(As protagonistas do filme Tan de Repente)
Como fui obrigado a assistir, por diversas vezes, os filmes argentinos exibidos na mostra Do Novo ao Cinema Argentino: Birra, Crise e Poesia, sinto-me na obrigação de tecer alguns comentários sobre os mesmos, apontando os que mais me chamaram a atenção. Como a mostra ainda rola este domingo 6 de setembro em São Paulo, abordo primeiramente os filmes a serem exibidos neste último dia, no Centro Cultural Banco do Brasil da capital paulistana.
Recapitulando, neste domingo serão exibidos os seguintes filmes em São Paulo. As estrelinhas indicam minha nota, pessoalíssima, de 1 a 5.
13:00 - Los Inundados ***
15:00 - El Árbol *
17:00 - Tan de Repente ***
19:00 - Tres Veces Ana *****
Começo falando sobre o que mereceu 5 estrelas. Tres Veces Ana, de 1961, dirigido e escrito por David José Kohon, é um dos filmes, a meu ver, mais importantes dessa mostra. Digo mais importantes porque é um dos que mais me impressionou, pela qualidade do texto, dos diálogos, da fotografia, da poesia e, sobretudo, pelo caráter modernamente cosmopolita e angustiado do filme.
São três histórias unidas em torno de uma personagem feminina chamada Ana (Maria Vaner). No primeiro episódio, A Terra, Ana é uma empregada de uma lojinha de brinquedos que se envolve com um modesto executivo (Luis Medina Castro) de uma fábrica. Eles se apaixonam, e iniciam uma vida sexual nos hotéis baratos de Buenos Aires. Até que ela engravida e ele a convence a praticar um aborto. Os personagens são construídos com um realismo magistral, numa demonstração de invejável domínio técnico.
A segunda parte, intitulada O Ar, traz uma Ana completamente distinta. É uma moça depravada que, junto a um grupo igualmente "liberal", passa férias longe da família num balneário portenho. Todos dividem um quartinho apertado alugado por um austríaco. A história inicia com a chegada de dois estudantes ao quartinho, convidados pelo anfitrião. Um dos estudantes é interpretado pelo famoso galã da época, Alberto Argibay, no papel de um estudante de doutorado em matemáticas, um jovem cuja pureza de espírito servirá de contra-ponto ao descaramento dos outros.
Na última parte, Ana é uma alucinação esquizofrênica do jovem Monito (Walter Vidarte), solitário e sonhador diagramador de um jornal de Buenos Aires. Essa trama é apimentada pela presença do cínico e espirituoso Renner, crítico de cinema do jornal, interpretado por outro grande do "nuevo cine argentino", Lautaro Murúa.
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O filme Los Inundados é uma fábula social, também bastante realista, sobre uma família de pobres argentinos, moradores de uma favela inundada. O governo cede vagões de trem e um terreno no centro da cidade para eles se instalarem. Ironicamente, a vida deles melhora sensivelmente após a inundação, porque sua existência ganha visibilidade na sociedade. Por um engano, o vagão onde eles haviam se instalado acaba atrelado a um trem de carga e eles partem para uma viagem de sonhos por todo o país.
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Tan de Repente é a história de duas lésbicas barra pesada, mas inteligentes e divertidas, que convencem uma terceira garota, até então infeliz e solitária, a experimentar uma outra opção sexual. É um filme moderno, feito com recursos muito simples, mas com técnicas relativamente maduras.
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A Árvore é um filme bastante experimental, bastante lento e com pouquíssimos diálogos. Tem uma fotografia extremamente minimalista que pode agradar a alguns aficcionados.
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Observação: A palavra "birra" do nome da mostra corresponde ao termo espanhol que significa cerveja, e não ao vocábulo português que conhecemos.