1 de maio de 2009

A vingança da Mãe Natura

Reproduzo abaixo um texto que recebi por email, e que diz exatamente o que eu pretendia sobre essa crise suína. É interessante (e assustador) ver como a natureza vem pressionando o homem a mudar seus hábitos. Acrescentaria ao texto abaixo que, na ânsia de alcançar produtividades recordes, os empresários estão destruindo o sistema imunológico dos animais, que se tornam, portanto, perigosíssimos criadouros de vírus e bactérias. Aconteceu com as vacas, com os francos e agora com os porcos. O custo disso será cada vez mais alto, até que a sociedade perceba que é mais fácil, barato e seguro, produzir seus alimentos em condições ecologicamente corretas.



http://www.anda.jor.br/colunaDetalhe.php?idColuna=372
Não, não vou falar de gripe suína
Marcio Bueno

Vou ter o prazer de não falar sobre gripe suína. Vou me abster de debater o assunto da moda, o tema das rodinhas que se formam à saída dos restaurantes, onde os grupinhos assopram seus cafezinhos e aguardam os colegas de trabalho que ainda não pagaram seus almoços. Vou fugir da pauta de todos os veículos que embaralham 'OMS', 'gripe suína', 'porcos', 'influenza', 'suspeita' e 'novos casos' em suas manchetes, ao lado das notícias sobre futebol e a foto de alguma beldade com novo namorado a tiracolo, ou vice-versa.

Vou manter silêncio hermético sobre uma questão que gerou reações tão díspares como a mudança do nome da doença - alguém aí se lembrou daquela piada do corno que tirou o sofá da sala? - e o corre-corre de parlamentares da bancada pecuarista, suando frio durante as entrevistas para não fazer feio nem desagradar quem lhe marca o lombo com ferro em brasa de quatro em quatro anos.



Não vou dizer nada sobre uma prática econômica que gera toneladas de cocô líquido e incrivelmente fedido para cada salaminho delicioso servido nos coquetéis de lançamentos de livros, exposições de artes e noites de confrarias, com médicos e empresários bem-sucedidos, e esposas com permanente no cabelo.

Não vou tecer comentários sobre o ato de roubar a liberdade, forçar a procriação e enjaular durante toda a vida animais sencientes como os porcos, confiná-los no concreto e metal, sem ar fresco, terra, lama, chuva ou Sol, fazê-los inchar - o termo é 'produtividade', nas publicações paga-pau do setor - e então enviá-los para o abatedouro, local que apropriadamente não possui janelas.

Não vou palpitar a respeito da criação intensiva de um animal para satisfazer o capricho culinário de uma ínfima parcela da população, contaminando riachos próximos dos chamados chiqueirões, desperdiçando água na limpeza das instalações, consumindo energia, derrubando florestas para dar lugar às plantações para produzir ração.

Vou ignorar o fato de que um porco passa sua vida inteira sem poder se mexer muito, já que seu casco não foi feito para andar sobre o estrado, e no concreto não é possível fuçar, ato natural de sua espécie - alguns ainda ganham um 'piercing' no focinho, para que desistam de vez dessa atividade, pois incomoda.

Vou esquecer que as fêmeas vivem imobilizadas, pois durante o período de gestação as instalações servem para deixá-las paradas - o medo do suinocultor é que elas rolem por cima de algum filhote, o que significa menos lucro, e mais grades de ferro por precaução.

Não direi que, independente do especismo e da ausência de ética, basta uma visita a uma criação tradicional de suínos, seguida de uma inspirada funda, daquelas que enche bem os pulmões, para perceber que fazer daquilo o seu alimento, mais tarde, é roleta russa.

Não se preocupe. Palavra alguma.

3 comentarios

Michelle Kaplan disse...

Nossa, gostei muito do seu BLOG. Ele me foi indicado pelo professor Manuel Marcondes. Vou estar sempre por aqui. Já "favoritei". Parabéns! Se quiser dar uma olhada no meu, será muito bem-vindo. O foco maior são nas poesias.
http://www.poetasaindaexistem.blogspot.com
Obrigada e até breve.
Bjos,
Michelle K.

Anônimo disse...

Parabéns, belo texto!!!

Estou com um texto bastante esclarecedor em meu blog, escrito por
Silvia Ribeiro é pesquisadora do grupo ETC, que pratica estudos sócio-econômicos e ecológicos http://www.etcgroup.org/

O texto "EPIDEMIA DE LUCRO" vai nessa linha, da criação de animais, pelas chamadas "transnacionais" .

Leia no "blog do paulinho": http://bogdopaulinho.blogspot.com

Um grande abraço
Paulinho

Marcio Bueno disse...

Grato pela publicação. Um abraço.

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