22 de janeiro de 2007
Algumas razões para se acreditar no Rio
Muita gente anda pessimista com o Rio de Janeiro, por causa da crise da segurança. A culpa, como sempre, é do Globo. Parece até piada, mas é verdade. O lacerdismo carioca é sustentado pelo Globo, cuja abordagem pauta a mentalidade tanto da direita neurastênica quanto da esquerda irritadiça.
Os problemas que o Rio vive são reflexo de trés décadas trágicas. Quando o Rio deixou de ser capital, em 1975, perdeu milhares de empregos e fonte de renda. Depois, perdeu indústrias para São Paulo e Minas. A agricultura fluminense (o Rio foi o principal produtor de café nos primeiros dois terços do século XIX), desde o fim da escravidão, nunca mais decolou, deixando um rastro de desemprego e – o pior de tudo - ódio contra a lide no campo. O Rio abrigava o maior mercado de escravos da América Latina, e a escravidão desmoralizou o trabalho, que era uma coisa indigna. Daí, a cultura da malandragem e a idéia de que um trabalho estável é destino de otário. Os anos de super-inflação e salário mínimo ridículo, numa cidade onde o transporte sempre foi caro e ruim, ajudaram a consolidar essa percepção. Afinal, quem não preferiria uma vida de malandro a ganhar uma miséria para trabalhar oito a dez horas e penar mais duas ou três horas em ônibus e trens desconfortáveis e super-lotados?
A quantidade de crianças nas ruas do Rio cresceu de forma assustadora a partir de meados dos anos 80. Fico pensando: o que as elites imaginavam que esses meninos, cheirando cola, fumando maconha e cheirando pó desde a mais tenra idade, iriam se tornar? Coroinhas de igreja? Não, a sociedade criou seus monstros e agora, quando a violência explode nas ruas do Rio, finge não compreender o que está acontecendo.
Entretanto, o mais revoltante, para mim, é ver que, mais do que não compreender, a classe média carioca agora não enxerga as perspectivas que se abrem no horizonte. Mais de dez anos de inflação controlada fizeram muito bem aos setores pobres do estado. O aumento dos salários, do mínimo e do funcionalismo federal (no estado campeão em quantidade de aposentados federais), trouxe outro enorme alívio social às áreas pobres do Rio.
A valorização do petróleo, combinado com o grande aumento na produção, a descoberta de novas jazidas e a chegada de novas refinarias e indústrias ligadas ao setor petroquímico, foram outros fatores que produziram empregos de qualidade justamente nas regiões mais sensíveis socialmente, e capitalizaram o governo estadual com generosas receitas fiscais.
O ressurgimento da indústria naval fluminense, sucateada nos anos FHC, tem sido mais um motor importante de desenvolvimento.
Com a modernização do porto de Sepetiba - que, somente nos últimos anos, vem se tornando um dos mais importantes canais de escoamento do país -, diversas indústrias estão planejando instalarem-se nas áreas próximas a este porto, visando ganhos logísticos.
Por fim, o miserável município de Itaboraí, no coração da sofrida Baixada Fluminense, foi o escolhido pela Petrobrás para sediar a maior refinaria de petróleo da América Latina, com previsão de geração de centenas de milhares de empregos na execução da obra.
Considerando a consistência desses novos pólos de emprego, baseados em setores fortes, sobretudo o petróleo, é possível prever a proliferação, nos arredores dessas áreas, de milhões de empregos indiretos.
Não se trata de otimismo, palavra que me irrita, mas de constatar o que está acontecendo. É preciso ver isso e, desde já, fazer o possível para maximizar os ganhos sociais resultantes. Ou seja, a elite carioca, em vez de recair no seu habitual pessimismo estéril, decadente, lacerdista, moralista, às vezes mal disfarçados de manifestações "pela paz" ou "contra a corrupção", deveria se organizar para criar escolas profissionais para preparar a população pobre para esses milhões de empregos que estarão disponíveis.
Em relação à política propriamente dita, o declínio político do casal Garotinho é mais que uma boa notícia, é quase um sonho. O novo governador Sergio Cabral, com todos seus defeitos, tem se mostrado um político competente em sua relação com o governo federal, com outros estados, e com os municípios.
O florescimento da Lapa, agora irreversivelmente consolidada (sim, porque o casal evangélico fez de tudo para sufocar um pólo cultural sem igual no mundo, por causa de seu fanatismo anti-boemia), e a explosão do carnaval de rua, revelam que o Rio está mais vivo que nunca. Se o Rio tem as maiores jazidas petróleo do Brasil, suas jazidas de alegria, criatividade, entusiasmo e esperança são ainda maiores, e sua população carioca sabe, como poucas outras comunidades no mundo, transformar essa energia em festa, em amor, em vida!
Olha que nem falei do turismo... que tem aumentado exponencialmente nos últimos anos, apesar das crises de violência; e, na esteira da esperada melhora dos índices sócio-econômicos do estado, possui um potencial de crescimento gigante.
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