(Henri Cartier Bresson - a "informante" da Gestapo)
Não sou gaúcho mas creio que não há outra palavra que expresse melhor o que estou sentindo do que a tradicional interjeição: Bah! Entendo que significa algo próximo a um dar de ombros, uma mescla de enfado, raiva e desprezo, mas sem muito sentimento, como quem não deseja sequer se alterar muito com determinada coisa, por entender que ela não vale nem isso.
Bah!
É o que eu penso quando leio clichês. Se existe uma coisa que realmente me dá vontade de falar Bah! é um clichê. Os piores, naturalmente, são os clichês moralistas.
E vem o Globo entrevistar, mais uma vez, o tal Roberto Romano, professor e doutor em ética. Bah! Que maravilha! Agora temos um doutor em ética! Mas isso é maravilhoso! Esse cara é mais que um sábio! É um sacerdote! Se a Igreja Católica tivesse pensado nisso há alguns séculos, teria evitado todos aqueles problemas com vendas de indulto, etc. E São Francisco nem precisaria ter se dado ao trabalho de peregrinar, descalço, até o Vaticano para denunciar o luxo e a corrupção eclesiásticas!
Esse Romano, aliás, como o próprio sobrenome sugere, deve ser descendente de algum venerável santo nascido no berço da Igreja Católica Apostólica Romana. Pressentindo, em si mesmo, o dom da "ética", resolveu estudar para adquirir o status necessário para iluminar o mundo com sagradas preleções sobre a moral e os bons costumes!
Ainda bem que o Brasil tem um homem como esse. Pena que este sábio ético tenha sido descoberto pela mídia apenas agora, e não durante o processo da privatização da Vale, ou durante as denúncias de compra de voto para o projeto de reeleição.
Ética... Esses caras conseguiram uma proeza: conspurcar a palavra ética. Agora toda vez que ouço essa palavra sinto cheiro de tartufice.
Daí que esta noite tive insônia e fiquei papeando com meus botões: qual é a virtude mais importante para o homem? Será a ética?
Acho que não... Essa palavra, ou mesmo esse conceito, me parece vazio demais. Mole demais. O próprio fato de ser tão facilmente manipulável pelos tartufos demonstra a sua debilidade.
Lembrei então de outra coisa. No lema da revolução francesa não consta a palavra ética, apenas liberdade, igualdade e fraternidade. Na Ilíada, também não aparece a palavra ética em nenhum dos longos trechos em que Homero fala das qualidades e virtudes de seus heróis. Aparece sempre a coragem, a inteligência, a generosidade. Não lembro, igualmente, de nenhum poema em que a ética é louvada como importante virtude. Os poetas louvam o amor, a coragem, a renúncia, a bondade, a doçura e a força; misteriosamente nunca citam a ética.
Por quê? Eu sei o valor da ética, mas ela me parece um conceito frouxo, um conceito líquido, que se deixa corromper facilmente pela linguagem, que não tem brilho próprio.
No entanto, não quero ser injusto com um conceito que talvez seja belo e poderoso, que talvez tenha grande valor, e que certamente está sendo grosseiramente vilipendiado, falseado e manipulado por interesses baixos.
Resgatemos, então, a ética do pântano hipócrita e medíocre em que ela foi mergulhada por nossos tartufos midiáticos.
A principal obra sobre ética foi escrita por Baruch Espinoza. Em 1677, o grande filósofo afirmava que "o homem que é guiado pela razão é mais livre num Estado onde vive segundo um decreto em comum, do que na solidão onde somente obedece a si mesmo". Ele demonstra este axioma da seguinte forma: O homem que é guiado pela razão, não o faz por medo, e sim enquanto se esforça para conservar o seu ser conforme os ditames da razão; isto é, quando se esforça em viver com liberdade, almeja observar uma norma de vida em comum com outros homens, segundo o decreto comum do Estado. O homem, portanto, que é guiado pela Razão, deseja observar as leis comuns do Estado.
O que significa isso? A ética de Espinoza não é essa aguinha com açúcar de nossos tartufos, que a põem acima da Lei e da Constituição. No afã de condenar nossos parlamentares por terem usado passagens aéreas as quais tinham direito por Lei e segundo a Constituição, dizem que, apesar de não estarem infringindo a Lei, não estariam sendo éticos.
Ora, a ética, segundo Espinoza - e, desculpem-me, prefiro ler Espinoza do que esse tartufão chamado Roberto Romano - é o respeito às leis do Estado, e, portanto, respeito às próprias instituições que encarnam o Estado. Nossos tartufos midiáticos, porém, acham-se muito mais valorosos que o Estado e suas instituições. As empresas para as quais os tartufos trabalham (ou para as quais dão entrevistas) não têm seus líderes eleitos democraticamente, não são devassadas anualmente por tribunais de conta, e não tem nenhuma obrigação de ser transparentes. E mesmo assim, elas se acham guardiãs da ética e crêem que a desmoralização das instituições públicas constitui um enorme serviço à ética.
Mas Espinoza foi ainda mais longe e, além da citada Ética, escreveu um livro intitulado Política, que inicia com uma brilhante denúncia contra aqueles que pretendem estabelecer um governo composto por homens que não existem, homens que não são reais, que não possuem os vícios comuns a todos os homens.
Leiam:
"Os filósofos concebem as emoções que se combatem entre si, em nós, como vícios em que os homens caem por erro próprio; é por isso que se habituaram a ridicularizá-los, deplorá-los, reprová-los ou, quando querem parecer mais morais, detestá-los. Julgam assim agir divinamente e elevar-se ao pedestal da sabedoria, prodigalizando toda espécie de louvores a uma natureza humana que em parte alguma existe, e atacando através de seus discursos a que realmente existe. Concebem os homens, efetivamente, não tais como são, mas como eles próprios gostariam que fossem. Daí por consequência, quase todos, em vez de uma Ética, hajam escrito artigos satíricos, e não tinham sobre Política nenhuma idéia que pudesse ser posta em prática, devendo a política, tal como a concebem, ser tomada por Quimera, Utopia de uma idade de ouro sem instituições humanas e seus defeitos inevitáveis.
Por isso, entre todas as ciências que tem aplicação, é a política o campo em que a teoria passa por diferir mais da prática, e não há homens que se pense menos próprios para governar o Estado do que os teóricos, quer dizer, os filósofos".
É isso! Espinoza, lá do século XVII, faz uma denúncia ferina e definitiva contra o tartufismo filosófico, sobretudo o que pretende ministrar aulas à política. Grande Espinoza! Você sim eu respeito como Mestre de Ética, porque você, como um verdadeiro pensador, compreendia os homens e seus vícios; não pretendia julgá-los, e sim entendê-los e ajudá-los; e sobretudo entendia que a maior ética do homem moderno é o respeito às leis do Estado, e ao próprio Estado enquanto ente democrático, representante dos interesses comuns da sociedade.
Eu entendo assim. Há parlamentares corruptos, repugnamente corruptos, mas a imprensa precisa tomar muito cuidado para evitar generalizações que atinjam a reputação da Casa em si, porque, quando faz isso, pratica a maior de todas as injustiças, que é denegrir a imagem dos símbolos maiores da ética moderna, que são as próprias instituições republicanas democráticas. Um leitor contumaz da imprensa tartufa poderá até rir de uma afirmação dessas, porque não tem consciência sobre a lavagem cerebral a que foi submetido.
Jornais privados são uma reminiscência pré-republicana. São instituições monárquicas, porque passam de pai para filho. O princípio que norteia um jornal é, sobretudo, a busca pelo lucro máximo; esta é uma lei de sobrevivência de uma empresa jornalística, visto que ela sofre concorrência de outras empresas e, com a internet, de outros meios de comunicação; para realizar mais lucros, precisa de mais poder, e para isso, precisa rebaixar o poder alheio. O ataque sistemático da imprensa aos poderes públicos visa ampliar o seu próprio poder. Poder gera dinheiro. A imprensa não pode atacar nenhum setor privado importante, porque depende de sua publicidade. Mas ela pode atacar livremente o Estado, que é obrigado constitucionalmente a distribuir a publicidade pública entre as grandes mídias.
Todos esses argumentos reforçam ainda mais a minha convicção de que a imprensa é um poder com função pública, portante é um poder público sem regulamentação nenhuma; constituindo, portanto, uma excrescência antirrepublicana, um poder desestabilizador; não é por outra razão que a imprensa latino-americana tem sido, ao longo dos últimos cinquenta anos, um dos maiores adversários da democracia. Analisem a história de nosso continente e verão que, por trás de todos os golpes de Estado contra regimes democráticos, houve uma participação ativa e intensa de órgãos de imprensa. E continua havendo.
Agora, por exemplo, no Paraguai, transformaram um filho bastardo do presidente Lugo em seis, e tentaram desestabilizar o seu governo por causa disso. Bom exemplo. O rei de nossos tartufos, o queridinho midiático Fernando Henrique Cardoso, tem um filho fora do casamento que nunca foi alvo da curiosidade jornalística. Circulam rumores há tempos que este filho, inclusive, teria sido criado com recursos oriundos da família Marinho; mas jornalista algum jamais ousou fazer qualquer pergunta sobre o tema à FHC. Quando se trata de qualquer desafeto midiático do momento, como Renan Calheiros, a curiosidade sobre a vida privada não tem limites. Essa é a ética de nossa mídia, compartilhada por uma elite cínica e por uma classe média otária.
Bom Espinoza que estais no céus, protegei-nos!
Bah!
É o que eu penso quando leio clichês. Se existe uma coisa que realmente me dá vontade de falar Bah! é um clichê. Os piores, naturalmente, são os clichês moralistas.
E vem o Globo entrevistar, mais uma vez, o tal Roberto Romano, professor e doutor em ética. Bah! Que maravilha! Agora temos um doutor em ética! Mas isso é maravilhoso! Esse cara é mais que um sábio! É um sacerdote! Se a Igreja Católica tivesse pensado nisso há alguns séculos, teria evitado todos aqueles problemas com vendas de indulto, etc. E São Francisco nem precisaria ter se dado ao trabalho de peregrinar, descalço, até o Vaticano para denunciar o luxo e a corrupção eclesiásticas!
Esse Romano, aliás, como o próprio sobrenome sugere, deve ser descendente de algum venerável santo nascido no berço da Igreja Católica Apostólica Romana. Pressentindo, em si mesmo, o dom da "ética", resolveu estudar para adquirir o status necessário para iluminar o mundo com sagradas preleções sobre a moral e os bons costumes!
Ainda bem que o Brasil tem um homem como esse. Pena que este sábio ético tenha sido descoberto pela mídia apenas agora, e não durante o processo da privatização da Vale, ou durante as denúncias de compra de voto para o projeto de reeleição.
Ética... Esses caras conseguiram uma proeza: conspurcar a palavra ética. Agora toda vez que ouço essa palavra sinto cheiro de tartufice.
Daí que esta noite tive insônia e fiquei papeando com meus botões: qual é a virtude mais importante para o homem? Será a ética?
Acho que não... Essa palavra, ou mesmo esse conceito, me parece vazio demais. Mole demais. O próprio fato de ser tão facilmente manipulável pelos tartufos demonstra a sua debilidade.
Lembrei então de outra coisa. No lema da revolução francesa não consta a palavra ética, apenas liberdade, igualdade e fraternidade. Na Ilíada, também não aparece a palavra ética em nenhum dos longos trechos em que Homero fala das qualidades e virtudes de seus heróis. Aparece sempre a coragem, a inteligência, a generosidade. Não lembro, igualmente, de nenhum poema em que a ética é louvada como importante virtude. Os poetas louvam o amor, a coragem, a renúncia, a bondade, a doçura e a força; misteriosamente nunca citam a ética.
Por quê? Eu sei o valor da ética, mas ela me parece um conceito frouxo, um conceito líquido, que se deixa corromper facilmente pela linguagem, que não tem brilho próprio.
No entanto, não quero ser injusto com um conceito que talvez seja belo e poderoso, que talvez tenha grande valor, e que certamente está sendo grosseiramente vilipendiado, falseado e manipulado por interesses baixos.
Resgatemos, então, a ética do pântano hipócrita e medíocre em que ela foi mergulhada por nossos tartufos midiáticos.
A principal obra sobre ética foi escrita por Baruch Espinoza. Em 1677, o grande filósofo afirmava que "o homem que é guiado pela razão é mais livre num Estado onde vive segundo um decreto em comum, do que na solidão onde somente obedece a si mesmo". Ele demonstra este axioma da seguinte forma: O homem que é guiado pela razão, não o faz por medo, e sim enquanto se esforça para conservar o seu ser conforme os ditames da razão; isto é, quando se esforça em viver com liberdade, almeja observar uma norma de vida em comum com outros homens, segundo o decreto comum do Estado. O homem, portanto, que é guiado pela Razão, deseja observar as leis comuns do Estado.
O que significa isso? A ética de Espinoza não é essa aguinha com açúcar de nossos tartufos, que a põem acima da Lei e da Constituição. No afã de condenar nossos parlamentares por terem usado passagens aéreas as quais tinham direito por Lei e segundo a Constituição, dizem que, apesar de não estarem infringindo a Lei, não estariam sendo éticos.
Ora, a ética, segundo Espinoza - e, desculpem-me, prefiro ler Espinoza do que esse tartufão chamado Roberto Romano - é o respeito às leis do Estado, e, portanto, respeito às próprias instituições que encarnam o Estado. Nossos tartufos midiáticos, porém, acham-se muito mais valorosos que o Estado e suas instituições. As empresas para as quais os tartufos trabalham (ou para as quais dão entrevistas) não têm seus líderes eleitos democraticamente, não são devassadas anualmente por tribunais de conta, e não tem nenhuma obrigação de ser transparentes. E mesmo assim, elas se acham guardiãs da ética e crêem que a desmoralização das instituições públicas constitui um enorme serviço à ética.
Mas Espinoza foi ainda mais longe e, além da citada Ética, escreveu um livro intitulado Política, que inicia com uma brilhante denúncia contra aqueles que pretendem estabelecer um governo composto por homens que não existem, homens que não são reais, que não possuem os vícios comuns a todos os homens.
Leiam:
"Os filósofos concebem as emoções que se combatem entre si, em nós, como vícios em que os homens caem por erro próprio; é por isso que se habituaram a ridicularizá-los, deplorá-los, reprová-los ou, quando querem parecer mais morais, detestá-los. Julgam assim agir divinamente e elevar-se ao pedestal da sabedoria, prodigalizando toda espécie de louvores a uma natureza humana que em parte alguma existe, e atacando através de seus discursos a que realmente existe. Concebem os homens, efetivamente, não tais como são, mas como eles próprios gostariam que fossem. Daí por consequência, quase todos, em vez de uma Ética, hajam escrito artigos satíricos, e não tinham sobre Política nenhuma idéia que pudesse ser posta em prática, devendo a política, tal como a concebem, ser tomada por Quimera, Utopia de uma idade de ouro sem instituições humanas e seus defeitos inevitáveis.
Por isso, entre todas as ciências que tem aplicação, é a política o campo em que a teoria passa por diferir mais da prática, e não há homens que se pense menos próprios para governar o Estado do que os teóricos, quer dizer, os filósofos".
É isso! Espinoza, lá do século XVII, faz uma denúncia ferina e definitiva contra o tartufismo filosófico, sobretudo o que pretende ministrar aulas à política. Grande Espinoza! Você sim eu respeito como Mestre de Ética, porque você, como um verdadeiro pensador, compreendia os homens e seus vícios; não pretendia julgá-los, e sim entendê-los e ajudá-los; e sobretudo entendia que a maior ética do homem moderno é o respeito às leis do Estado, e ao próprio Estado enquanto ente democrático, representante dos interesses comuns da sociedade.
Eu entendo assim. Há parlamentares corruptos, repugnamente corruptos, mas a imprensa precisa tomar muito cuidado para evitar generalizações que atinjam a reputação da Casa em si, porque, quando faz isso, pratica a maior de todas as injustiças, que é denegrir a imagem dos símbolos maiores da ética moderna, que são as próprias instituições republicanas democráticas. Um leitor contumaz da imprensa tartufa poderá até rir de uma afirmação dessas, porque não tem consciência sobre a lavagem cerebral a que foi submetido.
Jornais privados são uma reminiscência pré-republicana. São instituições monárquicas, porque passam de pai para filho. O princípio que norteia um jornal é, sobretudo, a busca pelo lucro máximo; esta é uma lei de sobrevivência de uma empresa jornalística, visto que ela sofre concorrência de outras empresas e, com a internet, de outros meios de comunicação; para realizar mais lucros, precisa de mais poder, e para isso, precisa rebaixar o poder alheio. O ataque sistemático da imprensa aos poderes públicos visa ampliar o seu próprio poder. Poder gera dinheiro. A imprensa não pode atacar nenhum setor privado importante, porque depende de sua publicidade. Mas ela pode atacar livremente o Estado, que é obrigado constitucionalmente a distribuir a publicidade pública entre as grandes mídias.
Todos esses argumentos reforçam ainda mais a minha convicção de que a imprensa é um poder com função pública, portante é um poder público sem regulamentação nenhuma; constituindo, portanto, uma excrescência antirrepublicana, um poder desestabilizador; não é por outra razão que a imprensa latino-americana tem sido, ao longo dos últimos cinquenta anos, um dos maiores adversários da democracia. Analisem a história de nosso continente e verão que, por trás de todos os golpes de Estado contra regimes democráticos, houve uma participação ativa e intensa de órgãos de imprensa. E continua havendo.
Agora, por exemplo, no Paraguai, transformaram um filho bastardo do presidente Lugo em seis, e tentaram desestabilizar o seu governo por causa disso. Bom exemplo. O rei de nossos tartufos, o queridinho midiático Fernando Henrique Cardoso, tem um filho fora do casamento que nunca foi alvo da curiosidade jornalística. Circulam rumores há tempos que este filho, inclusive, teria sido criado com recursos oriundos da família Marinho; mas jornalista algum jamais ousou fazer qualquer pergunta sobre o tema à FHC. Quando se trata de qualquer desafeto midiático do momento, como Renan Calheiros, a curiosidade sobre a vida privada não tem limites. Essa é a ética de nossa mídia, compartilhada por uma elite cínica e por uma classe média otária.
Bom Espinoza que estais no céus, protegei-nos!
grande do rosário,
que reflexão, amigo.
essa diferença apontada por espinosa, entre homens reais e imaginários, é a grande sacada intelectual e me lembra a "surrada" frase: a política é a arte do possível.
parabéns.
Li num comentário no Nassif, uma frase que achei definitiva: Ética é quando se faz o certo, sem saber se tem alguém olhando ou não. Moral é quando se faz, quando e para quem, esta´olhando. Portanto, ética nada tem a ver com a mídia. Ela é o terreno da moral, pois mídia é a exposição dos atos do homem. Por exemplo, o Gabeira na questão das passagens, não é ético, é moralista. E a hipocrisia é a filha do moralismo, como sabemos. Por isso, a mídia é a orgia dos hipócritas
A imprensa tem um papel de fiscalizacão, e por isso deve ser independente do estado.
Infelizmente ocorrem abusos, maiores ou menores. No caso brasileiro, gigantescos.
Mas o que precisamos é de mais liberdade e independência, e não menos.
Se a imprensa vigia o Estado, a blogosfera vigia a imprensa.
E assim restauramos o equilíbrio.
Escrevi mais sobre isso no post: http://capitao-obvio.blogspot.com/2009/05/estrategia-para-acelerar-putrefacao-da.html
Grande Miguel.
A questão não é de saber quem vigia a quem, mas sim com que arma, ou recurso se estabelece o equilíbrio num ambiente de disputa de poder. A imprensa aspira ao controle das mentes (a ‘opinião pública’, com a qual a ‘opinião dos jornalistas’ não se confunde e da qual aquela não resulta automaticamente por relação de causa e efeito) enquanto aos detentores dos poderes do Estado cabe a responsabilidade de produzir interferências para o controle da conduta humana, numa relação que pressupõe, também, do exercício de papel dirigente da sociedade. Há, assim, uma disputa de poder entre mídia-mercado e político-estado. A arma da imprensa está no exercício da liberdade de tratar com fatos e com opiniões que interessam ao público. O recurso dos homens públicos está na posse da coragem, única arma que a imprensa livre teme em face dos que exercem poderes de Estado quando pratica seus abusos e irresponsabilidades.
O deputado gaúcho esgrimiu muito bem: à manipulação dos fatos respondeu com coragem, independência e determinação pela busca da verdade! Assumiu seu papel dirigente, principal responsabilidade de seu cargo. Basta de políticos covardes, ajoelhados, diante do novo Leviatã.
Espera-se que o acadêmico presidente da Câmara dos Deputados vista a sua capa preta de Magistrado, como a liturgia do seu cargo requer.
Excelente artigo,
Sempre pensei dessa forma em relação à imprensa brasileira. A questão é : se ela quer interferir no jogo político, atuando como um órgão do Estado, terá ( ou teria) que sofrer o controle do próprio Estado. Controle interno dos órgãos do Estado é palavra corrente em qualquer democracia.
Mas logo vem o clichê..."isso é censura"....
Miguel, entendo ética como um conjunto de regras básicas às quais a pessoa (ou grupo de pessoas) adere por que quer e, não, por imposição. Essas regras emergem de dentro das pessoas, refletindo o que pensam e sentem. São genuínas e não impostas. Ao mesmo tempo, essas regras buscam, a felicidade ou pelo menos o bem estar das pessoas. É assim que vejo.
Com base nessa definição, acredito que ética no caso da grande mídia tende a ser história da carochinha, por que a grande mídia me parece, no fundo, fraquinha e dependente de certos grupos. Senão vejamos:
a) Dizer que o Brasil vai de mal a pior se ele está melhorando é ético?
b) Ajudar a salvar a pele de bandido e tentar prejudicar policial que fez um bom trabalho é ético?
c) Fuzilar inocentes via mídia sem apurar os fatos é ético?
A nossa mídia deve estar no fundo fraquíssima para fazer essas coisas. Senão, não precisaria. Uma pergunta relevante: o que tornaria a mídia forte e independente? Ìsis
Olá Miguel,
quando eu passei um tempo na Unicamp, o prof. Bob Romano iniciou uma campanha contra o álcool no campus. Usou todos os clichês moralistas, inclusive alguns que ele mesmo criticava em seus livros, como o uso de metáforas orgânicas como "parasitas". A cerveja não fazia mal nenhum, apenas animava a cantina nos fins da tarde e criava aquela típica solidariedade entre os bêbados, que Baudelaire disse que era a alma da revolução fraterna. Além disso, Bob Romano xingava os alunos em jornais de Campinas, mas recorrendo a coisas de "alto nível" como Filhos de Trasímaco. Infelizmente, ele teve sucesso. Pra combater o sacana at´´e tomamos algumas iniciativas, como fazer um glossário de xingamentos greco-latinos (anus embriagorum non proprietorum est); ele ganhou o Prêmio Kronenbier; e recebeu uma carta psicografada de Platão ("você sabe muito bem que eu sempre adorei um vinho"). Me disseram que uma vez ele deu um xilique na biblioteca porque a funcionária não chamou ele de "Professor Doutor Roberto Romano". São detalhes pitorescos mas que compõem a figura do professor de ética.
O que está na cara é que a zelite "adora" Lula, claro faz de conta que adora por causa da aprovação popular. Lula e detestam o PT. E não só detesta como tem combatido o PT com unhas e dentes, inclusive Sarney, aliado de Lula, adora Lula e detesta o PT, tanto que o PT foi alijado de qualquer função no Senado. Queimar o PT para depois colar o candidato a um partido pintado pele elite como corrupto é uma grande sacada de mestre. A elite brasileira boba é que não é, nem um pouquinho. O imprensalão fez o povo acreditar que o PFL, agora DEM, é um partido ético e honesto, quando estatísticas apontam como o mais corrupto e o PT lá na rabeira da escala de práticas erradas. Mudando de assunto...
Ao acessar a caixa de comentários do meu blog vi um convite da Rede Blogo.
Não sei como funciona, nem sei de onde vem,
http://josecarloslima.blogspot.com/2009/05/sistema-poetico-informativo-nato-spin_8667.html
Pois é! Tartufos acadêmicos e tartufões midiáticos, seguidos de perto pelos tartufinhos lobotomizados das classes médias e altas conseguiram privatizar a Ética. Ética virou coisa chic! Não sou religioso, mas vale citar Cristo aqui: aquele que for isento de pecados, que atire a primeira pedra!, algo assim. Esses auto-momeados impolutos são os maiores porcalhões!!! A prova? Daniel Dantas, Gilmar Mendes, FHC, Serra, Marinhos, Mesquitas, Frias... a lista é longa, extensa! Não há gripe suína que liquide com todos eles!
Miguel,
sempre que te visito constato que você é de uma lucidez tremenda. Suas análises e essa capacidade de explorar o outro lado da "força" enforca qualquer bostinha da mídia. Você para mim é extremamente ético quando desnuda as corruptelas e os entraves de nossa mídia falcatrua. Compartilhando das vontades spinozianas quando te leio me somo a ti e sinto energia de produzir mais e mais.
Forte abraço (puxei legal agora hein)
olá flávio, obrigado pelos elogios. conforme tenho repetido por aqui, eles são o melhor cachê, na verdade o único, do blogueiro.
grande abraço, que estendo a todos os outros comentaristas.
PS: pois é Caripuna, carece coragem, muita coragem.
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