27 de agosto de 2011

Ecos de Berlusconi


(Uma das estátuas na porta do Duomo, catedral de Milan)

Os caras de óculos raiban, ipod grudado no ouvido e bermudas jeans da bennetton, que circulam de patins nas áreas pedonais de los angeles, poderão continuar gozando uma boa vida por mais uma década. É assim, ao menos, que eu imagino que vivam os roteiristas de holliwood. Seja como for, a guerra na Líbia abre um novo filão para o cinema americano. O imperialismo 2.0, como todo mundo tem escrito por aí, produz filmes freneticamente, incluindo narrativas de protesto e crítica ao sistema. Aqueles ranzinzas de Frankfurt nunca foram tão atuais: o capitalismo moderno é tão seguro de si que pode se dar ao luxo de ser liberal. Isso me lembra uma história de Suetônio sobre Julio César: certa feita, enquanto César andava de sua casa até o Senado, um homem seguiu-o xingando-o pesadamente por todo percursso, e fez o mesmo quando César retornou a casa, já noite. O então cônsul, antes de entrar, pede a um amigo para conduzir o homem em segurança até o lar deste.

Acabo de ler um post e assistir a uma entrevista de Pepe Escobar e já posso visualizar belíssimos filmes de espionagem, política e guerra que serão feitos nos próximos anos, e entendo igualmente que por mais críticos que esses filmes possam ser, esfregando-nos no rosto o aspecto mais podre dos serviços secretos (incluindo aí alianças com membros da Al Qaeda), eles continuarão funcionando como propaganda do império.

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Pode-se dizer a mesma coisa do que acontece no Brasil. Quem será capaz de escrever as histórias de nosso tempo? Não falo de filmes alternativos com audiência de poucos milhares; refiro-me às super produções que impactam massivamente a sociedade. Até hoje, por exemplo, nenhum desses filmes sobre o golpe de Estado de 1964, por mais que apresentem uma versão aparentemente esquerdista da história, jamais deram destaque à grande liderança política exercida pelos barões da comunicação.

Na verdade, é uma situação bastante opressiva e triste. Para a indústria cultural brasileira, desafiar a família Marinho, por exemplo, é algo similar a ser adversário dos Sforza durante a Itália renascentista. Naquele tempo, os artistas e intelectuais não tinham escolha. É lamentável que vivamos um totalitarismo parecido num regime democrático, na segunda década do século XXI!

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Por outro lado, é preciso haver o confronto. Mesmo que a história não tenha nos legado quase nada sobre os homens que perderam a vida lutando contra os impérios, sabemos que eles existiram - porque os impérios, por fim, cederam à terrível e crescente pressão dos povos.

Nesse ponto, eu tenho uma visão algo mística (talvez um pouco ridícula), hegeliana: vejo como que um grandioso espírito do mundo conduzindo os homens (e mulheres também, claro), fazendo-os atravessar épocas de guerra e tempos de paz, ambos igualmente - e diabolicamente - importantes para a consolidação do modo de vida que teremos no futuro.

Esta visão me ajuda a evitar o ódio, e a não me deixar convencer inocentemente por nenhuma teoria política mirabolante acerca de como o mundo deveria ser ou não. Eu não sei como o mundo deveria ser, nem acho que seja possivel sabê-lo. As circunstâncias mudam, e transformam também as possibilidades que se abrem. Não é uma visão pessimista, nem seu contrário. E, no entanto, acredito que possamos detectar, através da filosofia, os movimentos de mudança e anteciparmo-nos a eles, adaptando nossa maneira de viver e de se organizar socialmente.

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Admito por fim que errei feiamente em minha interpretação inicial acerca dos acontecimentos na Líbia. Eu sempre fui contra a guerra, mas houve um momento em que eu me pus contra Kadafi de uma maneira ingênua. Meu consolo é que até os bambas do jornalismo de guerra, como o próprio Pepe Escobar, caíram na armadilha. Escobar escreveu vários artigos em que descreve os maus feitos de Kadafi, eu também bati o martelo em cima dos pontos negativos da ditadura líbia. Mas eu esqueci um ponto fundamental: nada é pior do que a guerra, onde os instintos mais assassinos vem à tôna.

Hoje temos dúvidas inclusive se as primeiras revoltas líbias foram mesmo uma sequência natural de manifestações vistas na primavera árabe. Teria havido intromissão, desde aquele primeiro momento, dos serviços secretos americanos, na forma de insuflamento e propaganda?

Mais que nunca, ficou claro que as informações de que dispomos são precárias e manipuladas.

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O negócio da faxina continua rendendo no Brasil. Parece que o governo havia alimentando algumas ilusões acerca do controle da narrativa. A mídia gostou da brincadeira de derrubar ministros e deve prosseguir na ofensiva. Até aí tudo bem. É bom sentir-se poderoso. Nada como derrubar um ministro para economizar o Viagra. O interessante é que o governo também parece estar gostando, de maneira que criou-se uma relação sado-masoquista. Taí uma coisa que eu sei. A secretaria de imprensa da presidente é ultra-conservadora, em termos de uso de novas ferramentas e políticas para novas mídias. Isso não vai dar certo, claro, e seguramente o governo terá de modernizar essa parte, caso não queira ficar refém de uma pauta histericamente oposicionista durante todo o período.

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Aqui na Itália, onde permaneço por mais uns dias, temos a seguinte situação: a televisão aberta tem seis canais: os três privados pertencem a Berlusconi. Os três públicos estão sob sua influência, porque ele é o primeiro ministro. O controle da mídia é o segredo do cara.





5 comentarios

José Marcio disse...

Hitler ao menos foi eleito.

Anônimo disse...

pois é. berlusconi é acusado de transar com uma menor de idade, dominar todos os meios de comunicação, ter ligações com a máfia, e o caudilho, o diabo, é chávez.

Antonio Vivaldi

Rafael Leite disse...

Cara, como eu gosto de ler seu blog.
Me identifico demais com as suas opiniões (ainda que não com todas).
Um abraço!

Rogério Floripa disse...

Documentário - Guerra Feita Fácil
mostra como a imprensa americana e o governo estadunidense praticaram a mentira justificar uma guerra após a outra durante os últimos 50 anos.
http://fwd4.me/0A8n

Anônimo disse...

O Lukas, do Casa do Noca, faleceu.

Batalhou arduamente contra 1 cancer ... até seu último suspiro.

Nunca o vi nao mais q pela net. Trocamos idéias, comentava em seu cyber boteco e ... nos deixou.

Se a net nos aproxima, o éter nos mistura pra sempre.

Va c/ Deus, Lukas amigo, cyber amigo de Maringá,

Inté,
Murilo

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