A direita esfíngica

(Como já disse, as fotos são sempre das adjacências da Lapa e Cruz Vermelha. O que me encanta nesses sobrados não é exatamente a beleza arquitetônica, que não é tanta, e sim a sua poesia, simplória, honesta e sensual, de uma época em que se preocupava com a beleza das coisas. Havia um pouco mais de humanismo na arquitetura dos edifícios residenciais).

Li por aí que José Serra não quis opinar sobre o pré-sal. Quer dizer, ele andou falando uns absurdos, que podia mudar a lei através de medida provisória (vai ser autoritário e anti-democrático assim na Arábia Saudita), mas a maioria das declarações de Serra sobre o pré-sal foram lacônicas. Ou seja, o cara que pretende governar o Brasil não tem opinião.

Eu sei porque.

Porque Serra é igual ao Gabeira. É a direita esfíngica. Não pode se pronunciar sobre nada porque é uma obra de arte pós-moderna, uma instalação (a comparação foi feita pelo cientista político Wanderley Guilherme dos Santos), que pode ser interpretada livremente pelas pessoas. A lógica eleitoral deixa-o nessa situação. Como a grande maioria da população aprova o presidente Lula e apóia a Petrobrás e o controle público sobre os recursos naturais, a direita esfíngica faz cara de sonsa quando lhe perguntam sobre esses temas, ou pior, faz discursos ambíguos, com o objetivo de continuar ludibriando o otário que acredita na mídia e ao mesmo tempo agradar setores da classe dominante, que entende muito bem a necessidade de ambiguidade no discurso político da direita.

Mas isso não dá certo. Um político deve opinar sobre os temas nacionais relevantes. Serra não fala nada. E quando fala são frases elípticas e misteriosas que obrigam os editores de jornal a acrescentarem uma série de parênteses para torná-las inteligíveis. Tipo assim: perguntado sobre o que acha sobre a nova lei do petróleo, o governador Serra disse: "eles (os aliados do governo Lula - o parêntese é do editor) acham que aquilo (o pré-sal) é deles, mas o projeto (a nova lei do petróleo) tem que ser discutido melhor por lá (o Congresso Nacional). Sem os parênteses explicativos, a frase ficaria assim: "eles acham que aquilo é deles, mas o projeto tem que ser melhor discutido lá".

E os lugares comuns. Além da incapacidade patológica de produzir uma frase inteligente, bem humorada, espirituosa, Serra abusa de frases prontas idiotas, tais como (referindo-se à discussão da nova lei do pré-sal): "Tem que fazer direito". Ou, "sou contra chacina".

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Eu suprimi, já tem algumas semanas, a comunidade no Orkut Delenda Serra, criada por mim. Peço desculpas às 30 ou 40 pessoas que tinham aderido. É que estou repensando algumas estratégias. Também não vou lançar nenhum livro Delenda Serra, e novamente peço desculpas às pessoas que contatei e aos leitores que se dispuseram a adquirir o livro. Não vou me dar ao trabalho de produzir nada com o nome desse indivíduo. Já basta esses reacionários que parasitam o presidente Lula, lançando livros com seu nome no título, tentando comer alguma sobrinha de sua popularidade.

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O blog entra em ritmo de campanha política para eleger Dilma Roussef à presidente da República em 2010 e tirar todos os demo-tucanos do Congresso, do Senado e dos Estados. Mas será uma campanha estruturalmente positiva. Sou obrigado a meter o pau na mídia conservadora e na direita política, claro, porque é minha diversão preferida, mas o eixo da minha campanha deverá ser o debate ideológico em alto nível.

Também luto contra o Mercadantismo, e seu discurso chorão e medroso, de que é importante ter "oposição", e demais otarices. A essência da democracia não é equilíbrio entre oposições. Se temos uma oposição incompetente e anti-popular e, finalmente, sem votos, então que vão trabalhar como gerente de banco multinacional. A política democrática requer votos e para ter votos é preciso agradar o povo. A essência da democracia, portanto, é o populismo. Enquanto a direita for governada ideologicamente pelos aiatolás da mídia, vão perder e vão sumir. Eu quero mais é que eles se danem. Democracia não é alternância de poder ou equilíbro entre contrários, e sim um sistema de governo cujo poder emana do povo. Se o povo quiser eleger somente deputados do PP, então é isso. Democracia não é sinônimo de paraíso. Há sempre um elemento de risco e instabilidade no regime democrático, mas é, por isso mesmo, emocionante e saudável. O ser humano é um bicho inquieto, curioso e aventureiro, viciado em novidades.

A democracia é uma ideologia com fundamentos muito profundos na psique humana. Posteriormente irei discorrer sobre isso com mais calma. Adianto somente que os conceitos de direita e esquerda não brotaram espontaneamente na época da revolução francesa. Eles nascem de uma clivagem ideológica inerente à inteligência humana: a eterna contradição entre egoísmo e coletivismo, dois instintos básicos que o homem histórico precisa resolver dialeticamente, através da busca por um equilíbrio que permita aos indivíduos desenvolverem suas faculdades particulares em plenitude e ao mesmo tempo permita à comunidade onde esse indivíduo está inserido desenvolver-se de forma igualmente plena, perfazendo uma interação positiva.