18 de janeiro de 2007

Hermanos

Somente nos últimos dias, assisti, aqui em Paris, a dois programas televisivos, em canais abertos, sobre a América Latina, um sobre a Venezuela, outro sobre o Peru. O da Venezuela abordava a questão política, como era de se esperar, mas o fez de uma forma inacreditavelmente imparcial. Inacreditável porque é quase impossível falar de Chávez com imparcialidade : ele é o tipo de fenômeno que desperta paixão ou ódio, sem meio termo. No entanto, o documentário me pareceu bastante imparcial, mostrando uma Venezuela de verdade, entrevistando pessoas do povo, trabalhadores, estudantes, professores, políticos e empresários.

O documentário sobre o Peru focou sobre a nova mídia audivisual peruana, que finalmente abriu as portas para a cultura indígena, usando gente morena na tela e dando mais atenção à música popular peruana. Razões comerciais, naturalmente, devem ter pesado para esta mudança, num país onde 90% das pessoas têm traços índios.

O que me chamou a atenção, todavia, foi o fato de eu nunca ter assistido nada parecido na televisão brasileira, ainda extremamente fechada a seus vizinhos. Claro, não sou nenhum expert em televisão e, provavelmente, muita coisa sobre a América Latina já deve ter sido mostrada na tela nacional sem que eu tenha visto, mas é certo que existe uma lacuna sobre o tema.

Venho a este assunto porque no Brasil está acontecendo no momento, uma reunião de cúpula dos governos do Mercosul, e a mídia tupi, mais uma vez, parece estar tratando do tema com a vulgaridade que lhe caracteriza. Mas vá lá, sejamos tolerantes, seguindo a velha lição de Voltaire. Hoje existe a internet para isso mesmo, para buscarmos informações que a mídia corporativa omite e para ler com olhos críticos o que ela destaca.

Por exemplo, um ponto que não tem merecido o devido destaque local é que, atualmente, o Mercosul hoje é o principal mercado das exportações nacionais, as quais, não por acaso, vem batendo recordes, mesmo com dólar baixo. E isso sem descuidar dos mercados tradicionais, EUA e Europa, que continuam importantes mercados para os produtos brasileiros.

O que falta mesmo, a meu ver, é o Brasil avançar para uma etapa mais avançada – e o terreno está preparado para isso – e investir mais na exportação de cultura.

Uma das coisas que mais angustia os produtores de cultura no Brasil, sobretudo cinema e literatura, é o público exíguo de que dispõem. O que me deixa relativamente otimista (porque quero ver isso em prática, e como será), é que são justamente essas novas lideranças que vêm pregando que o Mercosul se desenvolva mais na área cultural.

A criação do Banco do Sul, com capital dos Estados latinos, pode servir a esse proposito, patrocinando filmes e projetos culturais de forma geral. Também defendo a ajuda aos paises pobres do Mercosul. Essa ajuda, se feita da maneira apropriada, proporcionara ganhos politicos e sociais no presente, e economicos no futuro.

Como dizem os hermanos, a ver.

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O Globo noticiou hoje que o Instituto que pertence ao Fernando Henrique Cardoso (denominado egoticamente IFHC), criado em 2003, recebeu 500 mil reais de uma empresa controlada pelo governo de São Paulo, estado comandado pelo PSDB desde 1995. Os petistas de plantão já começaram a chiar, esquecendo a importância suprema da ação deste instituto para a cultura nacional e, porque não, mundial ? Tem mais é que dar dinheiro do contribuinte mesmo ! FHC é um gênio! Assinado: Napoleão.

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A guerra da blogosfera tupi contra a mídia corporativa ganhou intensidade nas últimas semanas, devido ao silêncio culposo dos colunistas políticos em relação aos culpados pelo acidente no metrô de São Paulo. O Paulo Henrique Amorim, mais uma vez, é o único que tem feito entrevistas com responsáveis e especialistas, pelas quais ficamos sabendo como foram as negociações do governo de SP com as empreiteiras responsáveis pelas obras. A bem da verdade, também o Globo vem apontando o dedo para as autoridades do estado; mas falta, de fato, ouvirmos a voz dos colunistas sobre o episodio.

1 comentário

Anônimo disse...

A melhor matéria, de longe, sobre o assunto é a da Carta Capital desta semana. Ali se vêem jornalistas que se fazem perguntas, indagam os fatos, questionam os relatos oficias e, principalmente, raciocinam. Tudo o mais que vi ou li ou eram reportagens sentimentalóides e sensacionalistas, ou mera divulgação de informações oficiais ou então a louvação do governador Serra e do prefeito Kassab.

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