30 de novembro de 2010

girassóis

Às vezes eu não tenho vontade de escrever nada. A cabeça, um emaranhado confuso, infértil, de ideias. Um poema bem vagabundo e sofrido ajuda a passar o tempo.


por trás
de suas virtudes,
você imagina as asas
cortadas,
e renascidas
e cortadas novamente,
todo aquele sangue
disperdiçado

como se observasse
a vida,
do alto, sozinho
como um cão

ou peixe frito
numa bela praia de niterói

não vale nada, essa dor
não vale nada

a lâmina que cortou-lhe as asas
ela sim,
tem um valor incomernsurável,

mas você não tem nada ver com isso

digo, você, que perdeu as asas
você não recebe nada por elas

o mundo não te paga

você se corta
e não é pago

ao contrário

é você que paga
pela própria dor


os azuis inflamam-se
antes do fim
antes da chuva
antes da bomba

azuis e impávidos
gélidos
esquálidos?

telecinéticos qual
sorrisos estapafúrdios?

tristes e moles
acenderam-se de lava
música, escorregando-me pelo beiço

das nuvens - atropelamentos e fugas,
diamantes,
mulheres,

voluptuosas

e o grito mudo do louco
diante do espelho


Miguel do Rosário

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