28 de janeiro de 2007

Chávez ameaça a democracia?

Eis que Chávez criou mais uma polêmica, principalmente na imprensa, ao decidir não renovar a concessão televisiva da RCTV, um dos principais grupos de mídia da Venezuela. A notícia rapidamente correu o mundo, e serviu para reforçar acusações de que o "líder bolivariano" estaria atentando contra a democracia.

Aqui no Brasil, naturalmente, a notícia caiu como uma bomba. Praticamente todos os jornais e canais de TV despejaram editoriais pesados contra a decisão do presidente venezuelano. Alberto Dines - o que não foi surpresa para ninguém - também entrou na onda. A grande diferença de Dines é que ele tem um blog, e os leitores podem comentar e meter o pau - desde que educamente, é claro.

Esse assunto é um pouco passado, eu sei, mas eu não tive muito tempo para escrever sobre o tema, e como Chávez continua em evidência, sobretudo por causa da barulhenta passagem dele pela recente reunião do Mercosul, no Rio de Janeiro. Fiquei com essa espinha presa na garganta.

A espinha é a seguinte: todo mundo esqueceu que esse mesmo canal de TV foi o maior defensor do golpe de Estado contra Chávez, o famigerado 12 de abril de 2002? Um golpe hediondo, nojento, cujas primeiras medidas foram o fechamento do Congresso Nacional e a implantação do estado de sítio? E que foi apoiado precipitadamente pelo governo americano?

Que espécie de paladinos da democracia são esses que não se indignam, que não se revoltam, quando ela é violentada de maneira tão abjeta?

Alberto Dines, você esqueceu disso? Esqueceu do golpe de 12 de abril de 2002, quando as luzes da democracia foram apagadas na Venezuela?

Dines, você apoiou aquele golpe?

Tudo bem, Chávez também participou de um movimento na década de 90, mas ele não chegou ao poder por esse meio, e não sabemos se ele fecharia o Congresso ou coisa parecida. Ao contrário, ele chegou ao poder através do sufrágio universal, e até agora, tem lutado para conquistar mais poder através de meios legais e democráticos, ou seja, como representante da vontade popular.

Se Chávez tem ousado, se tem adotado medidas fortes, foi porque o povo o colocou lá para isso mesmo. E não venham dizer que Hitler também foi eleito, porque isso é mais uma distorção histórica barata, equivocada e tendenciosa. Não se pode comparar a Venezuela à uma Alemanha devastada da República de Weimar, com desemprego monstruoso, inflação galopante, um povo humilhado pela derrota miitar de 1918. Sobretudo, não se pode comparar um processo eleitoral limpo, monitorado por observadores internacionais e com uma população bem informada, com a época de trevas que vivia a Alemanha e com os - provados historicamente - métodos de mentira e manipulação adotados pelo partido nazista. E com o apoio dos grandes grupos privados, diga-se de passagem.

É perfeitamente natural que a imprensa conservadora critique Chávez. Agora, que façam a crítica correta, honesta. Não venham com essa bandeira fajuta de guerreiros da liberdade e da democracia, porque soa absolutamente hipócrita. Se Chávez tem maioria no Congresso Nacional, isso foi porque os venezuelanos votaram nos deputados chavistas. Se a oposição foi fraca, desunida, e não tem conseguido impor freios à Chávez, é porque ela não tem representatividade para tal, não tem legitimidade democrática para tal. Uma nova correlação de forças está se impondo na Venezuela. Esses momentos de mudança não são fáceis, assim como não é fácil controlar um sentimento de revanchismo por séculos de opressão, racismo, ressentimento. O fato é que a América Latina, definitivamente, não estava bem, e vinha bem a calhar esse vento forte e quente trazido pelo chavismo.

No Brasil, o chavismo reflete-se positivamente, fazendo nossos empresários e nossa trêmula classe alta louvar o Lula por ser tão moderado.

Pessoalmente, acho que Chávez deu um grande exemplo à democracia ao negar a renovação da RCTV. Um grande exemplo de que canais de TV, mais do que qualquer outro segmento da indústria, não podem apoiar golpes de estado contra presidentes da república. E um recadinho nada sutil para a rede Globo se comportar direito e não ceder a esses impulsos anacrônicos do tempo em que a América Latina era conhecida como um grupo de repúblicas de banana. ...

5 comentarios

Anônimo disse...

Excelente a análise. O que mais pertuba a classe dirigente é a facilidade com que isso é explicado e assimilado. Fico até pensando, será que Alberto Dines consegue dormir direito?

Anônimo disse...

Muito bem, Miguel. Bravo! Por isso sou seu fã número 1. Saiba porque lendo o meu post de hoje: a primeira palavra começa com i e a última com a.

Assim:

I _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ A

Descobristes a palavra mágica?

Anônimo disse...

Eduardo, você sabe que vivemos à mercê de lembranças do passado presentes. Senão vejamos. Estou proibido por mim mesmo de acessar o OI do Fulano. Ocorre que o Informante.net fica perto do link Observatório da Imprensa = OI. Não daria pra você jogar o link desta praga prá cima? Sei lá, prá bem longe. Tenho medo de, por um descuido, clicar no OI do Fulano

Anônimo disse...

Onde está escrito "Eduardo" leia-se "Miguel'.

Desculpe-me=compreenda-me, tá Miguel? É que estou adaptando a mesma mensagem a tudo quanto é blog tem que o OI do Fulano linkado=exposto perto daqueles que eu costuma acessar. Como eu já havia postado no blog do Eduardo... daí o nome Eduardo Guimarães ao invés de Miguel do Rosário. Rsss

Anônimo disse...

Miguel, a Helena e o Onipresente acabaram de jogar o OI do Fulano no lixo. Para quem não sabe, que saibam que OI quer dizer Observatório da Imprensa, um lixo! Lugar de lixo é no lixo. Kakakakakakaka

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