(sobradão na Avenida Visconde do Rio Branco, perto
do Corpo de Bombeiros, arredores da Lapa).
do Corpo de Bombeiros, arredores da Lapa).
Em primeiro lugar, acho temerário e, pior, sinal de medo, qualquer gritaria precipitada contra fraude nas pesquisas. Quer dizer, tirando o Datafolha, que merece realmente ser posto de lado, em função dos graves desvios éticos da empresa jornalística a qual é ligado, é interessante usarmos outros institutos de pesquisa para enxergar a situação eleitoral com mais clareza. Mesmo que achemos que ele erre para o lado do adversário (o que não é minha opinião), devemos considerá-lo com atenção. O máximo que pode acontecer é a Dilma Roussef elaborar estratégias de campanha mais consistentes e realistas, enquanto o outro, o candidato dos demo-tucanos, agirá similarmente ao Hitler da paródia que Joel Bueno criou a partir de uma cena do filme A Queda. Não acredito em voto de manada numa eleição plebiscitária como será a de 2010.
Nesta terça-feira, o instituto Sensus divulgou sua pesquisa regular sobre a popularidade do governo e do presidente e sobre as intenções de voto para 2010. Em relação à popularidade, os números continuam francamente favoráveis à Lula. Houve uma ligeira queda de 4,5% na aprovação, mas os índices permanecem em patamar tão extraordinário, bem acima dos níveis registrados em quase todo o primeiro mandato, que reclamar disso, ou apontar como um fato negativo, é uma heresia. Uma leve oscilação para baixo revela que a popularidade de Lula parece ter atingido um teto na última pesquisa, o que não deixa de ser positivo, pois confere um ar mais realista aos dados e serve de belisco no ego de Lula - o que é ótimo para estimulá-lo a continuar tomando medidas que beneficiem a maioria da população brasileira.
No site do CNT-Sensus, encontramos dois arquivos. O resumo pronto das pesquisas e o "relatório de cruzamento", com detalhes da pesquisa que considerei sumamente interessantes, tanto que elaborei uma tabela simplificada com os mesmos, pondo lado a lado os dois principais adversários e prováveis candidatos em 2010: Dilma e Serra.
Sobre Dilma, vale observar que ela já se consolidou como a mais perigosa adversária de José Serra para as eleições do ano que vem. Nunca tendo participado de nenhuma eleição, portanto sem nenhum recall, ela já supera, com folga, nomes nacionalmente conhecidos, como Ciro Gomes, Heloísa Helena e Aécio Neves. Aliás, a surra que Dilma está dando em Aécio é impressionante e deverá sepultar de vez a possibilidade de nosso playboy-mor bater Serra como candidato do PSDB em 2010.
Eu acho que é melhor, para Dilma, disputar eleições com José Serra, porque é um candidato mais vinculado ao governo de Fernando Henrique Cardoso, que foi, apesar de todo oba-oba da mídia nacional, um dos presidentes com piores níveis de popularidade da história recente.
Vamos aos números. Dê uma olhada geral na imagem abaixo, clicando sobre ela para ampliar, e depois volte aqui, para analisarmos juntos alguns pontos.
Dilma Roussef não é um poste eleitoral. É uma mulher de personalidade forte, com uma competência administrativa reconhecida inclusive por seus adversários, e que já mostra, nas pesquisas, uma independência crescente de seu padrinho, o presidente. Por exemplo, à diferença de Lula, cuja popularidade cai junto aos segmentos mais escolarizados (embora mantenha uma sólida liderança também nesse setor), a candidata Dilma Roussef está ganhando muita força junto aos eleitores com bacharelado e renda alta. Diante de Dilma, o governador de São Paulo perde votos do eleitor mais culto. Segundo o Sensus, as intenções de voto em Dilma e Serra, entre eleitores com curso superior, ficaram em 20,5 e 33,3%, respectivamente - uma diferença de apenas 12,8 pontos percentuais, muito acima da vantagem de Serra entre os eleitores que gozam apenas do nível primário, que foi de 21%.
Quando passamos para o capítulo Renda, outra surpresa. Também diferentemente de Lula, a popularidade de Dilma cresce junto com a renda dos eleitores. Entre os cidadãos que ganham mais de 20 salários mínimos, Dilma conseguiu 22,7% das intenções de voto, contra 34% de Serra, uma diferença de apenas 11%. Ou seja, curiosamente, a classe alta brasileira não é assim tão serrista como se pensava. Entre os eleitores com renda acima de 20 salários, Serra tem seu pior desempenho, 34% das intenções de voto. A maior vantagem de Serra encontra-se na classe média média ou média alta, que ganha entre 10 e 20 salários mínimos: neste segmento, Dilma tem 15,8% das intenções de voto, versus 41,4% de Serra, perfazendo uma diferença de 25,6 pontos percentuais.
Não se pode afirmar, peremptoriamente, que esses dados são bons ou ruins para Dilma. Tenho a impressão que são bons, porque se ela está conseguindo conquistar os eleitores mais escolarizados e com maior poder aquisitivo, ela e Lula encurralarão a imprensa oposicionista, pois as classes médias, por um lado, tendem a seguir a opinião dos mais ricos e o povão, por outro, provavelmente tenderá a votar na candidata apontada por Lula. A boa performance junto aos mais ricos também facilitará a obtenção de financiamentos de campanha, um fator que nunca se deve subestimar.
A constatação de que Dilma tem simpatia da turma chique não significa, porém, que ela seja identificada como "candidata dos ricos", ou mesmo que ela apresente uma plataforma política que benefície os privilegiados. Ao contrário, as posições políticas de Dilma são bem claras em favor de uma orientação governamental de esquerda, com prioridade para políticas que beneficiem as camadas mais humildes.
No entanto, Dilma possui, de fato, linguagem, postura e imagem muito pouco associadas ao povão, ao contrário de Lula; seguramente estes são os fatores por trás dessa "originalidade" de Dilma em relação ao presidente. A vantagem é que, sendo grandes consumidores de produtos culturais, aí incluindo jornais e revistas, os eleitores de Dilma da classe alta tem um poder de fogo que os humildes não tem: podem causar (e estão causando) grande estrago nas finanças da mídia oposicionista, tão-somente cancelando assinaturas. Falta agora as agências de publicidade perceberem esse fenômeno e deixarem de anunciar na imprensa reacionária.
*
Alguns analistas, entre eles o jornalista Luiz Carlos Azenha, arriscaram afirmar que a aparente estagnação de Dilma nas pesquisas, em relação à última, divulgada em março, comprovaria a vitória da mídia oposicionista em sua campanha diária contra a candidata. Não concordo plenamente com isso. Certamente, as notícias negativas sobre a candidata e o silêncio obsequioso em relação à Serra, não ajudaram, e creio que devem mesmo ter influenciado. Sou da opinião, no entanto, que Dilma parou de crescer por ter atingido uma certa plenitude junto às classes mais "bem informadas". A estagnação dela reside justamente nas camadas mais baixas, onde Lula reina soberano, e onde a informação de que ela é a candidata do Lula ainda está sendo disseminada e consolidada. De certo, se a rede Globo, e outros canais, divulgassem com mais ênfase essa informação (o que não seria nenhum crime eleitoral, mas simplesmente contar a verdade), poderíamos assistir, como diria Mao, "o grande salto" da Dilma.
*
Mudando de assunto. Grande parte da mídia e da oposição política vêm repetindo uma grande bobagem que tem me irritado muito, a de que o pré-sal só irá produzir daqui a 10-15-20 anos e que, portanto, não haverá influência sobre a economia de agora.
Ora, ora, e as peças que serão fabricadas AGORA? E os milhares de empregos gerados AGORA, para o início das perfurações e atividades? E a capitalização financeira, que ocorre AGORA? E a construção de refinarias e indústrias afins, que estão acontecendo AGORA - porque são projetos grandiosos que demandam muito tempo, e que, por isso mesmo, estão sendo feitos AGORA para, no momento em que o petróleo começar a jorrar, as empresas estarem preparadas para recebê-lo? Esses caras são muito burros. O pré-sal já é uma realidade presente, diria até URGENTE, para a economia brasileira. Investimentos estrangeiros estão vindo se estabelecer no Brasil AGORA, de olho no desenvolvimento que o pré-sal deverá estimular daqui a 10 ou 20 anos. Aliás, decidam-se. O pré-sal vai começar a produzir daqui a quanto tempo? 5, 10, 15 ou 20 anos? O que vemos é que todos os interessados em esnobar o pré-sal, por puro preconceito anti-nacionalista, optam sempre por prever 20 anos para o início da produção, contra 5 a 10 anos entre os engenheiros com maior experiência no assunto.
A verdade é que a produção do pré-sal aumentará gradualmente, conforme as unidades de exploração forem se estabelecendo. Possivelmente, já no ano que vem teremos produção nas áreas mais superficiais do pré-sal, no Espírito Santo; e, nos anos seguintes, novos poços estarão produtivos, numa escala crescente até que, daqui a 15 ou 20 anos, todo o pré-sal esteja em plena atividade.
*
Se você chegou até aqui, aproveite a empolgação e leia a primeira parte da entrevista da Dilma ao Financial Times. A segunda deve ser publicada e traduzida também no VioMundo.
*
Ah, reparem uma coisa. A vantagem de Dilma no Nordeste não seria sinal de transferência de votos, o grande terror dos tucanos?
*
Acabei de dar uma olhada no Datafolha e observei a mesma situação. A distância entre Serra e Dilma cai para 12 pontos percentuais entre os eleitores com curso superior. E para 18 pontos entre os que ganham mais de 10 salários mínimos. Acredito que se Sensus tivesse mais uma coluna, com eleitores que ganham mais de 20 salários, a diferença entre Serra e Dilma no Datafolha seria bem parecida à verificada no Sensus. No total, segundo o Datafolha, Serra tem 37% das intenções de voto, contra 16% da Dilma, uma diferença de 21 pontos.
Confira na tabela abaixo.
A conclusão é uma só. A imprensa de oposição está se desmoralizando entre o público mais bem informado e está ficando encurralada entre o povão lulista e a classe alta interessada nas obras do PAC, que tem consciência das possibilidades de enriquecimento para aqueles que souberem aproveitar o crescimento do país.
*
E para tornar esse post ainda mais completo, reproduzo aqui a pesquisa Vox Populi, que mostra Dilma a apenas 9 pontos percentuais, no total, de seu adversário José Serra. A pesquisa foi divulgada no dia 31 de agosto, pelo blog do Favre. Clique na imagem para ampliar.
Olá Miguel! Parabéns!! Gostei muito da sua inteligência ao escrever. A sua parcela de contribuição é muito relevante na construção no nosso pais.
Marcelo Vergotti
Previsões com mais de um ano de antecedência são só previsões, por mais "científicas" que sejam as análises.
Novas variáveis podem surgir. Protógenes, Marina, Ciro, por exemplo.
Pessoalmente, duvido que Serra largue o certo, reeleição para governador, pelo incerto.
Mas suas análises são muito inteligentes e interessantes.
Parabéns.
Oi Adalton, eu sei que são apenas previsões. Não são nem minhas, estou usando de um instituto tradicional.
Obrigado,
Abraço,
Miguel
Dilma é porreta, vi isso na entrevista que ele deu ao Financial Times, sobre o pre-sal
Ta no Azenha
Vou complementar aqui nos comentários:
Acabei de dar uma olhada no Datafolha e observei a mesma situação. A distância entre Serra e Dilma cai para 12 pontos percentuais entre os eleitores com curso superior. E para 18 pontos entre os que ganham mais de 10 salários mínimos. Acredito que se Sensus tivesse mais uma coluna, com eleitores que ganham mais de 20 salários, a diferença entre Serra e Dilma no Datafolha seria bem parecida à verificada no Sensus.
A conclusão é uma só. A imprensa de oposição está se desmoralizando entre o público mais bem informado e está ficando encurralada entre o povão lulista e a classe alta interessada nas obras do PAC, que tem consciência das possibilidades de enriquecimento para aqueles que souberem aproveitar o crescimento do país.
Publiquei uma tabelinha com os números do Datafolha no final do post. Confiram.
Pra finalizar, encerrei o post com a pesquisa do Vox Populi, onde a Dilma, até agora, tem sua melhor pontuação.
Miguel,
O fato é que todas as candidaturas apenas oscilaram dentro da faixa em que se encontravam na última pesquisa. Nada de novo.
P.S.: Levando em conta o voto por faixa etária, Dilma apresenta sua maior pontuação entre aqueles que têm 25 e 29 anos e os que tem entre 30 e 39 - justamente entre aqueles que tiveram a sua adolescência e início da vida adulta nos anos FHC. Coincidência? Eu acho que não.
Oi Hugo, sobre essa questão da idade, acho que uma questão mais subjetiva. Também pensei em falar alguma coisa sobre isso, mas os fatores são muito díspares. Teria que fazer o cruzamento das idades com a escolaridade e faixa de renda, para poder fazer algum sentido.
Entre.os.que.dizem.que.votarão.no.candidato.do.Lula.
aposto.que.a.maior.parte.está.nas.classes.mais.baixas.
E.porque.então.é.nessas.classes.onde.Dilma.tem.o.pior.
desempenho?
Porque.muita.gente.do.povão.não.sabe.quem.é.o.candidato
do.Lula.
O.potencial.de.crescimento.da.Dilma.é,muito.grande,pois
certamente.entre.os.que.não.sabem.que.ela.é.a.escolhida
do.Lula,a.grandissíssima.maioria.está.nas.classes.mais.
baixas.Que.é.onde.mais.existem.os.que.votarão.no.candidato
do.Lula
A.única.coisa.que.falta.é.informação.quanto.mais.próximo
das.eleições.mais.bem.informados.estarão.os.beneficiados
pelo.governo.Lula.e.que.tenderão.a.votar.em.quem.Lula.
apontar
Juliano, o seu comentário vem cheio de pontinhos. Aqui e lá no Eduardo. O que está acontecendo? Tenta mudar de navegador (em vez de internet explorer, usa o google chrome ou o mozilla).
Deu.defeito.no.teclado(barra.de.espaço).continuo.
comentando.por.que.me.viciei.nesse.negócio,cara!
Ola Miguel do Rosário
Oleo do Diabo
Acabo de conhecer seu blog no Vi o Mundo, gostaria de dizer que existe sim distorções metodologicas na pesquisa do Sensus , principalmentre nas cotas de entrevistados por escolaridade, mais delalhes no meu blog com analises de pesquisas:
http://flavioluizsartori.blogspot.com/
Voltarei a postar textos aqui, gostei do seu blog e da sua analise.
Flavio Luiz Sartori
Oi Flavio, imagino que nenhuma pesquisa é perfeita e que deve haver distorções, de fato, deliberadas ou não. Mas eu trabalhei com os dados que me foram apresentados, porque acho que temos que trabalhar com alguma coisa. É um instituto tradicional, e suas pesquisas tem um longo histórico. São os institutos que temos, um patrimônio nosso, manipuladores ou não, é o que temos e devemos trabalhar com o que temos. É melhor do que ficar no vazio. Se eles manipulam a favor de Serra, vai atrapalhar mais a campanha de Serra do que da Dilma, que por sua vez irá, diante de números negativos, se esforçar para aparecer mais e melhor.
Obrigado pelo comentário e um abraço,
Miguel
Para o post Dilma seduz os chiques
Mensagem ao Blog do Planalto
Fiquei muito feliz com a mensagem 'Belo Blog' que recebi.
Claro, pus no meu blog, segue link
http://josecarloslima.blogspot.c.../belo- blog.html
Obs: quando eu esperava que a linha do blog iria ser sizuda, burocrática, achei legal perceber que há uma certa liberdade no sentido da informalidade.
Um bom dia
Postar um comentário