ora podemos chegar um pouco mais à direita. Os limites, assim expostos, não são estáticos, mas dinâmicos. O que é a esquerda? O que é a direita? Onde termina uma para começar a outra? São respostas imprecisas, conjecturais.

Estou muito próximo do seu pensamento quanto ao Bin Laden. Por que trata-lo como herói quando ele alvejou milhares de pessoas inocentes e que em nada tem que ver com o pensamento imperativo estadunidense? Não morro de amores pelos EUA, mas Bin Laden e o mundo deveria esperar por uma ação que desse fim à vida do terrorista mais procurado do planeta. Também não entendo o posicionamento de alguns blogueiros progressistas, mas os respeito. Só pra citar o mais importante deles, por que Paulo Henrique Amorim não faz a mesma campanha para saber dos clientes e das relações de ex-ministros que também ficaram milionários depois que deixaram os governos aos quais serviram? Por que a campanha para saber dos clientes do Pallocci quando sabe-se das cláusulas de confidencialidade nos contratos? Amorim citaria suas fontes mesmo quando estas lhes pedissem anonimato? Bom, não comento nada lá porque ele tem o direito de fazer o que está fazendo e eu respeito isso, mas não compartilho do pensamento dele e penso que ele tornou a coisa muito pessoal. Com isso, a meu ver comete dois erros: um de achar que a verdade existe, outro de achar que é dono dela.

Para concluir, que isso era pra ser só um comentário, não um livro, quero deixar uma dica para o Marcelo que quer estudar grego. Sugiro o site de estudos Livemocha [http://www.livemocha.com/learn/English/l:1/e:1#20].

Um abraço.

Adilson disse...

Um ótimo texto, sensato, equilibradado e ao meu ver bastante franco. Eu tb prefiro caminhar por essa linha: independência. Apóio, critico, aqui e ali e com pouco ou muita veemência de acordo com o que penso. De ideias engessadas e fixas já basta o PIG, estás corrretíssmo, Miguel.

Tb gosto muito dessa frase de Sócrates, pois nos deixa abertos para conhecer novas ideias e muitas vezes rever as nossas; esse processo é fascinante.

E como diz aquele velho e bom funk lá do morro do Borel:

"Para os demais amigos: humildade, paz e amor"

bom domingo!

JEAN CARLOS disse...

Miguel, em relação ao texto, discordo apenas do título:'' esclarecimento sobre minha ideologia''. Você não precisa esclarecer nada, pois ela pertence somente a ti. Cabe a nós , apenas, interpretá-la.Acompanho seu blog desde o ano passado, notei mudanças, mas permanece a lucidez, sensatez e a capacidade de reinterpretar o cotidiano,sem seguir a ''boiada''...parabéns

Anônimo disse...

Caro Miguel,desculpe-me em afirmar que existem pessoas pessoas que têm o seu QUADRADO e quer submetê-los aos Outros e agem através do famigerado Patrulhamento Ideológico, e se julgam a Verdade Absoluta e sentem inquestionáveis na sua "Verdade",isso, é sectarismo...fundamentalismo..., normalmente são pessoas marginais ao TODO, se sentem como VESTAIS, ou até mesmo o ORÀCULO DE DELFOS....essas pessoas do QUADRADO existirão sempre...é como uma doença. Parabenizo-o pelo seu desprendimento e pela Coragem de manifestar sempre suas inquietudes humanas sem ser Hipócrita, assim age como o Velho e atual filósofo SÓCRATES. Entendo que não deve satisfação em manifestar suas inquietudes verdadeiramente humanas....e mantem-se como um ser SIGULAR e SUIS GENERIS, que estará contribuindo para a dialética humana...política...Não esqueça de sua Singularidade enquanto SER Humano, exerça-a em toda sua Plenitude. Quero que saiba que sempre leio seus escritos no seu Blog e os acho enriquecedores para aqueles que têm a mente aberta e não viciados no QUADRADO e na intolerância Intelectual e Ideológica....Seja como é. Assim como o grão do trigo, que não perde a sua capacidade de reproduzir-se por mais pisoteado que seja. Parabéns por EXISTIR e contribuir para o aperfeiçoamento humano. Um Abraço. David Rodrigues da Silva, de Belo Horizonte.

Anônimo disse...

Miguel, tenho dito que seu blog tem sido um espaço sensato na blogosfera, e cada vez mais o considero assim. Digo isto porque militei muito tempo no PT e ocupei diversos cargos de confiança em administrações do partido, na região metropolitana de São Paulo. Comecei a ocupar cargos de chefia no governo Luiza Erundina, que reputo uma das políticas mais éticas, íntegras e honestas que já conheci.
Quando se ocupa cargos com responsabilidade em governos, nós nos sentimos responsáveis por ajudar os governos a emplacarem ações concretas que melhorem a vida das pessoas excluídas ou necessitadas dos serviços do Estado. Nesse processo, nos deparamos com as limitações da máquina pública, com as legítimas pressões da população por resultados concretos, com os intrincados processos políticos no relacionamento com os demais poderes, com o fogo dos adversários (faz parte) e com o fogo amigo (de longe, o mais desgastante e lamentável fator desse processo).
Nos jogos do poder, algumas pessoas, alguns grupos e instituições muitas vezes apelam para práticas bastante lamentáveis, com a intenção de levar vantagem nas disputas eleitorais e partidárias. O mundo político é assim, pressões variadas de pessoas e grupos muito diversificados, atuando simultâneamente em direções muitas vezes contraditórias.
É literalmente um fogo cruzado, e dentro dele devemos manter nossos valores e convicções, sempre procurando caminhar no sentido de implantar aquilo que acreditamos.
Além disso, voce começa a perceber que a concretude de suas ações depende muito da melhoria do país como um todo, do equilíbrio das ações que garantam melhorias para classes e problemas variados. Afinal, independentemente das nossas convicções pessoais, todas os grupos têm o direito legítimo de se manifestarem e de verem suas demandas atendidas, mesmo que discordemos delas. Por isso, posso lhes garantir que é uma tarefa bastante complexa, e não isenta de contradições.
E aí chego no ponto de porque venho falando que voce é muito sensato: em seus textos, deixa claro que a prática é bem mias complexa que a teoria política. Voce fala coisas que demonstram ter absoluta noção de que governar é muito diferente do que falar de fora. Não sei se voce já teve essa experiência de governar; se não passou por isso, é mais impressionante ainda sua capacidade de enxergar os limites e as condicionantes práticas de se governar.
Às vezes, leio comentários de pessoas que não têm a menor noção do que é a Política na prática. Por isso venho sempre ler seus textos. Eles são muito sensatos, sempre.

Cláudio Freire

Eduardo Maretti disse...

Os clichês, os lugares-comuns e o sectarismo são as maiores vítimas deste texto brilhante. Para não ficar num adjetivo vago, mais do que brilhante, lúcido. Por isso, merecedor dos mais sinceros vivas!

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