24 de janeiro de 2007
Torcida pela Segolene
A disputa eleitoral está esquentando na França. Os dois principais candidados são Sarkosy, atual ministro do interior, direitão, e Segolene Royal, uma senhora charmante, do partido socialista.
Interessante observar que os candidatos estão levando à sério o poder de influência da internet nestas eleições. Vem ocorrendo, aliás, inumeros debates sobre esta inovação. Ontem eu assisti um debate na tv sobre o tema. Um filósofo lembrou que a internet está provocando uma revolução no conceito de comunicação de massa, iniciando mudanças estruturais profundas no proprio cerne da sociedade industrial, na medida em que a idéia tradicional de consumidor começa a perder espaço para a de participante.
A campanha de Segolene vem apostando pesadamente na internet, sobretudo porque possui recursos limitados, em relação à Sarkosy, o candidato dos empresários. Desnecessário lembrar que a vitória de Segolene será extremamente importante para a esquerda mundial, incluindo é claro o Brasil, pois a França é um país com grande prestígio e influência política em todo mundo. A blogosfera, particularmente, tem sido uma das ferramentas mais usadas pela candidata. Veja o site oficial dela, onde, na coluna da esquerda, há links em destaque para a blogosfera.
O fato dela ser mulher, por outro lado, também não é um detalhe. Seria a primeira mulher a governar a França. Teríamos os dois principais países continentais europeus, França e Alemanha (governada por Angela Merkel), com presidentes do sexo « frágil ».
Vale lembrar que Hillary Clinton lançou há pouco - através de video divulgado pela net - sua candidatura à presidência dos Estados Unidos e, até o momento, é o nome mais forte do partido democrata para derrotar os republicanos.
A eleição presidencial francesa trouxe à tôna os candentes debates que vem revirando o país há alguns anos, opondo uma visão de mundo estatista a uma mercantilista, uma representada pela esquerda, outra pela direita. Muito parecido ao que se discute na América Latina, por isso vale a pena observar de perto o que acontece na França.
Uma primeira diferença básica é que, na França, é a direita que promete uma « ruptura », a saber, mudanças profundas nos sistemas de saúde, educação e impostos, reduzindo fortemente os gastos do Estado, enquanto a esquerda promete manter o status quo, ou fazer reformas de maneira mais prudente.
A direita alega que a França precisa crescer mais rápido e gerar mais empregos. A esquerda mostra que a educação tem piorado e que os problemas sociais se agravaram nos últimos anos, sob o comando de Chirac, que representa uma espécie de direita light. Sarcosy seria uma direita « dura ».
O interessante, a meu ver, é observar que, tanto na França como em qualquer parte, esse debate traz à luz argumentos lúcidos sobre economia e política e que, se por um lado, aponta soluções para uns países, isso não significa que as mesmas medidas devam ser adotadas por outros.
Cada país deve encontrar uma solução própria. Por exemplo, se a Irlanda – cujo exemplo é muito usado pela direita – encontrou uma fórmula bem sucedida, desonerando as empresas e reduzindo fortemente o peso do Estado na economia, outros países podem se dar muito mal se seguirem o mesmo caminho. Os consultores privados que passeiam pelos canais de tv defendendo a liberalização em toda parte, têm o péssimo costume de simplificar os argumentos, omitindo detalhes fundamentais que fazem a diferença de um país para outro.
Para início de conversa, a Irlanda é um país anglofônico, e isso não é um detalhe desprezível, pois confere uma vantagem comparativa enorme à Irlanda para atrair investimentos norte-americanos e britânicos e de se inserir, mais facilmente, no mercado internacional.
Enfim, creio que os debates políticos e econômicos devem se precaver de qualquer sectarismo. Se uma determinada medida liberalizante pode trazer mais geração de emprego e redução de pobreza, adotemo-la. Se outra, estatizante, é saudável para a economia, não devemos temê-la. Os países ricos nunca temeram estatizar determinados setores econômicos quando lhes foi conveniente.
O que não pode é confundirmos estatização com autoritarismo. Se existem laços que os ligam, também existem diferenças fundamentais que os separam. Se a Venezuela está optando por uma movimento de estatização, isso não tem nada de autoritário, visto que o processo vem sendo conduzido por instâncias democráticas. Chávez foi eleito com enorme maioria de voto, portanto é ridículo chamá-lo de ditador. A imprensa na Venezuela é a mais livre do mundo, vide o que escrevem sobre Chávez. Se ele não renovou a concessão de um dos canais de TV, é porque este canal apoiou um golpe de Estado contra o próprio. Ou seja, atentou contra democracia. Fosse nos EUA ou qualquer país rico, os donos deste canal estariam na cadeia.
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pois é Patrick, bem lembrado. Eles falaram disso num debate que eu assisti na TV. O consultor rebateu que Portugal, que tb passou a receber forte ajuda da União Europeia, não cresceu da mesma forma que a Irlanda. Mas este argumento é inegavel, obviamente, e Portugal pode não ter crescido como a Irlanda, mas tem crescido muito tb.
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