5 de maio de 2009

Leblonenses unidos serão sempre vencidos

(Rua Gomes Freire, esquina com Visconde do Rio Branco, na Lapa)


Lendo o debate no blog do Idelber Avelar sobre o cancelamento da visita do presidente do Irã ao Brasil, notei que um dos pontos do texto do blogueiro que gerou polêmica foi onde ele usa a expressão república leblon-morumbi. Um comentarista afirma que no leblon a maioria é de esquerda moderada, outros, moradores do bairro, se dizem ofendidos. Bem, este é um assunto que eu gosto. Eu moro no Rio; não no Leblon; mas tenho amigos e parentes lá e conheço bem essa parte da cidade. Há vinte ou trinta anos Ipanema e Leblon abrigavam uma juventude rebelde, embora com pais extremamente conservadores. Hoje essa rebeldia não existe. Ipanema e Leblon se tornaram bairros, definitivamente, retrógrados. O fato dos leblonenses usarem quantidades colossais de cocaína não os torna mais progressistas - apenas estimula-os, por uma associação química ao caviar ético, a votar no Gabeira. Diogo Mainardi mora no Leblon e por lá circula recebendo elogios de todos os lados: daí vem a sua esquizofrenia de achar que suas posições políticas altamente reacionárias (e disfarçadas por um pseudo-humor capenga) têm alguma popularidade.

A coisa, no entanto, é mais grave. A Tijuca também é um bairro conservador, mas com um tipo suave, humano e boêmio de conservadorismo. O Leblon abriga um conservadorismo agressivo e golpista. Todos os candidatos que não agradam a seus moradores - ou seja, que não agradam às organizações Globo - são rechaçados com grosseria inaudita. Eles xingam e jogam coisas nos candidatos. No Jobi, uma garota arrancou a dentadas o dedo de uma moça que vestia uma camisa da campanha do Lula. Parte expressiva dos leblonenses se tornou, literalmente, jagunços da estrela platinada.

O Leblon é o principal feudo antilulista do Rio de Janeiro. Eles certamente se orgulham disso e eu não vejo problema nenhum. Podem votar na direita até doerem a próstata. O que me importa saber é que a população do Leblon corresponde a um terço ou a um quarto da população de Madureira. Eles podem, no máximo, encaixar alguns vereadores.

Estou consciente, todavia, da força econômica e política do Leblon, onde reside parte importante da classe hiper alta brasileira, que exerce influência sobre políticos, executivos da administração pública e jornalistas. Estive no Leblon há alguns meses, numa livraria-café que vende jornais e revistas, e perguntei quantas Carta Capital eles vendiam por semana e quantas Veja. Eles vendiam apenas cinco ou seis Carta Capital, contra 200 ou 300 exemplares semanais da Veja. Isso é Leblon.

Creio ser desnecessário lembrar que, nesta seara ideológica, obviamente, há exceções, as quais talvez representem um percentual importante. Falamos aqui de maiorias.

A mídia deu grande destaque às manifestações no Leblon contra o presidente do Irã. Aconteceu, inclusive, um caso hilário, que não sei se o Idelber ficou sabendo. Um grupo de leblonenses malucos pagou uma propaganda ridícula, exibida num daqueles aviãozinhos que sobrevoam a orla da zona sul, trazendo os seguintes dizeres, pretensamente irônicos: "Obrigado Irã por cancelar contratos com a Odebrecht, empresa brasileira."

A Odebrecht reagiu com muita irritação, negando veementemente a autoria, pois a construtora nunca iria patrocinar uma grosseria deste calibre. Os caras são tão burros que esqueceram o principal: a Odebrecth não tem contratos no Irã. É tanta estupidez e histeria anti-iraniana que desconfio até que seja coisa de briga empresarial; prefiro acreditar nisso a aceitar a absoluta degradação mental dos leblonenses, que afinal são meus conterrâneos.

O que me surpreende, ao ver essas passeatas "espontâneas" nas praias do Leblon e Ipanema, é a gana dessa gente em se manifestar politicamente, e a visibilidade e o apoio que obtêm na mídia. Lembro que, por ocasião de um movimento similar ao Cansei (o Basta!, ê nomezinhos sem imaginação sô!), leitores do Globo usavam o espaço de cartas do jornal impresso para trocar mensagens e se organizarem! Espanta-me observar como essas pessoas, aparentemente tão desligadas da vida política nacional, pegam fogo de súbito, sempre nas causas mais óbvias e ridiculas. O discurso ético, bandeira única da direita chic, revive o lacerdismo hipócrita dos anos 50 e 60, onde golpes de Estado eram discutidos abertamente entre um uísque e outro.

Que a comunidade israelense proteste contra o presidente do Irã, eu compreendo perfeitamente - já que eles acreditaram na tal história de que o presidente do Irã pregou a destruição do Estado de Israel. Hoje está esclarecido (e eu juro que sempre desconfiei disso) que o presidente do Irã usou uma das metáforas comuns da língua persa (onde o uso de imagens como essa é normal), dizendo que Israel deveria ser "apagado da página do tempo" (confira a informação, com links para os tradutores, no post do Avelar). Continua sendo uma afirmação grosseira e hostil, totalmente inapropriada para um chefe de Estado que deveria contribuir para o estabelecimento de um concerto harmônico entre as nações. Mas a semântica persa é diferente e os especialistas explicam que a frase correspondeu a uma forma metafórica de criticar o imperialismo sionista e americano no oriente médio, de forma simples e direta para seus milhões de eleitores. O que ocorreu foi uma tradução manipulada do New York Times, que serve à indústria bélica, disposta a tudo para convencer o governo americano a torrar mais uns trilhõeszinhos de dólares numa nova guerra no oriente médio.

*

Rafael Galvão conseguiu uma excelente foto sobre uma manifestação em SP. Confiram esta piada pronta.

11 comentarios

Pierre do Brasil disse...

Incrível como a gente descobre coisas interessantíssimas fuçando blogs internet afora. Descobri o seu hoje, fiquei fã. Sensacional a descrição do Leblon, faltava na internet um texto assim. Parabéns. PS: meu blog é http://classemediawayoflife.blogspot.com
Abraço,
Pierre

Anônimo disse...

Que isso Cara, deixa disso...você anda vendo muita novela do Manoel Carlos...

Anônimo disse...

Agora, então teremos crachás de tijucanos, copacabanenses, ipanemenses,leblonenenses...nada a ver essa associação com os moradores de um bairro.O que existe são pessoas que se organizam ou não politicamente.A verdade é que hoje, em termos políticos, o Rio de Janeiro é inexpressivo.Não somente a nível interno, quanto nacionalmente, os candidatos daqui são irrelevantes e querem somente se dar bem as custas do erário público, não importando o partido, qualquer que seja este.Você tenta conversar sobre política com um "carioca médio", digamos assim,e os argumentos destes não se sustentam 5 minutos.Muitos daqueles que votaram em Paes e no Gabeira, não souberam dizer os motivos para escolher um ou outro. E Eles , como candidatos, são inexpressivos, sem qualquer projeto de cidade, pífios e insignificantes.Basta dar uma olhada bem detalhada no Gabeira e ver o que o Paes está fazendo.

Anônimo disse...

Agora, concordo com você num ponto.Pode realmente ser briga empresarial e tal manifestação contra o Irã ser apenas um pretexto de uma rivalidade comercial.Temos que lembrar que nada é gratuito: toda movimentação que supomos ser burrice, ou falta de informação,o são para nós, contudo para aqueles que jogam tal jogo são precisos para alcançar objetivos bem delineados e interesses velados.É ilusão achar que aqueles que fizeram tal mobilização e propaganda são idiotas.Eles podem saber muito bem o que fazem e estar se aproveitando da falta de informação alheia.Pensou nisso?

Miguel do Rosário disse...

paes é um lacerdista reacionário vestindo a pele de um lulista. o gabeira é um lacerdista vestindo tanguinha tricô e apoiando Serra.

Miguel do Rosário disse...

pensei, é surreal demais. tb pode ter sido manifestação de algum acionista maluco minoritário da odebrecht.

Juliano Guilherme disse...

E o Lula canta: Porque as meninas do Leblon não olham mais para mim? Não olham porque deixou de ser um bibelô da pseudo esquerda sofisticada, para ser um político real de um Brasil real. Alias sempre foi, a esquerda festiva é que projetava nele umas idealizações que tinham mas a ver com a culpa de classe dela, do que com uma compreensão real do que significa um líder popular de sua importância. Por isso hoje viraram direita festiva. Votavam no Lula, quando ele não tinha chance. Ô Lula, não era para valer, cara! No mundo do Leblon os Lulas são porteiros. Miguel, além do Mainardi, tem o Ubaldo Ribeiro. Funcionário da Globo autor de "Viva o Povo Brasileiro". Subtítulo: "Mas só quando ele dá Ibope para as adaptações do meus livros feito para as miniséries artísticas da Globo". E o Jabor? Esse virou tão tucano que se mudou para o Morumbi. Pertinho do seu guru e eterno estadista da replúbica do Leblon, o FHC. Mas apesar disso tudo, o Leblon é lindo e agradabilíssimo. Pelo menos não é brega como a Barra, onde provalmente seria aberto a filial carioca da Daslu, se a PF do Lula não tivesse essa mania estranha de prender bandido do colarinho branco

Lótus disse...

Miguel,
também morei no Leblon e assino embaixo do seu artigo. Excelente, é isso mesmo.

Marcus disse...

Há um erro no seu texto. A língua nativa do presidente Ahmadinejad e de todos os iranianos é o persa, e não o árabe.

Foi uma tradução errada do persa que gerou esse mal-entendido sobre as declarações dele.

Miguel do Rosário disse...

oi marcus, é claro, o persa. já consertei. valeu pela atenção. abraço.

Anônimo disse...

Vc está errado. Leblon não é o bairro mais anti-lulista. A Zona eleitoral que mais votou proporcionalmente no Alckmin em 2006 está em Ipanema. Leblon está na segunda posição.

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