21 de maio de 2009

CPI da Petrobrás unifica a esquerda brasileira




(Fotos da manifestação realizada em frente à Petrobrás, contra a CPI que o PSDB criou para prejudicar a imagem da empresa e preparar terreno para a sua privatização. A autoria é minha)


Estive no ato em defesa da Petrobrás, realizado diante da sede da mesma, na Avenida Chile, no centro do Rio. O local fica a cem passos da minha casa. Escutei os discursos inflamados de lideranças sindicais e estudantis, oriundos da esquerda e da ultraesquerda, ou seja, aliados e opositores ao governo Lula.

Os conceitos mais repetidos pelos oradores foram os seguintes:

1) Trata-se de mais uma ofensiva da direita, e a esquerda precisa enfrentá-la unida. Um diretor da Intersindical, entidade que faz oposição à CUT, afirmou que a oposição de esquerda ao governo Lula não pode "surfar" na onda desta CPI proposta pelas forças conservadoras. Um rapaz do movimento estudantil, de uma ala oposicionista à atual direção da UNE, fez observação semelhante. A palavra de ordem de todos era: união em prol da soberania nacional, representada pela Petrobrás. Deixou-se de lado a tradicional divisão e rivalidade das esquerdas, suas históricas trocas de acusações, para atacar um adversário comum: a direita, identificada muito claramente no PSDB e DEM.

2) Acusou-se fortemente o PSDB. Se em algum momento, o PSDB evitou ser taxado de conservador e direitista, pode agora abandonar de vez essa ilusão. Esta CPI trouxe à baila memórias e informações sobre as tentativas tucanas de privatizar a Petrobrás.

3) As forças de esquerda se recusam, porém, a exercer somente o papel defensivo, e querem usar as mobilizações para passar também à ofensiva, em prol de novas leis do petróleo, que reforcem a soberania popular sobre o recurso e ampliem a presença do Estado no setor.

4) Em muitos discursos, lembrou-se a história das lutas para a criação da Petrobrás. A criação da CPI foi entendida, portanto, como mais um capítulo na luta pela soberania.

5) A Petrobrás é identificada por todos como um patrimônio inalienável do povo brasileiro, símbolo de nossa liberdade econômica e de nossas esperanças de desenvolvimento.

*

Algumas observações minhas:

Esta crise econômica mostrou quem é quem. No período mais tenso da crise, quando a mídia noticiava com ênfase histérica que seus efeitos seriam terríveis para a economia brasileira, as duas primeiras big empresas brasileiras a anunciarem demissões em grande escala foram as ex-estatais Vale e Embraer, a primeira privatizada contra tudo e contra todos por Fernando Henrique, a segunda, pelo governo Itamar, quando o mesmo já era dominado pelas forças tucanas. As duas empresas, mesmo tendo registrado nos últimos anos, inclusive em 2008, seus melhores resultados em décadas, não hesitaram em produzir uma bomba de efeito moral sobre a opinião pública. As demissões da Vale e da Embraer não podiam ocorrer em pior momento e, seguramente, contribuíram para que outros empresários fizessem o mesmo, porque ajudaram a emsombrecer a já escura atmosfera que reinava nos meios econômicos, em função das notícias terríveis que chegavam diariamente pelas agências internacionais.

A Petrobrás fez o contrário. No auge da crise, anunciou que estaria antecipando e aumentando seus investimentos no Brasil, com volumes da ordem de centenas de bilhões de reais, e não cogitou em demitir sequer um faxineiro. A existência da Petrobrás, portanto, foi o pilar mais importante da economia brasileira contra a crise real e a crise psicológica que se abateram sobre o país nos últimos meses.

As pessoas que defendem a privatização da Petrobrás, alegando que o monopólio é nocivo ao consumidor brasileiro, não sabem, ou omitem, que todos os países que são produtores de petróleo exercem monopólio estatal, parcial ou total, da exploração do recurso: Noruega, Rússia, Arábia Saudita, Irã, Venezuela. A Argentina, que privatizou sua companhia de petróleo, experimentou um retrocesso econômico de quase duzentos anos, e hoje só se mantém segura graças ao Brasil, responsável por quase metade do comércio exterior argentino.

A exploração de petróleo na costa brasileira deverá ser realizada, obrigatoriamente, por empresa estatal, seja a Petrobrás, que apesar de controlada pelo governo, é mista, com forte participação de acionistas estrangeiros; seja uma nova companhia 100% estatal, uma petrosal, porque as jazidas se encontram muito distantes da costa e uma empresa estrangeira poderia facilmente contrabandear o produto para outros países sem que sequer tomássemos conhecimento.

Tanto Adam Smith, pai do liberalismo econômico moderno, como Karl Marx, o gênio do Milênio, segundo pesquisa mundial realizada pela BBC de Londres, em 1999, concordam que a riqueza das nações não deve ser medida pela quantidade de ouro entesourado pelo Estado ou pelas empresas, e sim pelo dinamismo de suas indústrias; e os recursos naturais apenas são vantajosos quando existem empresas nacionais com tecnologia e conhecimentos para explorá-los e beneficiá-los.

A função da Petrobrás nunca foi apenas a de explorar petróleo, mas também, e talvez primordialmente, de beneficiar o produto, distribui-lo igualitariamente para todas as regiões, e proporcionar uma sólida segurança energética a um país que, por sua extensão continental, depende profundamente de gasolina e óleo diesel.

14 comentarios

Anônimo disse...

Sobre "El clarin' perguntar se seremos Nigéria ou Noruega na destinaçao que daremos ao petroleo do pre-sal, isso nós decidiremos.
Nao que eles estejam nos identificando com situaçao nigeriana,claro.. Mas para um pais
que nos anos 40 jogou fora o status de uma dascinco ou dez maiores economias do mundo.. e hoje tem uma elite agricola que exporta tudo e quer preços internos iguais aos de fora..
faz suas terras ferteis um parque de diversões da monsanto... O clarin nao tem muita moral para clarinetar nada ao brasil, si, por supuesto?

Anônimo disse...

completando..
alem disso a Argentina nos anos 90 lançou-se com tudo nos braços de margret thatcher, e esta custando sair deles.

Anônimo disse...

Nada como uma operação abafa de CPI pra unir as pessoas. É bonito ver centenas trabalhando para que meia dúzia continue desfrutando do poder sem ser incomodada...

Em notícia certamente relacionada, a CUT ganha concessão um canal de TV.

Vera Pereira disse...

Miguel, também estive lá. Vim seguindo a passeata desde a Candelária. Foi engrossando, engrossando, e ainda chegou muita gente lá pelas 12:30, na porta da sede da Petrobrás. Sou péssima de cálculo, mas me pareceu que tinha mais de 3 mil ali. E você tem toda razão na sua análise: as esquerdas estavam unidas, sindicatos que vivem às turras com a Petrobrás por causa de salário, políticos de vários partidos, de esquerda ou perto da esquerda, claro, movimentos estudantis que não se alinham da mesma forma. Todo mundo junto. Muito bonito. Não sei não, mas essa CPI talvez nem comece ou acabe rapidinho, logo que a mídia alternativa da Internet comece a levantar os precedentes do tempo do FHC e a coisa caia na boca do povo. Neste últimos dias andei conversando muito na rua: jornaleiros, motoristas de táxi, pequenos comerciantes - as pessoas estão bem informadas, mesmo porque muitos desses já têm acesso à Internet. Engraçado é que conversei com motoristas de táxi que ouvem a Bandnews ou a CBN pelo rádio, durante horas, e que criticam o que os jornalistas dizem ali. Tá tudo muito mudado neste país. Espero que esse "abração" seja o primeiro de muitos. Aliás, pelo menos onde eu estava, não vi muitos estudantes, embora as direções dos movimentos estivessem lá.

Anônimo disse...

Do caralho, cara.

Queria ter ido, mas os km de distância não permitiram.

Gabriel Rebello disse...

Cerca de 5 mil manifestantes participaram nesta quinta-feira (21) pela
manhã do ato público, no Centro do Rio de Janeiro, em defesa da Petrobras e
por uma legislação que garanta o controle estatal e social das reservas de
petróleo e gás. A manifestação, organizada pela Federação Única dos
Petroleiros (FUP), MST, UNE e centrais sindicais, reuniu estudantes,
sindicalistas, trabalhadores, militantes sociais, parlamentares e partidos
políticos, reforçando a unidade nacional das frentes de esquerda em defesa
da soberania nacional.
Os manifestantes iniciaram o ato às 9 horas, na Candelária, e seguiram pela
Avenida Rio Branco, que foi fechada, por volta das 11 horas, durante a
passeata. O ato prosseguiu em frente ao edifício sede da Petrobras, na
Avenida Chile, onde trabalhadores, estudantes, militantes sociais e
parlamentares deram as mãos, formando um cordão que contornou todo o prédio
da estatal.

Ao som do Hino Nacional, os manifestantes realizaram um abraço simbólico do
prédio da Petrobras, repudiando a tentativa da direita de retomar o projeto
de privatização da maior empresa do país. A manifestação terminou por volta
das 14 horas.

Entidades presentes na manifestação desta quinta-feira: Federação Única dos
Petroleiros (FUP), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Confederação
Nacional do Ramo Químico (CNQ), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras
do Brasil (CTB), Intersindical, Conlutas, União Nacional dos Estudantes
(UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Confederação Nacional das Associações
de Moradores (Conam), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Sindicato
dos Metalúrgicos de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo, Sindicato dos Químicos
e Petroleiros da Bahia, Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa
Catarina, Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais, Sindicato dos
Petroleiros do Espírito Santo, Sindicato Unificado dos Petroleiros do
Estado de São Paulo, Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense,
Sindicato dos Petroleiros de Duque de Caxias, de Sindicato dos Petroleiros
do Rio de Janeiro, Sindicato dos Bancários do Rio, Sindicato dos
Trabalhadores dos Correios do Rio, Sindicato dos Portuários do Rio,
Sindicato dos Advogados do Rio, Sindicato dos Engenheiros do Rio, Sindicato
dos Portuários do Rio, entre outras entidades.

Partidos políticos que enviaram parlamentares e representantes para o ato:
PT, PCdoB, PSB, PCB, PSOL e PSTU.

Fonte: Federação Única dos Petroleiros (http://www.fup.org.br)

Vera Pereira disse...

Miguel, para completar minhas impressões do abraço na Petrobrás: afinal, depois de tanto tempo, eu vi ali a militância do PT. Tinha outras organizações, entidades, etc., mas também tinha aquela indignação e aquela alegria de ocupar as ruas que eu via antes no PT. E os políticos que compareceram, como bem observou o Zé Augusto no blog dos Amigos do Presidente Lula, foram do PT e do PCB (veja só). Não vi Psol, Pstu; talvez estivessem, mas estranhei a ausência do Chico Alencar e outros que eu sei que são do PSOL. Vi gente do PCdoB, também, mas militantes comuns. A direção não conheço, mas não vi a Jandira. Seja como for, o PT estava lá. E a CUT e outros sindicatos. Tomara que tenha outra aqui no Rio. Fiquei imaginando um comício da Dilma, ou uma manifestação pela Amazônia. Já pensou?

Miguel do Rosário disse...

Vera, o seu comentário é primoroso, informado e preciso. Depois eu farei mais observações sobre os fatos que você constatou.

José Carlos Lima disse...

ENFIAR UM PROCESSO JUDICIAL NO RABO DA FAMILIA MARINHO
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A Não Notícia - a partir da não notícia da Globo
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Deveriamos fazer chegar aos organizadores da passeata que a Globo é obrigada sim a noticiar o fato, por sinal, muito importante para o Brasil, pois diz respeito à defesa da reserva do pré-sal, que a elite econômica quer abocanhar.
A Globo, como concessionária de serviço público, é obrigada pela CF a noticiar a passeata pelo simples fato de que assim determina a Constituição Federal.
Com certeza a passeata teria sido manchete se fosse contra a Petrobrás e a reserva pré-sal, que esta burra e corrupta elite brasileira quer surrupiar.
Como se vê, o monopólio da fala, um pool formado pelas famílias Marinho(Globo), Mesquita(Estadão), Frias(Folha) e Civita(Veja) dita as regras neste País. Não se pode falar por aqui em democratização da informação, pois logo logo as quatro famílias alardeiam que está se querendo implantar a ditadura no Brasil.
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Quer dizer que ocultar informação ao cidadão, o que é inclusive é contra a CF, não é ditadura.
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A nossa CF determina que as TV são concessionárias de serviço público e, como tais, são obrigadas a fornecer aos cidadãos um noticiário isento. Ao invés de cumprirem o que determina a nossa CF os meios de comunicação, ao invés de noticiarem os fatos, fazem politicagem, publicam o que lhes convêm e da forma que querem. E quando querem. Quando não querem publicar não publicam e fica por isso mesmo.

carlos disse...

grande do rosário,

as fotos da manifestação me comoveram pra burro.
voltei ao tempo das campanhas da anistia, das diretas e do pt.
tô vivo, meu caro.

abçs

Miguel do Rosário disse...

Prezados comentaristas, o parágrafo seguinte, que consta no post, estava sem o final, que lhe dava um sentido. Repito abaixo.

"A exploração de petróleo na costa brasileira deverá ser realizada, obrigatoriamente, por empresa estatal, seja a Petrobrás, que apesar de controlada pelo governo, é mista, com forte participação de acionistas estrangeiros; seja uma nova companhia 100% estatal, uma petrosal, porque as jazidas se encontram muito distantes da costa e uma empresa estrangeira poderia facilmente contrabandear o produto para outros países sem que sequer tomássemos conhecimento."

marianna disse...

Caro Miguel,

queria ver contigo a possibilidade de usar fotos daqui em matéria sobre o ato.

entra em contato: http://twitter.com/prolegomenos

Miguel do Rosário disse...

olá, marianna, pode sim.

Anônimo disse...

Miguel,

Sou da direita, mas não me sinto representado por PSDB ou DEM. Sou a favor da privatização das estatais, mas nego a condição exposta pelas esquerdas de que a CPI da Petrobrás seja direcionada por uma influência privatista. Que fique claro: nem PSDB, nem DEM, nem qualquer outro partido político brasileiro intencionam privatizar a Petrobrás.

O que é uma pena, pois este gigante do petróleo faria melhor ao dinamismo da industrialização brasileira caso fosse dirigida como uma companhia independente. Mas isto é outro assunto.

O relevante é que a CPI possa identificar rastros da corrupção do governo. A Petrobrás está mais presente nos braços sindicais que se aliam ao PT que propriamente à soberania naiconal.

Que os tentáculos da corrupção sejam desarticulados e a Petrobrás seja uma empresa eficiente de fato, e não um braço de enriquecimento para alguns larápios.

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