11 de dezembro de 2009

Comentando as estatísticas de exportação

No post anterior, publiquei três tabelas essenciais para se entender o comércio exterior brasileiro. A primeira traz a lista dos principais produtos exportados pelo Brasil nos últimos 12 meses (Dez/Nov), segundo números atualizados ontem mesmo pelo Sistema Alice, banco de dados online e gratuito do Ministério do Desenvolvimento. A segunda tabela mostra os produtos IMPORTADOS pelo Brasil no mesmo período. Por fim, temos a relação dos blocos econômicos mais importantes que compram nossos produtos. Uma quarta tabela, listando os blocos que exportam para o Brasil, publico aqui mesmo nesse post. Aliás, publico várias outras tabelas por aqui.

Antes, contudo, algumas informações genéricas sobre as exportações brasileiras. Nos últimos 12 meses, o Brasil exportou 152,35 bilhões de dólares, o que representou uma queda de 23% sobre igual período do ano anterior. Mesmo com essa queda, porém, o aumento nos últimos 10 anos continua impressionante, da ordem de 222%.

A importação brasileira também caiu bastante este ano, em relação ao ano passado. O Brasil importou 126,85 bilhões de dólares nos 12 meses até novembro último, queda de 26% sobre igual período de 2007/08. Na comparação com 1998/99, todavia, registrou-se alta de 116%.


Importações brasileiras nos últimos 2 anos e 1998/99 (Dez/Nov)
Período
US$ FOB
Peso Líquido(Kg)
12/2008 até 11/2009
126.853.122.584
103.572.640.188
12/2007 até 11/2008
172.076.606.892
124.544.143.688
12/1997 até 11/1998
58.607.822.302
93.502.481.823

Os números mostram que a exportação caiu, mas a importação caiu também, evitando a criação de déficit cambial. Nos primeiros 11 meses deste ano, o Brasil obteve um saldo comercial (exportação menos importação) de 23 bilhões de dólares. Considerando que nossas reservas internacionais atingiram mais de 200 bilhões de dólares, nossas contas externas ainda apresentam uma situação muito favorável.


Balança Comercial Brasileira em 2009 - Valores em US$ FOB
Mês
Exportação
Importação
Saldo
Corrente de Comércio
JAN
9.781.920.008
10.311.387.490
-.529.467.482
20.093.307.498
FEV
9.586.405.593
7.823.414.734
1.762.990.859
17.409.820.327
MAR
11.809.225.427
10.052.502.148
1.756.723.279
21.861.727.575
ABR
12.321.617.241
8.626.903.366
3.694.713.875
20.948.520.607
MAI
11.984.585.301
9.348.082.866
2.636.502.435
21.332.668.167
JUN
14.467.784.664
9.861.924.387
4.605.860.277
24.329.709.051
JUL
14.141.930.086
11.229.088.652
2.912.841.434
25.371.018.738
AGO
13.840.850.343
10.770.599.653
3.070.250.690
24.611.449.996
SET
13.863.221.927
12.535.939.246
1.327.282.681
26.399.161.173
OUT
14.081.686.044
12.753.586.660
1.328.099.384
26.835.272.704
NOV
12.652.892.311
12.038.263.683
614.628.628
24.691.155.994
DEZ
-
-
-
-
Acumulado
138.532.118.945
115.351.692.885
23.180.426.060
253.883.811.830


Vamos comentar agora a primeira tabela do post anterior, que trata dos produtos exportados pelo Brasil.

Vocês mesmo podem ver que o item Minérios, Escórias e Cinzas é o principal produto brasileiro de exportação. Nos últimos 12 meses, o Brasil exportou 14,25 bilhões de dólares em minérios, escórias e cinzas. Lá embaixo, eu publico uma tabela com o detalhamento de quais produtos estão incluídos nessa classificação. Adianto que o minério de ferro representa mais de 90% deste grupo, pois o Brasil possui as maiores jazidas do planeta; uma situada no chamado "quadrilátero ferrífero", em Minas Gerais, não muito distante de Belo Horizonte; outra na Ilha de Marajó, de exploração recente, mais que é ainda maior. A Vale explora esse ferro. Há dez anos, o Brasil exportava minério de ferro a 16 dólares a tonelada, o que significa que o ferro valia bem menos do que o próprio frete. Se considerarmos que 1 contêiner vazio de 20 pés, com capacidade para transportar 20 toneladas, custa de 10 a 15 mil dólares, chega a ser engraçado imaginar o quanto dinheiro perdemos vendendo ferro em estado bruto.

Ironicamente, logo após a privatização da Vale, a cotação internacional do ferro explodiu. Hoje o Brasil vende ferro a 46 dólares a tonelada. A quantidade exportada também registrou um crescimento nada modesto de 381% em 10 anos. Ou seja, o homem que comprou a Vale, o senhor Benjamin Steinbruch, numa ação entre amigos que contou com a prestigiosa ajuda do presidente da república Fernando Henrique Cardoso, onde o empresário não desembolsou um tostão do próprio bolso, recebendo emprestado os 3,3 bilhões de dólares de que necessitava, e ainda a juros subsidiados, o senhor Steinbruch deve ter ficado muito satisfeito com o negócio. Um dos maiores patrimônios do povo brasileiro foi transferido para o controle de uma só pessoa, com dinheiro emprestado pelos próprios brasileiros, mas a indignação da Cora Ronai é com o fato do ministro dos Esportes, Orlando Silva, ter comprado uma tapioca com cartão corporativo. A Vale hoje é estimada em mais de 300 bilhões de dólares, embora o seu valor, em verdade, seja incalculável, em virtude dos conhecimentos geológicos que ela detêm sobre o subsolo nacional. FHC, se tivesse uma gota de compromisso com o desenvolvimento nacional, poderia ter aberto o capital da Vale, para capitalizá-la e modernizá-la, mas mantendo o controle sob a União. O mais irônico de tudo é que, vendendo ferro barato principalmente para a China, que o transforma em aço e assim financia o seu próprio desenvolvimento, o neoliberalismo privatizante de FHC, com a pretensão de ser o supra-sumo do capitalismo pós-moderno, apenas ajudou a fortalecer o Estado comunista chinês!

*

A segunda tabela do post anterior, que trata dos principais produtos importados pelo Brasil, mostra que estamos comprando artigos importantes para o nosso desenvolvimento. Em primeiro lugar, reatores nuclares, o que deve refletir a construção de Angra 3. O petróleo vem sem segundo lugar, mas esse não conta muito, porque reflete o compra e vende: o Brasil vende petróleo pesado e compra petróleo leve. De qualquer forma estamos autosuficientes, compramos quase a mesma coisa que vendemos e a perspectiva é nos tornamos exportadores em pouco tempo.

*

A terceira tabela do post anterior, com a exportação brasileira por bloco econômico, confirma o que já vemos dizendo há tempos por aqui. Nos últimos 12 meses, os países em desenvolvimento responderam por 55% das exportações nacionais, contra 43% das nações desenvolvidas. Há 10 anos, a situação era invertida: os desenvolvidos respondiam por 61% das nossas exportações, contra 37% dos não-desenvolvidos. Esses dados explicam em parte a defasagem ideológica de alguns de nossos diplomatas e comentaristas de política externa, que não entenderam a forte mudança verificada na economia mundial, e seus reflexos sobre o comércio exterior brasileiro. Ainda querem puxar o saco de Europa e Estados Unidos, sem levar em conta que estes países não são mais tão essenciais para a economia brasileira como eram no passado.

O dado que eu gosto é esse: o bloco geográfico mais relevante para as exportações brasileiras, nos últimos 12 meses, é América Latina e Caribe, que importou 35 bilhões de dólares em produtos brasileiros, com aumento de 210% em 10 anos.

Outro que eu gosto é a coluna do preço médio. Nossos queridos hermanitos são os que pagam, de longe, os melhores preços pelos produtos brasileiros. Enquanto a União Européia pagou 458 dólares por tonelada, o Mercosul pagou 1.428 dólares e a Comunidade Andina das Nações (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela) foi ainda mais generosa: 1.478 dólares. EUA pagou 808 dólares por tonelada e China, 127 dólares.

Fiz ainda uma tabela mostrando os principais produtos brasileiros exportados para América Latina e Caribe. Confiram como esse bloco importa, na maioria, produtos de alto valor agregado, como autopeças, reatores nucleares e aparelhos elétricos. Isso reforça a minha tese de que esse bloco adquiriu uma importância geopolítica estratégica, para o Brasil. Na contramão do que nos informa a mídia, presa a preconceitos terceiro-mundistas ultrapassados, é na América Latina que iremos encontrar o passaporte para nosso desenvolvimento industrial.

*

Abaixo, três tabelas mencionadas no post. Clique nelas para ampliar.





4 comentarios

Ricardo disse...

Caro Miguel,

Fiquei com uma dúvida: Onde são informados os números de exportação/importação de software?

Miguel do Rosário disse...

Não sei. Tem que procurar. Qdo tiver tempo, eu vejo isso. Boa pergunta.

Vitória disse...

Arbitrariedades...; comenta uma diretora de escola que esteve na reunião na SEE- SP.
Os Diretores da rede de ensino estadual , na região de Araraquara (interior paulista), entregaram vários documentos a semana passada pessoalmente em São Paulo ao Coordenador da CEI - Coordenadoria do Ensino do Interior Da SEE-SP - Rubéns Mandetta, entre eles um requerimento exigindo o afastamento por processo administrativo disciplinar e a exoneração do cargo de dirigente de ensino da Supervisora Maria Santana Gagliazzi, ao concluírem que as divergências são incontornáveis a manifestação de diretores e supervisores contra a dirigente "Santana" - ex candidata derrotada a vereadora pelo partido Tucano (PSDB), apelidada por eles de "Santanás" começaram há 15 dias em reunião de diretores de escola e supervisores de ensino.
A exigência deverá ser atendida partir do início do próximo ano letivo.
Você concorda com essa medida?

Vitória Borovac Cipriani

Anônimo disse...

Ao ver a capa de O Globo de hoje numa banca de jornal tive a impressão que as eleições presidenciais no Brasil serão neste domingo, claro, com o Globo fazendo propaganda contra Lula e o PT. E se Zé Serra Alagão, o candidato do imprensalão, perder? Vai ficar muito feio. Se bem que parece que o baronato da mídia não está nem aí, pois quer mesmo é usar seu simulacro de jornalismo para eleger Zé Alagão. O Globo virou panfleto político de Zé Alagão.

Andre REzende

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