Os cucarachas compram mais

(Prédio na esquina do Campo de Santana com Visc.Rio Branco,

tão imponente, tão destruído... Sempre nas adjacências da Lapa.)

Atualizado às 15:53. Confira novas tabelas ao fim do post.

Quem diria. A América Latina hoje é muito mais importante para a economia brasileira que os Estados Unidos. É mais importante que todos os 27 países da União Européia! Não acredita? Confira esses dados do comércio exterior brasileiro, obtidos junto ao sistema Alice, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), com números atualizados até julho deste ano.

No período de 12 meses encerrado em julho último, as exportações brasileiras totalizaram 170,93 bilhões de dólares, queda de 7,3% sobre o valor registrado em igual temporada do ano anterior. Com um detalhe, esta queda só não foi bem maior em função do expressivo aumento na venda de produtos brasileiros para China e África.

Entretanto, o número que chama mais a atenção é a posição do bloco América Latina e Caribe no ranking dos principais destinos das exportações nacionais; nos 12 meses de Agosto de 2008 a Julho de 2009, este bloco comprou 41,0 bilhões de dólares em produtos brasileiros, o que correspondeu a 24% de tudo o que o Brasil exportou no período. Para efeito de comparação, as exportações brasileiras para os EUA no mesmo período (12 meses Ago/Jul 2009) alcançaram 20,22 bilhões de dólares, ou 11,8% do total exportado pelo Brasil.

Ou seja, os cucarachas estão comprando muito mais que os ianques. Portanto, quando você ler no jornal, ou escutar no rádio e TV, qualquer comentário pejorativo sobre as reuniões entre os presidentes do Brasil e América Latina, lembre-se disso. O Brasil está ganhando muito mais dinheiro com seus hermanos vizinhos do que com seu brother do norte.

Na comparação com a Europa, a América Latina também ganha, o que é incrível, visto ser a Europa, hoje, uma poderosíssima congregação de 27 países. Nos últimos 12 meses, a União Européia importou do Brasil um total de 38,48 bilhões de dólares, ou 22,5% das exportações nacionais.

A China, novo xodó dos exportadores brasileiros, respondeu por 12,1% de nossas vendas externas, importando um total de 20,68 bilhões de dólares em Ago/Jul 2009.

Há um dado fundamental, porém, que eleva, e muito, a importância da América Latina para a balança comercial brasileira. Enquanto o preço médio dos produtos brasileiros exportados para a União Européia, nos últimos 12 meses, ficou em 436 dólares por tonelada; para a China, 145 dólares; para os EUA, 917 dólares; o preço para a América Latina atingiu 1.085 dólares por tonelada. Se não considerarmos os países do Caribe, o preço médio das exportações brasileiras para a América Latina chega a 1.486 dólares a tonelada.

Ou seja, a América Latina não apenas tornou-se a compradora número um de produtos brasileiros, como é a importadora de nossos produtos com maior valor agregado. Enquanto a Europa mantém barreiras coloniais contra nossos artigos manufaturados, a América Latina vivencia, atualmente, uma extraordinária integração econômica, verdadeiramente aberta. A China permanece importadora de nossas matérias primas mais brutas e mais baratas. Os EUA são um pouco mais abertos, mas, vitimados pela crise econômica, foram o destino que mais reduziu suas compras de produtos brasileiros nos últimos 12 meses - as exportações brasileiras para os EUA caíram 25,5% no período.

Enfim, todo esse movimento esquerdista na América Latina, gostem os donos da mídia ou não, está fazendo o Brasil ganhar muito dinheiro. E dinheiro bom, obtido com venda de produtos industrializados, não de ferro bruto a 15 dólares a tonelada, como é o caso das exportações para China (até 2002, era este preço; de lá para cá tem aumentado bastante, mas ainda é muito baixo na comparação com qualquer outra mercadoria. Este ano, o preço do ferro explodiu para mais de 50 dólares a tonelada. Mas o futuro do ferro não é muito promissor, porque grande parte do núcleo do planeta é feito de ferro; assim que se descobrir formas de explorar melhor camadas mais profundas, o preço do ferro poderá despencar).

Confiram a tabela e o gráfico abaixo. Cliquem neles para ampliar.

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Exportações brasileiras de minério de ferro

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E agora, duas tabelas também igualmente importantes. A primeira, com os principais capítulos de mercadorias exportadas pelo Brasil. As duas principais são minérios e soja. Mas também nos tornamos importantes exportadores de autopeças, que são nosso principal produto industrializado de exportação. Em vista disso, organizei uma tabela somente com esse item, mostrando os destinos, por bloco econômico, das exportações brasileiras de autopeças. Reparem que a América Latina e Caribe importaram, nos últimos 12 meses, 66% de nossas autopeças. Em primeiríssimo lugar, vem a Argentina, um fato que nossa midia, que sempre ataca o vizinho do sul, deveria ter em mente.

É curioso ainda constatar que a África (sem contar o oriente médio) importa mais autopeças brasileiras que os EUA. Nos 12 meses terminados em julho último, a África importou 1,11 bilhão de dólares em autopeças brasileiras, contra 441,3 milhões de dólares dos EUA.

Clique nas figuras para ampliar.